Reestruturação de empresas ainda está no meio do caminho, avalia EY

Ciclo de ajustes começou na busca por redução de custos e avança para os desinvestimentos de ativos considerados não-essenciais

Rikardy Tooge

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Em um momento em que o alto custo de capital vem pressionando o fluxo de caixa das empresas, as reestruturações ganharam fôlego neste primeiro semestre do ano, sobretudo após o caso Americanas (AMER3). E na avaliação do sócio de estratégia e transações da EY Brasil, Leandro Berbert, a fase de ajuste ainda está no meio do caminho.

Desde o ano passado, por meio da pesquisa trimestral CEO Outlook Pulse, a consultoria vem identificando que os executivos estão priorizando a eficiência operacional e ampliando suas ações para os desinvestimentos. “É uma fase de menor crescimento e mais otimização”, constata Berbert ao InfoMoney.

Sob este prisma, varejistas como Renner (LREN3), Marisa (AMAR3) e Magazine Luiza (MGLU3) anunciaram o fechamento de pontos de venda no primeiro trimestre do ano. A Renner fechou 20 lojas e a Marisa, outras 91. O Magalu não encerrou nenhuma loja, mas encerrou 37 quiosques e um centro de distribuição – em 12 meses, a companhia dos Trajano fechou 175 pontos físicos.

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Para o especialista, o caminho natural das reestruturações está sendo seguido à risca pelas companhias. Inicia-se pelo corte de custos e otimização, depois ganha tração as vendas de ativos considerados não-essenciais e, caso a necessidade de liquidez persista, a venda de ativos core. Para o sócio da EY Brasil, as empresas estão iniciando a segunda fase.

“Acredito que estamos ainda no meio da história [de reestruturação]. São decisões estratégicas complicadas, mas podemos ver alguns movimentos neste sentido, como a maior aderência ao sale and leaseback”, aponta.

O movimento em que uma vende um ativo, normalmente imobiliário, e o arrenda de volta a longo prazo descrito por Berbert ganhou espaço.

Leandro Berbert, sócio de estratégia e transações da EY Brasil (Divulgação)
Leandro Berbert, sócio da EY Brasil: estratégia de sales and leaseback ganhou fôlego nos últimos meses (Divulgação)

Mais recentemente, o GPA ([PCAR3]), dono da rede Pão de Açúcar, anunciou a intenção de vender R$ 800 milhões em ativos imobiliários. Um dos imóveis é a famosa sede do grupo em São Paulo, que seria negociada no mesmo modelo por cerca de R$ 250 milhões. Outra rede que estuda um movimento parecido é o Atacadão (CRFB3).

“O sales and leaseback tem ganhado força por ser uma forma mais rápida de levantar capital e por ter uma diligência mais rápida. Operacionalmente também afeta menos a operação e a percepção dos clientes”, explica Berbert.

Venda de ativos non-core

Na linha de outros desinvestimentos, o mais recente foi anunciado pela Log CP (LOGG3), que vendeu cinco galpões logísticos por R$ 900 milhões a fundos imobiliários nas últimas semanas. A transação já faz parte da estratégia da empresa, que acelerou as negociações de ativos e segurou o capex para este ano.

Outro exemplo é a BRF (BRFS3) que colocou à venda sua divisão de pet food, avaliada em cerca de R$ 2 bilhões, em um plano de venda de ativos estimado em R$ 4 bilhões. Os outros R$ 2 bilhões deverão vir da venda de créditos tributários e de ativos não-essenciais. Por enquanto, a empresa negociou apenas uma fazenda por R$ 110 milhões.

“A tendência é que o movimento continue. Os juros seguem em dois dígitos e uma inclinação expressiva da curva pode levar de meses até mais de um ano. O macro segue pesando em um momento em que o crédito está restrito e não há janela para negociar equity”, reforça o sócio da EY Brasil.

Para empresas com tese de consolidação, Berbert pondera que o ciclo seja mais voltado para captura de sinergias do que a tomada de outras estratégias mais drásticas. “Começar a se fazer de ativos ou cortar muitos os investimentos seria praticamente desmontar a tese da companhia”.

Por fim, o especialista lembra que, passado o momento de aperto, as empresas que realizarem o ajuste sairão da crise mais resilientes e, muito provavelmente, asset light. “Quem sobreviver sairá na frente para o crescimento, esse é o lado positivo, digamos assim. Mas a fase ainda é de arrumar a casa”, completa Berbert.

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Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br