Bitcoin vira para alta antes de dado de inflação, Binance tem onda de saques e token de rival dispara 23%

Setor tenta apagar perdas de dia turbulento causado por represália contra o dólar digital BUSD, da Binance

Paulo Barros CoinDesk

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O Bitcoin (BTC) amanhece em alta de 0,9% nesta terça-feira (14), a US$ 21.812, e diversas outras criptomoedas viram para alta nas primeiras horas da manhã, pouco antes da divulgação do Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) referente a janeiro.

Investidores aguardam por sinais de inflação acima do esperado, o que pode indicar que o aumento dos juros nos EUA ainda está longe do fim. O consenso Refinitiv prevê que o indicador tenha avançado 0,4% em janeiro na comparação com dezembro. Em bases anuais, prevê alta de 6,2%.

As criptomoedas vêm de um dia turbulento após uma nova ofensiva regulatória dos EUA contra o setor cripto. Após a oferta de contas remuneradas em Ethereum (ETH), reguladores tiveram como alvo a Binance USD (BUSD), criptomoeda que funciona como dólar digital dentro da Binance. Ambos os casos estariam sendo tratados como oferta irregular de valores mobiliários.

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A Paxos anunciou que não irá mais emitir tokens BUSD a partir da semana que vem, mas diz que vai acionar o Judiciário contra os reguladores.

Por conta da crise interna, especialistas enxergam que o setor teve perdas descompassadas do resto do mercado de ativos de risco, o que explicaria o alívio nesta terça.

Enquanto o ETH salta 1,8%, para US$ 1.512, traders seguem apostando em criptos menores como o Bitget Token (BGB), cripto da corretora Bitget. O ativo sobe mais de 23% nas últimas 24 horas e já acumula valorização de 86% em uma semana diante da crise em torno da rival Binance.

Além disso, diversos tokens ligados a soluções de staking e stablecoins descentralizadas disparam com a aposta de que eles se tornarão mais relevantes com a pressão regulatória nos EUA. A Curve (CRV), que anunciou sua própria stablecoin, avança quase 14%, e a plataforma de negociação de derivativos GMX salta quase 16% em relação à manhã de ontem.

Bitcoin no curto prazo

Analistas de criptomoedas consideram a queda recente do setor como normal, e alertam que até mesmo um recuo mais profundo estaria dentro do esperado.

“Eu espero uma nova queda do mercado [após a divulgação do CPI]”, conta o trader e investidor anjo de criptos Vinícius Terranova. Segundo ele, o Bitcoin ainda está sendo negociado acima de uma linha de tendência de baixa, e que é possível que o preço busque o limite dessa linha, na região de US$ 21 mil, em meio à volatilidade esperada para os mercados na manhã de hoje.

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Fernando Pereira, analista da Bitget, concorda com a visão e aponta um padrão técnico negativo no gráfico do índice S&P500 como pista para o movimento futuro das criptos.

“Minha visão é que pode cair ainda mais antes de voltar a subir, ainda mais com a formação de bull trap no S&P500, que ocorre quando o preço falha na tentativa de romper um topo anterior”, comenta.

Se romper a linha de tendência de baixa, avalia Terranova, o Bitcoin poderia cair para perto de US$ 20 mil. “Não recomendo ninguém a entrar forte neste momento, mas sim com DCA (sigla para dollar cost average, o famoso preço médio)”.

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Já Edward Moya, analista sênior de mercado da fabricante de mercado de câmbio Oanda, adota tom mais negativo, observando que o noticiário tem sido mais pessimista para as criptomoedas e que um dado de inflação mais alto do que o esperado pode significar problemas para ativos de risco.

“Se a inflação ficar muito alta, o Bitcoin pode perder o nível-chave de US$ 20 mil e atingir a região de US$ 18.500”, acrescentou Moya.

Confira o desempenho das principais criptomoedas às 7h10:

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Criptomoeda Preço Variação nas últimas 24 horas
Bitcoin (BTC) US$ 21.812 +0,90%
Ethereum (ETH) US$ 1.512 +1,8%
BNB Chain (BNB) US$ 293 +0,04%
XRP (XRP) US$ 0,369779 +1,10%
Cardano (ADA) US$ 0,362022 +3,20%

As criptomoedas com as maiores altas nas últimas 24 horas:

Criptomoeda Preço Variação nas últimas 24 horas
Bitget Token (BGB) US$ 0,408540 +23,60%
GMX (GMX) US$ 71,84 +15,90%
Curve (CRV) US$ 1,04 +13,90%
Fantom (FTM) US$ 0,471951 +12,40%
Aptos (APT) US$ 14,02 +11,40%

As criptomoedas com as maiores baixas nas últimas 24 horas:

Criptomoeda Preço Variação nas últimas 24 horas
OKC (OKT) US$ 26,08 -6,00%
Ziliqa (ZIL) US$ 0,02863260 -5,50%
Monero (XMR) US$ 155,42 -2,40%
Zcash (ZEC) US$ 42,79 -2,40%
Baby Doge (BABYDOGE) US$ 0,000000004057 -1,60%

Confira como fecharam os ETFs de criptomoedas no último pregão:

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ETF Preço Variação
Hashdex NCI (HASH11) R$ 19,47 -1,56%
Hashdex BTCN (BITH11) R$ 26,10 -1,95%
Hashdex Ethereum (ETHE11) R$ 22,25 -2,41%
Hashdex DeFi (DEFI11) R$ 21,26 -2,02%
Hashdex Smart Contract Plataform FI (WEB311) R$ 15,45 +1,77%
Hasdex Crypto Metaverse (META11) R$ 40,00 -4,76%
QR Bitcoin (QBTC11) R$ 6,83 -6,94%
QR Ether (QETH11) R$ 5,47 -4,03%
QR DeFi (QDFI11) R$ 3,62 -1,36%
Cripto20 EMPCI (CRPT11) R$ 5,45 +3,61%
Investo NFTSCI (NFTS11) R$ 21,50 -6,52%
Investo BLOKCI (BLOK11) R$ 102,75 0,00%

Veja as principais notícias do mercado cripto desta terça-feira (14):

Onda de saques na Binance

Em meio à incerteza sobre novas medidas que afetem a Binance, investidores voltam a sacar recursos da corretora. Segundo dados da Nansen, a exchange registra US$ 832 milhões em resgate líquido nas últimas 24 horas – US$ 2,8 bilhões em saques contra cerca de US$ 2 bilhões em depósitos.

“Se este é um problema da Binance, vemos mais tipos de escrutínio regulatório sendo imposto pela SEC, você tem esse risco de manchete e acho que certamente é isso que está pesando nos mercados de criptomoedas”, disse o chefe de ativos digitais da Tastycrypto, Ryan Grace, ao.

“[Mas] acredito que o cenário macroeconômico ainda é o principal fator. Estamos começando a ver nos mercados um pouco de preocupação de que não teremos mesmo um pouso suave, que a economia vai aquecer e, finalmente, haverá mais altas de taxa de juros”.

Dada a expectativa de juros mais altos por mais tempo, Grace diz que é possível que o Bitcoin termine o ano acima de US$ 25 mil, mas no futuro imediato ainda é um mercado difícil. “Você verá muito mais volatilidade, muito mais cortes antes de chegarmos lá”, disse ele.

Paxos discorda de visão da SEC sobre BUSD

A Paxos disse que “discorda categoricamente” das alegações da SEC de que a BUSD, stablecoin que emite com a marca da Binance, seja um valor mobiliário não registrado.

A empresa também afirmou que tem sempre lastro “de um para um com reservas denominadas em dólares americanos, totalmente segregadas e mantidas em contas remotas”, e disse que a  está “preparada para litigar vigorosamente, se necessário”.

A Paxos também observou em seu comunicado o alerta recebido do regulador está ligado especificamente com a BUSD, e não com qualquer outra parte de seus negócios. “Este alerta da SEC refere-se apenas ao BUSD. Para ser claro, inequivocamente não há outras acusações contra a Paxos”, escreveu a empresa.

Token desconhecido dispara 45%

LQTY, o token nativo a plataforma descentralizada de stablecoins Liquity, subiu 45% na segunda-feira (13), para o topo de seis meses, a US$ 1,07, no maior ganho percentual em um único dia em pelo menos um ano,

O movimento aconteceu depois que o regulador financeiro de Nova York ordenou que a Paxos parasse de emitir a criptomoeda indexada ao dólar BUSD.

“BUSD prova a necessidade de stablecoins descentralizadas e resistentes à censura. Esta é de fato a missão do LUSD da Maker e da Liquity. A Maker prevê uma repressão regulatória às criptomoedas, então está se preparando para tornar a [stablecoin] DAI resistente à censura”, disse o pesquisador conhecido pelo pseudônimo Ignas, ao CoinDesk.

Liquity é um protocolo que roda no Ethereum e que oferece empréstimos sem juros contra um mínimo de 110% de garantia em ETH. Os empréstimos são pagos na forma da stablecoin LUSD, indexada ao dólar.

Bloomberg: Paxos foi “dedurada” para a SEC por rival

O principal regulador financeiro de Nova York está investigando a emissora de stablecoin Paxos após a rival Circle alertar autoridades sobre supostos problemas com a empresa, afirmou a Bloomberg em reportagem publicada ontem, citando uma pessoa familiarizada com o assunto.

A Circle é emissora da USDC, a segunda maior cripto indexada ao dólar – a primeira é a Tether (USDC), e a terceira ainda é a BUSD.

A Bloomberg informou que a Circle avisou o Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (NYDFS) no segundo semestre do ano passado de que dados apontavam que a Binance não tinha reservas suficientes para lastrear os tokens BUSD emitidos por meio da Paxos.

Um representante da Circle não respondeu imediatamente ao pedido de comentário do CoinDesk.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)