Quais empresas e setores se destacaram na temporada de resultados do 1º tri – e o que esperar para os próximos meses

Como esperado, setor de commodities teve forte desempenho, enquanto financeiro teve desempenho misto; educação e shoppings seguem com cenário desafiador

Lara Rizério

(Getty Images)
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SÃO PAULO – A temporada de balanços do primeiro trimestre do ano foi marcado por um cenário macroeconômico e político desafiador, com preocupações sobre a inflação e alta nas taxas de juros de longo prazo em países desenvolvidos, a atividade econômica mais fraca no Brasil por conta da piora aguda da pandemia, além de ruídos políticos e incertezas fiscais.

Apesar disso, no geral, os resultados apresentados pelas empresas no período foram sólidos, conforme apontaram Jennie Li e Fernando Ferreira, estrategistas da XP, em relatório. Eles destacam que 77% das empresas de cobertura da equipe de análise apresentaram balanços em linha ou acima do esperado, sendo que 44% dos resultados superaram as expectativas dos estrategistas, 33% foram em linha e 23% ficaram abaixo. Já em relação às projeções do consenso, 48% deles ficaram acima dos números projetados pelo mercado, 29% vieram em linha, enquanto 23% foram abaixo das estimativas.

Para Jennie e Ferreira, apesar das preocupações macroeconômicas, a história micro geral das empresas segue construtiva, com várias delas tendo se mostrado resilientes em meio ao cenário doméstico com restrições de mobilidade, enquanto empresas com exposição à forte recuperação econômica global continuaram a se destacar.

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A análise consolidada da XP sugere que a receita e lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) das empresas sob a cobertura dos estrategistas superaram as projeções, na média, em 3,1% e em 10,6%, respectivamente.

Levando em conta somente as empresas sob a cobertura XP e que estão no Ibovespa, a receita e Ebitda superaram as projeções em +3,7% e +8,9%, respectivamente.

No primeiro trimestre de 2021, os lucros das empresas do Ibovespa contraíram 48% em relação ao quarto trimestre, porém cresceram mais de 200% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo dados do Bloomberg, para o ano de 2021, os analistas agora estimam um crescimento de 196% nos lucros das empresas.

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Já estudo divulgado pela Levante Ideias de Investimentos apontou, pela compilação de resultados de 363 empresas da Bolsa, um total de R$ 111,4 bilhões em lucros nos três primeiros meses de 2021, ante prejuízo de R$ 54 bilhões no mesmo período de 2020 para as mesmas companhias.

Em outra comparação, a receita líquida de 344 empresas abertas foi de R$ 764 bilhões no primeiro trimestre, alta de 27% ante os R$ 602 bilhões do mesmo período de 2020, não sendo considerados os bancos, pois sua receita não é comparável com a das empresas.

Porém, o crescimento mais expressivo foi na geração de caixa medido pelo lucro antes de juros e impostos (Ebit, na sigla em inglês) referente a primeiro trimestre. Ele foi de R$ 9 bilhões em 2020 para R$  175 bilhões em 2020, um aumento de 1.770%. O Ebit inclui os resultados antes dos impostos e dos juros e, diferentemente do Ebitda, não considera a depreciação e a amortização. Como os critérios desses indicadores variam de setor para setor, o Ebit é uma métrica menos subjetiva.

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A Levante aponta algumas razões para o “desempenho exuberante” no primeiro trimestre.

O primeiro deles é o que a equipe de análise avalia como uma certa “maldade estatística”, já que os números dos três primeiros meses de 2020 são fracos. No ano passado, apesar de as medidas de isolamento para conter a pandemia só terem sido implantadas com força a partir da segunda quinzena de março, quando o trimestre estava perto do fim, os resultados foram afetados. E houve alguns prejuízos vultosos no primeiro trimestre do ano passado, como os R$ 48 bilhões da Petrobras (PETR3);PETR4), os R$ 13 bilhões da Suzano (SUZB3) e os R$ 6 bilhões da Oi (OIBR3; OIBR4).

O que esperar daqui para frente?

Os números positivos justificam os bons resultados das ações nos últimos meses, mas já é passado e está no preço.

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Olhando para o próximo trimestre, Eduardo Guimarães, analista da Levante, aponta que os prognósticos para os resultados  também são positivos.

Isto ocorre por dois motivos. Um deles também é estatístico: o segundo trimestre do ano passado representou o pior momento das medidas de isolamento, o que afetou de maneira drástica os resultados das empresas. Assim, em comparação, os números do segundo trimestre de 2021 já virão melhores.

O segundo motivo é que a alta dos preços das commodities. Os preços do minério de ferro, dos grãos e, por consequência, das proteínas deverão continuar elevados (apesar da queda recente do minério), melhorando os resultados das empresas brasileiras, que têm custos extremamente competitivos na comparação global. “Dessa forma, é possível esperar que os números que começarão a ser divulgados a partir de 30 de junho serão igualmente positivos”, aponta.

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A equipe de estratégia do Morgan Stanley também espera que os resultados da empresa devam melhorar gradualmente à medida que continuamos a ver o progresso nos esforços de vacinação da Covid-19 e a economia doméstica passe a se beneficiar mais de uma reabertura sustentável no segundo semestre de 2021.

Setores e ações de destaque 

Fazendo uma análise entre setores, como esperado, o grande destaque da temporada do primeiro trimestre de 2021 ficou para setores ligados a commodities, impulsionados principalmente pelo forte crescimento dos EUA e China. Além do cenário de demanda aquecida, contribuiu para a receita dessas empresas a desvalorização do real frente ao dólar.

No setor Mineração e Siderurgia, as companhias foram beneficiadas pelos preços mais altos do minério de ferro (alta de 25% a tonelada no trimestre, com US$ 167 a tonelada na média do período) e do cobre (alta de 17%), aponta a XP.

A Gerdau (GGBR4 teve um lucro líquido de R$ 2,471 bilhões, alta de 1.016% (ou de mais de 11 vezes) na comparação anual, ou ganhos de 134% frente aos R$ 1,057 bilhão do quarto trimestre de 2020. A CSN (CSNA3 também reportou fortes resultados, com o Ebitda consolidado atingindo a máxima histórica, enquanto o Ebitda ajustado de R$ 5,8 bilhões, em alta de 23% na comparação trimestral, foi impulsionado por maiores volumes de vendas e melhores preços realizados nos segmentos de siderurgia e mineração. Outra empresa a atingir recorde de Ebitda – de R$ 2,4 bilhões em termos ajustados – foi a Usiminas (USIM5), acompanhando o melhor mercado doméstico de aço e preços mais altos do minério de ferro.

No segmento de mineração, a Vale (VALE3) registrou um lucro líquido de US$ 5,546 bilhões no primeiro trimestre de 2021, uma alta de 2.220% em relação ao resultado de US$ 239 milhões obtido no mesmo período do ano passado. O resultado também cresceu de forma significativa em relação ao trimestre anterior, quando a empresa registrou ganhos de US$ 739 milhões. Esses números mais fortes foram resultado de preços realizados mais altos, enquanto o fluxo de caixa operacional foi de US$5,9 bilhões devido ao forte Ebitda e à melhora no capital de giro. A CSN Mineração (CMIN3) também reportou fortes números, ainda que com Ebitda de R$ 3,7 bilhões 3% abaixo do consenso de mercado. As despesas operacionais por tonelada foram mais altas (a US$ 41 a tonelada, alta de 43% na base trimestral), mas os volumes de minério de ferro acima do esperado no período (8,2 milhões tonelada) compensaram parcialmente.

Já no segmento de petróleo, a PetroRio (PRIO3) e a Petrobras (PETR3PETR4) tiveram um forte desempenho no primeiro trimestre em meio à recuperação do preço do petróleo no mercado internacional.

De acordo com a Levante Ideias de Investimentos, a PetroRio vem conseguindo capturar a alta dos preços da commodity, aliando o plano de expansão e implantação de projetos visando melhorar a eficiência operacional com sucesso. O trimestre mostrou de maneira mais clara o resultado do trabalho realizado pela companhia nos últimos anos, com foco em ativos mais rentáveis e aproveitando o desenvolvimento tecnológico do setor de óleo e gás a seu favor para reduzir custos.

O preço médio de venda de petróleo ficou cerca de 95% acima do mesmo período de 2020, enquanto o volume total de produção de petróleo também foi 33% superior ao ano passado, com destaque para o Campo de Frade produzindo 11,2%  mais. Com isso a receita líquida foi impulsionada para R$ 655 milhões, cerca de 194% acima na base anual.

Já a Petrobras passou do prejuízo histórico de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre de 2020 para um  lucro de R$ 1,167 bilhão, com a nova gestão da companhia aproveitando para reforçar as suas políticas de dividendos, de venda de ativos e de ajuste de preços dos combustíveis, ainda que haja cautela sobre esse último ponto em meio aos motivos para a saída do ex-CEO Roberto Castello Branco da companhia e as reiteradas declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a “função social” da petroleira. Porém, após o resultado, alguns bancos elevaram as estimativas e recomendações para a ação da estatal, destacando os seus bons resultados, a boa perspectiva de dividendos e o valuation descontado.

No segmento de distribuição de combustíveis, o grande destaque positivo ficou para a BR Distribuidora (BRDT3), que viu suas ações saltarem após o balanço. O trimestre  foi o primeiro em que houve um ganho forte de rentabilidade, mesmo com volume de vendas em patamares ainda aquém da capacidade total da companhia. Além disso, o Ebitda ajustado por efeitos não recorrentes, alcançou R$ 1,18 bilhão, com uma margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) por metro cúbico de combustível distribuído de R$ 127, em linha com os melhores patamares de rentabilidade histórica de seus pares diretos e inclusive acima de um dos principais concorrentes, a Ultrapar (UGPA3).

Da mesma forma, o setor de Alimentos e Bebidas também reportou bons resultados. A XP destaca que, em particular, o Marfrig (MRFG3) foi fortemente beneficiado pelo forte desempenho dos EUA, que compensou a situação mais frágil no Brasil.

Por outro lado, a BRF (BRFS3) reportou resultados resilientes, em grande parte alinhados com as estimativas: embora os aumentos de preços não tenham sido suficientes para compensar as pressões nos custos devido ao aumento nos preços dos grãos, ainda assim o Ebitda ajustado consolidado ficou 6% acima das expectativas da casa de análise, atingindo R$ 1,2 bilhão. “O ponto-chave para esse resultado, a nosso ver, é que a BRF conseguiu aumentar os preços de seus produtos em 20% no trimestre em nível consolidado: um forte desempenho considerando a frágil situação econômica do Brasil. Do lado ruim, o aumento do preço dos grãos ainda foi mais forte, alta de 25% no ano, comprimindo a margem bruta, que foi de 25% no primeiro trimestre de 2020 para 21% no primeiro trimestre de 2021, e ficou 90 pontos base abaixo da nossa estimativa de 22%”, apontaram.

Mas o grande destaque do setor foi a Ambev (ABEV3), que surpreendeu positivamente apesar do momento ainda desafiador para bares e restaurantes. A companhia de bebidas manteve a excelência operacional como sua vantagem competitiva principal, a inovação no portfólio e a estratégia digital estão dando cada vez mais frutos, impulsionando o desempenho da empresa. Porém, apesar do resultado considerado unanimemente bom pelos analistas de mercado, os analistas se dividem novamente quando o assunto é a perspectiva para a empresa e para as suas ações, principalmente em meio a um cenário desafiador para controlar os custos em 2021 (veja mais clicando aqui).

Já em Varejo, a XP destaca as empresas de supermercado como a Assai (ASAI3) e GPA (PCAR3), que apresentaram sólidos resultados apesar de uma base de comparação mais difícil e um trimestre desafiador com restrições de circulação.

Por outro lado, as medidas de prolongamento das restrições impactaram negativamente as companhias que dependem mais de vendas físicas, notoriamente as de vestuário, que passaram por mais um trimestre desafiador. Tendo em vista esse cenário, as empresas com canal de e-commerce bem desenvolvido tiveram um desempenho relativamente melhor diante do cenário de maiores restrições.

Na última semana, diversas varejistas revelaram os seus números. Analistas de mercado destacaram como positivos os dados de Arezzo (ARZZ3), Guararapes (GUAR3) e Grupo Soma (SOMA3), em linha para o Grupo SBF (SBFG3), controlador da Centauro, enquanto viram como negativos os da Lojas Renner (LREN3) e da (CEAB3) – saiba mais clicando aqui.

A Lojas Renner reportou um prejuízo líquido de R$ 147,7 milhões no primeiro trimestre de 2021, depois de lucrar R$ 7,1 milhões no mesmo período do ano passado. Já o Ebitda da varejista de roupas excluindo arrendamentos somou R$ 31,8 milhões, valor 85,5% menor que o do primeiro trimestre de 2020.

O Bradesco BBI apontou que os números foram ruins com os lucros provenientes do vestuário abaixo das estimativas do banco; por outro lado, os serviços financeiros superaram as projeções. Porém, as projeções são mais promissoras, conforme aponta o Bank of America. Os analistas ressaltam que algumas varejistas registraram dados de vendas nas mesmas lojas positivos ou estáveis, apesar das novas medidas de bloqueio fecharem muitas lojas físicas, como foi o caso de Vivara (VIVA3, com alta de 2,5%), Arezzo (alta de 4,6%), Track &Field (TFCO4, alta de 23%) e Soma (que registrou leve variação negativa de 0,3%).

A Renner teve uma forte queda, de 12,7% no indicador de vendas nas mesmas lojas, mas os analistas permanecem positivos sobre as oportunidades de consolidação da indústria. A Soma anunciou a compra da Cia. Hering (HGTX3) no final de abril e, em meio à oferta de ações da Renner de quase R$ 4 bilhões da companhia, a tese de que a varejista pode estar atrás de outras companhias se fortaleceu.

No segmento de e-commerce, o Magazine Luiza (MGLU3) reportou fortes resultados, acima do consenso, explicado por um crescimento de lojas físicas acima do esperado (alta de 4% na base anual e vendas nas mesmas lojas em queda de apenas 0,5% na mesma base de comparação) mesmo em meio ao cenário mais restritivo do trimestre, além de uma continuidade de uma performance sólida do online (com alta da venda bruta total, ou GMV, de 114% ao ano). Além disso, apesar da queda de margem bruta por conta da maior participação do digital, o Magalu conseguiu manter a margem Ebitda estável  devido à diluição de despesas operacionais, mesmo com o fechamento de lojas.

A Via (VVAR3), antiga Via Varejo, também reportou bons resultados, com destaque para as vendas totais somando R$ 10,33 bilhões, alta anual de 27%. No online, a alta foi de 123% na comparação anual, sendo principalmente puxado pelo marketplace.

A B2W, por sua vez, teve crescimento de 90% no GMV, indo a R$ 8,7 bilhões. Com isso o GMV total do Universo Americanas ficou em R$ 11,06 bilhões no trimestre. Em teleconferência, os executivos da B2W destacaram ainda os números de abril, com maior crescimento de vendas em 2 anos. Porém, um fator de preocupação foi a continuidade da queima de caixa da companhia, denotando os desafios e as oportunidades que a fusão em curso com a Lojas Americanas (LAME4) tem para as companhias (veja mais clicando aqui).

Apesar dos bons números gerais, analistas como da XP e do Bradesco BBI continuam com uma visão mais cautelosa sobre o setor de e-commerce, diante das pressões competitivas, inclusive com iniciativas de players internacionais como Amazon e Alibaba.

O setor de Saúde também foi impacto pelo aumento das restrições mas, na avaliação da XP, ao contrário do que se esperava, não houve uma postergação de tratamentos e procedimentos eletivos, o que pressionou as margens das operadoras de saúde como a GNDI (GNDI3). Por outro lado, taxas de ocupação mais alta e aumento de leitos operacionais impulsionaram o desempenho de prestadores de serviço, em particular a Rede D’Or (RDOR3), apontam os analistas.

O setor Financeiro também apresentou resultados mistos. Olhando para os grandes bancos, a princípio, olhando somente para os lucros, a melhora foi expressiva: juntos, Bradesco (BBDC3BBDC4), Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander (SANB11) tiveram resultado 46,44% acima nessa linha do balanço na comparação anual, a R$ 21,84 bilhões, guiada pela forte redução nas provisões para devedores duvidosos.

Conforme destaca Marcel Campos, analista do setor bancário da XP, o Santander Brasil apresentou o melhor resultado entre os bancos privados com maior margem financeira e maiores volumes, porém ainda com baixas provisões e já com sinais de aumento da inadimplência, o que leva a dúvidas sobre qual será a atitude do banco quando ela de fato chegar. Na ponta negativa, o Itaú a princípio divulgou bons números, mas que não impressionaram os mercados pois incluíram diversos itens não sustentáveis.

Algumas questões seguem permeando o setor, tanto como a expectativa de alta na inadimplência quanto o impacto da competição das fintechs, ainda que a expectativa seja de que os grandes bancos continuem apresentando resultados resilientes e que os ativos do setor estão atrativos aos preços atuais (veja mais clicando aqui).

Vale menção também à Cielo (CIEL3), cujo balanço do primeiro trimestre não agradou e evidenciou os desafios da companhia, que devem se estender com a saída de Paulo Caffarelli do comando da companhia. Os volumes vieram abaixo do esperado, uma vez que o Volume Total de Pagamentos (TPV, na sigla em inglês) da empresa não se recuperou no trimestre, enquanto as margens também não ajudaram (margem líquida de 0,73% versus 0,78% no primeiro trimestre de 2020). No geral, 2021 começou com um declínio de 20% no lucro recorrente em relação ao ano anterior.

Excluindo efeitos não recorrentes, a Cielo teve lucro líquido de R$ 135,8 milhões no primeiro trimestre, quedas de 54,5% sobre o período de outubro a dezembro do ano passado e de 18,6% ante o primeiro trimestre de 2020. De acordo com o Credit Suisse, a menor lucratividade em termos recorrentes continua sendo uma preocupação para os próximos trimestres. Desta forma, os analistas seguem mantendo uma visão cautelosa com a companhia.

Já no setor de Transporte e Logística, as empresas de aluguel de carros apresentaram resultados fortes, com a XP destacando os números da Unidas (LCAM3), atualmente em processo de fusão com a Localiza (RENT3).

“A Unidas foi o destaque positivo, em nossa opinião, com lucro líquido (alta de 167% n base anual) impulsionado pelo desempenho superior de sua operação incumbente de aluguel de frotas. De maneira geral, os bons resultados finais foram (i) sustentados pela continuidade do cenário positivo de Seminovos, decorrente da reciclagem do estoque da frota em um contexto de elevação dos preços dos carros novos (e usados); enquanto (ii) as operações de aluguel foram prejudicadas pela falta de fornecimento de veículos pelas montadoras e pela segunda onda de restrições relacionadas à pandemia no Brasil (no final do trimestre)”, apontaram os analistas, reiterando visão positiva para o setor.

Entre as aéreas, mais um período de fortes prejuízos e de recuperação atrasada por conta do prolongamento das medidas de restrição. A companhia aérea Azul (AZUL4registrou um prejuízo líquido de R$ 2,786 bilhões no primeiro trimestre de 2021, um resultado negativo expressivo, ainda que com queda de 54,7% na comparação com o dado negativo de R$ 6,150 bilhões em igual trimestre de 2021. Já a Gol (GOLL4) teve prejuízo líquido de R$ 2,528 bilhões no primeiro trimestre de 2021, ante resultado negativo de R$ 2,288 bilhões um ano antes (veja mais clicando aqui).

Já entre as Construtoras, ainda que algumas tenham registrado resultados sólidos, como foi o caso de Cyrela (CYRE3), com alta de 90% da receita e lucro crescendo cerca de 6 vezes, e MRV (MRVE3), que teve lucro 31% acima na base anual, para R$ 137 milhões, uma visão mais conservadora tem ganhado força para boa parte do setor.

Em relatório recente, o Credit Suisse reduziu recomendação de outperform (desempenho acima da média do mercado) para neutra das ações das companhias EzTec (EZTC3) e Mitre (MTRE3), por serem dependentes de crescimento, da Even (EVEN3), por falta de catalisador, e da Direcional (DIRR3) por já estar precificada.

Cyrela e Moura Dubeux (MDNE3) tiveram a recomendação mantida em outperform, enquanto houve manutenção de Tenda (TEND3) e MRV como neutras. Os analistas Daniel Gasparete, Pedro Hajnal e Vanessa Quiroga apontam que, apesar dos dados ainda indicarem um ambiente favorável para o setor, há maior preocupação com o ambiente macroeconômico, o que torna a assimetria mais inclinada para o lado negativo. Eles apontam que o ciclo de aperto monetário, com a alta da Selic, pode ser prejudicial.

Os analistas também apontam que existe a preocupação de que a forte concentração de lançamentos no segundo semestre de 2021 possa vir acompanhada de uma possível desaceleração da demanda (ainda que marginal), potencialmente levando a velocidade de vendas para baixo das expectativas do mercado e limitando a capacidade das empresas de aumentar os preços dos imóveis. Já do lado de custos, o Credit acredita que gastos com materiais devem continuar altos no curto e médio prazos dada a dinâmica de demanda e oferta. Porém, o principal tema do setor na verdade deve ser o custo de mão de obra, que deve acelerar no segundo semestre e se tornar uma preocupação em 2022 (os canais de checagem do banco indicam aumento de mais de 20%).

Enquanto isso, as empresas de shoppings foram impactadas novamente pelas restrições à mobilidade nos primeiros três meses de 2021, destaca o Bank of America. Contudo, avaliam, companhias mais expostas a classes de renda mais baixas, como brMalls (BRML3), estão se recuperando mais devagar do que concorrentes mais voltados à alta renda, como Iguatemi (IGTA3]) e Multiplan (MULT3).

O cenário mais desafiador também prosseguiu para as empresas de educação dado o impacto da pandemia na captação de alunos. Ainda que a Cogna (COGN3) tenha começado a dar frutos com a reestruturação da Kroton, voltada ao ensino superior, analistas ainda avaliam que uma virada pode demorar para acontecer, com muitas casas destacando preferência pela Yduqs (YDUQ3), já num processo mais avançado de digitalização e de exposição ao segmento premium (saiba mais clicando aqui).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.