Trocar de carro, comprar a casa própria, fazer a viagem dos sonhos, conquistar determinado status de vida ou, simplesmente, colocar as contas em dia. Todo mundo tem objetivos que envolvem o dinheiro, e as metas financeiras são importantes para que se possa alcançá-los de forma organizada ao longo do tempo.
A depender da renda e da disciplina financeira, definir essas metas e conseguir cumpri-las pode ser um processo trabalhoso ou difícil. Pensando nisso, selecionamos orientações de especialista sobre o tema, para ajudar quem deseja organizar a vida financeira e mantê-la sob controle. Continue a leitura e confira!
O que são metas financeiras pessoais?
Metas financeiras nada mais são do que os passos intermediários necessários para alcançar objetivos financeiros, como explica Carlos Castro, sócio-fundador da rede de planejamento financeiro SuperRico e coordenador de relacionamento com associados da Planejar.
“Para converter sonhos em objetivos, é preciso dar materialidade a esses objetivos em termos de valor no tempo. Por exemplo, se uma pessoa planeja a aposentadoria no longo prazo, precisa estabelecer metas intermediárias, de médio prazo, para que consiga fazer a economia necessária para o futuro”, diz o especialista.
Em outras palavras, as metas quantificam os objetivos e ajudam a distribuí-los ao longo do tempo, de acordo com cada planejamento financeiro, conforme veremos a seguir.
Como definir metas financeiras?
Antes de definir metas financeiras pessoais, é preciso organizar as finanças – e isso invariavelmente passa pelo controle dos gastos.
Essa etapa, segundo Castro, costuma ser a mais difícil. Isso porque a maioria das pessoas associa o corte de despesas tão somente à perda de qualidade de vida, quando, na verdade, deveria se tratar de uma consciência financeira.
“Muitas vezes, basta reduzir gastos não essenciais (compras, viagens, restaurantes) para equilibrar o orçamento. Não é necessário cortar tudo o que se gosta, pois o segredo da organização financeira está no equilíbrio”, alerta.
Com os gastos mapeados e controlados, o próximo passo para a definição das metas financeiras é equacioná-las no tempo.
Metas de curto prazo
No curto prazo, costuma-se classificar os objetivos financeiros de até dois anos.
Aqui, o primeiro passo é sempre formar a reserva de emergência. Esses são os recursos que darão suporte a imprevistos financeiros de qualquer ordem – seja o simples conserto do carro até a perda do emprego.
Depois de garantida essa reserva, já dá para pensar no que se deseja adquirir em um espaço de tempo mais curto. Por exemplo, viajar nas próximas férias, trocar de celular ou equipar o home office.
Metas de médio prazo
Já no médio prazo, está tudo o que se deseja alcançar entre dois e cinco anos aproximadamente.
Conforme o tempo vai passando, é natural que, para alcançar os objetivos financeiros, os gastos sejam maiores. Logo, como metas de médio prazo, podemos considerar aquela viagem para o exterior, a troca do carro, um curso de especialização, e assim por diante.
Metas de longo prazo
Por fim, o longo prazo contempla os planos que esperamos concretizar depois de cinco anos.
Esses são os objetivos que exigem mais disciplina financeira, pois, em um espaço longo de tempo, muita coisa acontece no cenário econômico. Dependendo das oscilações da inflação, juros, crises financeiras e outras variáveis, podemos ser forçados a reprogramar boa parte do que havíamos planejado.
A lista de metas de longo prazo costuma ser extensa. Comprar a casa própria, constituir família, planejar a aposentadoria, abrir um negócio e fazer um planejamento sucessório são alguns exemplos.
Como calcular as metas financeiras?
As premissas básicas para calcular as metas financeiras são: valor que se tem no presente, prazo, juros ao longo do tempo e valor que se deseja alcançar no futuro. Trata-se de pura matemática financeira – projetar o montante necessário para atender aos objetivos escalonados no tempo.
Existem diversas metodologias para se fazer esse cálculo. Uma das mais conhecidas é a SMART, que não se restringe às finanças, pois é utilizada também por empresas na avaliação da operação como um todo.
SMART é a sigla para specific, measurable, achievable, relevant and time bound. Na tradução, é algo considerado específico, mensurável, alcançável, realista e temporal.
Veja como a metodologia funciona na prática.
S – Specific (específico)
É bem mais fácil entender e executar uma meta específica e detalhada do que uma genérica ou pouco abrangente.
Algumas perguntas que ajudam a definir metas detalhadas são:
- o que eu desejo alcançar?
- quando isso acontecerá?
- quais os recursos necessários para que isso aconteça?
Exemplo: quero fazer um intercâmbio e precisarei de “x” para custear todo o projeto (viagem, curso, hospedagem e despesas pessoais lá fora).
M – Measurable (mensurável)
É preciso estabelecer critérios para avaliar a evolução das metas, considerando o ponto de partida e onde se quer chegar.
Tomando o exemplo anterior, alguns pontos a observar seriam os seguintes:
- quanto tenho hoje guardado para o intercâmbio?
- quanto preciso economizar para conseguir o restante?
- quanto o dinheiro precisa render ao longo do tempo para cobrir todas as minhas despesas no exterior?
A – Achievable (alcançável)
Além de metas específicas e mensuráveis, elas também precisam ser realistas. Ao fazermos essa avaliação, entenderemos se o plano original é factível, ou se necessita de ajustes para que possamos realizá-lo.
Considerando o intercâmbio, poderíamos perguntar:
- tenho condições de economizar o valor total necessário para o projeto?
- se não, de quanto tempo eu precisarei para aumentar as reservas?
- uma segunda opção (outro país ou curso) poderia ser mais vantajosa?
R – Relevant (relevante)
Avaliar com atenção a relevância do que se pensa em fazer é fundamental na hora de estabelecer metas financeiras.
Pode ser que, por exemplo, o intercâmbio planejado não traga o retorno que se esperava na carreira mediante o investimento necessário. Nesse caso, a meta deixa de ser tão relevante profissionalmente, e pode ser adiada para que o sonho se realize depois de outras prioridades financeiras.
T – Time bound (limite do tempo)
Qualquer meta financeira deve ter prazo de início e fim para que seja alcançada. Caso contrário, as chances de perder o foco e procrastinar a sua execução serão grandes.
Como investir para realizar metas financeiras?
Para alcançar as metas financeiras, é preciso trabalhar o dinheiro no tempo de forma eficiente. Nesse sentido, o tripé dos investimentos ajuda a entender quais os melhores ativos para cada prazo e objetivo.
Esse conceito atribui três características básicas aos investimentos: segurança, rentabilidade e liquidez. Dependendo do propósito financeiro, cada uma dessas variáveis terá maior ou menor importância na hora de investir, como veremos a seguir.
Investir para o curto prazo
Se o foco é o curto prazo, os principais atributos do investimento devem ser liquidez e segurança. Liquidez porque o dinheiro deve estar disponível assim que for preciso utilizá-lo. E segurança porque não haverá muito tempo para que o ativo recupere uma eventual perda de rentabilidade.
Nessa faixa de tempo – de até dois anos aproximadamente – cabe ainda uma subdivisão, que é o curtíssimo e o curto prazo. No curtíssimo prazo está a reserva de emergência, e aqui a liquidez deve ser diária ou imediata. Aplicações como Tesouro Selic, CDBs de liquidez imediata e fundos DI costumam ser as mais indicadas para este fim.
Quando a liquidez deixa de ser o foco, surgem outros ativos interessantes para o curto prazo. Alguns exemplos são as Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs) e os CDBs de prazos maiores.
Investir para o médio prazo
À medida que a liquidez deixa de ser prioridade, já se pode pensar em dar foco à rentabilidade. Na renda fixa mais conservadora, além das LCIs e LCAs, algumas opções são os títulos públicos prefixados e indexados ao IPCA e CDBs prefixados com resgate no vencimento – que costumam oferecer taxas maiores.
Para quem tem mais tolerância ao risco, o crédito privado de até cinco anos pode ser uma alternativa para diversificação. Debêntures e Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs) estão nessa categoria.
Na renda variável, algumas opções para perfis moderados e arrojados no médio prazo são os ETFs, fundos de ações e fundos multimercados.
Investir para o longo prazo
Teoricamente, é no longo prazo que está a maior parcela de tempo da vida. Por isso, é adequado estabelecer subclassificações para cada propósito de investimento.
Se o objetivo for comprar a casa própria daqui a mais de cinco anos, por exemplo, é interessante pensar em ativos que acompanhem a inflação. Já se a ideia é formar reservas para a aposentadoria, existem alternativas que permitem resgates mensais e funcionam como um complemento de renda. Entre elas, estão a previdência privada e o Tesouro RendA+.
Os perfis mais arrojados podem incluir na carteira a renda variável de longo prazo. Ações, fundos imobiliários e diversificação internacional com BDRs, ETFs e fundos cambiais são alguns exemplos.
Sejam quais forem os objetivos, é sempre importante lembrar que, quanto mais longo o prazo, mais exposto o dinheiro estará à volatilidade. Isso pode resultar em maior rentabilidade ou em perdas, dependendo da escolha dos ativos e dos cenários econômicos futuros.
Principais erros que atrapalham as metas financeiras
Sem dúvida, a motivação é fundamental para começar a colocar ordem nas finanças. Porém ela não vai durar para sempre, pois deixar de gastar dinheiro não é algo que costumamos fazer de boa vontade.
Aí é que surge o primeiro grande erro que atrapalha as metas financeiras, segundo Castro.
Para o especialista, a motivação é importante como faísca, mas ela não fará com que as pessoas tirem os planos do papel. Essa conquista virá com disciplina, essa sim é a maior aliada do investidor.
“Motivação é emoção, e nossas emoções mudam o tempo todo. Não podemos ficar reféns disso, principalmente quando o assunto são as nossas finanças”, alerta.
Uma analogia simples é com a prática de algum esporte, como a corrida. Um maratonista não acorda todos os dias motivado para correr. O que o mantém em atividade é o objetivo de vencer a competição e, para isso, ele cumpre metas de desempenho todos os dias de treino.
“Não espere a motivação para começar a poupar. Em vez disso, programe um aporte automático em algum investimento, pois assim o dinheiro nem passará pela sua conta”, aconselha.
O imediatismo é outro aspecto que joga contra as metas financeiras. Muitas vezes, as pessoas cortam gastos e não conseguem ver o resultado no prazo que esperavam.
Novamente, cabe uma analogia com os esportes e a saúde, segundo Castro.
“Quem começa uma dieta ou exercício físico leva meses para ver resultados consistentes. O mesmo acontece com o planejamento financeiro, pois ele é uma ferramenta de longo prazo. E quando há endividamento, mais tempo ainda levará para que se alcance o equilíbrio financeiro”, diz.
Por falar em dívidas, o especialista chama a atenção para o cenário econômico que nos espera ali na frente. Com juros reais maiores, é importante se planejar para reduzir o endividamento.
“Juros mais altos prejudicam quem está endividado, mas são bons para a renda fixa. Logo, quem conseguir organizar as finanças, poderá ganhar com a Selic em alta”.