Política Monetária Japonesa

BoJ acaba com a política ultra-expansionista de juros nominais negativos. Segue agora uma política mega-expansionista apenas com juros reais negativos.
Por  Alexandre Aagesen
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

É o fim dos juros negativos. Depois de 17 anos, finalmente o Japão voltou a subir juros e o último Banco Central do mundo com juro nominal negativo, acabou com essa política. O mercado dava cerca de 40% de chance de ser já nessa reunião, então podemos dizer que foi uma “surpresa”, mas nem tanto. Eu, particularmente, esperava essa decisão só mais para frente. A Yield Curve Control, o controle de juros longos que o BoJ mantinha, vai ser afrouxado também. A compra de títulos do governo vai continuar acontecendo, mas em menor volume. O evento mais aguardado dos últimos vários meses, até aqui foi recebido como um não-evento. Como sempre, quando todo mundo está olhando para alguma coisa, talvez você não precise se preocupar com isso. O efeito já foi para os preços.

Depois de criar o clube e perder completamente o controle (consciente) das atividades do grupo, Tyler Durden (enquanto Edward Norton) acaba encontrando Robert Paulson morto durante uma ação do Projeto Mayhem. Naquela hora, Norton fica revoltado e briga com todos os membros do clube. Os “Macacos Espaciais” ficam confusos: ora, estavam todos juntos e – principalmente – seguindo as ordens de Durden, não? Não sei por que me lembrei dessa cena, assistindo ontem a reunião ministerial no Planalto. Lula brigou e reclamou de todos os ministros, culpando-os pela “morte de Robert Paulson”. Naquele primeiro momento, a cara de uns para os outros era a cara dos macacos espaciais no filme. Depois, como é da natureza humana, acusações mútuas para todos os lados, e ninguém falando sobre o que eles mesmos tinham feito. Claro, todos conhecem a primeira regra do clube da luta. E claro, sempre há a possibilidade de o presidente ter um alter-ego megalomaníaco, como Durden.

O meu comentário de ontem do COPOM gerou dúvidas aqui também. Não acho que o COPOM vá ignorar os sinais de atividade mais fortes que estão vindo, tanto aqui quanto no mundo. Isso deve sim aparecer no comunicado, mas não muda o plano de voo, pelo menos não no curto prazo. Mais pro meio do ano, pode ser que mude as decisões em si, mas por enquanto, só o wording mesmo. E ainda aqui no Brasil, o Haddad prometeu para hoje o texto da reforma tributária que vai discutir tributação de dividendos. Carta marcada. Segundo o Fernandinho, o impacto em arrecadação deveria ser neutro, então – em tese – deveríamos ver uma redução equivalente nos impostos corporativos. Não compro essa tese a valor de face, mas pelo menos no discurso estamos alinhados.

Ficou com alguma dúvida ou comentário? Me manda um e-mail aqui.

Alexandre Aagesen Com mais de 15 anos de mercado financeiro, é CFA Charterholder, autor do livro "Formação para Bancários", host do podcast "Mercado Aberto" e Investor na XP Investimentos

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