Roupas: a cortina da alma

Uma roupa bem escolhida realça as qualidades de uma pessoa, sem necessariamente custar muito. Uma roupa má escolhida pode representar desequilíbrios na personalidade e causar grandes prejuízos.
Por  Wilson Marchionatti
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Você sabia que o brasileiro gasta cerca de 15% do salário em roupas? Um gasto importante como esse diz muito a respeito da personalidade de uma pessoa, e é uma boa maneira de ver se seu bolso e alma estão em equilíbrio.

Você já deve ter ouvido que o corpo é a casa da alma. Claro, um corpo saudável é essencial para nos sentirmos bem. Pois a roupa é a cortina da alma. A roupa é o véu que separa nossa nudez do mundo externo, e que decora nossa aparência e essência.

No imaginário humano, objetos são importantes. Eles são representação de beleza, poder, confiança. Um rei, por exemplo, usa uma coroa como objeto de representação. Mas não se engane: não é coroa que faz um bom rei, e o rei verdadeiro é rei mesmo sem a coroa. O objeto é um adorno, um complemento de alguém já pleno por si só.

As roupas, assim como a coroa, se bem escolhidas, podem realçar nossa beleza e reforçar nossa autenticidade, sem necessariamente serem caras. Ou podem, se mal escolhidas, revelar nossos mais profundos vícios e criar grandes dívidas.

Vamos começar pelas roupas caras, ou, melhor dizendo, pelas roupas de marca. Tente pensar por um instante no significado de comprarmos algo exclusivamente pela marca: estamos nos submetendo ao humilhante fato de que uma peça de tecido que tenha uma bandeira famosa fará nos sentir mais poderosos, bonitos, requisitados. Estamos acreditando que o poder da bandeira de alguma forma passa magicamente para nós.

Ignoramos o fato de que há toda uma indústria do marketing por trás das marcas, que trava uma batalha feroz para incutir inconscientemente em nós a necessidade de comprar coisas de marca. Lembro de ouvir o presidente de uma grande empresa de cosméticos dizer que não vendia maquiagem, vendia a esperança do amor. Ou seja, a marca lutava para que suas consumidoras identificassem nela a possibilidade de atingir o mais sublime dos desejos humanos: o amor. Se inconscientemente acreditamos que uma marca é capaz de fazer isso, realmente a compraremos por qualquer preço. E é o que acontece. Mas quantos amores verdadeiros e relações felizes foram construídas tendo como um de seus pilares a maquiagem?

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A obsessão por marcas é um gesto muito comum entre adolescentes, os quais por volta dos 12 anos de idade entram em um processo de crise de identidade e encontram nas roupas de marca uma maneira de se identificarem com determinados grupos. Quantos adultos você conhece que ainda fazem isso?

A preferência por uma marca pela qualidade da roupa, independente da bandeira, é algo salutar, mas que deve ser pesado muito bem com seu preço. Via de regra, os problemas financeiros surgem com o exagero, de quem só aceita roupas de marca e não consegue mesclar seu guarda-roupa com algumas opções mais econômicas.

Há também o exemplo totalmente contrário: a pessoa que enxerga todo investimento em roupas uma futilidade e perda de dinheiro. Se você pensa assim, quando pretende sentir-se bem com o próprio corpo? Será mesmo que não é possível vestir-se bem com gastos pequenos, mas de bom gosto? Lembre-se que o paraíso é próspero! O paraíso que imaginamos não é um jardim desbotado e descuidado, mas sim um jardim aparado e vibrante.

E em tempos dominados pela indústria de massa, que promete nos transformar em gados homogêneos, nada melhor do que relembrar o tempo de alfaiataria do início do século XX. Tempos em que alguém poderia sentar-se no sofá de um alfaiate e expressar seu gosto pelas roupas, escolher o tecido, o corte, a cor, e fazer uma roupa que seja a moldura perfeita para sua essência.

Não são muitos, mas ainda há alguns alfaiates por aí. E eles não são mais caros do que as marcas que pipocam os shoppings lotados desse mundo globalizado.

Permita-se um trato. Sua casa merece cortinas autênticas e atraentes, mas que não deixem seu bolso furado.

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