“Os animal tem uns bicho interessante”

O reino animal e a selva que virou a Faria Lima.
Por  Alexandre Aagesen
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A Cascavel, como todas as cobras, é praticamente surda. Apesar disso, ela carrega consigo um “chocalho” na ponta do rabo, que ela balança quando se sente ameaçada. Eu gosto de imaginar o que raios se passa na cabeça da cobra, que acha que só porque balançou o rabo, os predadores vão embora. Existe sim causalidade, mas o réptil não faz ideia de qual é. Mas segue praticando, quase mitologicamente, o ritual. Aqui na Faria Lima é igual. Algumas cobras fazendo muito barulho para explicar os movimentos dos ativos de risco, mas completamente surdas ao que move de fato. Seguem repetindo o ritual, achando que movem o mercado sem entender que é hoje que a Yellen apresenta o QRA. Na quinta começa um movimento mais forte e vão procurar o culpado. Provavelmente encontrá-lo-ão (Temer Feelings) aqui perto, no Brasil mesmo, ou em alguma palavra mágica no discurso do Powell. Aliás, zero relevante, mas hoje começa o FOMC, ta?

A tartaruga é um bicho estranho. Realmente entraria na lista de animais potencialmente extraterrestres. Enrugada, com uma armadura completa de batalha, lenta como uma… bem, uma tartaruga, extremamente longeva e, meu favorito, seu nome significa literalmente “animal do inferno” (tartaroukhos). Não sei que raios estava passando na cabeça do grego que olhou praquilo e pensou “Por Zeus, que bicho dos infernos!”, parado literalmente entre uma górgona e um sátiro (eram muito comuns naquela época). Um outro treco que vem do inferno é a inflação. Deveria se chamar Tartarflação (péssimo) ou inflaçuga (melhor, mas ainda ruim). De qualquer jeito, a Zona do Euro viu esse bicho estranho voltar para sua toca mais um pouco agora cedo. A inflação, não a tartaruga, foco. CPI em linha, com núcleo desacelerando. Isso é bom. E por lá na região que os atenienses (umbigos do mundo) deviam chamar de “Grécia do Norte”, a Europa (que aliás, era o nome de uma princesa grega) também viu o PIB surpreender para cima e tirar a região do risco de uma recessão. Probabilidade de corte na próxima reunião está ao redor de 70%.

Outro animal fundamentalmente estranho é o polvo. Um dos meus top 10 favoritos, tranquilamente. Inteligentíssimos, ótimos solucionadores de problemas e com uma gama de surpresinhas digna do cinto do Batman. Cada tentáculo é um mini-cérebro autônomo, reportando para o cérebro central, ele muda a textura do corpo para melhorar o efeito da camuflagem – que mesmo sem isso já seria fantástica, além, é claro, do famoso jato de tinta. Se você está lendo isso, há uma probabilidade significativa de você ser um mamífero. Se for o caso, seu ascendente mais próximo em comum com o polvo é um platelminto. Isso é só um passo mais perto do que o reino Plantae, das plantas! Mesmo assim, são tão inteligentes, que eles se fingem de tontos só para não pagar imposto, tenho certeza. Sorte do polvo, e não da lula, que o Haddad não descobriu isso ainda. Para fechar esse gap no orçamento, estaria taxando-o, claro. Enquanto isso, lá fora, o mundo desenvolvido descobre os males do déficit fiscal. Tentando esticar seus muitos tentáculos para resolver cada probleminha jogando dinheiro (muito dinheiro) em cima dele. Talvez tenha passado batido por aí, mas vale ler o relatório Top 5 Temas Globais da semana passada, particularmente o item 3, que aborda esse assunto.

Ficou com alguma dúvida ou comentário? Me manda um e-mail aqui.

Alexandre Aagesen Com mais de 15 anos de mercado financeiro, é CFA Charterholder, autor do livro "Formação para Bancários", host do podcast "Mercado Aberto" e Investor na XP Investimentos

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