Quais são os melhores investimentos com a Selic a 11,75% ao ano e perspectiva de novas altas?

Especialistas recomendam ativos pós-fixados atrelados ao CDI e inflação; Bolsa segue descontada e pode reservar oportunidades pontuais

Katherine Rivas

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Aparentemente, as épocas douradas para os “rentistas” brasileiros estão de volta. Como era esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou nesta quarta-feira (16) a taxa básica de juros para 11,75% ao ano, uma alta de 1 ponto percentual.

No comunicado que acompanhou a decisão, o Copom afirma que deve realizar outra alta de mesma magnitude na próxima reunião, agendada para os dias 3 e 4 de maio.

O aumento, porém, trouxe uma desaceleração daquilo visto nas três reuniões anteriores, quando o Banco Central optou por altas de 1,5 ponto percentual.

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Com a Selic avançando nos dois dígitos, a renda fixa está cada vez mais perto de oferecer aos investidores um retorno de 1% ao mês. A economista e sócia-fundadora da Nord Research, Marilia Fontes, explica que seria necessária uma Selic no patamar de 12,60% para o investidor conquistar uma rentabilidade de 1% mensal na renda fixa pós-fixada. “Nas próximas reuniões isso deve acontecer”, comenta.

A avaliação da economista é justificada também pela expectativa dos agentes de mercado, que enxergam a Selic superando esse patamar até o final do ano. Para ela, a taxa básica precisaria subir até 14% para conseguir controlar a inflação.

Segundo dados do último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (14) pelo Banco Central, a visão dos economistas aponta que a Selic deve fechar 2022 em 12,75% ao ano, enquanto o IPCA deve chegar a 6,45%.

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Mas há quem acredite que a taxa pode ir além. Um levantamento da XP com 40 gestoras mostra que a expectativa é de uma Selic de 13,25% ao ano no final de 2022. Algumas casas já projetam até 13,75%. Para a inflação, o levantamento aponta para 6,80%.

Diante deste cenário, como investir? Especialistas consultados pelo InfoMoney apontam que os grandes vencedores são os títulos de renda fixa pós-fixados (que acompanham a Selic ou o CDI) e devem se beneficiar com a alta dos juros. Há quem recomende ainda ativos atrelados ao IPCA para proteger o patrimônio da inflação.

No Tesouro Direto

Marília, da Nord Research, tem preferência por renda fixa pós-fixada, e para quem busca se proteger da inflação aconselha o investimento em ativos atrelados ao IPCA com vencimentos curtos, de até dois anos.

No Tesouro Direto, por exemplo, a escolha de Marília é pelo Tesouro Selic, título público pós-fixado que acompanha a Selic. Atualmente, no site do Tesouro Direto é possível encontrar duas opções disponíveis para compra: o Tesouro Selic 2025 e o Tesouro Selic 2027.

A economista recomenda o investimento no Tesouro Selic 2025, deixando a alternativa do título público com vencimento em 2027 apenas para os investidores que estão dispostos a carregar o ativo até o vencimento.

Já no caso do Tesouro IPCA+, o vencimento mais curto é em 2026, o que, na visão de Marília, não é a melhor escolha. Ela recomenda se expor a ativos indexados à inflação de, no máximo, dois anos de prazo. Ela também aconselha ficar longe de ativos prefixados.

Rodrigo Beresca, analista de soluções financeiras da Ativa Investimentos, recomenda a exposição ao Tesouro Selic e ao Tesouro IPCA, de curto e longo prazo. Contudo, faz uma ressalva: os títulos atrelados ao IPCA com vencimentos maiores apresentam maior volatilidade, enquanto os títulos curtos têm oscilações menores em seu valor nominal.

No site do Tesouro Direto, por exemplo, é possível encontrar seis tipos de títulos públicos atrelados ao IPCA, com e sem pagamento de juros semestrais, e vencimentos que vão de 2026 até 2055.

Segundo Beresca, a escolha dos títulos atrelados ao IPCA dependerá do perfil de risco do investidor, considerando que títulos longos apresentam mais risco e oscilação. “Naqueles que pagam cupom semestral, o investidor terá o risco de reinvestimento”, destaca o analista.

Os títulos do Tesouro atrelados ao IPCA também são a escolha de Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, que recomenda o investimento neles como alternativa de médio e longo prazo.

Títulos bancários: CDBs, LCIs e LCAs

Os especialistas consultados pelo InfoMoney também recomendam o investimento em títulos bancários que acompanham o CDI ou indexados ao IPCA. Entre as alternativas há CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio).

Marília recomenda como alternativa as LCAs e LCIs pós-fixadas, com liquidez diária após 90 dias. Segundo a economista, é uma forma de o investidor ganhar liquidez de maneira menos onerosa, dado que as letras de crédito são isentas de imposto de renda.

Já entre os CDBs, LCIs e LCAs que seguem o IPCA, ela recomenda optar por ativos que ofereçam um cupom a partir de 5,76% ao ano e vencimentos curtos, de um ou dois anos.

A escolha de LCIs e LCAs pós-fixadas indexadas ao CDI também é apontada por Rodrigo Mendonça, sócio da Valora Investimentos, que acredita que estes ativos podem capturar uma rentabilidade maior ao longo de 2022 – especialmente considerando o incentivo fiscal, já que possuem isenção do imposto.

Porém, ele também alerta sobre os cuidados na hora de escolher ativos e emissores, dado o cenário macroeconômico atual. “O ideal é que o investidor conservador seja um pouco mais seletivo, focando em empresas robustas e buscando setores mais resilientes, além de ter um controle maior da qualidade de crédito dos emissores”, alerta.

Para Arley Júnior, especialista em investimentos do Santander, a escolha do investimento em renda fixa deve estar atrelada ao objetivo e apetite de risco de cada investidor. Nos títulos bancários, ele indica CDBs atrelados ao CDI para quem busca segurança e liquidez e pretende manter o investimento por até seis meses.

Já para quem busca investir por até um ano, ele recomenda optar por LCIs e LCAs, que contam com isenção de Imposto de Renda e com uma rentabilidade maior.

A alocação recomendada pelo Santander nestes ativos muda de acordo com o perfil. Um investidor conservador que optar pelo CDB DI poderá ter uma exposição de até 80%, enquanto alguém mais arrojado pode investir 15% do patrimônio neste tipo de ativo. Para o moderado, a carteira do Santander cita uma alocação de 48%.

Rodrigo Beresca, da Ativa Investimentos, lembra também dos cuidados ao optar por títulos bancários como verificar o risco do emissor, priorizando instituições com nota AAA e investindo até o limite de R$ 250 mil para garantir a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).

Títulos de crédito corporativo: CRIs, CRAs e debêntures incentivadas

Para investidores com apetite de risco moderado e objetivos de longo prazo existe a alternativa de se expor a títulos de crédito privado, tais como debêntures incentivadas, CRAs e CRIs. Embora mais arriscados, estes ativos também são isentos de imposto de Renda.

Entre as opções apontadas pelos especialistas estão aqueles atrelados à inflação. Arley Júnior, do Santander, destaca CRIs, CRAs e debêntures incentivadas para quem busca investir por um prazo superior a um ano.

A alocação recomendada pelo Santander é de 10% para conservadores, 14% para moderados e 20% para investidores arrojados.

Já em relação a debêntures incentivadas, o portfólio da Ativa Investimentos sugere nomes como AES Tucano Holding (TNHL11), Holding do Araguaia (HARG11), Agrovale (AGVF12), Via Brasil MT 320 (VIMT13) e Apollo Energia (APOL11).  Estes ativos ofereciam retornos reais entre 5,60% e 6,66% ao ano, e vencimentos a partir de 2027 até 2041.

Poupança: retornos abaixo da inflação

Com a Selic em dois dígitos, a forma de calcular o retorno oferecido pela tradicional caderneta de poupança foi alterada. Desde 2012, sempre que a taxa básica de juros supera 8,5% ao ano, a rentabilidade deixa de ser de 70% da Selic mais TR (Taxa Referencial) e passa a ser fixa de 0,5% ao mês mais a TR.

Num primeiro momento, a sensação é de que a poupança vai render mais – e, de fato, o retorno pode aumentar, porque a Selic influencia o desempenho da TR. Porém, simulações feitas pelo InfoMoney indicam que ela segue abaixo da inflação corrente. Na prática, o investidor continua a perder dinheiro ao deixar seus recursos aplicados na caderneta.

No melhor dos cenários, com a Selic a 11,75% ao ano, um investimento de R$ 10 mil na poupança renderia 7,84% – ou R$ 784 – em um ano. Isso levando em conta que a TR média ao longo deste ano estaria em 0,13%, segundo cálculos feitos pela XP Investimentos.

Se o investidor destinasse o mesmo valor a um produto de renda fixa com retorno de 100% do CDI, como um CDB, teria um retorno de 9,61% no mesmo período, já considerando o desconto de 17,5% do Imposto de Renda. Se a rentabilidade prometida fosse maior, como 120% do CDI, o rendimento chegaria a 11,55% ao ano.

Outro detalhe é que enquanto a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, a remuneração de 0,5% ao mês da poupança fica estacionada, enquanto o retorno de outras aplicações pós-fixadas continua subindo.

Confira simulações de retorno da taxa Selic na tabela a seguir:

Copom: Rentabilidade dos investimentos com a taxa selic a 11,75%
(Imagem: publicada no @InfoMoney)

Bolsa oferece oportunidades em commodities, bancos e elétricas

Com os juros em alta, diminui a expectativa do valor justo das companhias listadas na Bolsa, aponta Hugo Queiroz, estrategista-chefe do TC. Neste cenário, ele diz que o investidor deve observar empresas com bons fundamentos e que reforcem a proteção do portfólio com juros e inflação elevada.

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Mesmo com a Selic em dois dígitos, Queiroz destaca que a Bolsa está descontada. “Ela negocia a 10 vezes o lucro, enquanto a média histórica é 14 vezes. Mesmo com juros crescendo, a Bolsa ainda vai valorizar porque está barata”, destaca.

Em momentos de juros elevados, setores mais defensivos e que acompanham o câmbio tendem a se beneficiar. Fabricio Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, destaca por exemplo o setor elétrico, que consegue repassar a inflação ao cliente final, além das commodities e companhias exportadoras que se beneficiam da alta do dólar.

Além destes, Queiroz aponta também os bancos, empresas de saneamento e infraestrutura e companhias de proteínas, mineração e agronegócio.

Já entre os setores da Bolsa que se prejudicam com a alta dos juros estão o varejo, construção civil e comércio.

Entre as principais recomendações de investimento do TC Matrix estão: Suzano (SUZB3), Minerva (BEEF3), Marfrig (MRFG3), SLC Agrícola (SLCE3), com foco no curto prazo.

Já para quem busca investir no longo prazo, apesar dos riscos, Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimento destaca como oportunidades algumas ações dos setores prejudicados atualmente, por causa do desconto, e que devem se beneficiar quando o ciclo de aperto monetário chegar ao fim.

No setor de construção civil, Komura destaca companhias como Cyrela (CYRE3), focada na alta renda e que deve sofrer menos com a perda do poder aquisitivo dos consumidores. “O segmento tem mais correlação com confiança do que renda e desemprego”, aponta.

O analista também destaca o shopping Iguatemi (IGTI11), também focado na alta renda e com um desconto superior do que concorrentes. E o BDR do Mercado Livre (MELI34), que está bem-posicionado no segmento de e-commerce.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.