SÃO PAULO – Saber fazer a análise de balanços patrimoniais das empresas é uma habilidade muito importante para qualquer investidor. Do iniciante ao avançado, saber ler e interpretar os números de um demonstrativo contábil é tarefa essencial no mundo das finanças.  

São vários os dados contidos em um balanço. E é fundamental que todo investidor conheça não apenas os conceitos, mas também a lógica por trás de determinados números.

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Neste Guia do InfoMoney você vai entender como o dinheiro entra e sai de uma companhia, vai aprender a analisar o valor intrínseco de uma empresa e, assim, decidir se vale a pena ou não investir.

Um dos maiores investidores do mundo, Warren Buffet, por exemplo, tornou-se expert na análise de balanços contábeis. Ao longo das décadas, ele virou um leitor voraz dos números das empresas e, assim, já conseguia em pouco tempo fazer um raio-x da situação financeira de cada negócio.

Inclusive, no livro “Warren Buffett e a análise de balanço”, David Clark e Mary Buffett (ex-nora de Warren) desvendam os segredos por trás dos métodos do megainvestidor na hora de se aprofundar nos dados das empresas.

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O método de Buffett consiste em analisar os demonstrativos contábeis com foco em identificar companhias “maravilhosamente rentáveis”.

Assim, Buffett procura aquelas companhias que podem sobreviver apesar dos problemas que enfrentam no momento, identifica se aquele negócio tem o que ele chama de vantagem competitiva durável e quais vão trazer bons retornos no longo prazo.

Vamos conhecer agora os principais conceitos e quais são as principais linhas que os investidores devem se atentar na hora de analisar uma companhia aberta.

O que é Análise de Balanços?

Analisar o balanço de uma empresa é olhar para o passado de resultados com um olho no futuro.

Nas demonstrações financeiras é possível identificar se aquela companhia tem constância em seus números, se tem uma vantagem competitiva ou então se está sempre reportando números ruins.

Há três documentos principais que podem ser analisados ao se analisar os números de uma empresa:

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Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)

Mostra o quanto uma empresa lucrou ou registrou prejuízo em um determinado período (um trimestre ou um ano, por exemplo).

Balanço Patrimonial (BP)

Dá detalhes sobre os ativos (quanto a empresa tem no banco, suas contas a receber, os estoques, propriedades) e os passivos (o quanto ela deve). Subtraindo-se o passivo do ativo chegamos ao patrimônio líquido da empresa, que é o valor que seus sócios possuem investido nela.

Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC)

Acompanha o fluxo de dinheiro que entra e sai de uma companhia. Monitora o quanto a empresa está investindo, as vendas e recompras de títulos e ações.

Leia mais: Análise Fundamentalista de Ações: como identificar empresas sólidas e rentáveis a longo prazo

Como fazer uma Análise de Balanços com DRE? 

Você pode começar a ler os números de uma empresa pela Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).

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Esta ferramenta contábil mostra os resultados da operação da companhia em um determinado período. Assim, ele aponta um resumo das atividades operacionais e não operacionais da empresa.

A frequência mais comum de se apresentar o DRE é a cada trimestre ou com o demonstrativo anual, geralmente emitido no início de um ano e em referência ao ano anterior.

Exemplo: um DRE de 1º de janeiro de 2021 a 31 de dezembro de 2021 vai mostrar em detalhes os números da empresa ao longo deste ano.

O DRE é dividido em três grandes componentes:

  • Receitas
  • Despesas
  • Lucro

Os primeiros analistas, como Benjamin Graham (mentor de Buffett), focavam prioritariamente se uma empresa dava ou não lucro. Assim, ele não se importava se determinada empresa era ruim ou boa. Se ele encontrasse uma empresa que gerasse lucro e tivesse um valor baixo, era uma opção de compra.

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Warren Buffett veio com uma nova perspectiva. Para ele, é importante saber a origem do dinheiro de uma empresa. Ou seja, é mais importante saber de onde vem o lucro do que o lucro em si.

Quando se analisa uma empresa com foco no longo prazo é importante olhar vários DREs, de preferência verificar entre 5 a 10 anos para identificar se há bons indicadores de forma constante. 

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A seguir vamos mostrar os principais dados para se analisar em um DRE.

Receita total ou receita bruta

A primeira linha de uma Demonstração do Resultado do Exercício é sempre a receita total ou a receita bruta.

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A receita é o volume de produtos ou serviços vendidos por uma empresa. Ou seja, é tudo que entrou de dinheiro para a empresa a partir de suas vendas. Se, por exemplo, uma empresa têxtil vendeu R$ 500 milhões em roupas em um ano, esse é o valor que ela informará na sua DRE anual.

Mas uma receita alta não quer dizer necessariamente que a empresa está dando lucro. Para chegarmos neste indicador é preciso deduzir as despesas da receita total da companhia. Assim:

Receita total – despesas = receita líquida

E para chegarmos aos valores das despesas totais de uma empresa precisamos analisar outros indicadores. É preciso olhar, por exemplo, para os custos dos bens, os lucros e as margens, as despesas operacionais e as despesas com vendas, gerais e administrativas.

Custos dos bens vendidos

Representa o valor da compra de bens que a companhia está revendendo ou o custo da matéria-prima e da mão de obra utilizadas na confecção dos produtos que está vendendo.

Os “custos das vendas” de forma geral são usados no lugar dos “custos dos bens vendidos” se a empresa fornece serviços no lugar de produtos. Mas eles têm o mesmo significado. É preciso sempre ficar atento ao que a empresa inclui nos cálculos de custos dos bens que vende ou nos custos das vendas.

O custo dos bens vendidos é essencial para determinar o lucro bruto da empresa, que é uma cifra fundamental.

Lucro bruto e margem de lucro bruto

Dois indicadores importantes na busca por investimentos duráveis de longo prazo são o lucro bruto e margem de lucro bruto.

O lucro bruto é encontrado da seguinte forma:

Receita total – custo dos bens vendidos = lucro bruto

Assim, o lucro bruto nada mais é do que a quantia de dinheiro que a empresa ganhou com sua receita total retirando-se os custos de matéria-prima e mão de obra utilizadas para produzir os bens. No lucro bruto ainda não são contabilizadas as despesas e depreciações.

Ou seja, o lucro bruto sozinho não revela muita coisa. Mas ele pode ser usado para calcular a margem de lucro bruto da companhia – este sim um indicador valioso. Ele pode ser obtido da seguinte forma:

Lucro bruto ÷ receita total = margem de lucro bruto

Empresas que tenham boas condições econômicas de longo prazo tendem a ter margens de lucro bruto altas por longos períodos de forma constante.

O que gera uma margem de lucro bruto alta é a vantagem competitiva durável da companhia. Assim, ela tem liberdade para definir os preços de seus produtos e serviços de forma que fiquem bem acima dos custos.

De maneira geral, margens de lucro bruto acima de 40% de forma contínua indicam que a empresa tem alguma vantagem competitiva no mercado. Abaixo de 20% demonstra que a empresa pode estar em um setor altamente competitivo.

Porém, o indicador margem de lucro bruto não pode ser analisado sozinho. Caso a empresa tenha grandes despesas operacionais ou com VGA (vendas, gerais e administrativas), altos custos de pesquisa ou grandes custos de juros sobre dívida, as condições econômicas da companhia podem não se sustentar.

O que são despesas operacionais? Como se relacionam com a análise de balanços?

As despesas operacionais compreendem todos os custos de despesas de vendas e administrativas para a comercialização dos produtos ou serviços.

Estão inclusos nas despesas operacionais, por exemplo, a pesquisa e o desenvolvimento de novos itens, marketing, seguros, depreciação e amortização (encargos de deterioração). E ainda há a categoria “outros”, que agrega todas as despesas não operacionais e não recorrentes.

Quando se soma todas essas despesas surge a despesa operacional da companhia. Ou seja, todos os custos que ela têm para se manter operando. Ao subtrair as despesas operacionais do lucro bruto chegamos ao lucro ou prejuízo operacional da empresa.

Despesas com vendas, gerais e administrativas

Salários de gerência, gastos com viagens, publicidade, comissões, custas judiciais e os custos da folha de pagamentos entre outros itens compõem as despesas com VGA (vendas, gerais e administrativas).

As despesas podem ser de centenas até bilhões dependendo do tamanho da empresa. Por isso, é indicador que faz toda a diferença na demonstração do resultado do exercício.

Empresas que não têm uma vantagem competitiva durável sofrem com a grande concorrência e têm grandes variações nas despesas VGA como porcentagem do lucro bruto. Assim, quanto mais baixas forem as despesas VGA, melhor. 

Depreciação

A cada ano o carro que você tem na garagem sofre uma desvalorização: a chamada depreciação. O mesmo ocorre com bens e imóveis das empresas.

As máquinas, os edifícios e os equipamentos de uma companhia acabam se desgastando. E esse fator é representado pelo item depreciação nas contas das empresas. Mas o importante de se entender aqui é que há uma depreciação ao longo do tempo – e não de uma só vez.

Assim, vamos supor que uma empresa compre um equipamento por R$ 100 mil. Essa despesa não será colocada na demonstração de fluxo de caixa sob o item dispêndio com ativos imobilizados. Isso porque a despesa de R$ 100 mil com o equipamento é alocada como uma despesa de depreciação na demonstração de resultado do exercício.

Ou seja, se esse equipamento tem um vida útil de 5 anos e um custo de depreciação de R$ 20 mil por ano, o valor será informado ao longo dos próximos 5 anos como uma despesa de depreciação no DRE. Isso ocorre pois a Receita Federal não permite que a companhia deduza integralmente o valor total no ano em que a compra foi feita.

Despesas com juros

Este é o valor pago sobre a dívida que uma empresa tem. Pode ser um lançamento de juros durante um trimestre ou o ano inteiro, computado no balanço patrimonial como passivo.

De forma geral, a grande maioria das companhias pagam mais juros do que recebem – com exceção dos bancos. 

As despesas com juros são classificadas como um custo financeiro (e não operacional). Isso porque elas não são ligadas a um processo produtivo de uma empresa ou então das vendas feitas em um período. 

Quanto maior for o endividamento de uma empresa, maior é o total de juros a ser pago.

Mas dívida alta não é necessariamente um indicador ruim. As empresas que contraem altos empréstimos costumam ser de dois tipos:

  • Empresas que estão em setores altamente competitivos e que precisam de altos investimentos em ativos fixos para manterem seus negócios;
  • Companhias que têm boas condições econômicas e que fazem dívidas por serem compradas em uma aquisição alavancada. 

Um indicador muito comum usado é a porcentagem da despesa com juros em relação ao lucro operacional. Porém, é preciso notar que esse percentual varia muito de acordo com o setor da empresa. 

Efeitos não recorrentes

Eventos que não tenham relação com a operação da empresa, de natureza incomum ou não frequente e que gerem receita ou despesa são também contabilizados na demonstração do resultado do exercício. O lançamento é feito na categoria “Outros”.

Estão inclusos neste item acordos de licenciamento, venda de patentes (fora do curso normal do negócio), entre outros. 

Eventos não recorrentes podem auxiliar o resultado financeiro de uma companhia. 

Mas, como estes itens não têm recorrência, não devem ser levados em conta no cálculo do lucro líquido para averiguar se uma empresa tem ou não competitividade durável. 

Ebitda: lucros antes dos impostos 

Ebitda é uma palavrinha estranha, mas que todo investidor já deve ter ouvido falar por aí. De forma prática ela define o lucro de uma empresa após descontadas as despesas, mas antes de se retirar os impostos da conta. 

Ao pé da letra, Ebitda significa “Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização” e também é conhecido como Lajida no Brasil.

Ele serve para calcular o retorno do investidor ao adquirir toda uma companhia ou uma participação parcial por meio da compra de suas ações no mercado aberto. 

O Ebitda é calculado para se ter uma noção de como anda a operação de fato da empresa. O indicador também serve como uma métrica da geração de caixa operacional – ou quanto a empresa gera de dinheiro com sua atividade principal.

Imposto de renda pago

Assim como as pessoas físicas, as empresas também precisam pagar imposto de renda. Após o pagamento, as companhias registram o imposto na demonstração do resultado do exercício no item “imposto de renda pago”.

O imposto de renda pago reflete o verdadeiro lucro da empresa antes dos impostos. Assim, se alguma empresa estiver declarando de forma errada que está ganhando mais do que realmente apurou, é possível verificar o valor certo em suas demonstrações financeiras anuais. 

Lucro líquido

Indicador bastante conhecido e usado, o lucro líquido é obtido após subtrair-se todas as despesas e os impostos da receita da empresa. 

É com o lucro líquido que descobrimos quanto que a empresa efetivamente ganhou em determinado período. 

Um fator importante a se ficar de olho é se o lucro líquido de uma empresa está em tendência histórica de alta. Desta forma, se uma companhia realizou um ótimo ano com alto lucro líquido e nos 10 anos anteriores houve grandes prejuízos, o investidor deve ficar de olho neste histórico. 

De forma geral, as empresas que têm vantagem competitiva mais duradouras apresentam uma porcentagem mais alta de lucro líquido em relação à receita total do que as concorrentes.

Se uma empresa apresenta histórico de lucros líquidos acima de 20% da receita total é possível que ela esteja se beneficiando de vantagens competitivas de longo prazo. Por outro lado, se uma companhia tem lucros líquidos abaixo de 10% de sua receita total, é um indicativo que seu setor seja muito competitivo. Exceções a essa regra são bancos e instituições financeiras.

Lucro por ação

A partir do lucro líquido é possível chegar também no lucro por ação. Quanto mais uma empresa lucra por ação mais alta é a cotação de suas ações.

Este importante indicador é obtido da seguinte forma:

Lucro líquido ÷ ações da empresa = lucro por ação

Se, por exemplo, uma empresa tem um lucro líquido de R$ 100 milhões em um ano e 10 milhões de ações em circulação, seu lucro por ação será de R$ 10.

Analisar o lucro por ação de uma empresa ao longo do tempo – 10 anos, por exemplo – é um bom indicador para indicar se a companhia tem uma vantagem competitiva durável. 

Se o lucro por ação cresce com o passar dos anos, isso é um bom sinal. Demonstra que as condições econômicas da empresa são boas o suficiente para permitir que ela faça as despesas necessárias para aumentar sua participação de mercado.

Porém, é preciso ficar atento aos programas de recompra de ações. Eles aumentam o lucro por ação de uma empresa ao reduzir o número de ações em circulação. Assim, se uma companhia reduz a quantidade de ações no mercado, o seu lucro por ação terá uma elevação – apesar de o lucro líquido real não ter apresentado crescimento. 

Análise de Balanços Patrimoniais (BP)

Agora que já vimos os principais itens do DRE, vamos falar de balanço patrimonial. Ele também diz muito sobre a situação financeira de uma empresa e mostra de uma maneira clara e transparente o quadro contábil e financeiro de uma companhia.  

É no balanço patrimonial que constam todos os ativos (dinheiro e propriedades) e passivos (dívidas, gastos obrigatórios). 

Diferente do DRE, o balanço patrimonial reflete apenas uma determinada data e não um ano ou um trimestre. Ou seja, ele é um raio-x da condição financeira da empresa na data em que foi gerado.

Com o balanço patrimonial em mãos você pode descobrir também outro indicador muito importante: o patrimônio líquido de uma empresa, que pode ser obtido da seguinte forma:

Ativo – passivo = patrimônio líquido 

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Vamos entender melhor estes conceitos?

Ativos

É nos ativos que contabilizam-se todos os bens de uma empresa. Estão relacionados ali imóveis, veículos, dinheiro, patentes e até mesmo equipamentos e maquinários da companhia. 

Outra forma de explicar os ativos é entender que eles são tudo que a empresa pode vender e transformar em dinheiro. E também tudo que a companhia tem direito a receber. Ou seja, é tudo que constitui riqueza. 

O ativo é dividido principalmente em duas subcategorias: ativo circulante e ativo não circulante.

  • Ativo circulante: corresponde, basicamente, aos recursos que podem ser convertidos em finanças a curto prazo – em cerca de 12 meses. Ou seja, são ativos mais líquidos. Exemplos: estoques, matérias-primas, mercadorias, contas a receber no curto prazo, entre outros.
  • Ativo não circulante: aquele que estará disponível só em longo prazo – em um período superior a 12 meses. Exemplos: bens duradouros, como máquinas e ferramentas, patentes e marcas, entre outros.

A seguir vamos detalhar cada um dos subitens dos ativos. 

Caixa e investimentos de curto prazo

O dinheiro em caixa é aquele recurso que a empresa tem disponível imediatamente em suas contas.

Boa parte desse dinheiro é usado pelas companhias para respaldar suas operações do dia a dia. Mas o excedente do caixa é utilizado também para outros fins, como expansão das operações, comprar novas empresas (fusões e aquisições), investir na bolsa de valores, recomprar ações, pagar dividendos aos acionistas ou até mesmo guardar para usar a grana em momentos difíceis.

Uma dica importante para verificar o que está gerando o ativo disponível de uma empresa é analisar os últimos sete anos de balanços patrimoniais. Assim, você terá uma visão mais ampla daquele negócio. 

Com isso, você vai perceber se o ativo disponível da companhia vem de um evento único ou se foi gerado por operações comerciais ao longo dos anos. 

Uma empresa que tenha grande quantidade de ativos disponíveis acumulados, com pouca (ou nenhuma) dívida e sem venda de ações/ativos, com histórico de lucro constante, pode indicar uma ótima vantagem competitiva durável para um negócio.

Estoque

Os produtos armazenados pela empresa que estão prontos para serem vendidos e também aqueles em fase de fabricação compõem o estoque. As matérias-primas também fazem parte do estoque. 

O estoque no balanço patrimonial corresponde ao valor total até a data de publicação do documento.

Uma vantagem competitiva são as empresas que têm estoques e lucro líquido constantemente em crescimento. Isso mostra que o negócio está encontrando formas rentáveis de aumentar as vendas. Com isso, o estoque precisou ser aumentado para poder dar conta dos pedidos. 

Contas a receber

É o valor que a empresa tem a receber após a venda de seus produtos. 

Geralmente quando uma companhia vende seus produtos, o pagamento é feito à vista ou com prazo de 30 dias ou mais após o recebimento dos bens. Como a empresa já fez a venda, mas o dinheiro ainda não caiu na conta, ele deve constar no balanço patrimonial no item contas a receber. Ou seja, é uma dívida que a empresa tem para receber. 

Mas claro que é preciso levar em conta também uma parcela de compradores que não efetuará o pagamento. 

Em setores muito competitivos, empresas tentam ganhar vantagem oferecendo melhores condições de pagamento – como 60, 90 ou 120 dias para pagar. Isso pode gerar um aumento nas vendas e nas contas a receber.

Outros componentes do ativo importantes para a análise de balanços

Há ainda outros itens que compõem o ativo, veja a seguir:

  • Despesas pagas antecipadamente: são por bens e serviços já pagos pela empresa e que serão recebidos em um futuro próximo. Como não foram recebidos, mas foram pagos, também são considerados ativos. São lançados como ativo circulante na conta de despesas pagas antecipadamente. Um exemplo são os prêmios de seguros para o ano posterior. 
  • Demais ativos circulantes: são ativos que estarão disponíveis um ano, porém ainda não foram recebidos pela companhia. São exemplos as restituições de tributos, que devem ser recebidas em até um ano, mas que ainda não estão com a empresa. 
  • Ativo circulante total e coeficiente de liquidez: a subtração do passivo circulante do ativo circulante pode apontar se uma companhia pode cumprir suas obrigações de curto prazo. O coeficiente de liquidez é a divisão do ativo circulante pelo passivo circulante. Assim, quanto mais alto o coeficiente, maior é a liquidez do negócio. Um coeficiente de liquidez superior a 1 é considerado bom, e abaixo de 1 é ruim.
  • Ativos intangíveis: eles não podem ser tocados fisicamente. É o caso de marcas e patentes, direitos autorais, franquias, entre outros. 
  • Investimento de longo prazo: são aqueles investimentos superiores a um ano, como ações, títulos e imóveis, que incluem investimentos nas afiliadas e subsidiárias da empresa. É lançado com o preço de custo ou de mercado.
  • Demais ativos de longo prazo: é um grande conjunto de ativos de longo prazo que tem mais de 1 ano de vida útil e que não são registrados nas categorias anteriores. Despesas pagas antecipadamente e restituições de tributos a serem recebidos no próximos anos são alguns exemplos.
  • Ativo total: é a soma do ativo circulante e do ativo de longo prazo (não circulante). Ele é igual ao passivo total + patrimônio líquido. Para medir a eficiência de uma empresa é possível calcular o coeficiente de retorno sobre o ativo. A conta é: lucro líquido dividido pelo ativo total. 

Passivos

A segunda coluna de um balanço patrimonial é a dos passivos. Eles mostram todas as obrigações, dívidas e despesas de uma empresa. Assim, estão incluídos no passivo salários de funcionários, contas mensais, empréstimos, tributos, pagamentos de fornecedores, entre outros.

Passivo circulante e não circulante

O que diferencia um do outro é o tempo em que aquela dívida/obrigação será paga.

Passivo circulante – dívidas de curto prazo: são as dívidas e obrigações financeiras que a companhia tem a saldar e que vencerão no prazo de até um ano. Exemplos: salários mensais de funcionários, pagamentos de fornecedores, contas mensais, etc.

Passivo não circulante – dívidas de longo prazo: são as dívidas e obrigações financeiras que a companhia tem a saldar e que vencerão após um ano. Exemplos: dívidas mais longas, empréstimos, aportes financeiros, etc. 

Esses itens são detalhados no balanço patrimonial nos lançamentos de Contas a pagar, Despesas provisionadas, Dívida de curto prazo, Dívida de longo prazo a vencer e Demais passivos circulantes. Vamos dar uma olhada nesses lançamentos e ver o que eles podem nos informar acerca de uma eventual vantagem competitiva durável de uma companhia em relação às suas concorrentes.

Empresas com poder de geração de lucro suficiente para quitar sua dívida de longo prazo em menos de 3 ou 4 anos são boas candidatas a serem companhias com boas vantagens competitiva de longo prazo

A seguir vamos detalhar os itens que compõem o passivo circulante: dívidas a pagar de curto e longo prazo, contas a pagar, coeficiente de liquidez e passivo total.

Contas a pagar, despesas provisionadas e demais passivos

Contas a pagar: são os valores devidos a fornecedores que venderam a crédito bens e serviços à companhia. Ou seja, é a fatura a pagar de um determinado produto ou serviço comprado pela empresa.

Despesas provisionadas: são os gastos que a companhia teve, porém ainda precisam ser pagos. Estão inclusos aqui tributos sobre vendas, encargos sociais, salários e aluguéis a pagar.

Demais passivos circulantes: é um fundo para dívidas de curto prazo que não se encaixam em nenhuma das outras categorias.. 

Passivo circulante total e coeficiente de liquidez

A liquidez de uma empresa é obtida pela seguinte fórmula:

Ativo circulante total ÷ passivo circulante total = liquidez da empresa

Quanto maior for o coeficiente de liquidez de uma companhia, maior é a disponibilidade financeira desta empresa. Assim, sua capacidade de pagar os passivos circulantes no momento do vencimento tende a ser maior.

Coeficiente de liquidez maior que 1 é classificado como bom (a empresa deve conseguir cumprir suas obrigações financeiras). Coeficiente de liquidez abaixo de 1 é ruim (a companhia pode ter dificuldade de cumprir seus pagamentos).

Mas é importante notar também que algumas empresas que têm uma vantagem competitiva durável podem ter coeficiente de liquidez abaixo de 1 por terem um grande poder de geração de lucro. Assim, este dado não pode ser analisado de maneira isolada. 

Passivo total e coeficiente de endividamento

Todos os dados de passivos da empresa juntos resultam no passivo total. Com este número em mãos é possível calcular o coeficiente de endividamento, que tem relação direta com o patrimônio líquido.

O coeficiente de endividamento pode ser usado para identificar se um negócio tem usado dívidas para financiar suas operações. 

O cálculo é feito da seguinte forma:

Passivo total ÷ Patrimônio líquido = Coeficiente de endividamento em relação ao Patrimônio líquido

Quanto mais baixo for este coeficiente melhor (ideal ser abaixo de 0,80). 

A princípio, empresas com vantagens competitivas de longo prazo usam seu próprio lucro para financiar as operações. Dessa forma, deveriam ter um alto nível de patrimônio líquido e baixo de passivo total. 

Ocorre que há empresas que têm condições econômicas tão boas que não precisam de grandes quantias de capital próprio ou lucro acumulado para realizar suas operações. Assim, com grande capacidade de gerar lucros, elas acabam muitas vezes gastando o capital/lucro para recomprar ações, reduzindo sua base de capital próprio/lucro acumulado. Desta forma, o coeficiente de endividamento em relação ao patrimônio líquido aumenta.

É importante lembrar que as instituições financeiras são uma exceção para este cálculo. Isso porque os bancos tomam emprestadas grandes quantias de dinheiro, que são usadas para conceder empréstimos. Assim, gera um grande passivo, que é compensado por um ativo também grande.

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Patrimônio líquido

O patrimônio líquido é outra importante parte do balanço patrimonial e tem relação direta com os ativos e passivos. Ele pode ser obtido pela seguinte conta:

Ativo total – Passivo total = Patrimônio líquido

O patrimônio líquido (ou valor contábil) de uma empresa indica o retorno financeiro que os empreendedores tiveram com a empresa ao término de um período. Ou seja, o patrimônio líquido compreende todo o dinheiro que os acionistas investiram acrescido do que ganharam após e deixaram na empresa para que ela continuasse funcionando. 

O patrimônio líquido é lançado no balanço da empresa como Capital social realizado, que inclui ações preferenciais e ordinárias, Reservas de capital e Lucro acumulado. 

Ações preferenciais e ordinárias

Uma das formas de uma empresa levantar capital novo é vender títulos ou ações (participação patrimonial) no mercado. 

Ao levantar dinheiro vendendo ações preferenciais ou ordinárias, a empresa nunca terá de restituir aquele dinheiro, pois ele é seu para sempre. Isso é o oposto do que ocorre quando uma empresa levanta dinheiro com a venda de títulos como debêntures, por exemplo. Neste caso, a empresa toma emprestado determinado valor para, em seguida, devolvê-lo aos detentores das debêntures com juros. 

A participação patrimonial por meio de ações pode ser dividida de duas formas:

  • Ações ordinárias: elas representam os controladores da companhia. Os detentores de ações ordinárias são proprietários da companhia. Assim, eles têm o direito de eleger um conselho diretor, que contratará um diretor/CEO para dirigir a organização. 
  • Ações preferenciais: os detentores destas ações não têm direito a voto, mas têm direito a dividendos fixos ou ajustáveis que devem ser pagos antes que os acionistas ordinários recebam os seus. Os acionistas preferenciais também têm prioridade em relação aos ordinários caso a empresa declare falência. Empresas que têm um valor competitivo durável tendem a não ter ações preferenciais. 

Lucros acumulados

Este é um dos principais indicadores de um balanço patrimonial e está dentro do patrimônio líquido. 

Quando uma empresa gera lucro ela pode escolher: pagar seus sócios com dividendos, recomprar as próprias ações ou reter o dinheiro para crescer o negócio. Neste último caso ocorre o lucro acumulado.

Assim, quando os gestores decidem manter em caixa o lucro da empresa para fazer a companhia crescer cada vez mais, o lucro acumulado pode crescer ano após ano.

Mas, da mesma forma, se a companhia perde dinheiro, o prejuízo é subtraído do que ela acumulou no passado. Se ela perder mais dinheiro do que acumulou em vários anos, o lucro acumulado será um número negativo (prejuízo).

Assim, se uma empresa não vê crescer seu lucro acumulado, o seu patrimônio líquido não está crescendo. Então a taxa de crescimento do lucro acumulado de uma empresa é um bom indicador.

Ações em tesouraria

As empresas podem fazer recompras de suas ações. Quando isso ocorre, a companhia pode cancelar as ações ou retê-las com a possibilidade de revendê-las mais tarde. 

Quando são canceladas, as ações deixam de existir. Se forem retidas, elas podem ser lançadas no balanço patrimonial no grupo de contas do patrimônio líquido, como ações em tesouraria. 

As ações em tesouraria não têm direito a voto e também não recebem dividendos. Elas são um ativo, mas são lançadas no balanço patrimonial como um valor negativo pois representam uma redução do patrimônio líquido. 

Um bom indicador sobre este quesito é quando a empresa possui ações em tesouraria no balanço patrimonial e tem um histórico de recompra de ações.

Retorno sobre o patrimônio líquido

O famoso ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) é um indicador muito usado no mercado. Ele mostra a eficiência da equipe de gestão de uma empresa em alocar o dinheiro dos acionistas. É calculado da seguinte forma:

Lucro líquido ÷ Patrimônio líquido = Retorno sobre o patrimônio líquido

Quanto mais alto for o retorno sobre o patrimônio líquido, melhor. Isso quer dizer que aquela empresa está usando bem o lucro que está sendo retido em caixa. 

Assim, com o passar dos anos, os altos retornos sobre o patrimônio se acumulam e fazem crescer o valor subjacente da empresa, que, ao longo do tempo, será reconhecido pelo mercado com o aumento da cotação das ações daquela empresa. 

Análise de balanços por Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC)

Além do balanço patrimonial e do DRE, a terceira parte importante ao se analisar empresas é a Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC). 

Neste documento são registradas as origens de todos os recursos que uma companhia obteve em um período e como eles foram aplicados. Assim, ele informa os movimentos de entradas e saídas do caixa de uma organização.

O DFC é importante pois ele mostra a saúde financeira de uma empresa, apontando a capacidade que ela tem de gerar caixa e lucro.

Empresas de capital aberto ou que tenham patrimônio líquido acima de R$ 2 milhões são obrigadas a elaborar e divulgar seu DFC. 

A companhia pode ter um fluxo de caixa positivo (se está recebendo mais dinheiro do que gastando) ou fluxo de caixa negativo (se está gastando mais do que recebendo).

A Demonstração de Fluxo de Caixa é dividida em três seções. Vamos conferir a seguir:

Fluxo de caixa de atividades operacionais

Essa parte aponta o lucro líquido da empresa e soma o valor da depreciação e da amortização. Registra também receitas e gastos de atividades relacionadas com a produção e entrega de bens e serviços. 

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A depreciação e a amortização do ponto de vista contábil são despesas reais, mas não consomem dinheiro na prática, já que representam o que já foi gasto anos antes. 

O resultado será o caixa total das atividades operacionais. Por isso, a DFC reúne dados do balanço patrimonial e também do DRE. 

Fluxo de caixa de operações de investimentos

Inclui um lançamento para todas as despesas com ativos fixos feitas durante um período contábil da empresa. 

As despesas com ativos fixos são um número negativo pois representam gastos, resultando em um esvaziamento do caixa. 

Outro subitem desta seção é “Demais itens de fluxo de caixa de investimento”. Ele é a soma de todo o dinheiro gasto e recebido pela compra e venda de ativos geradores de receita. 

Se há mais saída do que entrada, o valor é negativo. Se há mais entrada do que saída, o valor é positivo. 

As despesas com ativos fixos e os demais itens e fluxo de caixa de investimento são somados e resultam no caixa total das atividades de investimento da organização. 

Fluxo de caixa de atividades de financiamento 

Ele mede o fluxo de entrada e saída de dinheiro de uma companhia gerado por operações financeiras. 

Aqui estão incluídas as saídas de dinheiro para o pagamento de dividendos, recompra de ações e a venda e a compra de títulos da companhia. 

Há então nesta categoria três lançamentos: dividendos pagos, emissão (resgate) de ações e emissão (resgate) de dívidas. Somados, esses três lançamentos geram o caixa total das atividades de financiamento.

Resultado final de caixa

Agora, ao somar as três seções anteriores, teremos o resultado final de caixa. Assim:

Resultado final de caixa = caixa total de atividades operacionais + caixa total de operações de investimentos + caixa total de atividades de financiamento 

Despesas com ativos fixos

Outro dado importante da Demonstração do Fluxo de Caixa são as despesas com ativos fixos. Eles são valores pagos por ativos imobilizados, como máquinas ou imóveis. Ou ainda despesas com ativos intangíveis, como patentes e marcas e concessões, por exemplo.

Estes são ativos gastos ao longo de um período maior que um ano por meio de depreciação ou amortização. 

As despesas com ativos fixos são registradas na demonstração de fluxo de caixa nas operações de investimento. Importante ressaltar que cada empresa pode ter despesas com ativos fixos diferentes. 

Algumas precisam gastar grandes quantias com esta despesa por causa das altas taxas de depreciação e amortização, enquanto outras não gastam tanto. 

Uma empresa com uma vantagem competitiva durável gasta uma porcentagem pequena de seu lucro líquido em despesas com ativos fixos.

Analisando os últimos 10 anos de uma companhia, podemos ver quanto ela gasta com ativos fixos em relação ao lucro líquido ao somar o total de despesas com ativos fixos de uma empresa neste período e comparar com o lucro líquido do mesmo tempo.