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De FAAMG para Sete Maravilhas ou Quarteto Fantástico: afinal, as big techs estão mesmo caras?

Para além dos rótulos, a capitalização de mercado dessas sete empresas somadas já é próxima de 50% do PIB americano - há uma bolha em formação?
Por  Matheus Popst -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

The Magnificent Seven é um filme de faroeste de 1960 dirigido por John Sturges – mas o termo voltou à cena no ano passado em um contexto bem diferente. Quando duas empresas (Tesla e Nvidia) se juntaram ao grupo das companhias de tecnologia com mega capitalização no mercado, o acrônimo FAAMG (Facebook, Apple, Amazon, Microsoft e Google) foi renomeado como as “Sete Maravilhas”. Em 2023, todas elas superaram o retorno do S&P500. A “pior” do do grupo – a Apple – subiu 49% no ano. A Nvidia, a melhor delas, avançou 239%.

O desempenho em 2024 não é tão equilibrado: a Apple cai 7% e a Tesla perde 30%, enquanto a Meta e a Nvidia sobem 43% e 83%, respectivamente. Há quem diga que nem todas as ações são “aquela maravilha” – talvez haja apenas um “Quarteto Fantástico”. Seja qual for o rótulo, a capitalização de mercado somada dessas sete empresas já é próxima de 50% do PIB americano. O que levanta dúvidas quanto aos preços: essas ações estão caras ou em patamar de bolha?

Muitas vezes os gurus estrategistas gostam de usar estatísticas como estas para causar pânico. Mas, considerando a pequena quantidade de empresas, não é necessária uma análise macro: basta estudar empresa por empresa e chegar a uma conclusão.

O caso Meta

Mesmo em desuso, a divisão entre FAAMG e não-FAAMG continua importante e a natureza de agregarem demanda na internet é substancial para entender os crescentes retornos a escalas que elas têm.

Foquemos na Meta. Desde a baixa de novembro de 2022, a ação da empresa sobe 445%. Porém, considerando o consenso de lucro por ação de US$ 20 para os próximos 12 meses, o papel opera a um múltiplo de 25 vezes o lucro. A receita da Meta cresce 25% ano contra ano; sua margem operacional sobe 21 pontos na mesma comparação.

A empresa está bem posicionada em inteligência artificial generativa, tem uma despesa de US$ 13 bilhões com realidade aumentada e virtual (que pode diminuir em algum momento) e já provou a capacidade de vencer duas ameaças existenciais: a remoção da identificação única para anunciantes nos aparelhos iOS da Apple (resolvida com IA) e o TikTok (com o Reels, do Instagram). Aliás, o Congresso americano já aprovou um projeto de lei para banir o TikTok.

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Como base de comparação, a empresa média americana negocia a 18 vezes o lucro. Por isso, não parece uma bolha uma companhia como a Meta – que ainda possui crescimento estrutural, não é endividada, é vencedora em IA e tem chance de expandir margem – negociar a 25 vezes (yield de 4%). Tampouco é como pescar em um barril.

Argumentos similares podem ser construídos para a Apple (26x), Microsoft (34x) e Google (20x). O caso da Amazon (42x), por outro lado, é mais complexo. A ação aguarda dois gatilhos: uma aceleração do crescimento do serviço de cloud Amazon Web Services e uma expansão da margem do varejo. Ambos já estão acontecendo, mas ainda devem continuar.

No caso de cloud, a empresa terá os benefícios de estar exposta em IA, em paralelo com o fim das otimizações de gastos que aconteceram em 2022 durante a digestão do pós-COVID. Já no varejo, a margem operacional de apenas 4% permite ainda muita oportunidade de expansão, enquanto o CEO Andy Jassy focar mais em eficiência do que em crescimento a todo custo.

Estranhos no ninho

A Tesla e a Nvidia fazem parte do grupo de maneiras diferentes. A Tesla é uma fabricante de carros que usa muito tecnologia (inclusive IA); já a Nvidia é a vendedora de picareta na corrida do ouro da IA. Apesar disso, o fato de ambas venderem um hardware caro (uma GPU H100 da Nvidia pode custar US$ 40 mil) adiciona volatilidade aos resultados – e o múltiplo de lucro pode estar sendo capitalizado substancialmente acima ou abaixo da capacidade estrutural de geração de ganho dessas empresas. Por este fato, o debate é mais sofisticado.

Negociando a 56x o lucro, a Tesla tem o valuation mais difícil de entender no grupo. A empresa tem sofrido com juros mais altos, que aumentam os preços dos financiamentos; com a competição de chinesas como a BYD; e com um mercado chinês fraco. Fora isso, em certos mercados, os carros elétricos representam parte substancial das vendas, significando que agora a Tesla precisa convencer os compradores que talvez não estejam dispostas a pagar um prêmio verde pelos automóveis.

As margens operacionais da companhia foram de 17% em 2022 para 9% em 2023, mostrando o ambiente desafiador. Os otimistas argumentam que a Tesla tem grandes oportunidades no segmento de baterias, que a nova geração de carros mais baratos irá revitalizar o crescimento e que a empresa poderá fazer muito dinheiro assim que solucionar o problema do carro autônomo.

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Negociando a 36x lucro, a Nvidia ultrapassou a capitalização de mercado do Google (US$ 1,7 trilhão) e da Amazon (US$ 2,2 trilhão), tornando-se a terceira empresa mais valiosa do mundo. Isso se dá por algumas razões. Antes de as empresas de inteligência artificial serem capazes de treinar seus modelos ou gerar receita vendendo-os, como o Gemini ou GPT-4, elas precisam comprar computadores capazes de suportar toda esta operação. Isso significa que a Nvidia recebe hoje o custo de uma receita que a Microsoft possivelmente vai gerar em 2025 ou depois.

Isso fez a receita de data center da Nvidia crescer 408% ano contra ano, para US$ 18,4 bilhões no último trimestre. Somam-se a isso as margens brutas muito altas, de 72%, o resultado da excelência tecnológica e logística da Nvidia e o fato de ser relativamente pequena em número de funcionários (30 mil, contra 182 mil do Google) – o que lhe garante margens operacionais de 54%.

Espera-se uma receita de US$ 130 bilhões para a Nvidia em 2025. Se a empresa continuar a crescer neste ritmo, é possível que o múltiplo de 36 vezes o lucro de hoje seja barato. As preocupações sobre competição são importantes, mas a maior ameaça é os grandes compradores (50% da receita vem de outras big techs) se darem conta de que já investiram mais do que deveriam em IA – iniciando um período de “digestão” desses aportes. Por outro lado, o lançamento das placas B100 neste ano podem promover um ciclo de renovação.

Para cada empresa, os investidores esperam algo diferente. As expectativas para o Google ou Meta são muito menores que para Nvidia, Tesla ou Amazon. Em 2024 e nos próximos anos, devemos ter períodos em que a performance das tais “Sete Maravilhas” irá divergir: algumas serão vencedoras em IA; outras perdedoras. Algumas lidarão com outros temas para além da IA.

Representando 30% da capitalização da bolsa americana, para o investidor interessado em entender o mercado, vale a pena um acompanhamento individual de cada uma. Estatísticas que agreguem empresas tão semelhantes, mas tão diferentes, provavelmente perderão as árvores pela floresta.

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Disclaimer: o autor é sócio da Arbor Capital, acionista de várias das empresas mencionadas no artigo.

Matheus Popst Sócio da Arbor Capital

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