Bancos insistem em fundos DI com taxas mais altas que a própria Selic: você investe neles?

Bancos públicos oferecem produtos com custo anual de 3,5% e retornos históricos que chegam a 6% do CDI; modalidade é a mais simples do mercado

Beatriz Cutait | Lucas Bombana

(Getty Images)

SÃO PAULO – A nova e surpreendente queda da taxa Selic, desta vez de 0,75 ponto percentual, levando os juros básicos para 3% ao ano, coloca mais uma vez em evidência o custo desproporcional de alguns fundos DI que instituições financeiras, com destaque para bancos, continuam insistindo em oferecer a seus clientes.

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A Selic fica cada vez mais baixa, mas a taxa de administração de alguns dos fundos com as operações mais simples e conservadoras do mercado chega a superar o nível dos juros e, assim, não só anula 100% do retorno do investidor, como passa a levar a perdas efetivas, dado que os custos superam agora as receitas com o investimento. Se for descontada a inflação, o rendimento final fica ainda mais negativo.

Levantamento feito pela provedora de informações financeiras Economatica a pedido do InfoMoney mostra que, no grupo dos fundos do tipo DI mais caros, todos são ofertados por bancos públicos. Há carteiras com quase 700 mil investidores e patrimônio da ordem de R$ 56 bilhões na lista.

A taxa de administração chega a 3,5% ao ano (Caixa FIC Pratico RF CP), portanto acima da Selic atual, e o retorno em 12 meses oscila de 12,7% a 40,8% do CDI, o principal referencial do mercado de renda fixa e que anda lado a lado com a Selic. Um fundo DI “puro”, portanto sem crédito privado, deveria entregar um rendimento próximo a 100% do CDI.

Historicamente, o quadro não é melhor. Quando analisado o período desde que cada fundo foi criado, o retorno médio anualizado oscila de 6% (Banrisul Automático FI RF CP) a 59,2% (Caixa FIC Transf. Voluntariás Polis RF CP) do CDI.

O levantamento levou em consideração fundos com no mínimo um ano de existência e pelo menos cem cotistas, com ao menos 80% dos recursos alocados em títulos públicos. Fundos exclusivos foram excluídos da base.

Confira a seguir a tabela com os fundos DI mais caros da indústria:

Os fundos que lideram a lista são todos de bancos públicos e muitos têm o perfil de aplicação automática, que direcionam o saldo disponível em conta corrente a produtos conservadores de renda fixa, sempre com liquidez diária.

A ideia é que o dinheiro parado sempre esteja rendendo, porém permitindo ao correntista resgatar o recurso a qualquer momento. Pelo levantamento, é possível observar que os retornos chegam a ser irrisórios.

Desde que a taxa Selic começou a cair e deixou de ter dois dígitos, bancos têm sofrido pressão para reduzir as taxas dos fundos DI. Em setembro do ano passado, o InfoMoney chegou a mostrar carteiras com custos que chegavam a superar 5% ao ano.

Era o caso do Santander FIC FI Inteligente Renda Fixa de Curto Prazo que, embora não esteja na lista atual, ainda cobra uma taxa de 2,70% ao ano para gerir recursos da forma mais conservadora possível, com retorno médio anualizado de 26,6% do CDI desde sua criação.

O famoso “Hiperfundo” do Bradesco, com cerca de 280 mil cotistas, também tem um custo de 2,90% ao ano e lidera o grupo das carteiras do banco com as maiores taxas. Seu retorno médio histórico é de 40,6% do CDI.

No Itaú, destaque para o Golden DI RF Referenciado DI FIC FI, com taxa de administração de 2,75% ao ano e rendimento médio anualizado de 49,2% do CDI desde sua criação.

Em busca do baixo custo

Leticia Camargo, planejadora financeira com certificação CFP, ressalta que fundos do tipo DI sem crédito privado são alternativas voltadas para a constituição de uma reserva de emergência e, dessa forma, cabe ao investidor dar preferência a aplicações sem taxa de administração ou, ao menos, com custos bem baixos.

Além dos fundos DI, são alternativas seguras para essa reserva CDBs que paguem ao menos 100% do CDI e ofereçam liquidez diária, e o título público Tesouro Selic, considerando corretoras que isentem o investidor da taxa de administração do Tesouro Direto.

“O fundo DI é mais uma ferramenta de reserva financeira, e menos um investimento para buscar rentabilidade”, explica o planejador financeiro com certificação CFP Bruno Mori.

Quando os juros estavam no patamar de dois dígitos, Leticia lembra que uma taxa de administração elevada tinha menor peso do que no cenário atual. O que seriam 3% de custo com uma Selic de 14,25%, quando hoje essa mesma despesa chega a superar a taxa básica de juros?

Ainda que ressalte que o Brasil nunca teve tantas pessoas interessadas e preocupadas com seus investimentos em meio à forte queda dos juros, a planejadora financeira alerta que está mais do que na hora de o brasileiro prestar mais atenção à renda fixa, com seus custos e retornos. E essa necessidade vai além dos fundos DI “puros”.

Renda fixa com risco

Muito investidor se deparou pela primeira vez com a queda dos retornos em renda fixa, ao descobrir que seus fundos DI carregavam uma parcela de risco em crédito privado.

Matéria publicada pelo InfoMoney em abril mostrou que investidores de fundos de crédito privado vinham experimentado um novo teste de fogo, com as taxas mais uma vez pressionadas no contexto de crise.

No ano, os fundos de renda fixa sofrem resgates líquidos de R$ 121 bilhões e algumas categorias têm perdas no ano, com gestores tendo que se desfazer de ativos a preços anormais do mercado, para arcar com os pedidos de resgate.

Por isso, a planejadora financeira ressalta que, além de destinar o valor necessário para emergências apenas para fundos que carreguem o menor risco possível, portanto, títulos públicos, o investidor deve prestar atenção ao restante da alocação na renda fixa.

“Se for para ter crédito privado, é importante dar preferência para fundos com prazos de resgate maior, porque o gestor vai ter tranquilidade para vender os títulos, quando necessário”, diz.

Marco Bismarchi, sócio da gestora de patrimônio TAG Investimentos, concorda e lembra que a grande vantagem dos fundos DI é justamente a alta liquidez, o que poderia ficar comprometido com um aumento da parcela de crédito no portfólio. “A crise no mercado de crédito que tivemos recentemente foi exatamente por conta do descasamento entre o ativo e o passivo.”

Segundo Paulo Tenani, chefe de pesquisa da Aqua Wealth Management, com a Selic cada vez menor, a tendência é que os investidores de perfil mais conservador aumentem a procura pelo que ele chama de fundos DI “turbinados”.

“São fundos com uma parcela de crédito na carteira, que geralmente rendem um pouco mais do que o CDI”, diz.

E não são raros os casos de pessoas que alocaram nos fundos DI turbinados por verem a cota mais rentável que a média, mas sequer se dando ao trabalho de saber por qual razão. “Já cheguei a encontrar fundos DI com exposição cambial”, alerta Tenani. “Se o investidor quer correr um risco que não apenas do DI, é melhor que seja por meio de fundo com essa estratégia especifica.”

Recomendação adicional

Na Aqua Wealth, a recomendação para os que buscam rentabilidade na renda fixa tem sido por vértices mais longos da curva de juros prefixada (Tesouro Prefixado) ou indexada à inflação (Tesouro IPCA+). “O fundo DI oferece a baixa volatilidade, mas o investidor vai pagar um preço por isso dado que o retorno está muito baixo.”

Ainda assim, Tenani reconhece que, diante da volatilidade gerada pela pandemia, quem necessita da segurança de uma parte do capital no curto prazo, não tem muita opção. “Se o investidor colocar o dinheiro na Bolsa para comprar um imóvel, em um dia, ele pode conseguir comprar uma cobertura, no outro, uma quitinete.”

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.