MAYA Capital e SoftBank contam o que procuram para criar os próximos hits da Bolsa de Valores

Grandes problemas e boas equipes estão entre os fatores mais importantes, independente do quão iniciante ou avançada seja a startup

Mariana Fonseca

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SÃO PAULO – A tecnologia está ganhando espaço entre os investidores, inclusive na brasileira B3. Antes de chegarem aos mercados acionários, porém, as startups costumam passar por captações privadas. Quem está por trás das apostas nas startups são fundos de venture capital e private equity, como MAYA Capital e SoftBank Latin America Fund.

Durante o Melhores da Bolsa 2021, evento que celebra o ranking das empresas de capital aberto mais relevantes do país, esses fundos falaram sobre o que procuram para criar os próximos hits da Bolsa de Valores. Grandes problemas e boas equipes estão entre os fatores mais importantes, independente do quão iniciante ou avançado seja o negócio escalável, inovador e tecnológico.

O que procurar em startups iniciais e maduras

A MAYA Capital é um fundo de venture capital criado há menos de três anos, mas que já captou US$ 41 milhões com family offices brasileiros, americanos e europeus para administrar aportes em startups. O fundo já investiu em 27 startups no estágio inicial em países como Brasil, Chile, Colômbia e México. Alguns exemplos são GupyThe Not Company e Oico. A MAYA Capital está levantando agora seu segundo fundo.

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“Somos um fundo que lidera a primeira rodada de venture capital das empresas na América Latina. Por assinar o primeiro cheque, olhamos para empresas que têm uma volatilidade e um risco maiores, o que se traduz na possibilidade de esses negócios não darem certo e precisarem pivotar seus modelos. Mas, consequentemente, temos uma expectativa de retorno alta”, disse Mônica Saggioro, cofundadora da MAYA Capital.

Em entrevista anterior ao InfoMoney, Mônica e a sócia Lara Lemann listaram o checklist do fundo para investir em startups. Nesta ordem, a MAYA Capital busca bons fundadores; bons times; bons problemas; bons mercados; e bons produtos.

“Estamos procurando times obcecados por um problema, não pela solução. No estágio em que investimos a solução pode evoluir muito e pivotar. Podemos entender que o jeito de pensar o negócio deve ser diferente. Mas a gente não pode mudar o time e nem o problema”, explicou Mônica no painel do Melhores da Bolsa.

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“Os fundadores devem ser ímãs de talento, atraindo pessoas melhores do que eles. Em alguns casos, os founders são mais novos. Conseguir atrair gente com mais experiência e que trabalham em lugares que vão bem é um sinal forte da qualidade dos fundadores.”

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Já o SoftBank Latin America Fund é um fundo de US$ 5 bilhões foi criado pelo conglomerado de telecomunicações japonês para investir em startups da América Latina. O veículo investe cheques maiores em startups maduras. Nesta quinta-feira (1), por exemplo, anunciou um aporte de R$ 1 bilhão no Mercado Bitcoin. Segundo Passoni, o orçamento de US$ 5 bilhões foi quase esgotado em investimentos e o SoftBank deve anunciar “algo novo nos próximos dois ou três meses.”

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Paulo Passoni, sócio de investimento do SoftBank e responsável pelos aportes na América Latina, afirmou que segue critérios parecidos com o da Maya Capital e destacou a importância do time. Mas Passoni também ressaltou a diferença no risco envolvido: o portfólio do SoftBank está preparado para errar 30% das vezes. “Estamos confortáveis com isso, dado o potencial de retorno dos acertos. No early stage [startup em estágio inicial], você pode errar mais porque os retornos são mais assimétricos quando você tem um acerto.”

Passoni também ressaltou a importância do unit economics para fundos que investem em startups maduras. “Significa quão rentável o produto ou serviço da empresa é. Não precisa ser uma empresa com fluxo de caixa positivo, mas a gente prefere empresas que tenham uma interação rentável com os clientes para que escalem de forma mais agressiva.”

Tanto Mônica quanto Passoni ressaltaram que os fundadores ganham pontos quando já abriram um negócio antes – mesmo que ele tenha sido um fracasso. “Na América Latina, a gente está acostumado a falar muito dos sucessos e pouco de exemplos que não deram certo. Aprender com esses erros alheios inclusive ajudaria a ganhar velocidade de execução”, diz Mônica. “Inclusive, o ideal seria o empreendedor que já teve duas iniciativas. Na terceira, provavelmente não terá erros. É uma mentalidade meio americana de aceitar os erros como obstáculos positivos”, completa Passoni.

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Capital de risco cresce na América Latina

Para Mônica, a queda na taxa básica de juros brasileira foi um grande impulsionador para a procura por investimentos em venture capital na América Latina. A Selic hoje está em 4,25% ao ano. “Havia um cenário em que era confortável procurar outras opções com bons rendimentos, e não fazia sentido partir para classes de ativo com um risco associado muito maior.

Outros fatores contribuíram para o investimento em startups: o interesse de bons profissionais em negócios de tecnologia, assim como a visão de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) como um evento de liquidez cada vez mais frequente para quem investe em startups. “Essa queda na taxa de juros veio também em um momento no qual os melhores talentos vêm para a área de tecnologia”, diz a cofundadora da MAYA Capital. “Agora também tem cada vez mais oportunidade de saída. No ano passado tivemos o segundo maior ano em IPOs na Bolsa de Valores. Neste ano devemos ultrapassar esse número.”

Faltavam também grandes exemplos de sucesso, segundo Passoni. IPOs de empresas como Mercado Livre, Stone, PagSeguro e XP provaram o potencial das companhias da América Latina nos últimos anos, e atraíram investidores. “Precisamos de empresas com 5, 10, 15 ou 20 bilhões de dólares em valor, que justifiquem o modelo [de investimento por venture capital]. Antes tinha-se a percepção de que era impossível criar uma empresa de tecnologia com esse tamanho na América Latina.”

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A Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) e a consultoria KPMG divulgaram dados de captação, investimentos e desinvestimentos dessas indústrias no país durante o primeiro trimestre de 2021.

Os investimentos de venture capital e private equity atingiram R$ 10,71 bilhões no primeiro trimestre deste ano (cerca de US$ 2 bilhões na cotação atual). Foi uma alta de 88% sobre os R$ 5,7 bilhões do primeiro trimestre de 2020.

O investimento médio por empresa também cresceu. Em venture capital, foi de R$ 58 milhões para R$ 139,8 milhões. Em private equity, de R$ 183 milhões para R$ 277 milhões.

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Venture capital e private equity batem recorde no mundo e no Brasil. E não só por causa da pandemia

Melhores da Bolsa

InfoMoney premia anualmente as melhores empresas da Bolsa, com base num ranking exclusivo feito pela provedora de serviços financeiros Economática e pela escola de negócios Ibmec.

O ranking analisa critérios quantitativos e qualitativos das empresas de capital aberto num período de três anos – o objetivo de escolher um período superior a um ano é valorizar a consistência de resultados (leia mais sobre a metodologia abaixo). Com base nesses critérios, são premiadas as melhores empresas entre os principais setores da Bolsa, e também a melhor companhia do mercado.

A pesquisa indica ainda qual é a grande revelação do mercado: a empresa que se destacou entre as que abriram capital há menos de três anos. Veja as premiadas em todos os setores.

As estratégias dos melhores investidores do país e das melhores empresas da Bolsa, premiadas num ranking exclusivo: conheça os Melhores da Bolsa 2021.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.