O que levou fundos de ações como Alaska, Fama, Sharp e outros a ter perdas acima do Ibovespa em 2021?

Levantamento feito pela Economatica aponta que o ponto médio de retorno de mais de 400 fundos de ações terminou em -12,02% no acumulado do ano passado

Bruna Furlani

Brasil em queda/crise (Foto: Getty Images)

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Mudanças na condução da política monetária no Brasil, aproximação das eleições e uma piora consistente no cenário político e fiscal brasileiro atingiram em cheio a Bolsa em 2021 – e levaram o Ibovespa a quebrar uma sequência de cinco anos consecutivos de alta, com um recuo de quase 12% no ano passado.

Os estragos não foram sentidos unicamente no principal índice da Bolsa brasileira, como também em fundos de renomadas gestoras. Entre algumas das casas mais famosas do Brasil, os retornos negativos de fundos de renda variável chegaram a bater 22,3% no acumulado de 2021, como é o caso do único fundo da Fama Investimentos.

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Levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney aponta que em um universo de 426 fundos de ações, o ponto médio (ou a mediana) dos retornos foi de -12,02% em 2021. Foram consideradas as carteiras com patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas no ano.

Dentre os fundos de ações que conseguiram entregar acima desse resultado, a mediana da rentabilidade foi de 6,28% em 2021. Mas para os que ficaram abaixo disso, o ponto médio de retorno alcançou -18,60% no acumulado do ano.

Foi no segundo grupo que se enquadraram os fundos de uma das gestoras mais famosas do mercado: a Alaska Asset. No ano passado, o fundo Alaska Black FIC FIA BDR teve perdas acumuladas de 18,17%, enquanto o retorno do Alaska Black FIC FIA II BDR ficou negativo em 17,88%.

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As cartas mensais divulgadas pela gestora indicam que os fundos tiveram seis meses de desempenho positivo em 2021. Na outra metade do ano, a performance foi negativa.

Ambos os fundos aplicam praticamente todos os recursos em outro fundo “mãe”, chamado Alaska Black Master, segundo dados da Economatica e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Sua última carteira aberta ao mercado, de setembro de 2021, indicava que as maiores posições de renda variável estavam em ações da Suzano (SUZB3), Log-in (LOGN3), Cogna (COGN3), Vale (VALE3) e Braskem (BRKM5).

A exposição às ações da Magazine Luiza (MGLU3), que ajudou a impulsionar o resultado do fundo em anos anteriores, foi reduzida de mais de 6% na carteira de janeiro de 2021 para menos de 1% na de setembro. Os papéis acumularam queda de 71% no ano passado.

As cartas apontam que as alocações feitas pelos fundos em outras classes de ativos, como juros e câmbio, não foram capazes de compensar perdas com a carteira de ações porque também tiveram recuos ou apenas leves valorizações em alguns meses do ano. Fora isso, os documentos indicam que as carteiras carregavam posição comprada, via opções, em BOVA11 – fundo de índice (ETF) que replica a composição do Ibovespa – o que em vários meses puxou a rentabilidade para baixo.

As commodities fizeram falta para alguns

Outra casa que viu o rendimento cair bastante no ano passado foi a Fama. Em carta, a gestora argumentou que o desempenho do seu fundo de ações ficou aquém do Ibovespa em 2021 justamente porque a casa tradicionalmente não investe no setor de commodities. A razão, afirma, é que essas companhias costumam ser grandes emissores de gases de efeito estufa, o que esbarra nas práticas mais sustentáveis de gestão do fundo.

Segundo cálculos feitos pela própria Fama, as empresas de commodities do Ibovespa – que representam quase um terço da composição do índice – tiveram uma valorização média de 35% em 2021, enquanto os demais setores que compõem a carteira tiveram, em média, uma queda de 18%.

“Se hipoteticamente, as empresas desse setor tivessem tido o mesmo desempenho das demais (-18,3%), o resultado do Ibovespa no ano teria sido uma queda 23,6%”, ponderaram os analistas da casa.

Outro ponto que justifica o desempenho ruim, diz a carta da Fama, é que empresas consideradas de altíssima qualidade – como Lojas Renner (LREN3), Localiza (RENT3), Fleury (FLRY3), Iguatemi ([IGTI3]) e Log (LOGG3) – perderam muito valor em 2021.

Na avaliação da casa, a percepção de enfraquecimento da economia e a indefinição política levaram investidores a se desfazer de posições em empresas domésticas. O fenômeno, no entanto, pareceu desconsiderar a capacidade dessas companhias de entregar bons resultados em cenários adversos, defendeu a Fama.

Diante do resultado ruim em 2021, a gestora reforçou no documento que fez três desinvestimentos e investiu em outras três empresas ao longo de 2021, sem abrir mais detalhes sobre as mudanças.

Bancos, varejo e construção civil pesaram para outros

Quem também amargou retornos negativos em alguns de seus fundos em 2021 foi a gestora Sharp. Ao justificar a queda de 19% em uma das carteiras da casa, os executivos destacaram que cometeram “um equívoco em termos de gestão de portfólio”.

A razão, afirmaram, é que a gestora manteve na carteira algumas ações cujos preços se revelaram excessivos com a piora do cenário macroeconômico. Em carta aos investidores, os especialistas da casa pontuaram que o tamanho dessas posições era pequeno ou moderado – no agregado, no entanto, o impacto foi expressivo.

Outro fator que contribuiu para o mau desempenho, segundo a Sharp, foram as perdas em ações de empresas como Eztec (EZTC3), Stone, SulAmérica (SULA11) e Natura ([NTCO3]). À exceção da Natura, as companhias que registraram algumas das maiores perdas no ano passado não fazem mais parte da carteira do fundo.

Da mesma forma, a Real Investor – também uma casa badalada que registrou retornos negativos em 2021 – teve perdas com apostas em segmentos parecidos. Segundo o relatório Opinião da Gestão, em que a XP compila a visão de alguns dos principais gestores de fundos, a casa destacou que a performance negativa do fundo Real Investor FIC FIA BDR Nível I decorreu principalmente de papéis de bancos (-2,9%), construção civil (-2,1%) e varejo (-1,9%).

Em compensação, as posições em petróleo (3,5%), autopeças (2,5%) e alimentos (1,6%) ajudaram a carteira ao longo do ano passado. O resultado, segundo a Real Investor, foi bastante prejudicado pela falta de visibilidade da situação fiscal do País, aliada a revisões para baixo do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), ao avanço da inflação e às eleições entrando no “preço”.

Virada no cenário macroeconômico mudou tudo

Nem mesmo a conhecida gestora Verde, liderada por Luis Stuhlberger, escapou de resultados ruins em seu fundo de ações – o Verde AM Ações FIC FIA, que amargou uma perda de 18,18% em 2021, maior do que o recuo de 11,93% registrado pelo Ibovespa.

Em uma análise das cartas apresentadas pela gestora ao longo do ano, nomes como Natura, Hapvida (HAPV3) e Grupo NotreDame Intermedica (GNDI3), além de Suzano (SUZB3), são algumas das empresas mais mencionadas entre as que puxaram o retorno do fundo para baixo em determinados meses de 2021.

Entre as justificativas para a performance ruim no ano está o cenário fiscal. Segundo a Verde, a gestora não esperava tamanha deterioração. “Pois era claro que esse caminho se chocaria com o interesse do presidente Bolsonaro em se reeleger”, dizem os documentos. “Nossa expectativa era de um cenário positivo, em que o governo não faria nenhuma atrocidade e a economia se recuperaria conforme as atividades sociais voltassem ao normal”.

Por essa razão, a gestora conta que manteve uma alta exposição à Bolsa e se concentrou em segmentos ligados a consumo – no fim das contas, um dos mais afetados pela crise e pela “incapacidade do governo em administrá-la”.

Para este ano, os analistas da Verde destacam que o novo cenário macroeconômico deve seguir desafiador. Isso porque a esperada recuperação econômica, que seria natural com o fim das restrições sociais causadas pela pandemia, deve ser substituída por um movimento de estagnação ou recessão.

Embora o momento não seja tão animador, a avaliação da gestora é que ainda há boas oportunidades de investimento, já que, em muitos casos, a queda das ações foi “exacerbada” e os valores atuais “não refletem a robustez das empresas no enfrentamento da crise”.

“Muitas companhias da Bolsa têm excelentes times de gestão, são líderes em seus respectivos setores e têm balanços saudáveis. Portanto, podem ganhar mais mercado e acelerar processos de consolidação em períodos de tormenta como o atual”, afirma o documento.

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