Esqueça o PCE e o PIB. Ouça a Yellen

PCE e PIB vieram ruins, mas o que pode mudar (ou piorar ainda mais) é a Yellen, semana que vem - no meio do feriado.
Por  Alexandre Aagesen -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Num mundo ideal, a inflação sobe, o Banco Central sobe juros, a economia desacelera conforme a inflação cai, os juros vão aos poucos cedendo e você forma o tão falado ciclo econômico. Mas saber como deveria ser o tal “mundo ideal” é tão útil quanto saber que você só usa uma fileira do teclado para escrever “periquito”. Ontem tivemos dois dados nos EUA, que mostraram quão frágil é essa ideia. O PIB, bem mais baixo que o esperado e a prévia do PCE, bem mais alta que o esperado. E agora, Jay? Corta juros de olho no PIB ou sobe juros de olho no PCE. Na dúvida, mercado reagiu como reagiria num país emergente. Juros para cima, bolsa pra baixo. Daqui a pouco, hoje, sai o PCE formal de março. Festa estranha, ou gente esquisita?

Agora vamos ao outro ponto que eu estou desde quarta enrolando para falar. O Plano da Yellen. Na semana que vem, virada do mês e feriado por aqui (aahh, o timing), a Yellen vai apresentar o novo plano trimestral de refinanciamento da dívida. Parte importante do estresse do terceiro trimestre do ano passado e do rally do quarto trimestre, podem ser diretamente ligados ao anúncio de agosto e novembro respectivamente. O grande alívio criado em novembro veio quando a Yellen pivotou e passou a emitir dívidas bem mais curtas: a maior parte do financiamento do déficit governamental passou a ser feito via T-Bills, que tem a vantagem de afetar muito pouco a parte longa da curva. Mas tem a desvantagem de vencerem logo. Adivinha quem está vencendo é vai precisar ser rolado.

Bom, agora pense no TGA (Treasury General Account) como a “conta corrente” do governo. É o caixa, para os gastos correntes e investimentos. Quando o americano paga imposto, é para lá que vai. Quando acaba, o tesouro emite uma dívida e os recursos também vão para lá. Aposentadorias, obras públicas e o salário do Biden, saem de lá. Neste momento, a conta TGA está com o triplo da média histórica: quase um trilhão de dólares. Os impostos acabaram de ser pagos e o endividamento cresceu bastante. Agora vem a parte boa: gastar tudo na reta final de uma eleição presidencial apertada.
Por isso, esse deve ser o grande tema da semana que vem. A Yellen vai explicar quanta dívida nova vai emitir, bem como o prazo dela. Se seguir pequena e curta (aposto que sim), isso tende a ser bom para a curva longa lá, que ajuda a curva longa aqui, que – pelo menos em novembro – empurrou o IBOVESPA 12.5% para cima em 1 mês. Se for maior (para se preparar para mais gastos), e/ou mais longa (para dar mais previsibilidade da dívida), isso pressiona a curva longa mais para cima, puxando a nossa e… bom, vocês entenderam.

É claro que estou isolando um evento específico e especulando com palavras aqui. Também é importante saber que o efeito é razoavelmente temporário, e quando a TGA cair, vai aumentar a necessidade de alongar (e crescer) a dívida. No final, o mercado é guiado pelo fluxo, e para o fluxo, você precisa de liquidez. E, nesse momento, ninguém tem mais liquidez na mão do que a Yellen. Ouça o que ela tem a dizer.

Ficou com alguma dúvida ou comentário? Me manda um e-mail aqui.

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Alexandre Aagesen Com mais de 15 anos de mercado financeiro, é CFA Charterholder, autor do livro "Formação para Bancários", host do podcast "Mercado Aberto" e Investor na XP Investimentos

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