Números da B2W mostram oportunidades e desafios da fusão com a Lojas Americanas

Dona do Submarino e Americanas.com registrou forte crescimento de GMV, mas queima de caixa e queda da rentabilidade geram preocupação

Lara Rizério

(William_Potter/ Getty Images)

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SÃO PAULO – Em uma sessão de forte alta para o Ibovespa, as ações da Lojas Americanas (LAME4, R$ 20,50, +0,24%) e da B2W (BTOW3, R$ 62,48, -0,83%) tiveram um desempenho morno, ainda que fechando longe das mínimas do dia. LAME4 fechou em leve alta de 0,24%, depois de chegar a cair 2,59% na mínima, enquanto BTOW3 caiu 0,83% após chegar a ter perdas de 3,49%. Já o Ibovespa subiu 1,77%, superando os 122 mil pontos.

Apesar de seus resultados ficarem amplamente dentro do esperado, alguns pontos do balanço geraram preocupação, ainda mais levando em conta a perspectiva de fusão entre as duas companhias. Porém, também mostraram as oportunidades de crescimento com a união das empresas.

Os números da Lojas Americanas, aponta a Levante Ideias de Investimentos, foram afetados negativamente pelas restrições impostas pela segunda onda da pandemia, com o indicador Same Store Sales (Vendas em Mesmas Lojas) apresentando queda consolidada de 0,8% na comparação anual, sobretudo pelo desempenho negativo de 13,4% nas lojas de shopping centers que permaneceram fechados em boa parte do período fechados.

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Já na B2W, do lado positivo, houve um crescimento muito forte no total de Vendas Transacionadas nas plataformas (GMV), indicador bastante importante para o e-commerce, com o número saltando 90% na comparação anual, alcançando R$ 8,7 bilhões. Com isso o GMV total do Universo Americanas ficou em R$ 11,06 bilhões no trimestre. Em teleconferência, os executivos da B2W destacaram ainda os números de abril, com maior crescimento de vendas em 2 anos.

Por outro lado, a dona dos sites Submarino e Americanas.com registrou prejuízo líquido de R$ 163,6 milhões no primeiro trimestre de 2021, alta de 51,5% em relação aos R$ 108 milhões registrados no mesmo período de 2020. Para o Bradesco BBI, embora a lucratividade tenha se deteriorado, esse movimento foi necessário, destacando que o negócio recuperou a competitividade, principalmente na frente de logística, o que colocou o crescimento do GMV novamente em linha com seus principais pares.

A B2W registrou um forte crescimento de receita líquida de 73,5%, a R$ 2,94 bilhões, em linha com o crescimento de GMV, inclusive conseguindo melhorar sua margem bruta em 1,1 ponto percentual, a 28,6% no trimestre. Mesmo com esta melhora, as despesas operacionais acompanharam o forte crescimento de receita, o que manteve o lucro antes juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda)  com crescimento modesto de 1,4%, a R$ 129 milhões, e margem de apenas 4,4%, ante 7,5% um ano antes.

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Assim, em termos gerais, destaca a Levante, o resultado de Lojas Americanas veio de certa forma consistente, mesmo com os efeitos de novas interrupções nas operações de algumas de suas lojas devido à segunda onda da pandemia, conseguindo ainda assim gerar um caixa operacional positivo de R$ 310 milhões, mas sem grande números.

Já o resultado da B2W veio forte em termos de receita e GMV, mas a rentabilidade e o alto consumo de caixa ainda preocupam os analistas da casa de research.

A B2W apresentou mais uma vez um fluxo de caixa operacional negativo da ordem de R$ 530 milhões, com aumento grande na linha de fornecedores e principalmente nos estoques. O número costuma ser comum no início de ano. Contudo, ainda preocupa, com o consumo de caixa se acelerando junto com o crescimento rápido da linha de receita, de modo à companhia financiar os seus “clientes” para expandir, com o prazo de conversão da receita em caixa cada vez mais longo.

Assim, avaliam os analistas, o ponto de interrogação ainda fica com a geração/consumo de caixa pela B2W após a incorporação dos ativos e integração completa com os ativos da Lojas Americanas.

Mesmo com uma posição de caixa alta, de R$ 4,3 bilhões ao final do trimestre, o ritmo de consumo de caixa não parece ainda apresentar uma “virada de chave” na avaliação dos analistas, algo que ocorreu com o Magazine Luiza (MGLU3) e com a Via (VVAR3) chegando perto.

“Se, por um lado, a companhia se beneficia das sinergias dos ativos digitais e físicos sendo integrados e dos créditos tributários pelos prejuízos contábeis de anos anteriores, há ainda um importante processo de integração completa e alcançar seus principais concorrentes, podendo sacrificar margens a fim de ganhar mercado, um dos principais temores do mercado em relação ao setor”, apontam os analistas da Levante.

Já operacionalmente, as empresas vêm evoluindo rapidamente, com a Americanas firmando parceria com a BR Distribuidora (BRDT3) na frente de lojas de conveniência, AME Digital crescendo forte, além da aquisição da Uni.Co (dona das marcas Imaginarium e Puket) e Nexoos na frente financeira. Enquanto isso, a B2W tem integrado cada vez maior de soluções à sua plataforma, com entregas mais rápidas, forte crescimento da base de sellers no marketplace, evolução da frente de publicidade com B2WADS e parceria no live commerce com a OOOOO e na frente financeira com o AME.

Assim, a integração das companhias deve ser a “cereja do bolo”, dando um início na reestruturação do grupo Americanas e entrando no hall de varejistas multicanal (omnichannel).

Projetando que as companhias aprovem a fusão em 10 de junho em assembleias de acionistas, o Bradesco BBI espera que empresa combinada seja capaz de competir de forma mais eficaz, com menos atrito entre o canal online e offline e em toda a rede logística.

“Cumprir os objetivos da fusão proposta será fundamental para conduzir (ou não conduzir) um estreitamento da lacuna de múltiplos de avaliação na B2W versus os seus pares”, apontam os analistas. O múltiplo de valor da firma sobre o GMV de doze meses da B2W é de 0,75 vez, ante 1,76 vez para Mercado Livre (MELI34), 2,14 vezes para Magazine Luiza, enquanto o da Via é de 0,52 vez.

O BBI aponta que, dadas as incertezas de curto prazo e os riscos com o aumento da concorrência, segue com recomendação neutra para ambos os ativos, com preço-alvo de R$ 90 para B2W e de R$ 29 para LAME3.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.