Muito além da coleção de macacos: o que são e para que servem os NFTs
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*Por Christian Gazzetta
A palavra do ano de 2021, segundo o dicionário Collins, foi “NFT”. O termo, acrônimo de Non-Fungible Token, atraiu a atenção da mídia e atingiu desde os adeptos de blockchain até públicos menos ligados a tecnologia, como a classe artística.
Tamanha popularidade não foi por acaso. Depois de algumas transações multimilionárias de obras de arte digital registradas com NFTs, esse mercado ganhou tração e começou a movimentar bilhões de dólares todos os meses, proporcionando grandes fluxos de dinheiro e influência para os empreendedores do setor.
Mas, afinal, o que são os NFTs, o que explica a sua explosão em 2021 e o que esperar desse novo mundo?
Os NFTs são registros em blockchain de ativos únicos. Funcionam como as escrituras de imóveis, os Registros de Obras Intelectuais e as Certidões de Registro de Veículos, garantindo os direitos de propriedade sobre bens específicos.
Assim como as criptomoedas fornecem meios desintermediados, automáticos e baratos de transferir valor, os NFTs trazem as vantagens da tecnologia blockchain para ativos identificados individualmente.
Uma obra de arte registrada com um NFT, por exemplo, não está sujeita à disponibilidade, aos custos e às arbitrariedades de um cartório – ou mesmo da sua jurisdição. Seu proprietário poderá negociá-la com pessoas de quaisquer países, quando desejar e sob as condições que lhe parecerem cabíveis.
Essa inovação é muito anterior ao hype de 2021, tendo surgido na rede Bitcoin ainda em 2012. Mas foi em 2017 que os NFTs despontaram pela primeira vez na mídia, após o leilão dos gatinhos virtuais do jogo Crypto Kitties.
Os milhões de dólares movimentados pelos Crypto Kitties ainda pareceriam pouco, frente à venda da obra Everydays: the First 5000 Days e dos enormes volumes das coleções Crypto Punks e Bored Ape Yacht Club.
E, ao que tudo indica, todos esses exemplos podem ser só um prelúdio do que está por vir no mundo dos NFTs. Enquanto o mercado tem sido movimentado por registros de imagens e outros ativos digitais relativamente simples, uma série de aplicações mais potentes segue em desenvolvimento.
Uma delas é a descentralização das plataformas de streaming: plataformas como Audius e Livepeer buscam oferecer as mesmas funcionalidades do Spotify e do YouTube, respectivamente, com os novos modelos de negócios possibilitados pela tecnologia blockchain.
A ideia é bastante simples: se, em vez de confiar a distribuição das músicas e vídeos a uma plataforma que determina sozinha os algoritmos e as taxas de intermediação, os produtores de conteúdo utilizarem redes descentralizadas para atingir o seu público, ambas as partes têm maior liberdade para buscar o equilíbrio entre os interesses de cada uma.
A comunidade pode, por exemplo, ter total transparência sobre os acessos, aumentar a fatia de receita destinada aos artistas e estabelecer mecanismos de sugestão mais favoráveis para aqueles menos famosos.
Outras aplicações com enorme potencial são as redes sociais. Diferentemente do que ocorre no Facebook, Instagram e LinkedIn, em que as contas, as postagens e as interações podem ser excluídas arbitrariamente pela plataforma, num modelo descentralizado, os perfis e as postagens podem ser registrados com NFTs para que o usuário tenha total controle.
A transformação pode ir ainda mais além: os algoritmos, as telas e os modos de uso podem ser decididos pela própria comunidade para que, em vez de servir aos interesses comerciais do provedor de tecnologia, a rede social preste o melhor serviço possível aos seus usuários.
No mercado imobiliário, por sua vez, os NFTs podem trazer ganhos inéditos de liquidez e flexibilidade. Com o avanço das tecnologias e da regulação, será possível fracionar a propriedade em pedaços semelhantes às ações de empresas e negociá-los em um mercado aberto, com segurança garantida pela blockchain.
Também será cada vez mais fácil atrelar um imóvel a contratos, como as hipotecas e os seguros, de forma a baratear e simplificar a gestão desses ativos. Com todas as condições estabelecidas e automatizadas em rede, o proprietário terá clareza de cada contrato e maior garantia do cumprimento das cláusulas sem depender de cartórios e governos.
Por fim, os NFTs ainda devem ter um papel importante na indústria dos jogos virtuais, permitindo novas formas de ganhar dinheiro jogando. Com controle absoluto sobre cada personagem, item e outros ativos, o usuário poderá vender esses bens e, com isso, acessar uma economia atualmente limitada às desenvolvedoras de jogos e a um grupo muito pequeno de jogadores.
Outras aplicações ainda estão para provar o seu valor, enquanto o mercado de NFTs dá seus primeiros passos. Nesse processo, o investidor deve enxergar além do hype e buscar o valor real da tecnologia para poder compreender a magnitude do valor que ainda pode ser realizado.
*Redator da Hashdex formado em Economia pela UFRJ, se dedica a aprender e ensinar sobre cripto desde 2017. Nos últimos anos, dirigiu grupos de estudo e palestrou em eventos como a Bitconf, além de organizar debates e palestras com representantes de entidades como IBM, CVM, ITS Rio, Mercado Bitcoin e Foxbit.