O checklist de Lara Lemann e Mônica Saggioro: como a MAYA Capital escolhe startups para investir

A MAYA Capital já captou US$ 41 milhões e aportou em 27 startups no estágio inicial em países como Brasil, Chile, Colômbia e México

Mariana Fonseca

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SÃO PAULO – Para investir em uma startup que terá sucesso, é preciso praticamente conseguir um alinhamento de planetas: encontrar bons fundadores, bons funcionários, um bom problema a ser resolvido, um bom tamanho de mercado e, para finalizar, um bom produto a ponto de não dar espaço para a concorrência.

Essa é a lista de critérios, ou checklist, da MAYA Capital. O fundo de capital de risco foi criado há menos de três anos, mas está por trás de negócios como Gupy, The Not Company e Oico. Os requisitos foram divulgados durante uma conversa do Stock Pickers, maior podcast sobre ações do Brasil, com as cofundadoras Lara Lemann e Mônica Saggioro. O debate foi realizado durante a Stock Week, evento que comemora dois anos de existência do podcast.

Criação da MAYA Capital

Mônica fez um MBA nos Estados Unidos e participou de projetos de inovação em empresas americanas. Já Lara, filha do empresário Jorge Paulo Lemann, tem cidadanias brasileira e suíça e atuava como investidora anjo no Brasil.

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As duas conversaram por dois anos, compartilhando algumas visões. A América Latina está passando por uma transformação: os melhores talentos estão indo para tecnologia; os fundos de venture capital estão cada vez mais de olho na região; e as startups estão conseguindo saídas, inclusive por ofertas públicas iniciais de ações (IPOs).

“Porém, víamos que faltavam fundos para apoiar empreendedores no primeiro estágio: testar as primeiras hipóteses de negócio, conseguir tração e só depois levantar investimentos maiores”, diz Mônica. “Somos o primeiro cheque de venture capital para as empresas.”

Em entrevista anterior ao InfoMoney, Mônica explicou que estudos da MAYA Capital mostraram 80 startups para cada fundo de venture capital na América Latina, frente a uma proporção de 12 para 1 nos Estados Unidos. O foco dos fundos de venture capital brasileiros estaria principalmente a partir da série A (entenda os estágios de crescimento de uma startup, da ideia ao IPO).

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Tese de contato com fundadores

A MAYA Capital já captou US$ 41 milhões com family offices brasileiros, americanos e europeus para administrar aportes em startups. O fundo já investiu em 27 startups no estágio inicial em países como Brasil, Chile, Colômbia e México. Sete das startups no portfólio estão fora do Brasil.

A MAYA Capital atua com aportes pré-sementes e sementes. “A gente gosta de estar no dia a dia das empresas, ajudando com contratação, apresentações comerciais estratégicas e fundraising. É quando conseguimos colocar a mão na massa e estar presentes”, diz Lara. “Obviamente, isso influencia a rentabilidade do nosso fundo. Garantimos que as empresas tenham um começo robusto e bem-sucedido, possibilitando que captem rodadas maiores com fundos, inclusive gringos.”

O fundo opta por um portfólio denso. Menos startups permitem mais contato com as empresas, ajudando-as a crescer e captar novas rodadas de investimento. Metade dos fundos da MAYA Capital são destinados para follow on (aportes subsequentes ao primeiro cheque, como forma de reforçar a aposta na startup).

A lista de critérios da MAYA Capital

No mercado de ações, o investidor escolhe qual papel comprar. Já no mercado de venture capital, os melhores empreendedores é que escolhem com quais fundos de venture capital trabalhar. Lara diz que a MAYA Capital incentiva empreendedores e empreendedoras a validarem todos os fundos com que conversam, selecionando o que faz mais sentido para a startup naquele momento.

“É um negócio de reputação (…) O que fala mais alto é nosso trabalho com as empresas investidas. Essa é a fonte mais qualificada de deals que temos, a que apresenta a maior conversão”, diz Mônica. “Capital é commodity. A gente quer fazer a diferença nessas empresas.”

Mas a MAYA Capital também tem seu trabalho de validação: além de conversas com os fundadores, pede referências desses empreendedores a outros fundadores e fundos. “Estamos considerando um relacionamento que durará de sete a dez anos. Brincamos que é mais do que um casamento”, diz Lara. Mônica complementa que os fundos de venture capital costumam ter duração entre oito a dez anos, com possibilidade de extensão.

Nesta ordem, o fundo busca: bons fundadores; bons times; bons problemas; bons mercados; e bons produtos.

“Um fundador ou fundadora excepcional é principalmente um ímã de talentos. (…) Procuramos pessoas com muita garra. Empreender é difícil. No Brasil, nem se fala. O fundador deve ter alinhamento de longo prazo, guiado por obsessão quanto a um problema com que já sofreram. Essa pessoa deve ter expertise diferenciada sobre esse assunto”, diz Lara.

E complementa: “Em tamanho de mercado, precisamos investir em um mercado grande e que está crescendo. Os incumbentes locais são fracos, e existem exemplos globais que traçaram trajetórias de sucesso. Já investimos em negócios puramente locais, mas benchmarks facilitam a análise. Finalmente, o produto. Essa solução faz sentido? Quanto consegue crescer e dominar o mercado, criando uma barreira que impeça a entrada de concorrentes?”.

A MAYA Capital olha para empresas que tenham potencial de gerar receita na faixa de US$ 100 milhões anualmente. “É um nível que daria um bom retorno para o nosso fundo. Se conseguimos compor as premissas que permitiram chegar a esse nível de receita, conseguimos entender se são premissas nas quais a gente acredita ou não. Entendemos desafios, onde podemos ajudar e quais fundos podemos trazer para coinvestir com a gente”, afirma Mônica.

O capital de risco vai chegar ao varejo?

“Tradicionalmente, os investidores em venture capital são os institucionais – e americanos, por meio de endowments e pensions funds. Quando a gente captou nosso fundo, vimos family offices locais interessadas em venture capital. Muitos curiosos, sabendo que precisam alocar parte do portfólio em inovação e alto risco. Mas sem muitos exemplos porque o ecossistema era nascente”, diz Lara. “Hoje, vemos um ecossistema mais evoluído. Os institucionais estão muito interessados e já investem em venture capital.”

Empresas brasileiras virando unicórnios, startups avaliadas em ao menos US$ 1 bilhão, ou conquistando saídas para empreendedores e investidores (como vendas para empresas maiores e IPOs) ajudaram a atrair talentos e aplicações financeiras em venture capital. “Fechamentos de ciclos empoderam empreendedores exemplares e trazem mais capital ao ecossistema. Ajuda a alimentar ainda mais ciclos”, afirma Lara.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.