Quais são os melhores investimentos com a Selic a 10,75% ao ano, perspectiva de novas altas e proximidade das eleições?

As recomendações seguem em papéis pós-fixados atrelados ao CDI e à inflação; há ainda opções interessantes dentro da Bolsa, especialmente em commodities

Bruna Furlani

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Assim como era amplamente esperado pelo consenso de mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seguiu à risca o que foi contratado na última reunião, em dezembro, e elevou a Selic para 10,75% ao ano nesta quarta-feira (2), o que representa uma alta de 1,5 ponto percentual. Com isso, a taxa básica de juros voltou para patamares acima de dois dígitos, o que não era visto desde meados de 2017.

No comunicado, os dirigentes destacaram que a decisão reflete seu cenário de referência e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva. Eles também pontuaram que a nova taxa é “compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o anos-calendário de 2022 e, em grau maior, o de 2023”.

Ao comentar sobre os próximos passos, o comitê disse que antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa Selic. “Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, destacou.

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“O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, emendou.

A expectativa de economistas consultados pelo Banco Central é de que os juros sejam elevados, de forma menos acelerada, nas próximas reuniões e encerrem 2022 em 11,75% ao ano, conforme o Relatório Focus divulgado nesta semana.

Nesse cenário, especialistas ouvidos pelo InfoMoney afirmam que boa parte das oportunidades de investimento seguem nos papéis pós-fixados – tanto os que acompanham a variação da Selic (como o título público Tesouro Selic) quanto os atrelados à taxa do CDI, como os CDBs pós-fixados.

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Destaque também para ativos atrelados à inflação e com isenção de Imposto de Renda, como certificados de recebíveis, debêntures incentivadas, além de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs).

Embora o cenário pareça mais desafiador para as companhias abertas, já que o aumento da Selic provoca impacto nas despesas financeiras e, consequentemente, sobre o lucro dos negócios, gestores afirmam que a Bolsa segue atrativa e que há ações descontadas no setor de commodities.

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Renda fixa pública

A elevação dos juros para patamares acima dos dois dígitos faz com que ativos atrelados ao CDI voltem a ter maior apelo. O motivo, explica Christiano Clemente, CIO do Santander Private Banking, é que com a taxa básica de juros mais próxima dos 11% – e, na visão do Santander, com chances de chegar a 12,25% no fim do ano – a renda fixa pós-fixada fica mais perto do famoso “retorno de 1% ao mês”.

O executivo, no entanto, afirma que o ambiente mais incerto reforça a seleção de papéis de curto prazo. Nesse caso, diz ele, a melhor opção pós-fixada disponível hoje no Tesouro Direto é o Tesouro Selic 2024.

Apesar de os olhares estarem atentos aos papéis pós-fixados, ativos indexados à inflação não ficam para trás. Clemente afirma que há opções interessantes dentro do Tesouro Direto. Ao olhar a relação de risco e retorno, ele considera que as melhores opções estão em papéis com vencimento médio entre quatro e cinco anos. Seguindo os prazos disponíveis no Tesouro Direto hoje, a opção mais recomendada seria o Tesouro IPCA+ 2026.

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Opções prefixadas também não são completamente descartadas, muito pelo contrário. Dan Kawa, diretor de investimentos e sócio da Tag Investimentos, afirma que o mercado precifica que a Selic pode subir acima de 12% ao ano há algum tempo – para a casa, o Banco Central está mais perto do fim do ciclo de alta do que do início.

Ou seja: a taxa básica de juros poderia voltar a cair em breve, o que costuma favorecer papéis prefixados, já que as taxas contratadas estão elevadas. Nesse caso, Kawa diz que prefere vencimentos entre três e cinco anos. Considerando os títulos disponíveis hoje no Tesouro Direto, a sugestão seria o Tesouro Prefixado 2026.

Títulos bancários: CDBs, LCIs e LCAs

Quem está de olho em adicionar uma “leve” pimenta de risco de crédito ao portfólio, pode optar também por Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) pós-fixados. Para Mariana Fenelon, gestora de renda fixa da Inter Asset, com a Selic mais alta, investidores devem voltar a ver cada vez mais títulos com retornos entre 105% do CDI e 115% do CDI.

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Ao contrário do que ocorreu no ano passado, quando a inflação ficou mais elevada do que o CDI, a expectativa é de que a alta de preços recue um pouco neste ano. Segundo ela, isso aumenta as chances de que esses ativos remunerem acima da inflação em 2022.

Um levantamento feito nesta terça-feira (1) na plataforma Yubb, que compila investimentos de diferentes corretoras, apontou que a taxa máxima bruta oferecida para CDBs com prazos de até 12 meses era de 115% do CDI. Para prazos um pouco maiores, era possível encontrar títulos que entregavam uma remuneração bruta de até 120% do CDI.

Já entre CDBs com remuneração atrelada à inflação, os retornos reais brutos podiam chegar até 6,88% ao ano. No caso de prefixados, havia títulos pagando até 13,5% na plataforma.

Quando o assunto são letras de crédito, investidores conseguiam achar LCAs e LCIs com vencimento entre dois e três anos e que ofereciam 101% e 102% do CDI, respectivamente, segundo os dados da Yubb. Entre opções prefixados, era possível encontrar LCAs com taxas de até 12% e LCIs atreladas à inflação que entregavam até 10,36% ao ano.

Na hora de analisar prazos e retornos, Mariana, da Inter Asset, pondera que o investidor deve buscar papéis que ofereçam o CDI mais 0,80% ou 1%, no caso de produtos cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Os papéis bancários (CDBs, LCIs e LCAs) são.

Kawa, da Tag Investimentos, por sua vez, diz que está de olho em LCA e LCIs prefixadas. Para ele, as melhores opções apresentam vencimento entre três e cinco anos.

Títulos de crédito corporativo: CRIs, CRAs e debêntures incentivadas

Oportunidades também não faltam entre papéis de crédito corporativo com isenção tributária, como debêntures incentivadas, CRAs e CRIs. Os preferidos de Clemente, do Santander Private Banking, são os atrelados à inflação. “Dependendo do ativo, conseguimos achar taxas reais de 7% ao ano. Estamos recomendando”, afirma, reforçando que antes de escolher um desses papéis, é preciso analisar o risco de crédito da empresa emissora.

Ele destaca que o custo da dívida subiu com a alta da Selic e a inflação está elevada, o que pode pesar sobre os balanços. Mas, segundo a casa, as companhias estão bastante sólidas e a taxa básica de juros não deve permanecer nesse patamar durante muito tempo. Já no fim de 2023, o Santander projeta que a Selic recue para 9% ao ano. “Eu tendo a acreditar que essa situação é passageira”, destaca.

Na carteira recomendada do Itaú BBA de ativos atrelados à inflação com incentivo tributário, em fevereiro, constam os CRAs da Minerva (CRA01900614), com vencimento em 2024 e taxa indicativa real de 6,2% ao ano.

Já entre as debêntures incentivadas, o portfólio do Itaú BBA sugere nomes mais focados no setor de operação logística, energia e concessionárias, como MRS Logística (MRSL27), Neoenergia (NEOE26), Rota das Bandeiras (CBAN12) e Rumo (RUMOB6 e RUMOB5). Nesse caso, os vencimentos dos ativos variam entre 2024 e 2036, e as taxas indicativas reais podem ir de 5,7% até 6,2% ao ano.

Bolsa está atrativa e há commodities descontadas

Embora o ambiente de juros mais elevados não seja muito positivo para a Bolsa, Kawa, da Tag Investimentos, afirma que a casa não alterou a sua posição em fundos que alocam em renda variável desde o meio do ano passado. Entre os nomes que a Tag tem na carteira estão os fundos de gestoras como Atmos, Bogari, Moat Capital, Velt e Equitas.

Segundo o executivo, a Bolsa segue atrativa. Mesmo em meio a um ano de forte volatilidade, há muitas empresas com resultados robustos e que as ações caíram muito.

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Na visão das analistas Betina Roxo e Paula Zogbi, da Rico Investimentos, o setor de commodities está entre os que têm papéis descontados. Em relatório, ambas destacaram que em um cenário de alta de juros nos Estados Unidos, o mercado de ações brasileiro está sendo beneficiado por uma rotação de carteiras e procura por papéis mais relacionados a valor, como bancos e commodities, setores com forte presença no Ibovespa.

Nesse ambiente, as analistas pontuam que ainda há boas oportunidades dentro do segmento, como em Bradespar (BRAP4), Braskem (BRKM5), Enauta (ENAT3), Gerdau [(GGBR4)], Petrobras (PETR4), Raízen (RAIZ4), Celulose Irani (RANI3) e Usiminas (USIM5).

Petrobras
Letreiro da Petrobras

Segundo as contas de Betina e Paula, o múltiplo EV/Ebitda – que compara o valor da empresa com sua capacidade de geração de caixa – dessas companhias estimado para 2022 está entre 2,87 vezes e 3,86 vezes. Os valores são menores do que o ponto médio – de 3,89 vezes – registrado para as ações de commodities, afirmam.

Poupança: retornos abaixo da inflação

Desde dezembro, quando a Selic alcançou o patamar de 9,25% ao ano, a forma de calcular o retorno oferecido pela tradicional caderneta de poupança foi alterada. Desde 2012, quando a taxa básica de juros supera 8,5% ao ano, a rentabilidade deixa de ser de 70% da Selic mais TR (Taxa Referencial) e passa a ser fixa de 0,5% ao mês – ou 6,17% ao ano – mais a TR.

Num primeiro momento, a sensação é de que a poupança vai render mais – e, de fato, o retorno pode aumentar, porque a Selic influencia o desempenho da TR. Porém, simulações feitas pelo InfoMoney indicam que eles seguem abaixo da inflação corrente. Na prática, o investidor continua a perder dinheiro ao deixar seus recursos aplicados na caderneta.

No melhor dos cenários, com a Selic a 10,75% ao ano, um investimento de R$ 10 mil na poupança renderia 7,58% – ou R$ 758 – em um ano. Isso levando em conta que a TR média ao longo deste ano estaria em 0,11%, segundo cálculos feitos pela LCA Consultores.

Se o investidor destinasse o mesmo valor a um produto de renda fixa com retorno de 100% do CDI, como um CDB, teria um retorno de 8,87% no mesmo período, já considerando o desconto de 17,5% do Imposto de Renda. Se a rentabilidade prometida fosse maior, como 120% do CDI, o rendimento chegaria a 10,64% ao ano.

Outro detalhe é que enquanto a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, a remuneração de 0,5% ao mês da poupança fica estacionada, enquanto o retorno de outras aplicações pós-fixadas continua subindo.

Confira simulações de retorno da taxa Selic na tabela a seguir:

Selic janeiro