(voz de locutor de apuração de carnaval) BRASIL! NOTA: 6

Por  Alexandre Aagesen
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Não sei se você, leitor atento, já reparou, mas eu sou fã de analogias. É de fato muito difícil encontrar uma analogia razoável, e encontrar a analogia perfeita é tão difícil quanto… quanto… bom, é difícil. Mas essa aqui encaixa como uma luva. Ok, a luva do julgamento de O. J. Simpson, mas ainda assim, uma luva. O Brasil é o eterno aluno nota 6. Talvez você já tenha ouvido isso antes. A gente começa a fazer besteira, senta-se com a turma do fundão (Argentina), começa a tirar nota 4 e se preocupa. Vai lá para frente, estuda, faz lição de casa e melhora para nota 8. Aí relaxa de novo. Se você quer saber como funciona o retorno à média, estude o Brasil. Ainda ontem de manhã estávamos falando dos riscos de Brasil e do caminho que as coisas tomavam. Longe de ser uma clara reversão ainda, mas os discursos de ontem mesmo já parecem mais com o aluno indo para frente da sala. Galípolo defendendo meta de inflação. Lira defendendo as reformas dos últimos 10 anos. Haddad entregando a reforma tributária. Não os heróis que gostaríamos, mas os que merecemos. E eu não digo isso cheio de orgulho.

Nos próximos dias temos três coisas para olhar. Duas vem de fora, uma daqui mesmo. Vamos por partes. Amanhã, temos PCE. Se você ainda não sabe o que é PCE, você não se enquadra na alcunha de “leitor atento”, mas vamos lá: é um índice de inflação dos EUA. Correção: é O índice de inflação dos EUA. É exatamente para ele que o Fed está olhando quando decide cortar (ou não) os juros. Mais precisamente, é para o núcleo do PCE. A meta de inflação por lá, de 2%, está olhando exatamente para esse núcleo, que tira da conta os dados mais voláteis (e menos influenciados por juros) como alimentos e energia. Em fevereiro de 2022, esse cara estava em 5,4%. Dois anos depois, ele roda em 2.8%. Parece fantástico, mas ele estacionou ao redor de 3% nos últimos 4 meses, e o Fed não gostou. Mudou o tom e levou a precificação do mercado de “corte em março/24” para “corte? que corte?”.

O segundo ponto é menos preciso, mais amplo e mais próximo. Estamos falando da política brasileira, meus amigos. Aquele sambão com pizza, sempre com os mesmos (sobre)nomes convidados. Quer investir em Emerging Markets, tem que olhar para política, faz parte. E vocês (e eu) demos a sorte (ou azar) de termos nascido num belíssimo (belíssimo mesmo) exemplo de EM. Como disse Tom Jobim: “Viver no exterior é bom, mas é uma mer**. Viver no Brasil é uma mer**, mas é bom”. Então, olho na política: sempre barulhenta, sempre ruidosa, mas de vez em quando (sempre), faz preço. E, por fim, temos o plano da Yellen. Mas isso é só semana que vem, então depois a gente fala mais disso. Afinal, um bom aluno nota 6 tem que deixar as coisas para última hora, não?

Ficou com alguma dúvida ou comentário? Me manda um e-mail aqui.

Alexandre Aagesen Com mais de 15 anos de mercado financeiro, é CFA Charterholder, autor do livro "Formação para Bancários", host do podcast "Mercado Aberto" e Investor na XP Investimentos

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