O Ethereum (ETH), segundo maior projeto em blockchain do mundo, abriu caminho para o surgimento de novas tecnologias revolucionárias. Uma delas é o DeFi, sigla em inglês para Finanças Descentralizadas.

Neste guia, o InfoMoney explica o que significa o termo, quando surgiu e quais os principais representantes desse mercado. Também detalha as vantagens e riscos de apostar nos produtos desse segmento, que visa descentralizar o acesso aos serviços financeiros.

O que é DeFi

DeFi é o nome dado ao conjunto de serviços e produtos financeiros, como empréstimos, transferências e sistemas de pagamentos, que rodam em uma blockchain, espécie de banco de dados descentralizado e imutável. Via de regra, essas soluções não são controladas por intermediários, como bancos ou outras instituições financeiras.

As operações em protocolos DeFi são descritas e executadas por algoritmos e smart contracts (contratos inteligentes, na tradução para o português), que são programas de computador autoexecutáveis. Um exemplo prático para visualizar como um deles funciona é um empréstimo:

Um indivíduo pode pegar dinheiro com outra pessoa em uma negociação peer-to-peer. A forma de transferência, os valores, os juros, a garantia e todos os pormenores são previamente definidos nesses contratos automatizados, e colocados em prática por eles. Não há necessidade de recorrer a um banco ou outra entidade, com suas taxas salgadas, para intermediar a operação.

A principal bandeira da tecnologia, portanto, é criar um sistema financeiro global descentralizado, independente, barato, menos burocrático e acessível a todos.

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Onde rodam as aplicações DeFi?

A principal “casa” das aplicações DeFi é a rede do Ethereum, idealizada pelo russo-canadense Vitalik Buterin em 2013, e lançada efetivamente em julho de 2015. O projeto foi o primeiro a oferecer aos usuários uma plataforma open source na qual é possível construir aplicativos descentralizadas (DApps, na sigla em inglês).

De lá para cá, outras blockchains também passaram a dar suporte para o desenvolvimento de soluções descentralizadas, como a Binance Smart Chain (BSC), a Solana (SOL) e a Avalanche (AVAX). Apesar do surgimento de novos players, o Ethereum ainda concentra a maior parte dos projetos do mercado.

Quando o DeFi surgiu?

A história do DeFi começou a ser escrita logo após o anúncio da criação da rede Ethereum. No final de 2014, o dinamarquês Rune Christensen fundou a MakerDAO (MKR), uma das primeiras aplicações a rodar no Ethereum. O projeto, uma plataforma descentralizada de empréstimos, continua na ativa, e é um dos principais representantes desse novo mercado. 

O início das finanças descentralizadas, no entanto, também teve alguns percalços, que repercutem até hoje. Em 2016, um hacker explorou uma falha no The DAO, outra aplicação DeFi pioneira, embolsando US$ 50 milhões em ETH.

Após esse episódio, desenvolvedores do Ethereum decidiram atualizar a rede, de forma a recuperar o valor perdido. Nem todo mundo, no entanto, foi a favor dessa estratégia, pois ela iria contra os ideais do projeto. Por causa disso, a rede foi dividida em duas: de um lado ficou o Ethereum, hoje o segundo maior projeto em blockchain do mundo, atrás apenas do Bitcoin (BTC); e do outro o Ethereum Classic (ETC).

Na esteira do MakerDAO e do hack do The DAO, diversos outros serviços de finanças descentralizadas ganharam vida, como o Compound (COMP), que também é um protocolo de empréstimos, a Uniswap (UNI), uma exchange descentralizada (DEX), e mais uma centena de projetos. 

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Aplicações DeFi

Veja abaixo as principais aplicações DeFi.

Exchanges descentralizadas

As DEX, como também são chamadas, são corretoras nas quais os usuários podem negociar criptomoedas entre si (peer-to-peer) sem intermediários. Nessas plataformas, tudo é controlado por algoritmos e contratos inteligentes. Elas são diferentes de exchanges centralizadas, que têm uma equipe e uma empresa no controle, como é o caso do Mercado Bitcoin e da Binance, por exemplo. Dois exemplos de DEX são a Uniswap (UNI) e a PancakeSwap (CAKE).

Plataformas de empréstimo

Funcionam como bancos e financeiras, e dão aos usuários a possibilidade de pegar empréstimos em criptomoedas. A diferença é que não há intermediários, e tudo é regido pelos smart contracts. No geral, é preciso deixar ativos digitais como garantia para ter acesso aos recursos. MakerDAO e Compound são alguns exemplos.

Stablecoins

São criptomoedas pareadas em algum ativo, como ouro, prata ou moedas fiduciárias (dólar, euro, real e outras). Dois exemplos são o Tether (USDT) e o USD Coin (USDC). Cada unidade equivale a um dólar. Essa classe de ativo, portanto, busca a estabilidade, e não é volátil como Bitcoin, Ethereum e outros criptoativos.

Qual o tamanho do DeFi?

De acordo com o DeFi Pulse, site que publica métricas sobre o mercado de finanças descentralizadas, o Valor Total Bloqueado (TVL, na sigla em inglês) em protocolos DeFi chegou a US$ 93 bilhões no início de janeiro de 2022. 

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Quais os maiores protocolos DeFi?

Os sete maiores protocolos DeFi são os seguintes, segundo o DeFi Pulse:

MakerDAO (MKR)

Foi um dos primeiros projetos DeFi a rodar na rede do Ethereum. Na prática, é uma plataforma descentralizada na qual os usuários podem depositar criptomoedas como garantia (Ethereum, Chainlink (LINK) e outras) e gerar/pegar emprestado (ou emprestar) a stablecoin Dai (DAI), que é pareada com o dólar. Há taxas, mas são bem menores que as cobradas pelos bancos. Além da DAI, o MakerDAO também tem o token de governança MKR.

Curve Finance (CRV)

É uma exchange descentralizada para negociações de stablecoins. Por ser uma DEX, não há um intermediário para organizar as compras e vendas em livros de ofertas. Na plataforma, os preços são geridos por algoritmos e smart contracts. Seu token nativo é o CRV.   

Convex Finance (CVX)

É um protocolo DeFi que dá aos provedores de liquidez da Curve Finance, projeto citado logo acima, a possibilidade de ganhar rendimentos adicionais. O CVX é seu token nativo, e pode ser usado para resgate de taxas, staking (bloqueio de criptomoedas para receber recompensas) e governança.

InstaDApp (INST)

É uma plataforma que agrega vários protocolos DeFi. Por meio dela, os usuários podem verificar suas posições nos diversos projetos, além de realizar algumas operações, como empréstimo e ganhos de juros. É possível até migrar dívidas de uma aplicação descentralizada para outra.

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Aave (AAVE)

Também é uma plataforma descentralizada de empréstimos, na qual os usuários podem emprestar (ou pegar emprestado) criptomoedas, e ganhar com os juros cobrados. Não há intermediários no processo, e tudo é regido por contratos inteligentes. AAVE é seu token nativo.

Uniswap (UNI)

É uma das principais exchanges descentralizadas do mercado de criptomoedas. Assim como a Cuve Finance e outras DEX, a Uniswap, alimentada por seu token UNI, não tem intermediários. Preços, liquidez e negociações são geridos por contratos inteligentes, conforme regras previamente estabelecidas.

Compound (COMP)

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O Compound também é um protocolo descentralizado de empréstimo, e seu ativo é o COMP. O projeto permite que os usuários peguem criptomoedas de outros, ou concedam, ganhando juros em cima dos valores. As taxas são ajustadas frequentemente, de forma automática, conforme a oferta e a procura.

O futuro dos sistemas bancários

O futuro do sistema bancário é ficar cada vez mais integrado com o mercado de criptomoedas, segundo Bruno Diniz, cofundador da consultoria Spiralem e professor dos cursos de MBA da Universidade de São Paulo (USP).  

“Por muito tempo o segmento de criptoativos foi visto como um submundo atrelado a atividades ilícitas, e as instituições financeiras não falavam sobre o assunto com os clientes. A demanda por BTC e altcoins, no entanto, foi tão grande, que os bancos não conseguiram mais tapar os olhos para esse mercado, que cresce como um câncer”, disse.

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Desde o 2021, bancos internacionais e nacionais passaram a oferecer produtos com exposição em criptomoedas, como fundos de investimentos e ETFs (Exchange Trade Fund, em inglês). Por causa do “boom” desse setor, os bancos centrais do Brasil e de outros países também começaram a discutir maneiras de conversar com esse mercado.

No caso do DeFi, os primeiros passos para uma aproximação com as instituições financeiras tradicionais também já foram dados. No início de 2022, a Aave lançou um protocolo DeFi “amigável” para os bancos, que inclusive tem mecanismos de Conheça Seu Cliente (KYC, em inglês), característica que foge da natureza “livre” e quase anônima das finanças descentralizadas.

Como investir em DeFi

Há diversas formas de investir em DeFi. As principais são as seguintes:

Tokens em exchanges

Uma das maneiras mais fáceis de entrar no mundo das finanças descentralizadas é se cadastrar em uma exchange e comprar tokens de plataformas DeFi, como UNI e AAVE, com moeda fiduciária. Boa parte das corretoras com operação no Brasil, como Binance, Mercado Bitcoin e Foxbit, oferecem criptomoedas de protocolos descentralizados.

Fundos de investimento

Também é possível investir por meio de produtos que aplicam recursos em DeFi. Em 2021, a casa de investimento Vitreo lançou fundos com exposição parcial e integral a protocolos desse segmento. Fundos geridos pela Hashdex, BLP e QR Asset também têm ativos DeFi nas suas cestas. Há opções para investidores qualificados e de varejo.

Empréstimos e pools

Outra maneira de investir é manter criptomoedas em pools (contrato inteligente no qual os usuários podem deixar seus tokens para gerar liquidez) de plataformas DeFi ou emprestar as criptos para outros usuários, ganhando juros com isso. 

Como pegar empréstimo em uma plataforma DeFi?

Uma das principais plataformas de empréstimo DeFi é o MakerDAO. Confira abaixo um passo a passo sobre como pegar criptomoedas por meio desse protocolo.

Para pegar empréstimo em DAI, a stablecoin do MakerDAO, você precisa deixar uma criptomoeda como garantia. A plataforma aceita ativos como ETH (o mais comum), LINK e outros. Por isso, é preciso ter uma carteira de criptomoedas compatível com a plataforma, já com algumas unidades do criptoativo que será deixado como colateral.

Uma das wallets que o MakerDAO aceita é a MetaMask. Para usá-la, basta entrar no site da carteira (confira se é o verdadeiro) e adicioná-la como extensão do navegador. Depois, é preciso ir até uma exchange tradicional onde você tem conta, comprar ETH e enviar para seu endereço na MetaMask.

Após enviar as unidades de ETH para sua wallet, é preciso acessar a plataforma “Oasis.app”, que dá ao usuário a possibilidade de negociar e emprestar DAI. Dentro do Oasis, que tem versão em português, basta clicar em “Conecte uma carteira” e clicar na wallet MetaMask, usada neste exemplo. Lembrando que há outras carteiras compatíveis, como Coinbase Wallet, Portis e outras compatíveis com o padrão WalletConnect.

Depois de escolher a carteira, a plataforma Oasis apresenta uma série de criptomoedas que podem ser usadas como garantia. Basta clicar na opção desejada, e depois apertar no botão de empréstimo – no caso do ETH, por exemplo, está escrito “Pegar empréstimo com ETH”. 

Na sequência, a plataforma mostra a “taxa de estabilidade”, cobrada dos usuários pelo serviço. Esse valor varia conforme decisão dos detentores de MKR, que é o token de governança do MakerDAO. No dia 6 de janeiro de 2022, por exemplo, a taxa cobrada dos usuários em busca de empréstimo era de 2,75%.    

Vantagens do DeFi

Os protocolos DeFi oferecem algumas vantagens quando comparados aos serviços financeiros tradicionais.

Custos – As taxas cobradas por aplicações DeFi de empréstimo costumam ser mais baratas do que aquelas praticadas por bancos ou outras instituições.

Sem fronteiras – Como as aplicações são descentralizadas e não controladas por governos e bancos, qualquer pessoa pode acessar os serviços, independentemente de onde estiver.

Renda passiva – Quando um usuário empresta dinheiro a outra pessoa, ou deixa seu ativo em alguma plataforma para gerar liquidez, ele recebe juros.

Pseudoanonimato – Diferente do que ocorre em bancos, para usar serviços DeFi o usuário não precisa informar dados como nome, endereço ou CPF. O acesso só não é 100% anônimo porque as transações e os endereços (identificações para envio e recebimento) ficam registradas nas blockchains.    

Riscos do DeFi

Como qualquer tecnologia nova, o DeFi também apresenta riscos.

Segurança – Os protocolos desse mercado sofreram pelos menos 75 ataques entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021, perdendo US$ 1,7 bilhão, segundo levantamento do site Cryptosec. Os criminosos virtuais conseguiram invadir as aplicações por causa de falhas/bugs em seus códigos. Para se prevenir contra esse risco, antes de apostar em algum projeto é ideal aguardar um tempo para verificar se ele vai dar certo. 

Golpes – O DeFi, assim como todo o mercado de criptomoedas, também sofre com golpes. Para não cair em um deles, é preciso investigar o projeto e os responsáveis antes de investir qualquer recurso. Na pesquisa, vale buscar informações em redes sociais, fóruns, jornais e até sites que reúnem processos judiciais. 

Dificuldade – DeFi ainda é um tema complexo, e isso pode afastar usuários que não conhecem muito bem o mercado de criptomoedas. Além disso, a usabilidade de algumas plataformas não é muito amigável.

Volatilidade – Assim como as criptomoedas, os tokens de plataformas de finanças descentralizadas também são extremamente voláteis. Não é raro, assim como ocorre com BTC, ETH e outros, ocorrer quedas ou altas diárias acima de dois dígitos.