Americanas (AMER3): de maior alta do Ibovespa à derrocada com RJ, a montanha-russa das ações da varejista em janeiro

Papéis da Americanas passaram por forte volatilidade no primeiro mês do ano e analistas seguem tendo baixa visibilidade sobre ativos

Lara Rizério

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De maior alta do Ibovespa até o dia 11, com avanços de 24,35%, para sair do Ibovespa por razão de um pedido de recuperação judicial no dia 20 – mas não sem antes amargar perdas históricas, com um queda de 77,33% apenas na sessão de 12 de janeiro. Depois disso, passar por sessões de forte volatilidade, de alta de quase 16% no dia 13, mas quedas de 38%, 42% e 29% nas sessões respectivas de 16, 19 e 20 do mesmo mês.

Nos primeiros dias do ano, seria difícil imaginar que a ação da Americanas (AMER3) pudesse passar por tamanha volatilidade e, mais do que isso, que a companhia enfrentasse uma situação tão complicada, com uma disputa judicial com bancos e diversas acusações, após o anúncio surpreendente de inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões no último dia 11 de janeiro. O anúncio foi só o começo do que promete ser uma longa história, repleta de altos e baixos na Bolsa, para a varejista.

No final de janeiro, o papel até engatou diversas altas, mas longe (muito longe) de apagar as perdas registradas. Desde o fechamento do dia 20 (quando terminou o pregão a R$ 0,71), até o fechamento de 31 de janeiro (quando fechou a R$ 1,75), os papéis já subiram 146,5%.

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Contudo, na sessão pré-divulgação (dia 11 de janeiro) das inconsistências contábeis bilionárias que culminaram com  o pedido de recuperação judicial da varejista, o papel AMER3 valia R$ 12 – ou seja, uma queda acumulada de 85,4%. Ou seja, para o ativo voltar a esse patamar, seria necessária uma alta de 585,71% do papel.

Conforme destacam dados do TradeMap, a maior cotação da AMER3 após a divulgação dos problemas contáveis aconteceu no dia 13 de janeiro, quando o papel registrou R$ 3,15 por ação sendo que, dessa data até o final de janeir0, o o recuo é de 44,44%.

Confira abaixo o sobe e desce das ações da Americanas no mês de janeiro:

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Fonte: InfoMoney

A volatilidade das ações não é exatamente uma surpresa, uma vez que analistas destacam que os ativos das companhias em recuperação judicial costumam ter reações extremas na Bolsa, o que requer cautela.

“Esperamos que as ações continuem sofrendo com alta volatilidade, já que as medidas de uma RJ normalmente acabam diluindo os acionistas. Além disso, ressaltamos que o processo de uma RJ é demorado, levando no mínimo 2 anos, porém, muitas vezes excede esse prazo, como foi no caso da Oi (OIBR3), em que o processo durou mais de 6 anos. Dentro do processo, os advogados acabam conseguindo dilatar bastante os prazos, e as Assembleias são marcadas e remarcadas estrategicamente por várias vezes, como forma de manobra para arrastar esse prazo”, destacou a Levante.

Em esclarecimento para a B3 e Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre as fortes oscilações de seus ativos nos últimos pregões na semana passada, a companhia disse que  suas ações vêm sendo alvo de especulações e rumores “sobre os quais não possui qualquer controle”.

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O JPMorgan destacou rem relatório nesta semana que a visibilidade do processo de recuperação da Americanas permanece baixa, principalmente devido à feroz batalha judicial com os bancos. “E isso é algo que provavelmente começará a pesar nas operações da empresa, pois afeta o relacionamento com fornecedores e vendedores 3P [do marketplace), levando a uma rápida deterioração dos resultados operacionais à medida que o estoque gira e a empresa continua operando com pouca liquidez de caixa”, apontaram os analistas do banco.

Confira abaixo a linha do tempo sobre o caso Americanas (com informações da XP Investimentos):

11/jan: até essa data, as ações acumulavam ganhos de 24,35% em 2023, em meio à expectativas de “virada” nas operações com o novo comando.

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12/jan: queda de 77,33% da ação, fechando a R$ 2,72

13/jan: ações sobem 15,81%, a R$ 3,15

16/jan: queda de 38,41% dos ativos

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17/jan: queda de 2,06% das ações

18/jan: queda de 8,42% das ações

19/jan: queda de 42,53% das ações

20/jan: queda de 29% dos ativos, com ação fechando a R$ 0,71, na mínima, acumulando perdas de 94% desde o fechamento de 11 de janeiro

23/jan: alta de 12,68% de AMER3

25/jan: ação sobe 17,5%

Houve três eventos nesta data:

(i) foi divulgada a lista de credores pela manhã, com dívida total de R$ 41,2 bilhões a 7.967 nomes. Já houve manifestações acerca dos valores informados, notadamente pelo BV e Deutsche Bank, porém a Americanas não se pronunciou até o momento;

(ii) Na véspera, houve a liberação à Americanas do valor de R$ 1,2 bilhão de recursos que estavam em poder do banco BTG Pactual, assim como valores que tinham sido bloqueados pelos Bancos Safra e Votorantim. Porém, no dia 27,  a decisão envolvendo o BTG foi revertida.

(iii) a Americanas pediu extensão aos Estados Unidos dos mecanismos de proteção oriundos do processo de Recuperação Judicial do Brasil. Conhecido como “Chapter 15”, não configura efetivamente um pedido de RJ no país, e sim a extensão do benefício de suspensão de pagamentos aos credores.

26/jan: ação subiu 9,57%

27/jan: ação fechou em alta de 16,5%

– A CVM abriu mais dois inquéritos administrativos relativos ao caso da Americanas, para investigar o uso de informações privilegiadas (insider trading), bem como as irregularidades das inconsistências contábeis.

31/jan: ação fecha em alta de 20,69%, a R$ 1,75, mas acumula perdas de 81,87% no mês

Ao mesmo tempo, os credores da Americanas começaram a se organizar para ter mais força na negociação no processo de recuperação judicial da varejista. A corretora Seaport Global Securities, por meio de seu braço especializado em reestruturação Pericles, se uniu ao escritório brasileiro Felsberg Advogados com o objetivo de propor a bondholders e debenturistas uma proposta de estratégia em que tais grupos tenham poder de voto.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.