Uma das estrelas do mercado de derivativos é o chamado swap. O nome costuma assustar os mais desavisados, mas não é exatamente uma novidade para quem acompanha as notícias financeiras com regularidade.
Volta e meia uma empresa faz um swap, o Banco Central leiloa swaps ou um investidor questiona como montar uma operação do tipo. Mas o que são swaps exatamente?
Pensando em quem quer entender melhor os meandros do mercado de derivativos, InfoMoney preparou este guia de completo com conceitos fundamentais sobre swaps. Nele, você vai entender os princípios de funcionamento desse tipo de operação, para que serve, os tipos mais comuns de swaps e até mesmo como eles são utilizados pelo governo federal para ajustar os rumos da taxa de câmbio no país. Confira:
O que é Swap e para que serve
Um swap é um tipo de derivativo. Representa um acordo entre duas partes – duas empresas, dois investidores, uma empresa e um investidor, entre outras possibilidades – para que troquem entre si fluxos de caixa baseados em um valor de referência, um prazo e outras condições e critérios preestabelecidos. Um contrato de swap valoriza ou não segundo essas regras e parâmetros.
Os swaps também costumam ser definidos como uma troca de “riscos”, em que os participantes negociam as rentabilidades de dois ativos ou mercadorias diferentes.
Eles são bastante usados em estratégias de proteção – ou hedge – que podem se estender por bastante tempo. É comum que sejam adotados por empresas, porque elas podem estar expostas a variados tipos de riscos relacionados às suas atividades. O livro Mercado de Capitais: Fundamentos e técnicas lista algumas situações frequentes, como:
- Empresas importadoras ou exportadoras, afetadas por variações no câmbio;
- Empresas aéreas, que convivem com mudanças no preço dos combustíveis;
- Gestoras de fundos, impactadas pela volatilidade do mercado de ações.
Mas como um swap funciona na prática? Vai ficar mais fácil de entender com o exemplo do que é considerado o contrato precursor desse mercado.
No início da década de 1980, a IBM e o Banco Mundial fecharam um acordo de swap de divisas. Segundo o contrato, o banco assumiria as dívidas em francos suíços e marcos alemães (moeda do país na época) mantidas pela IBM. Já a IBM assumiria dívidas em dólar da instituição financeira.
Por que as duas organizações decidiram fazer essa troca? Conforme explica Mercado de Capitais: Fundamentos e técnicas, o Banco Mundial precisava levantar recursos em francos suíços para projetos, mas encontrava taxas muito altas no mercado. Já a IBM, que tinha muita presença no mercado suíço, poderia conseguir empréstimos com taxas favoráveis.
Do lado oposto, a IBM precisava de dólares para projetos importantes, moeda à qual o Banco Mundial tinha acesso com boas condições. Se as necessidades dos dois eram diferentes, mas complementares em certa medida, por que não fazer uma troca – ou um swap?
Foi o que fizeram. A IBM buscou empréstimos em francos suíços e o Banco Mundial, em dólares. Durante a operação, os dois trocaram os principais e os pagamentos de juros. Como resultado disso, destaca o livro, a IBM conseguiu pagar uma taxa de juros mais baixa do que teria pago se precisasse levantar o dinheiro no mercado. E o mesmo aconteceu para o Banco Mundial. “Ambas as organizações se beneficiaram de suas respectivas posições vantajosas em mercados diferentes”, explica o livro.
De lá para cá, esse mercado se desenvolveu e hoje abarca uma série de outras operações e ativos. Os swaps mais comuns são as de taxas de juro, moedas e commodities.
Para entender melhor o funcionamento deles atualmente, imagine um swap de ouro contra Ibovespa. Nesse exemplo, uma das partes do acordo paga a variação do ouro para a outra e recebe em troca a variação do Ibovespa. O oposto acontece com a segunda parte: ela paga a variação do Ibovespa e recebe a variação do ouro.
O que acontece se a valorização do ouro for menor e a do Ibovespa, maior? Conforme explica o livro Top: Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro, quem receberá a diferença será a parte que comprou Ibovespa (e vendeu ouro). Já se o contrário acontecer e o ouro valorizar mais que o Ibovespa, quem receberá a diferença será a parte que comprou ouro e vendeu Ibovespa.
Diferença entre swap e hedge
As operações de swap são bastante utilizadas por empresas e investidores para fins de hedge. No entanto, elas representam apenas uma das formas de proteção de uma carteira, posição ou negócio. Não são exatamente sinônimos, como eventualmente possa parecer.
É possível montar diferentes composições de ativos e derivativos para fins de hedge que envolvem várias alternativas aos swaps. As estratégias clássicas envolvem contratos futuros e opções, papéis originalmente criados justamente para esse fim. Sua existência remonta os séculos, enquanto os swaps são considerados invenções financeiras bem mais recentes.
Tipos de swap
Existem vários tipos de swaps que costumam ser realizados no mercado. Eles mudam de acordo com os ativos ou mercadorias envolvidos nos contratos de troca de fluxos – que são uma espécie de indexador da operação. Alguns dos swaps mais conhecidos são:
Cambial
Em um swap cambial, as partes trocam o principal e os juros em uma moeda pelo principal mais os juros em uma segunda moeda. Fica acordado que uma das partes faz pagamentos em uma moeda e a outra parte faz pagamentos na outra, em datas futuras.
Índices
Nos swaps de índices, o que se prevê no contrato é uma troca de fluxos de caixa associados ao retorno ou desempenho de índices de preços – como IPCA ou IGP-M – ou ainda de um índice de ações – como Ibovespa, IBrX-100 ou outros calculados pela B3.
Um exemplo é um swap de Ibovespa contra a taxa do DI, um dos principais indicadores de retorno de renda fixa. Nesse caso, as partes trocariam um fluxo de caixa indexado ao retorno do Ibovespa (normalmente acrescido de uma taxa de juros) por outro fluxo atrelado à variação do DI.
Taxas de juros
No caso dos swaps de taxas de juros, as partes trocam indexadores associados aos seus ativos ou passivos, e uma das variáveis é uma taxa de juros.
Um exemplo desse tipo de negociação é um swap de taxa do DI contra o dólar. Aqui, as partes trocam fluxos de caixa indexados ao DI por outros fluxos, indexados à variação cambial somada a uma taxa de juros negociada entre elas. Outra possibilidade são swaps de taxa do DI contra taxas prefixadas, que seguem a mesma lógica, com indexadores diferentes.
Como funciona a negociação de contratos de Swap
De acordo com o livro Top: Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro, os swaps são negociados principalmente no mercado de balcão e não são padronizados. Por essa característica, não existe a possibilidade de transferir a posição para outro investidor ou empresa. Com isso, quem faz um swap fica obrigado a carregar o contrato até o seu vencimento.
Os swaps têm uma característica semelhante à dos contratos a termo, que é diferente de derivativos como os contratos futuros: ao longo da vigência do acordo, não há desembolso de recursos – os chamados “ajustes diários” que estão presentes no mercado futuro. A liquidação das operações é financeira, realizada no vencimento contrato pela diferença entre os fluxos que foram trocados entre os investidores.
Por que o Banco Central realiza swaps cambiais
Volta e meia quem acompanha o noticiário econômico escuta que o Banco Central realizou operações de swap cambial. Você já sabe o que são esses acordos – falamos deles acima. Mas por que razão o Banco Central entraria nesse mercado fazendo esse tipo de operação?
Ocorre que o swap cambial é uma das ferramentas que o Banco Central utiliza para controlar o câmbio – ou seja, o valor da nossa moeda perante o dólar. É importante lembrar que o Brasil é um país de câmbio flutuante, o que significa que a taxa de câmbio não é definida pelo governo.
No entanto, fala-se por aqui em uma flutuação “suja”, porque mesmo não fixando a taxa o governo realiza algumas ações de modo a dar a direção dela. Isso porque um câmbio muito valorizado ou muito depreciado em um período curto causaria impactos importantes na economia.
Os operadores dos swaps cambiais são o Banco Central, as instituições financeiras e as empresas que têm dívidas em dólar. Enquanto o Banco Central lança mão dessas operações para manter a estabilidade da moeda, as empresas e as instituições financeiras buscam com elas se proteger das variações do real.
Na prática, os swaps cambiais preveem que o Banco Central pague a variação cambial do período do contrato, enquanto as outras partes (as empresas) pagam uma taxa de juros, que normalmente é a taxa do DI ou a taxa Selic. Assim, quem compra um swap cambial fica ativo em taxa de juros e passivo em câmbio. O contrário acontece com quem vende.
Os contratos de swap cambial são negociados em leilões promovidos pelo Banco Central, muitas vezes sem aviso prévio. São nessas ocasiões que as condições dos contratos são fechadas. A autoridade monetária autoriza que instituições financeiras – conhecidas como dealers – façam as operações nesse mercado.
Swap Tradicional e Swap Reverso
A principal diferença entre o swap cambial tradicional e o swap cambial reverso é o fato de que no caso do tradicional o Banco Central paga a variação do câmbio e ganha a taxa de juros (seja a do DI ou a Selic). Na prática, essa operação demonstra que a autoridade espera que a taxa de câmbio caia – por isso, costuma-se dizer que ela equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Na ponta oposta do negócio está quem acredita que a moeda pode subir.
Já nas operações de swap cambial reverso ocorre o contrário. O Banco Central oferece a taxa de juros e ganha da outra parte a variação cambial do período. O expediente é usado nas ocasiões em que acontece uma queda brusca da taxa de câmbio.