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E chegou a tão esperada ata. Nada foi dito sobre política, claro, e o que foi avaliado foi apenas se vale a ou não quebrar a expectativa do mercado. Quatro membros achavam que o ritmo de corte impacta menos que a taxa terminal nas expectativas, e que valia mais manter o guidance da última ata. […]

Alexandre Aagesen

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E chegou a tão esperada ata. Nada foi dito sobre política, claro, e o que foi avaliado foi apenas se vale a ou não quebrar a expectativa do mercado. Quatro membros achavam que o ritmo de corte impacta menos que a taxa terminal nas expectativas, e que valia mais manter o guidance da última ata. Cinco achavam que, dado que o mercado já estava precificando 25 bps, o guidance anterior já não valia tanto e seria melhor reduzir o ritmo agora, para ancorar as expectativas de inflação. Ninguém argumentou que o cenário estava bom e tinha que cortar mais por isso. Quem lê a ata sem saber quem foi indicado pelo Lula (os 4 que votaram 50 bps) e quem foi pelo Bolsonaro (os 5 que votaram 25 bps), vê duas argumentações técnicas. Mas o mercado sabe quem foi indicado por quem, e aí é impossível não ver separação política. Pelo menos, é essa a percepção, e percepção importa.

Ainda sobre ontem o mercado voltou a janeiro de 2021. Você vai se lembrar do clima: todo mundo preso dentro de casa, lives sem fim com sertanejos embriagados, happy hours pelo Zoom, máscaras pululando em sua gaveta de meias e um influenciador começando uma campanha para brigar com os grandes Hedge Fund Managers malvadões que estavam apostando contra a pobre GameStop. Pois é, ele voltou. @TheRoaringKitty (o influenciador em questão) fez um novo post ontem, sem dizer absolutamente nada (a foto de capa dessa edição). 24 milhões de visualizações depois, as ações da GameStop estão subindo mais de 110%. Mas deve ser fundamento da companhia melhorando, claro.

Para hoje, olho no PPI e no Powell. Sempre surpresinha, você sabe. Existe um termo do grego que sempre me lembra o Powell. Peripatéticos. Antes que você pense que eu estou falando mal do Powell (normalmente sim, seria o caso), Peripatéticos é a palavra grega para “itinerantes”. Era assim que eram conhecidos os discípulos de Aristóteles, dado que costumavam discutir filosofia enquanto andavam ao ar livre. Não tem nada a ver com o andar do bêbado (random walk) ou sobre a deriva que o Powell poderia (eventualmente) se encontrar. Estou, claro, considerando-o, um discípulo de Aristóteles.

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Alexandre Aagesen

Com mais de 16 anos de mercado financeiro, é CFA Charterholder, CAIA Charterholder, autor do livro "Formação para Bancários", professor convidado e Investor na XP Investimentos