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Vacina à vista

Apesar de todos os equívocos cometidos, Brasil deve imunizar seus idosos até maio e, até agosto, os cidadãos com mais de 20 anos que quiserem se vacinar
Por  Fernando Genta -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O mês de março começa com a crise sanitária brasileira atingindo seu momento mais dramático. A esta altura, está claro a todos que a vacinação universal é condição necessária ao combate efetivo da Covid-19 e, infelizmente, largamos atrasados nessa corrida.

Por questões que fogem do escopo deste artigo, o governo brasileiro optou inicialmente por apostar todas as suas fichas na parceria entre a Universidade de Oxford e a AstraZeneca.

Com o atraso substancial da produção doméstica, que ainda não forneceu uma única ampola sequer, a não assinatura de convênios com a Pfizer e com o Instituto Butantan ainda em 2020 cobra elevada fatura.

Diante do quadro atual, é natural o predomínio de dúvidas e de pessimismo quanto ao futuro. Felizmente, também há boas notícias.

As projeções da XP Asset indicam que o ritmo de produção e vacinação deve se acelerar substancialmente neste mês, mesmo com um cronograma bem menos ambicioso do que o divulgado pelo Ministério da Saúde.

Nosso otimismo decorre do fato de que, ao contrário das vacinas prontas, a importação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) necessário para a produção nacional já flui normalmente há semanas.

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Após os atrasos de janeiro, os prazos vêm sendo rigorosamente cumpridos, e já importamos IFA suficiente para a produção de dezenas de milhões de doses.

O Instituto Butantan já produz 700 mil doses por dia e, até o fim de abril, deve entregar 58 das 100 milhões de doses contratadas pelo governo federal.

A Fiocruz vem enfrentando bem mais dificuldades. Atrasos nas etapas iniciais custarão ao menos 11 milhões de doses a menos em março.

De toda forma, a produção nacional finalmente teve início e deverá ter contribuição relevante a partir de abril.

Ainda na primeira metade do ano, a oferta nacional será reforçada por doses importadas junto ao convênio com a OMS (Covax) e com a AstraZeneca, como uma espécie de compensação ao atraso inicial.

Os números a seguir apresentados já levam em conta os atrasos recentes e não consideram quaisquer vacinas que não sejam as duas atualmente distribuídas pelo SUS – premissa bem conservadora à luz da postura recente bem mais ativa do governo federal.

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Consideramos (i) que a imunização ocorre após uma dose da vacina da AstraZeneca ou duas da CoronaVac; (ii) que ambas reduzam casos passíveis de UTI e mortes em 90%, em linha com os estudos disponíveis; e (iii) que 75% dos brasileiros vão buscar tomar a vacina, em linha com dados internacionais e com o que temos observado até o momento no país.

Do exposto acima, as internações em UTI e os óbitos teriam rápido recuo até o fim do primeiro semestre, uma vez que praticamente todos os brasileiros acima de 50 anos (que assim quisessem) seriam vacinados até o fim de maio.

Segundo o DATASUS, esse grupo responde por apenas 25% da população, mas por 78% da utilização dos leitos de UTI e por 89% das mortes por Covid-19.

Nesse caso, a vacinação geraria um alívio substancial nas UTIs e mortes: queda de até 41% em maio, 57% em junho e 63% em julho.

Ainda segundo nosso cronograma, o Brasil deve imunizar seus idosos até maio. Além disso, todos os brasileiros acima de 20 anos estariam vacinados em agosto, reduzindo as mortes em 66% até aquele mês.

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Caso confirmado, tal cenário seria compatível com uma retomada importante da economia no segundo semestre, especialmente para os setores mais atingidos pela crise, como é o caso dos serviços prestados às famílias (restaurantes, turismo, serviços pessoais e lazer).

Evidentemente, o exercício aqui possui uma série de simplificações que podem gerar resultados melhores ou piores, como novos atrasos na produção nacional ou a celebração de contratos com outros laboratórios.

Em especial, nossas simulações não consideram o possível impacto da vacinação na redução do contágio ou a crescente parcela de imunização decorrente da própria dinâmica da pandemia – lamentavelmente, algo entre 300 e 400 mil brasileiros são imunizados diariamente ao contraírem o vírus, dados estimados considerando taxa de mortalidade entre 0,5% e 0,7%.

Enfim, por bons e maus motivos, a tão aguardada imunidade de rebanho pode estar mais próxima do que se imagina.

Fernando Genta Fernando Genta é economista-chefe da XP Asset Management. Foi secretário-adjunto do Ministério da Economia, economista-sênior da Verde Asset Management e economista-chefe da MCM Consultores. Possui doutorado pela Universidade de São Paulo.

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