Startup que reúne lojas de construção cresce com demanda por materiais para reformas durante a pandemia

A Oico atende um mercado de R$ 80 bilhões, segundo estimam os fundadores Pedro Dellagnelo e Pedro Rocha. Negócio passou por aceleração no Vale do Silício

Mariana Fonseca

Pedro Dellagnelo e Pedro Rocha, da Oico (Divulgação)

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SÃO PAULO – A pandemia causada pelo novo coronavírus levantou ou derrubou empresas, a depender de seus setores. Os materiais de construção tiveram uma reviravolta: por mais que a oferta de matéria-prima e de obras tenha sido prejudicada no início da pandemia, a demanda por reformas cresceu e os lançamentos imobiliários estão retornando.

Um dos negócios que têm aproveitado esse momento é a Oico, um marketplace que reúne fornecedores de materiais de construção e digitaliza a relação entre eles e empresas de reformas. A startup foi criada em abril de 2020, em plena pandemia, pelos empreendedores Pedro Dellagnelo e Pedro Rocha. O negócio já atende 50 compradores profissionais de materiais, que compram matéria-prima com frequência e precisam simplificar o processo.

Os fundadores estimam o mercado de materiais de construção vendidos no varejo brasileiro, para pessoas físicas ou jurídicas, em R$ 80 bilhões.

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“Ainda que as lojas físicas de materiais de construção continuassem abertas, muitas empresas de reformas migraram para o atendimento digital. Algumas deram dois passos de uma vez, pulando as conversas pelo telefone. Foram de bater pernas nas lojas físicas para o nosso marketplace. Assim, os fornecedores também se digitalizaram e aderiram à plataforma”, diz Dellagnelo ao InfoMoney.

Ideia de negócio: marketplace de materiais de construção

Pedro Dellagnelo e Pedro Rocha perceberam que as empresas de reformas geralmente trabalham com prazos apertados e mudanças constantes em seus projetos. “Esses negócios recorrem ao comércio local pela disponibilidade, mesmo que o preço seja maior. A mão de obra não pode ficar parada”, diz Dellagnelo.

Além dos custos maiores, outra dificuldade é coordenar a construção de crédito e o relacionamento com os diversos lojistas locais – um desafio especialmente para empresas de maior porte. “Elas ficam perdidas em um mar de e-mails e mensagens de WhatsApp. Ou contratam mais pessoas, ou limitam seus projetos”, completa Dellagnelo.

A Oico é um martketplace de fornecedores de materiais de construção. As empresas de reformas mandam uma requisição com os materiais desejados e dizem em qual prazo esperam recebê-los. A startup monta uma resposta com base em 40 mil produtos únicos e 400 fornecedores registrados no estado de São Paulo.

Caso o orçamento de preços e prazos seja aprovado, uma nota fiscal única é emitida. A Oico cuida de pagamentos e transporte tanto para os fornecedores quanto para as empresas de reformas.

Hoje, a startup afirma atender 50 empresas relevantes que tocam obras rápidas de alto padrão em São Paulo, comerciais ou residenciais. Essas empresas compram pelo menos R$ 30 mil mensalmente em materiais. Alguns exemplos de clientes atendidos pela Oico são Blink Reformei e Loft.

Procura por materiais cresceu na pandemia

Ao longo de 2020, o faturamento da indústria de materiais de construção registrou queda de 0,3% na comparação com os resultados de 2019. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Mesmo assim, a associação mostra que o setor ganhou tração nos últimos meses. A indústria de materiais de construção faturou 20,5% mais em dezembro de 2020, na comparação com o mesmo mês de 2019.

Para 2021, a previsão da Abramat é de crescimento de 4% no faturamento total deflacionado dos materiais de construção em relação a 2020. “Essa estimativa positiva se baseia no alto nível atual de atividade na construção civil, nas expectativas para a retomada econômica a partir da imunização contra a Covid-19, já iniciada no país e na expectativa da retomada da pauta de reformas no Congresso Nacional”, afirmou em comunicado Rodrigo Navarro, presidente da Abramat.

Esse alto nível de atividade na construção civil gerou também uma expansão nos preços dos materiais de construção – e até falta de matéria-prima. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), o problema avançou no quarto trimestre de 2020 e atingiu mais da metade das empresas de construção (50,8%).

“Vimos tanto demanda maior quanto oferta menor de materiais de construção. Conquistamos muitas empresas porque elas não conseguiam encontrar materiais nos fornecedores que já tinham. Então, investimos em tecnologia para mapear os preços no mercado, como forma de ajudar nossos clientes a controlarem seus orçamentos o quanto possível”, explica Rocha. “Continuamos otimistas em resolver o problema dos nossos clientes, porque eles continuam otimistas, demandando materiais e fazendo projetos de obras”, completa Dellagnelo.

Segundo Dellagnelo, os investimentos no último ano foram concentrados em automação de processos e aumento da base de lojistas. O tempo de atendimento caiu de 30 para 3 horas, desde o pedido até a proposta de orçamento.

A Oico aumentou o volume transacionado na plataforma (GMV) em 35 vezes ao longo de 2020. No primeiro semestre de 2021, a startup espera quintuplicar seu GMV.

“O último ano foi dedicado a atender poucos clientes que realmente apreciam seu negócio. Foi uma espécie de piloto [mínimo produto viável]”, explica Dellagnelo. Essa metodologia foi aprendida na Y Combinator, uma aceleradora de startups localizada no Vale do Silício (Estados Unidos). Airbnb e Rappi estão entre os mais de 2 mil negócios que passaram pela instituição.

A Oico participou da aceleração em 2020, quando também captou um aporte semente de US$ 1,65 milhão da Y Combinator e de fundos como FJ Labs e Maya Capital. O FJ Labs é um fundo criado pelos fundadores do portal de compras OLX. O fundo investe em marketplaces e é baseado em Nova York (Estados Unidos). Já o Maya Capital é um fundo brasileiro focado em startups early stage na América Latina, criado por Mônica Saggioro e Lara Lemann.

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“Pela conversão cambial, temos muito runway [meses de sobrevivência com base no caixa atual, caso receitas e despesas se mantenham as mesmas]. Não temos planos imediatos de fazer mais uma rodada de investimento externo”, diz Dellagnelo. Ou seja, como o dólar se valorizou desde o aporte e os gastos da Oico são em reais, a empresa ganhou mais meses de caixa. “Chegamos a 50 clientes no formato de piloto. Vamos crescer a carteira de clientes de maneira saudável, com foco ainda em São Paulo. Vamos pisar mesmo no acelerador a partir da captação de um aporte série A”, completa.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.