Ambev: noticiário agitado e expectativa por bons resultados não fazem ação “sair do lugar”; o que esperar para os papéis?

Expectativa é de aumento da participação de mercado no curto prazo, mas analistas veem menor crescimento pela frente com maior capacidade da Heineken

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Novidades sobre a concorrência, elevação de preços e diversas prévias para o resultado do terceiro trimestre de 2021, que sairá no próximo dia 28 de outubro.

Mesmo assim, as ações da fabricante de bebidas Ambev (ABEV3) praticamente não saem do lugar. Desde o último dia 17 de setembro, as ações fecharam todas as sessões na casa dos R$ 15, ainda que as últimas sessões sejam de forte volatilidade para o mercado.

Esse movimento reflete também as visões bastante distintas sobre o ativo, que já foi um “queridinho” dos analistas, mas, como se mostra na prévia de resultados, suscita uma visão bem diferente sobre o seu futuro.

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Entre os otimistas, estão o Credit Suisse e o Bradesco BBI, ainda que o primeiro banco tenha cortado projeções para a companhia.

Já o BBI reiterou recentemente recomendação de compra e preço-alvo para 2022 de R$ 21, projetando estimativa para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado para o terceiro trimestre de R$ 5,075 bilhões, 2% acima do consenso de mercado, enquanto a projeção para o lucro é 9% acima do consenso, a R$ 2,565 bilhões.

“Estamos mais otimistas do que o mercado em relação aos volumes da divisão brasileira de cerveja da Ambev no terceiro trimestre de 2021, o que é um fator-chave para a ação, e esperamos um número estável em base anual, enquanto acreditamos que o mercado espera um declínio de um dígito baixo no período. Outros fatores a serem monitorados serão a receita por hectolitro (preço) da divisão de cerveja brasileira, que deve crescer 10% em base anual no terceiro trimestre de 2021, e a margem Ebitda [Ebitda/receita líquida] da divisão de cerveja brasileira, que deve melhorar em relação ao trimestre anterior, para 27,6%”, apontam os analistas do BBI.

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O Credit, por sua vez, afirmou que, mais uma vez, o destaque será para as iniciativas de preços (com o “carregamento” do quarto trimestre de 2020 e aumentos em junho), melhor portfólio e otimização de descontos que suportou os preços da companhia. Assim, os analistas esperam que as vendas de cerveja da Ambev Brasil cresçam cerca de 8% na comparação anual, com os volumes caindo cerca de 1% (mas com alta de 24% versus os níveis pré-Covid).

Dada a pressão de custos e de maiores despesas gerais e administrativas, com bônus e marketing, os analistas do banco suíço esperam que o Ebitda deva cair 14% na base anual, mas com a margem se recuperando sequencialmente para 26,5% (versus 22% no segundo trimestre).

Para os analistas, apesar da leitura positiva em relação à queda pequena dos volumes, eles acreditam que o mercado vai continuar focado na trajetória de recuperação da margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) para frente e portanto, não esperam que os resultados façam preço significativo no papel.

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O Bank of America também aponta que a dinâmica deve ser parecida com a observada no primeiro semestre de 2021, com uma forte receita, mas com as margens ainda decepcionantes. Os analistas da casa esperam uma margem Ebitda de 28,3%, queda de 3,2 pontos na base anual. A base de comparação será difícil e a expectativa é de que o segmento de cerveja no Brasil caia 2%, o que é visto como uma baixa modesta em meio às iniciativas comerciais e problemas de interrupção na Heineken.

“A Ambev está enfrentando um novo normal de lucratividade. Algum alívio de custos pode ser observado a partir do final de 2022 e em 2023, o que poderia ajudar a recuperar metade da margem perdida em 3-4 anos (mínimo em 2022), mas a outra parte é perdida devido a uma nova estrutura de custos gerais e administrativos, ambiente competitivo mais acirrado e menores benefícios fiscais”, apontam os analistas do banco.

O Morgan Stanley aponta que o desempenho em termos de volume deve ser  sólido para a Ambev no terceiro trimestre. “Já esperávamos que o forte impulso de receita continuasse no segundo e terceiro trimestres e reconhecemos a execução muito forte da empresa (por exemplo, Zé Delivery)”, avaliam.

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Eles também acreditam que tal desempenho pode ser em parte explicado pela capacidade restrita da Heineken no Brasil, que foi uma questão se permaneceu relevante no terceiro trimestre, já que a nova instalação da companhia em Ponta Grossa deve entrar em operação apenas no início do quarto trimestre de 2021.

Além disso, os analistas do Morgan apontam que o portfólio de cervejas econômicas da Heineken teve um desempenho sólido no terceiro trimestre de 2020 (um ligeiro aumento ano-a-ano), então é concebível que em igual período de 2021 um novo rebalanceamento do portfólio também poderia ter explicado a dificuldade de volume da concorrente.

“Por fim, com base em nossas conversas com a empresa, entendemos que a Heineken pode ter enfrentado interrupções operacionais ao trabalhar na nova transição com o sistema de distribuição de Coca-Cola. Considerando tudo isso, não nos surpreendemos em ver a Ambev conquistando ainda mais participação de mercado no Brasil neste último trimestre”, apontam.

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Porém, eles ponderam. “Ao mesmo tempo, olhando para o futuro, conforme a nova capacidade da Heineken aumenta e a transição com a Coca fica para trás, esperamos um trimestre um pouco mais difícil para a Ambev na frente da concorrência”, avaliam. Morgan e BofA têm recomendação equivalente à venda para os ativos.

Cabe ressaltar que, na semana passada, foi anunciada a decisão liminar (medida provisória) da Justiça mineira para retomar as obras de sua cervejaria em Pedro Leopoldo, em Belo Horizonte (MG). Em setembro, a suspensão da construção foi ordenada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) devido ao risco de danos ao sítio arqueológico, representando um obstáculo a menos para a ampliação da capacidade da concorrente da Ambev.

O BBI aponta que essa decisão liminar não muda a visão dos analistas da casa sobre a Ambev, pois o caso-base assume que essa planta será construída e concluída dentro do cronograma (em meados de 2023). “Observamos que a Heineken tem enfrentado restrições de capacidade que beneficiaram a Ambev no lado competitivo. Para resolver esses gargalos, a Heineken anunciou R$ 2,6 bilhões em investimentos entre 2019 e 2023, sendo esta planta em Pedro Leopoldo o projeto principal, com um investimento estimado de R$ 1,8 bilhão (e 760 milhões de litros em capacidade de produção)”, avaliam.

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Dito isso, o caso base assume que a Ambev aumentará os volumes de cerveja brasileira em 2% em 2022, já que as restrições de capacidade da Heineken provavelmente ainda resultarão em condições competitivas favoráveis. Contudo, o crescimento da Ambev cairá para quase estável em 2023 e 2024 à medida que novas capacidades entram no mercado.

O Credit Suisse, por sua vez, reduziu o preço-alvo de R$ 21,50 para R$ 18,50, refletindo as estimativas de lucro por ação esperado para 2022 5% mais baixas devido ao maior custo de insumos e maior custo de capital. Porém, os analistas seguem vendo a ação como barata, com um desconto de 15% ante a média histórica, o que eles não acreditam ser um valor justo considerando a melhor execução e performance acima em relação à indústria.

Analistas de mercado seguem bastante divididos com relação à ação. De acordo com compilação da Refinitiv, de 15 casas que cobrem o papel, 5 recomendam compra, 6 têm recomendação de manutenção e 4 possuem recomendação equivalente à neutra, com preço-alvo médio de R$ 17,17, ou uma alta de 12,7% em relação ao fechamento de segunda-feira (11).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.