A quebra da FTX, que deixou cerca de um milhão de investidores no prejuízo e jogou o mercado cripto em uma nova crise, reacendeu o debate sobre a importância de sacar Bitcoin (BTC) e demais criptomoedas – ou seja, manter os ativos digitais em carteiras individuais próprias, fora das chamadas exchanges, startups que surgiram nos últimos anos focadas apenas em ativos digitais.

Elas, em geral, fazem o papel que no mercado regulado é distribuído entre várias entidades, como custódia e liquidação de ativos. Além disso, a maioria dessas empresas opera alheia à regulação bancária, sem elo com empresas do mercado financeiro tradicional, aproveitando que a maioria dos países ainda engatinha em termos de marco legal para o setor.

Em meio a uma crise de confiança pela qual passa esse tipo de startup, investidores começaram a sacar em massa criptomoedas para realizar a custódia própria. Segundo dados da Coinglass, aproximadamente 220.000 BTC (US$ 3,6 bilhões na cotação atual) foram retirados das exchanges de criptomoedas desde 7 de novembro, quando os problemas da FTX começaram a se agravar.

A custódia pessoal é permitida pela tecnologia do Bitcoin. No final de 2008, quando o misterioso Satoshi Nakamoto inventou a moeda digital, defendeu a prática de “ser seu próprio banco”, criando contas na rede do ativo, que, além de moeda, também faz as vezes de custodiante e liquidante. Nesse caso, não é uma empresa que executa essas tarefas, mas o próprio software imutável do Bitcoin.

“Satoshi Nakamoto desenvolveu e trouxe pela primeira vez na história a ideia do dinheiro ‘auto-custodial’, que significa que a própria pessoa pode fazer a custódia de seu dinheiro. Tem até uma frase clássica que nós, bitcoiners, passamos adiante quando queremos ensinar alguém, que é a famoso ‘not your keys not your coins’ (não é a sua chave, não é sua moeda)”, disse Vinicius Kinczel, comerciante P2P de BTC e criador do canal Palavra de Satoshi.

Como funciona uma exchange?

Quando o investidor mantém suas criptomoedas em uma plataforma terceirizada, as chaves de acesso aos ativos digitais não ficam em sua posse, mas sim com a empresa. Qualquer coisa que aconteça com a exchange, portanto, pode respingar nos recursos dos usuários.

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Kinczel falou que um dos grandes riscos de deixar criptoativos em corretoras é a perda do capital, como ocorreu no caso da FTX, que estava alavancando dinheiro de terceiros sem autorização e acabou entrando em colapso. “É um risco gigantesco e vai contra a filosofia do Bitcoin”, falou.

Helena Margarido, head de research cripto e cofundadora da Monett, ressalta que outro risco das exchanges são os ataques hackers. A própria FTX disse que sofreu uma suposta investida virtual no último sábado (12) e perdeu US$ 600 milhões.

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“Existe um risco de contraparte na hora que você deposita (criptos) dentro de uma corretora centralizada, qualquer uma que seja. Como elas têm um grande saldo de criptomoedas, constantemente são alvos de ataques hackers e precisam de sistemas de segurança super parrudos e fortes. A grande maioria delas têm (esses sistemas), mas de toda maneira o usuário fica sujeito a esse risco”.

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Para Helena, o usuário deveria deixar nas plataformas apenas as moedas digitais que deseja liquidar ou deixar transitoriamente para fazer alguma operação. “Se você tem Bitcoin e quer comprar Ethereum (ETH), por exemplo, não dá para fazer isso por meio da sua própria wallet. Você transfere esse saldo que quer utilizar para uma corretora centralizada, compra ETH e manda de volta para sua carteira. Isso é o mais seguro de ser feito, sem sombra de dúvidas”, falou.

Abaixo, o InfoMoney explica detalhadamente como transferir Bitcoin de uma exchange para uma carteira pessoal. Existem carteiras físicas e virtuais. No passo a passo a baixo, você confere como usar a modalidade virtual, considerada mais simples.

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Passo a passo para sacar Bitcoin

Você deve fazer o download de uma carteira de Bitcoin na sua loja de aplicativos do celular. Há dezenas de opções no mercado. Neste texto, será usada a Exodus, lançada em 2015, para celulares. O aplicativo não guarda criptomoedas, apenas cria uma ponte entre o usuário e a rede do Bitcoin.

  1. Crie a chave de recuperação

    Depois de encontrar o app no Google Play ou App Store e fazer instalação, o primeiro passo é criar um “seed phrase” (frase de recuperação, na tradução para o português). Essa frase, composta por 12 ou 24 palavras aleatórias, é a única maneira de recuperar suas criptomoedas se você perder acesso à wallet.

  2. Crie a senha da carteira

    Logo depois de criar a frase, o app pede para você bolar uma senha de seis dígitos para acesso à carteira. Também é possível configurar o acesso por meio de sua digital, como em um aplicativo bancário.

  3. Gere um endereço de recebimento

    • Após realizar todos os passos de segurança acima, você precisa entrar na carteira do app Exodus.
    • Toque no segundo ícone da esquerda para direita na parte inferior e escolha o Bitcoin;
    •  Ao lado do preço da criptomoeda, há uma flecha apontando para baixo. Basta clicar nesse sinal de direção e copiar seu endereço do BTC, que é uma sequência aleatória de letras e números – algo como “bc1qw5ds5tmjfudecryxa6rgzyzw4jqnulvsjkc66p”.

  4. Inicie a transferência

    •  Com esse endereço em mãos, você precisa ir até sua corretora para transferir seu Bitcoin de lá para a carteira Exodus. A reportagem optou por utilizar o aplicativo (o modelo simples, não a versão pro) da Binance, a maior do mundo em volume negociado, para realizar a transferência. O processo, no entanto, é semelhante em todas as plataformas.
    No aplicativo da Binance, você precisa:
    • Ir até sua carteira (o ícone está localizado no canto inferior direito);
    • Clicar em cima do Bitcoin e, na sequência, em “saque”;
    • Depois, basta colar seu endereço de Bitcoin copiado no app Exodus – aquelas letras e números aleatórios ali de cima
    • Em seguida, selecione a rede “Bitcoin” e a quantidade de BTC que você quer enviar. Por fim, basta clicar em saque novamente.
    • Pronto, você transferiu suas unidades de Bitcoin da exchange para uma carteira custodial.

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Cuidados

A autocustódia cripto é indicada para todo tipo de investidor, segundo os dois especialistas ouvidos nesta reportagem. No entanto, disseram, os usuários precisam tomar alguns cuidados básicos. Caso contrário, eles podem ser hackeados ou mesmo perder o acesso às moedas digitas.

“O ideal é que a pessoa mantenha a seed (frase de recuperação) em um local extremamente seguro”, disse Helena.

Mas aqui vai um alerta: cuidado para não esquecer onde guardou a informação. Em 2021, o The New York Times contou a história de um homem que perdeu a senha de acesso a um dispositivo cripto e ficou com prejuízo de R$ 1 bilhão.

Já Kinczel recomenda que o usuário guarde a frase em um local desconectado – de preferência físico. “Sempre indico para as pessoas deixar a chave privada fora da internet, não tirar print e foto e nunca deixar no WhatsApp, no e-mail ou no Google Drive. Vale também  fazer várias cópias e deixar com pessoas de confiança”, falou.

“Se tiver um valor maior (em criptos), o ideal é não deixar em carteiras com acesso à Internet, que são as wallets de celular, e sim em hard wallets ou paper wallets”, completou ele.

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Uma hard wallet é um dispositivo físico semelhante a um pen drive, enquanto uma paper wallet é basicamente uma folha de papel com o endereço anotado – e que pode ser recuperada em aplicativos como a Exodus.