Doria anuncia volta ao setor privado, mas diz que não pretende sair do PSDB

Doria afirmou que vai voltar ao Conselho do Lide, o grupo empresarial que ajudou a fundar; ele não terá função executiva e salário

Anderson Figo

João Doria (Divulgação/Governo do Estado de São Paulo)

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O ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou nesta segunda-feira (13) que voltará à iniciativa privada em julho, e que não pretende deixar o PSDB. As declarações foram feitas durante um café com jornalistas na capital paulista.

“Não vou sair do Brasil, não vou mudar do Brasil, continuarei aqui, voltando para o setor privado, de onde eu vim. A partir de agora, retorno à minha vida privada”, disse. “Continuo no PSDB, não me desfiliei e não vou me desfiliar do PSDB. As razões que me fizeram filiar ao PSDB no ano 2000 são as mesmas que me mantêm no PSDB no ano de 2022”, completou.

Doria afirmou que vai voltar ao Conselho do Lide, o grupo empresarial que ajudou a fundar. Ele não terá função executiva e salário.

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No Twitter, o ex-governador de SP disse que está deixando a vida pública, indicando que não deve concorrer a nenhum cargo público nas Eleições 2022, depois de ter abandonado a disputa pela Presidência da República pelo PSDB.

“A partir do próximo mês, retomo minhas atividades na iniciativa privada. Deixo a vida pública com senso de dever cumprido. Pelos meus erros, peço desculpas. Pelos meus acertos, cumpri minha obrigação”, escreveu Doria.

Abandono de disputa

Em 23 de maio, Doria anunciou que desistiu de concorrer à Presidência da República nas Eleições 2022. Em coletiva de imprensa, disse que seu partido saberá tomar a melhor decisão sobre quem o representará na corrida ao Planalto. O PSDB formalizou apoio à Simone Tebet, do MDB, na semana passada.

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“Fica aqui minha gratidão aos brasileiros da cidade de São Paulo que me deram mais de 3 milhões de votos na prefeitura, aos quase 11 milhões de votos ao governo de São Paulo. E aos mais de 17 mil militantes do PSDB, que me escolheram como candidato a presidente do Brasil. Agradeço também aos mais de seis milhões de brasileiros que, nas pesquisas de opinião pública, já manifestaram a intenção de votar no meu nome para presidente, antes mesmo do começo da campanha eleitoral”, disse Doria na ocasião.

“O Brasil precisa de uma alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos. Que não querem aquele que foi envolvido em escândalos de corrupção. E nem aquele que não deu conta de salvar vidas, não deu conta de salvar a economia e que envergonha nosso país em todo o mundo. Para esta missão, coloquei meu nome à disposição do partido. Hoje, neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o bom senso, o diálogo e o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal. O PSDB saberá tomar a melhor decisão no seu posicionamento para as eleições deste ano”, completou.

Doria disse ainda que se retirava da disputa “com o coração ferido, mas com a alma leve”. “Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção. Saio com o sentimento de gratidão e a certeza de que tudo o que fiz foi em benefício de um ideal coletivo, em favor dos paulistanos, dos paulistas e dos brasileiros. Saio como entrei na política: repleto de ideais, com a alma cheia de esperança e o coração pulsante, confiante na força do povo brasileiro que têm fé na vida e em Deus. Peço desculpas pelos meus erros. Se me excedi, foi por vontade de acertar. Se exagerei, foi pela pressa em fazer com perfeição. Se acelerei foi pela urgência que as ações públicas exigem”, afirmou.

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Racha no PSDB

A relação de Doria com o PSDB está estremecida desde novembro do ano passado, quando o tucano venceu as prévias do partido para concorrer ao Planalto. Na ocasião, membros da legenda não concordaram com a escolha do ex-governador de SP e apoiavam outro nome, o do ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Leite, até então à frente do governo gaúcho, deixou o cargo para poder concorrer nas Eleições 2022, mesmo tendo perdido nas prévias para Doria. Ele tem apoio de importantes nomes no partido, como o deputado federal Aécio Neves.

O ex-governador do RS chegou a flertar com o PSD, de Gilberto Kassab, numa possível troca de partido para concorrer ao Planalto e ser adversário de Doria, mas acabou sendo convencido por colegas de legenda a ficar no PSDB, uma vez que a viabilidade da pré-candidatura do ex-governador de SP estava em xeque.

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Se sentindo ameaçado dentro do próprio partido, Doria chegou a dar uma cartada que piorou sua situação na legenda: ameaçou não deixar o posto de governador de SP, prejudicando a candidatura de Rodrigo Garcia, seu vice no estado, mas voltou atrás e se afastou.

Pesou na decisão dele na época uma carta do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, garantindo que o resultado das prévias tucanas seria mantido. Doria queria que seu nome fosse indicado como o representante da terceira via (opção às candidaturas de Lula e Bolsonaro), num acordo com outros dois partidos, o Cidadania e o MDB — o União Brasil já tinha desembarcado da ideia para apoiar a candidatura de seu presidente, Luciano Bivar.

O anúncio da chapa única da terceira via, no entanto, que estava previsto para 18 de maio, foi adiado pelo próprio PSDB, após uma reunião da executiva nacional do partido em Brasília, na qual foi acordado que o ex-governador de São Paulo seria convidado a ouvir dos pré-candidatos do partido as dificuldades que eles têm enfrentado com a manutenção de sua candidatura.

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A reunião foi marcada depois que Doria enviou uma carta ao partido, assinada pelo advogado Arthur Rollo, dando a entender que judicializaria sua candidatura caso o PSDB não prosseguisse com o seu nome.

Carlos Sampaio, coordenador jurídico do PSDB, disse a jornalistas que a carta de Doria foi um erro político, por sugerir uma batalha interna na sigla, e um erro jurídico, porque a “convenção é a instância máxima da decisão de candidatura”. A convenção do PSDB ocorre em julho.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.