O dinheiro e o amor

Quando conhece alguém a primeira pergunta que você faz é "Qual seu nome"? E a segunda pergunta é "O que você faz"? Entenda o porquê, e o que fazer.
Por  Wilson Marchionatti
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Nos dias de hoje ouvimos uma teoria comum: “não tem problema analisar a situação profissional de uma pessoa antes de se envolver com ela. Temos que combinar o sentimento com a condição financeira”. Se você pensa assim, está construindo uma estrada de rumo certeiro à decepção e tristeza.

O jovem Henrique veio fazer seu planejamento financeiro. Sua meta era ter R$ 2 milhões até os 35 anos de idade. Perguntado qual era o objetivo, ele prontamente respondeu: “poder escolher a mulher que eu quiser”.

Henrique vive bem com cerca de R$ 4 mil por mês, algo que já tem garantido por muito tempo, mesmo se parasse de trabalhar. Ter 2 milhões seria uma forma de ter acesso a mulheres requintadas, que exigem um certo estilo de vida.

No caso dele, mais importante do que fazer uma planilha para garantir os 2 milhões, é saber porque ele definiu essa meta. Seu gosto pelo trabalho e competência já vão por si só garantir os milhões, mesmo sem planilha alguma. Mas a falta de amor próprio e a sensação de que só é alguém tendo dinheiro, certamente vão comprometer sua felicidade e talvez até seu futuro profissional.

Beatriz também veio fazer seu planejamento financeiro. Está preocupada que a idade está passando, e não encontrou ainda o príncipe para construir sua família. Quanto mais o tempo passa, mais dinheiro ela gasta para manter sua beleza, com maquiagens e procedimentos cirúrgicos, que ela acredita ser a melhor forma de conquistar o sonhado príncipe. O tempo passa e menos dinheiro sobra para investir na sua profissão e guardar para o futuro.

Beatriz é uma jovem de grande beleza e profundidade, que está se soterrando em crenças falsas, de que o amor pode ser obtido e mantido por meios materiais como a beleza e o dinheiro.

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Algum tipo de pensamento como esse passa por sua cabeça? Quando você conhece alguém a primeira pergunta costuma ser “Qual seu nome” e a segunda “O que você faz”? Não se sinta mal. Vivemos em tempos de mudanças, e estamos acordando. Comportamentos como esse vão gradualmente cair por terra, pois estamos vendo que eles carregam consigo um potencial ilimitado de infelicidade.

Digamos que Henrique e Beatriz se encontrem, e que os milhões de Henrique atraiam a beleza de Beatriz, e vice-versa. Depois de 1 ano de namoro eles casam e se juntam. O que os juntou? Qual foi a razão da união? Pense um pouco antes de ler. Pense mais 30 segundos.

O que os uniu, e que normalmente une a maioria dos casais, foi o resultado, no caso o resultado financeiro de Henrique e o resultado estético de Beatriz. O problema disso é básico: não temos controle algum sobre os resultados da nossa vida. Os resultados não nos pertencem.

Henrique pode perder o emprego, pode ter que ajudar um familiar doente e perder muito dinheiro, pode ser roubado, pode cansar de sustentar o padrão de vida da mulher e certamente terá muito menos dinheiro quando nascerem os sonhados filhos de Beatriz. E mesmo se o dinheiro aumentar em dez vezes, Henrique então terá o direito de ter 10 Beatrizes?

Já Beatriz um dia deixará de ser tão bela, conviverá entre outras mulheres muito mais bonitas, será pega de surpresa incontáveis vezes sem maquiagem, e deixará de ser uma mulher fatal com seus futuros pés inchados de grávida. E poderá Beatriz fazer alguma exigência relacionada à fidelidade, carinho, respeito, se o que viu em Henrique foi sua situação financeira? Evidentemente que não. E ambos sabem disso.

Mas se não podemos basear o amor em resultados (coisas que não temos controle), no que devemos basear? Aqui mais uma vez a natureza nos surpreende com sua ordem perfeita!

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O amor só pode ser baseado na única coisa que nos pertence: nossa atitude.

Essas atitudes variam de pessoa para pessoa: existem os que pensam como filósofos e os que são práticos como um contador; existem os que falam pelos cotovelos e os que conseguem até ouvir o silêncio; existem os viajantes de além-mar e os que gostam de viajar internamente; existem dançarinos, batuqueiros e músicos, e também os que não sabem nem cantar parabéns para você; existem os que são trabalhadores felizes e esforçados, e também os que são herdeiros em eterno ócio. Isso tudo é atitude, é essência.

Ao longo da vida essa atitude obterá diferentes resultados, coisas que não nos pertencem de verdade: um carro, um apartamento, uma fortuna, um corpo sarado.

Fluiremos, querendo ou não, por acontecimentos ruins: o filho ficará doente, ficaremos algum tempo estagnados no emprego, os familiares morrerão, bateremos o carro, ganharemos barriga. E às vezes simplesmente não acontecerá nada de emocionante: um domingo inteiro olhando um para a cara do outro. Não temos controle sobre essas coisas.

A única coisa que permanecerá a mesma ao longo desses acontecimentos é nossa essência: nossa atitude e jeitos únicos. É essa atitude que permeará a vida rotineira do casal, que será capaz de compreender erros, apoiar momentos difíceis, aproveitar a companhia um do outro nos momentos em que o dinheiro e a beleza não importam, e que são muitos (como aquele domingo de tédio).

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Podemos admirar uma pessoa pelo sucesso e dinheiro, ou por sua atitude engajada e corajosa no trabalho. A diferença é que o sucesso e dinheiro são resultados que podem deixar de existir a qualquer momento. Já a atitude é a raiz da pessoa, algo que a acompanhará ao longo da vida. E por incrível que pareça, normalmente são atitudes positivas no trabalho que geram prosperidade financeira.

A atitude de uma pessoa também inclui a consideração pelo parceiro, a admiração, a vontade de se reinventar e cultivar um eterno romance. Você não conhece algum casal que se uniu por comodidade e segurança, e hoje parecem um par de irmãos do mesmo sexo? Ou pior, parecem inimigos de morte. Isso se chama união por conveniência, por resultado. Não há admiração mútua por atitude, por essência. O casal não se reinventa, não prospera, não se felicita.

Por isso que a atração entre duas pessoas baseada em atitude e essência é a que pode oferecer maior longevidade e felicidade, pois essa união se baseia na raiz do que somos, e não nos resultados que temporariamente apresentamos.

Gostar de alguém pela atitude significa estar preparado para fluir junto pela pobreza, pelo tédio, pela morte, e por todas as coisas que não temos controle. Quando há admiração mútua pela atitude de cada um, um momento de dificuldade se transforma em arte. A tristeza da amada ao ver um pneuzinho imaginário na própria barriga se transforma em pura arte. O mau humor do amado ao ver seu time perder o campeonato se transforma naquele filme de sessão da tarde que já vimos centenas de vezes e não cansamos de nos entreter.

Amar alguém significa ser capaz até de dizer adeus e desejar o bem daquela pessoa, mesmo que com outra. Amar não é ter alguém. Amar é gostar da essência de outro ser. Amar é gostar do belo e do feio, do bom e do ruim, do olá e do adeus.

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Não é fácil nos dias de hoje reconhecer a essência de alguém. Mas há boas dicas para fazer isso. Na próxima vez que alguém que chamou sua atenção perguntar o que você faz, responda: “muita coisa, mas nada que importe para nós dois”. Evite falar da profissão, das viagens irresistíveis. Deixe a porta da gaiola aberta, pois o passarinho que gosta do lar sempre volta, e às vezes precisamos mesmo testar outras florestas para ver do que gostamos. Não exiba o carro, a roupa, o apartamento imbatível. Homens, não paguem a bebida do camarote. Mulheres, não dancem no camarote. Nada de bom virá disso para quem procura conexões verdadeiras, quem sabe uma paixão de alguns meses, quem sabe uma família que se admira e se respeita, quem sabe o amor de uma vida.

Se você deseja testemunhar o amor e tê-lo presente em sua vida, não espere o mundo dar isso para você. Seja a mudança.

 

* Os nomes citados são fictícios

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