O que esperar da temporada de resultados do 3º trimestre? Confira ações e setores que podem se destacar

Expectativa é de forte crescimento de lucro por ação na comparação anual, mas cenário mais desafiador tem levado a revisões para baixo dos próximos balanços

Lara Rizério

(alexsl/Getty Images)

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SÃO PAULO – Ainda que o noticiário político esteja se mostrando preponderante ao corporativo nas últimas sessões para a Bolsa brasileira, a temporada de resultados do terceiro trimestre começa a ganhar destaque no noticiário, com a Hypera (HYPE3) inaugurando a temporada na próxima sexta-feira (22), após o fechamento do mercado.

A expectativa é de crescimento sólido para os resultados das empresas no trimestre, apontam Fernando Ferreira e Jennie Li, estrategistas da XP, em relatório, ainda que a piora no cenário macroeconômico doméstico e queda nos preços de algumas commodities, como o minério de ferro, tenham afetado as projeções de lucro.

Em relação ao mesmo período de 2020, o consenso de mercado Bloomberg espera um crescimento do Lucro por Ação (LPA) das empresas do Ibovespa em um nível robusto em 238%, apontam os estrategistas, ainda parcialmente explicado pela base de comparação ainda fácil do terceiro trimestre de 2020, quando os lucros das companhias ainda estavam se recuperando da crise da pandemia da Covid-19.

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Quanto ao lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) das empresas, o mercado espera 60% de crescimento. E para a receita, o consenso espera uma desaceleração do segundo trimestre, com um crescimento de 16%.

Em dólares, o Morgan Stanley espera uma taxa de crescimento anual de 33% para as receitas, de 47% para o Ebitda e de 132% para o lucro líquido das companhias brasileiras que o banco americano cobre.

Entre os destaques setoriais, segundo o banco americano, os estrategistas preveem fortes resultados para os nomes do agronegócio em geral, como São Martinho (SMTO3) e SLC (SLCE3), impulsionados por preços e volume fortes.

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Na área de saúde, o Morgan espera números sólidos esperados para provedoras de serviços como Rede D’Or (RDOR3) e Dasa (DASA3), para a farmacêutica Hypera, enquanto NotreDame Intermédica (GNDI3), Hapvida (HAPV3) e OdontoPrev (ODPV3) devem seguir com margens pressionadas.

A XP, por sua vez, espera que os números do setor devam ser bons de forma geral, com a redução dos impactos da pandemia em relação ao trimestre anterior. As empresas verticalizadas devem se favorecer de menor sinistralidade, enquanto laboratórios continuam a se recuperar da queda de volumes por conta da Covid-19, avaliam os estrategistas.

O Morgan ainda aponta que empresas ligadas à reabertura econômica, como o Burger King Brasil (BKBR3), devem registrar recuperação da receita e também em meio às iniciativas de custos, o que também deve impactar a SmartFit (SMFT3). Já as empresas de educação devem apresentar resultados mistos, mostrando tendências de admissão positivas, mas ainda com pressão de margem generalizada em negócios no campus.

A expectativa é de um crescimento contínuo do comércio eletrônico no trimestre, embora em uma taxa anual mais lenta do que no trimestre, em parte devido à recuperação do varejo físico. “Apesar da recuperação do tráfego nas lojas, há cautela quanto às perspectivas do varejo de vestuário, com os maiores custos para ampliar a multicanalidade potencialmente atrasando o retorno às margens de pico anteriores”, apontam os analistas do banco americano. Entre os subsetores de varejo físico, a equipe prefere varejo alimentar ao segmento de vestuário.

A XP também aponta setores do varejo como destaque do trimestre. Para Ferreira e Jennie, o varejo focado em classes mais altas devem se destacar dentre as varejistas tradicionais, já que tendem a ser mais resilientes em um ambiente macroeconômico ainda desafiador com menor crescimento econômico e maiores taxas de juros dificultando a retomada do consumo.

Os supermercados de “atacarejo“, por sua vez, são beneficiados pela inflação mais alta que favorece a mudança para um canal mais barato; base de comparação favorável, diferentemente do restante do setor de varejo alimentar; e aceleração do canal B2B (negócio para negócio) com reabertura econômica e vacinação. Os shoppings também devem se beneficiar com o alívio das restrições de mobilidade. Os estrategistas da casa também projetam que as empresas de tecnologia devam apresentar resultados sólidos, se beneficiando da continuação do crescimento do e-commerce.

Confira as expectativas de lucro e Ebitda por setor, segundo quadro elaborado pela XP:

Outro ponto de atenção no mercado será sobre as declarações dos executivos das empresas durante as teleconferências de resultados, que serão promovidas em seguida à divulgação dos balanços financeiros, que devem trazer melhores perspectivas em relação ao cenário econômico, seja para o último trimestre deste ano quanto para 2022.

Isso em um cenário de revisão para baixo do consenso de mercado do lucro para 2022 e já atingindo 2023 em meio ao cenário sendo visto como mais desafiador no âmbito macroeconômico.

Confira a seguir as projeções de casas de análise para os principais setores da Bolsa e quais empresas devem se destacar

Bancos e setor financeiro em geral

A temporada de resultados para os grandes bancos têm início com o Santander Brasil (SANB11) no dia 27 de outubro.

A XP vê um trimestre sem grandes surpresas para os bancos, esperando que a margem financeira seja beneficiada por um mix de crédito mais rentável com crescimento puxado pela carteira de pessoa física, efeito parcialmente compensado pelo maior custo de captação devido à Selic mais alta.

Além disso, veem os seguintes destaques positivos: i) receita de serviços, impulsionado por maiores volumes e pela retomada da atividade econômica, mais do que compensando a pressão em tarifas em função da adoção do Pix (reduzindo receita proveniente de transferências entre contas – TED/DOC) e da maior competição proveniente dos bancos digitais; e ii) inadimplência ainda controlada em níveis baixos.

Na avaliação do Bradesco BBI, de maneira geral, no setor o lucro líquido deve contrair levemente na comparação com o segundo trimestre de 2021, mas as tendências permanecem positivas. A margem financeira com clientes deve se beneficiar de um melhor mix de crédito, enquanto provisões estão retornando aos níveis normalizados.

As receitas de tarifas e despesas operacionais devem crescer ligeiramente, a partir do melhor desempenho no segundo trimestre e reajustes salariais, respectivamente.

A expectativa dos analistas do banco é de que o Itaú (ITUB4) deve ter desempenho melhor do que o Santander, principalmente por conta das despesas operacionais, enquanto outras tendências provavelmente serão semelhantes, e o Banco do Brasil (BBAS3) pode surpreender positivamente nas negociações e nos ganhos da Previ.

Dentre os bancos da cobertura da XP, a equipe espera que o Banco do Brasil seja o destaque no trimestre, impulsionado principalmente pelo crédito rural.

Já na linha dos bancos médios, para o BBI, o Banco ABC Brasil (ABCB4) deve apresentar os resultados mais fortes, impulsionado por uma melhor linha de receita, despesas operacionais controladas e uma redução da taxa efetiva de imposto. O Banco Pan (BPAN4), por sua vez, deve apresentar fortes KPIs, ou Indicadores-Chave de Desempenho, mas com pressão sobre os resultados. Isso porque os analistas acreditam que as despesas operacionais possam crescer acima de nossas projeções, enquanto novo produto da folha de pagamento do FGTS deve pressionar margens em comissões de originação mais altas.

Por outro lado, apesar das tendências positivas esperadas para o terceiro trimestre, os analistas avaliam que os principais questionamentos devem estar relacionados à dinâmica de crédito de 2022.

Já na base de comparação anual, o Bank of America espera que os grandes bancos registrem uma alta de 30% dos lucros, refletindo um crescimento sólido da margem financeira (NII, na sigla em inglês), uma vez que uma combinação de empréstimos melhor deve compensar principalmente os custos de financiamento mais elevados) e qualidade de ativos estável. Por outro lado, é provável que as despesas operacionais desapontem com os aumentos salariais anuais negociados recentemente de cerca de 11%. Os analistas do banco americano esperam que a geração de receita do Itaú surpreenda positivamente o consenso de mercado.

Olhando para o setor financeiro não-bancário, os analistas apontam que os resultados dos conglomerados de seguros BB Seguridade (BBSE3) e Caixa Seguridade (CXSE3) devem se recuperar a partir do segundo trimestre, conforme os sinistros relacionados à Covid comecem a se normalizar.

Por outro lado, os resultados da Porto Seguro (PSSA3) e da SulAmérica (SULA11)  provavelmente continuarão pressionados por reivindicações elevadas e resultados fracos de investimentos em ações.

Já os adquirentes devem registrar um sólido crescimento de Volume Total de Pagamentos (TPV) e adições líquidas, mas maiores despesas financeiras e investimentos podem manter as margens líquidas pressionadas. Os resultados da Stone ficarão mais “turvos” por conta da incorporação da Linx e perdas de marcação a mercado em seu investimento no Banco Inter (BIDI4;BIDI11).

No caso da Cielo (CIEL3), o BofA espera que a companhia registre tendências operacionais sólidas, mas resultados financeiros fracos devido à pressão dos custos de captação. O TPV deve atingir os níveis observados no mesmo trimestre de 2019, enquanto a taxa de aquisição líquida deve se manter resiliente, próxima aos níveis do segundo trimestre de 2021, suportando o crescimento da receita de adquirência no trimestre.

A Cateno também deve apresentar melhores resultados em função do melhor mix, com maior participação nas operações de crédito e menor participação dos grandes varejistas, que realizam transações com taxas menores. Do lado negativo, o resultado do pré-pagamento deve ser pressionado pela alta da Selic, como também esperado para outras adquirentes.

Commodities 

Mineradoras não animam, siderúrgicas em destaque

A expectativa dos analistas é de que as mineradoras – notoriamente Vale (VALE3) e CSN Mineração (CMIN3)  – tenham um resultado “apagado” no terceiro trimestre, em meio à queda do minério de ferro, enquanto os resultados de siderúrgicas devem ter um desempenho relativamente mais positivo, com destaque para a Gerdau (GGBR4). Já as companhias de papel e celulose podem ter uma melhora sequencial dos seus números.

Caio Ribeiro, analista do Credit Suisse, acredita que as siderúrgicas devam apresentar os melhores resultados no trimestre, com a Gerdau e a Ternium (essa última não listada na B3) reportando aumentos sequenciais no Ebitda, principalmente devido a resultados mais sólidos na América do Norte (impulsionados pelos aumentos nos preços do aço).

A Gerdau será provavelmente a vencedora relativa também na visão do Itaú BBA, que espera que os volumes de aço no mercado doméstico fiquem sequencialmente estáveis ​​para a Gerdau, mas diminuam em 10% e 15% para Usiminas e CSN, respectivamente, apontando que  a disparidade provavelmente se deve a diferenças no mix de vendas e na estratégia comercial.

Dito isso, o preço doméstico do aço para Usiminas e CSN deve aumentar em 11% -15% na base sequencial no trimestre, por conta de  um aumentos de preços implementados durante o segundo trimestre de 2021 e da redefinição de contratos com
clientes industriais; para a Gerdau, a estimativa é de ligeiro aumento de 1% no trimestre. Porém, por sua vez, os resultados da CSN e Usiminas serão prejudicados por suas divisões de mineração (devido aos preços realizados), que representam cerca de 40% e 30%, respectivamente, do Ebitda consolidado, segundo projeções dos analistas.

A expectativa do BBA é de um Ebitda de R$ 5,25 bilhões para a CSN (queda de 36% na comparação trimestral), R$ 3,0 bilhões para a Usiminas (queda de 15% no trimestre) e R$ 6,25 bilhões para a Gerdau (aumento de 6% no trimestre).

A melhora nos resultados da Gerdau será impulsionada pela divisão da América do Norte, que por sua vez será auxiliada pelo aumento dos spreads de metal, com a margem Ebitda [Ebitda sobre receita líquida] consolidada podendo atingir cerca de 32% (aumento de 1 ponto percentual no ​​trimestre).

Já como destacado acima, as mineradoras devem reportar os resultados mais fracos no trimestre devido às quedas nos preços do minério de ferro e cobre, juntamente com os custos de frete mais altos, ressalta o Credit, vendo números piores para Vale e CSN Mineração numa base relativa.

O Itaú BBA projeta um Ebitda de US$ 7,2 bilhões para a Vale, com queda de 36% no trimestre, mas aumento de 16% no comparativo anual, em meio a um preço realizado de minério de ferro de US$ 127 a tonelada (versus US$ 183 a tonelada no segundo trimestre), com a queda em preços realizados ultrapassando o declínio no benchmark devido a ajustes no
mecanismo de precificação e concentração potencial de vendas no final do trimestre (quando os preços estavam mais baixos). A expectativa é de um custo caixa mais alto por tonelada seguindo um aumento nos custos de estoque e frete (em maior exposição ao frete spot).

Para o negócio de metais básicos, a projeção é de um Ebitda de cerca de US$ 730 milhões (queda de 15% na base trimestral), já que os preços mais altos do níquel são mais do que compensados ​​por volumes reduzidos de níquel, preços mais baixos do cobre e um custo caixa mais alto por tonelada para ambos os produtos. Resultados na divisão de carvão
devem entrar em território positivo pela primeira vez desde 2018, devido ao aumento dos preços.

A XP destaca, por sua vez, esperar que a Aura Minerals (AURA33) divulgue resultados mais tímidos após um relatório de produção mais fraco no terceiro trimestre (61 mil onças de ouro equivalente, queda de 2% no trimestre), afetado por alguns efeitos não recorrentes ao longo do período. “Também destacamos que os preços mais baixos dos metais devem prejudicar o desempenho da companhia. Acreditamos que o mercado deve prestar atenção na teleconferência da empresa para entender melhor os teores nas minas e o crescimento da produção em Aranzazu e Gold Road”, avalia.

Papel e celulose: Klabin deve se destacar

Para papel e celulose, os preços de celulose realizados devem melhorar no trimestre, aponta o Credit, ainda que custos de caixa mais altos devam pesar negativamente, levando a resultados mais fracos na divisão de celulose.

No entanto, avalia Ribeiro, os resultados da Klabin em uma base consolidada devem superar os demais, dados os diversos aumentos de preços de papel anunciados no trimestre, o que deve levar a uma melhora sequencial no Ebitda consolidado.

Já a Irani (RANI3) deve se beneficiar de preços de embalagens papelão ondulado (OCC) mais baixos e algum carregamento de preços do trimestre anterior.

O Itaú BBA projeta para a Klabin um Ebitda de R$ 1,9 bilhão no terceiro trimestre (alta de 6% na comparação trimestral e 54% na base anual). Um aumento sequencial na demanda e o início da primeira máquina kraft do projeto Puma II suportará os volumes de vendas no negócio de papel, avaliam, com expectativa de alta de 5% dos volumes no trimestre, enquanto os preços realizados provavelmente subirão 7%.

Já do lado de custos, a expectativa é de um aumento sequencial do Custo de Produtos Vendidos (CPV) por tonelada, dado que o repasse da inflação para a maioria das linhas. A divisão de celulose provavelmente reportará resultados mais fracos.

Petrobras: números fortes

O Credit Suisse espera um forte resultado para a Petrobras (PETR3;PETR4), em meio a alta dos preços do petróleo no período. A projeção é de um Ebitda de US$ 11,5 bilhões no terceiro trimestre, alta de 67% na comparação anual, enquanto o lucro líquido deve ficar em US$ 2,1 bilhões.

Em relatório após os dados de produção, a a Levante Ideias de Investimentos destacou ver como positiva a estratégia da companhia de desinvestir em ativos não estratégicos (campos em terra, águas rasas e pós sal) e investir na exploração e produção em campos no pré-sal, que possui um petróleo de maior qualidade e melhores retornos para a companhia.

Outro ponto positivo, avalia, é o aumento da participação do pré-sal utilizado nas refinarias da companhia, atingindo 65% em setembro. “As refinarias brasileiras vêm passando por adequações para aumentar sua flexibilidade e viabilizar o refino do petróleo brasileiro. Inicialmente, elas foram construídas para refinar a commodity leve importada. Também houve uma boa melhora nas vendas, à medida que o consumo se recupera com o arrefecimento da pandemia”, apontam.

Os analistas ressaltam que a Petrobras atravessa um momento muito favorável ao setor, com a commodity acima dos US$ 80 por barril. “Seu resultado deve apresentar ótimos números com recordes em algumas linhas”, apontam. Porém, avaliam que a questão política segue impactando a companhia.

Consumo e varejo 

A temporada de resultados para os segmentos começa em 28 de outubro com a Alpargatas (ALPA4) e o Assaí (ASAI3) seguida por alguns resultados na semana de 1º de novembro e a maioria das empresas reportando na semana de 8 de novembro.

A projeção do BBI é de uma melhora no ímpeto entre os nomes de vestuário, com vendas de mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) geralmente acima dos níveis de 2019 e a pressão nas margens diminuindo (embora ainda pressionada em relação a 2019). Os analistas do banco esperam ver os resultados mais fortes da Arezzo & Co (ARZZ3), Grupo SBF (SBFG3) e Lojas Renner (LREN3).

A XP, por sua vez, espera resultados mistos para as varejistas tradicionais, uma vez que a incerteza do cenário macro e a deterioração da renda devem pesar na recuperação do consumo. “As varejistas focadas em classes mais altas devem ser o destaque no segmento, pois devem apresentar resultados sólidos tanto em termos de crescimento de receita quanto de rentabilidade, o que esperamos que continue no quarto trimestre”, avaliam os analistas, vendo Arezzo e o Grupo Soma (SOMA3) como os principais destaques positivos.

O BBI espera ver o ímpeto lento ou deteriorado em categorias como móveis, eletrônicos e linha branca, todos importantes para os nomes de comércio eletrônico, com os analistas destacando que os resultados do trimestre parecem improváveis de serem um catalisador para uma revisão na recomendação.

A expectativa no e-commerce também é de uma desaceleração sequencial de crescimento na visão da XP, devido à forte base de comparação vs. 2020. As empresas devem reportar um crescimento anual no canal online, porém desacelerando em relação aos trimestres anteriores, devido à base de comparação de 2020. “Além disso, esperamos ver a rentabilidade pressionada devido a um cenário macro mais desafiador, juntamente com custos crescentes e um custo por clique mais alto por conta do aumento da competição”, avaliam os analistas.

Veja também: Confira o calendário de resultados do 3º trimestre de 2021 da Bolsa brasileira

Para os analistas do BBI, a  inflação de custos de insumos – e a capacidade de repasse – será um tema central durante a temporada de resultados e, nesse contexto, veem a atenção dos investidores mais voltada para Alpargatas e Natura & Co (NTCO3).

“As nossas escolhas principais [no setor] – Alpargatas, Assaí, Grupo SBF e Natura & Co. – permanecem, embora reconheçamos que existem algumas incertezas de curto prazo em torno de cada uma, e os resultados do terceiro trimestre não são necessariamente um direcionador”, avaliam.

Com relação ao varejo alimentar, a XP vê que os resultados dos supermercados devem ser pressionados por bases de comparação difíceis, com a recuperação do consumo fora de casa também sendo um desafio. No entanto, o canal do atacarejo deve permanecer sólido, pois (i) a inflação alta favorece a mudança para uma alternativa de canal mais barata, (ii) não possui a base difícil de comparação do segmento não alimentar, e (iii) o canal B2B deve acelerar com a reabertura e vacinação mais ampla. Assim, avaliam que o Assaí deve se destacar positivamente no segmento, com o Pão de Açúcar (PCAR3) sendo o destaque negativo.

Já as farmácias devem apresentar resultados sólidos, mas em desaceleração, uma vez que as empresas agora enfrentarão uma base de comparação com o reajuste de preços de 2020, enquanto a lucratividade deve cair na base trimestral, uma vez que os custos dos estoques estão agora em linha com os preços dos medicamentos. A XP vê a RD (RADL3) como o destaque positivo e a d1000 (DMVF3) como o destaque negativo.

Frigoríficos e alimentos

A XP destaca que as perspectivas permanecem mistas no setor de alimentos devido às diferenças geográficas e dado que cada tipo de proteína apresentou uma performance diferente no trimestre.

Na América do Norte, apesar no aumento de preços de animais vivos, a demanda continuou forte tanto para o mercado doméstico quanto para exportação, o que leva os analistas a terem uma visão positiva para o trimestre, com possibilidade de outro trimestre recorde para carne bovina.

Na América do Sul, a produção brasileira foi afetada por dois casos atípicos de EEB (“mal da vaca louca”), o que levou o governo brasileiro a banir exportações de carne bovina para a China, a qual ainda não retomou as importações, o que deve causar um efeito negativo nas margens da indústria de carne bovina.

Em relação às aves e suínos, parte por conta da recuperação de exportações mas também devido a um período de consumo sazonal mais forte, a XP espera um trimestre de melhoria, embora possa ser muito cedo para projetar um efeito positivo de preços mais baixos de farelo de soja e milho. A perspectiva mais positiva para as próximas safras de milho e soja pode ser um ponto de virada para o setor, avaliam.

O Bradesco BBI aponta que o resultado da JBS, a ser divulgado em  10 de novembro, deve ser positivo para a ação, já que o banco projeta um Ebitda 36% acima do consenso de mercado, para R$ 1,475 bilhão. “Também achamos que as estimativas de mercado ainda não refletem totalmente as fortes margens para a divisão de carne bovina da empresa nos Estados Unidos no trimestre e as melhorias sequenciais nas margens para as divisões de carne suína nos Estados Unidos e carne
bovina brasileira”, apontam. Já para a BRF, a projeção do BBI é alinhada com o mercado, de R$ 1,285 bilhão, queda de 2% na comparação anual.

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Já sobre o segmento de bebidas, com destaque para a Ambev (ABEV3), a XP avalia que as plataformas de vendas digitais, como Zé Delivery e Bees devem compensar os maiores custos dessa entrega mais atomizada, além de permitir a ampliação do portfólio, algo necessário para satisfazer um consumidor mais exigente. Contudo, a pressão de custos continua um problema para o setor. Por outro lado, a expectativa é de que a recuperação do consumo se mostre mais acelerada na América do Sul e América Central, especialmente no Brasil (saiba mais clicando aqui).

Construtoras e shoppings

A XP aponta que as construtoras de baixa renda da nossa cobertura devem reportar um sólido crescimento de receita, à medida que continuam ganhando participação de mercado no programa habitacional Casa Verde e Amarela.

Já do lado negativo, esperam que a compressão da margem bruta continue devido ao aumento dos custos de construção.

“Para empresas de média e alta renda, acreditamos que os recentes aumentos de preços devem ter um leve impacto na velocidade líquida das vendas no terceiro trimestre. No entanto, as empresas de alta renda devem reportar margens relativamente estáveis, pois vemos os desenvolvedores como sendo capazes de passar marginalmente os custos mais altos para os preços por unidade”, avalia.

O Bradesco BBI espera que a Cyrela (CYRE3) e a Direcional (DIRR3) sejam os principais destaques positivos da temporada, mantendo os sólidos resultados operacionais e financeiros. Já do lado negativo, esperam que a Tenda (TEND3) fique atrás dos seus pares em lançamentos e margem bruta.

Em média e alta renda, a expectativa é de um trimestre suave para as vendas, com a inflação de custos em 12 meses aumentando gradualmente sobre os preços de venda, com uma série de lançamentos em espera, aguardando melhor visibilidade em um quarto trimestre de 2021 mais forte em termos sazonais. Além de Cyrela, Moura Dubeux (MDNE3) devem ser os destaques positivos do segmento.

Sobre shoppings, os analistas da XP esperam que as empresas de shoppings continuem recuperando seus resultados no terceiro trimestre de 2021, alimentados pelo alívio nas restrições devido à evolução da vacinação, o que deve impactar positivamente o desempenho operacional e a demonstração de resultados do trimestre.

Já para armazéns e centros de distribuição, a XP continua vendo uma demanda aquecida por ativos bem localizados e de alta qualidade, explicada pelos players de logística e e-commerce, que devem continuar a impulsionar os ganhos da LOG CP (LOGG3).

Para os analistas, a JHSF (JHSF3) deve apresentar fortes resultados, impulsionados pelas vendas do complexo de Boa Vista e a recuperação dos shoppings (o que deve mais do que compensar os impactos em seus restaurantes e segmentos de hospitalidade).

Bens de capital

No setor de bens de capital, quem inaugura a temporada de balanços é a WEG (WEGE3), no dia 27 de outubro.

A XP espera que a companhia registre resultados sólidos no período, com receita de cerca de R$ 5,5 bilhões, em alta de 15% na base anual, embora de modo desacelerado comparado ao forte crescimento observado ao longo dos últimos trimestres explicado principalmente pela (i) apreciação cambial, que pressiona o crescimento da receita externa em reais, e (ii) base de comparação mais difícil. A expectativa é de um Ebitda de R$ 980 milhões, com margens de cerca de 18% diminuindo ligeiramente, principalmente devido a pressões de custo de matéria-prima, enquanto espera-se um lucro líquido de cerca de R$ 750 milhões, alta de 16%.

Já o Bradesco BBI aponta que a Tupy (TUPY3) deve ser o destaque positivo, com margem Ebitda de 14,4% no trimestre (alta de 5,8 pontos percentuais no comparativo trimestral). A estabilização na curva de preço da matéria-prima pode permitir que a Tupy recupere sua margem Ebitda com a cláusula de repasse de custos relacionada aos OEMs (equipamentos originais).

A Marcopolo (POMO4), por sua vez, deve reportar resultados fracos no trimestre, embora possa ser um
ponto de inflexão já que o governo federal concluiu o leilão do programa “Caminho da Escola” em junho de 2021 com entregas previstas para começar no quarto trimestre de 2021 e a demanda por viagens de ônibus intermunicipais começa a se recuperar.

A Randon, avalia o banco, deve registrar receita líquida de R$ 2,4 bilhões (alta de 59% no comparativo anual), Ebitda de R$ 377 milhões (avanço de 40% no comparativo anual) e lucro líquido de R$ 159 milhões (variação positiva de 37%
no comparativo anual). “Esperamos fortes volumes nas divisões de reboques e autopeças, acompanhados de margem
Ebitda consolidada acima de 15% no trimestre”, apontam os analistas.

Aéreas e aluguel de carros

A expectativa é de recuperação para as aéreas, ainda que boa parte dos analistas ainda veja muitos desafios para as companhias do setor. O Itaú BBA aponta em relatório que os principais números a serem observados são os relacionados à recuperação e rentabilidade da receita unitária de passageiro (PRASK) da Azul (AZUL4) e da Gol (GOLL4).

Segundo os analistas, o ASK (assentos-quilômetros oferecidos) da Azul já retomou ao patamar pré-pandemia em 9% no terceiro trimestre, conforme apontaram os dados operacionais, enquanto a Gol ainda não, com 63% do patamar pré-pandemia do terceiro trimestre de 2019, ainda que a demanda já esteja voltando.

O Itaú BBA espera uma alta de 15% de PRASK no trimestre, levando em conta a recuperação da capacidade e demanda e a projeção de um rendimento 10% maior no período, o equivalente a 89% do nível registrado no terceiro trimestre de 2019. As viagens corporativas estão se recuperando a um ritmo mais gradual, mas ainda assim a expectativa é que a volta dos passageiros gere uma compensação pelos maiores custos de combustível e o câmbio desfavorável.

Em relação às despesas financeiras líquidas, o relatório prevê um prejuízo de R$ 1,2 bilhão, refletindo a desvalorização do real no trimestre.

Sobre a Gol, os analistas apontam que a companhia está com uma rígida disciplina na adição de capacidade e o investimento em jatos mais eficientes em termos de consumo de combustível. por outro lado, ainda há impacto do preço do combustível e o real desvalorizado.

Para as locadoras, a temporada de resultados começa no dia 26 de outubro, com a Localiza reportando seus resultados após o fechamento do mercado.

Na visão do BBI, a Movida deve ser o destaque positivo do trimestre, com Ebitda crescendo 157% no comparativo anual (68 pontos percentuais acima da média do setor) graças a uma combinação da consolidação da CS Frotas e um forte crescimento orgânico. A projeção é de um Ebitda do trimestre em R$ 547 milhões, 9% à frente do consenso de mercado.

Localiza e Unidas também deverão alavancar os preços mais altos de aluguel e as margens de Seminovos, apesar do menor volume de entregas de carros novos, resultando no respectivo crescimento de lucros de 10% e 7% no trimestre, avaliam os analistas.

A XP destaca que, no setor de transportes, a evolução positiva será no setor de locação de carros, com a Unidas e a Movida atualizando os preços do Rent-a-Car (RaC), seguindo o movimento anterior da Localiza em trimestres anteriores.

“Acreditamos que isso ajuda a aliviar as preocupações do mercado em torno dos níveis de retorno da indústria, devido ao forte aumento nos preços dos carros novos. No final das contas, vemos resultados ainda sustentados pelo forte momento de Seminovos”, apontam.

Saúde

Os analistas da XP esperam bons resultados para as empresas de saúde em geral, já que os impactos da pandemia podem não ser tão fortes quanto foram no trimestre anterior.

“As mais afetadas pela Covid-19 no primeiro semestre foram as verticalizadas, e, em nossa opinião, são as que apresentam as maiores melhorias na comparação trimestral, com menos internações e, consequentemente, menor sinistralidade”, apontam.

Já os laboratórios devem mostrar bons resultados, pois continuam a se recuperar de um período terrível de queda acentuada nos volumes e alta dependência dos testes da Covid-19 logo em seguida. Os hospitais podem mostrar alguma estabilidade na comparação trimestral, com o menor número de admissões Covid-19 compensado por um aumento nos procedimentos eletivos. As empresas farmacêuticas devem continuar a crescer de forma consistente, seguindo a tendência de crescimento do mercado geral de medicamentos e outros produtos farmacêuticos, avaliam.

Olhando para ativos específicos, o Credit Suisse espera que Hapvida e NotreDame Intermédica tenham um resultado abaixo do normal, com poucas adições orgânicas e sinistralidade ainda impactadas pela segunda onda da Covid, mas sem surpresas.

Para a Rede D’Or, os analistas esperam que a menor contribuição das admissões do Covid seja amplamente compensada por outros procedimentos, com as margens provavelmente sendo beneficiadas. Já os aumentos nas taxas de juros devem se refletir em maiores despesas financeiras.

Com relação à Hypera, a visão é positiva, seguindo tendência do trimestre anterior, com o crescimento do sell-out continuando acima do mercado. Qualicorp (QUAL3), um dos destaques negativos da última temporada, deve continuar enfrentando um cenário desafiador para o seu churn (índice de cancelamento) e despesas comerciais mais altas, apesar das adições brutas.

Os dois últimos destaques ficam para Fleury (FLRY3), com um balanço negativo, mas sem surpresas. “Os testes da Covid ainda estão contribuindo para as receitas, mas em uma base decrescente. No entanto, ainda pode estar ofuscando a demanda base”. Já na Odontoprev (ODPV3), não se espera um crescimento orgânico significativo uma vez que, devido a menor utilização na pandemia, a empresa não conseguiu negociar um aumento favorável nos tickets para planos corporativos.

Educacionais

O Morgan Stanley destacou esperar resultados mistos, mostrando tendências de admissão positivas, mas ainda com pressão de margem generalizada em negócios no campus.

Para a Cogna (COGN3), os analistas projetam uma melhora para o segmento de ensino superior (Kroton) depois da reestruturação, mas custos no ensino secundário e maiores despesas seguirão impacto os resultados.

Já para a Yduqs (YDUQ3), a projeção é de alta da receita com elevação de sua participação no segmento premium e no ensino à distância, ainda que as margens devam seguir pressionadas também pelas despesas com marketing.

Elétricas e saneamento

A XP aponta que, do lado das distribuidoras de energia, os resultados devem refletir um aumento na comparação anual resultado da redução das medidas de isolamento social e o retorno das atividades presenciais, decorrente do avanço da vacinação no país. Já para as geradoras, os resultados devem ser impactados negativamente pelo GSF menor (medida do risco hidrológico, refletindo a menor incidência de chuvas no trimestre) e consequentemente maiores compras de energia. Já as transmissoras de energia não devem ter grandes surpresas.

Quanto às companhias de saneamento, os resultados devem ser impactados negativamente por custos com energia elétrica mais elevados e uma maior participação da demanda residencial no mix, o que implica em tarifas médias mais baixas. “Por outro lado, os volumes devem vir mais fortes em uma comparação anual, dado a flexibilização das medidas de isolamento social”, apontam.

Tecnologia e telecom

A XP espera que as empresas brasileiras de tecnologia que cobrem, Locaweb (LWSA3), Totvs (TOTS3), Bemobi (BMOB3) e Positivo (POSI3), apresentem resultados sólidos no terceiro trimestre, com destaques, principalmente de crescimento da receita, para Positivo e Locaweb.

A Locaweb, aponta, ainda se beneficia do crescimento do e-commerce e da aceleração em (i) adições líquidas de clientes; (ii) crescimento orgânico e (iii) incorporação de fusões e aquisições. “No entanto, estimamos uma contração da margem Ebitda no terceiro trimestre devido a aquisições recentes, o que pode aumentar a preocupação dos investidores no curto prazo”, avaliam.

Já a visão dos provedores de internet (ISPs) brasileiros que cobrem, Brisanet (BRIT3) e Unifique (FIQE3) é mista. A Unifique deve reportar um forte crescimento de receita. Já a Brisanet já divulgou resultados operacionais fracos no terceiro trimestre, especialmente em setembro, sinalizando um ambiente macroeconômico mais desafiador na região Nordeste, bem como uma competição mais acirrada.

Confira a agenda dos resultados trimestrais*:

Fonte: B3, Bloomberg e XP Investimentos; *datas ainda passíveis a alterações a depender das mudanças anunciadas pelas empresas ao mercado.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.