O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic no patamar de 13,75% na reunião desta quarta-feira (7), mas deixou claro que a incerteza fiscal ainda pode pesar nas decisões monetárias no futuro.
Com a taxa básica de juros no seu maior nível desde janeiro de 2017, são poucas as ações que conseguem entregar um retorno em dividendos (dividend yield) acima deste patamar. Segundo um levantamento exclusivo da Economatica para o InfoMoney, se consideradas apenas as small caps – empresas com menor valor de mercado e potencial de crescimento – cinco ações renderam acima de 13,75% nos últimos 12 meses.
Considerando as projeções da Economática, caso estas empresas mantenham um lucro igual ou maior ao dos últimos 12 meses e a mesma política de distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) dos últimos 12 meses, 11 small caps podem ter capacidade de alcançar um retorno em dividendos acima da Selic atual nos próximos 12 meses.
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O levantamento estabeleceu alguns filtros. Foram consideradas small caps apenas ações de companhias com valor de mercado de R$ 10 bilhões ou menos. Também foi levado em conta um critério de liquidez, optando por ativos com negociação média diária de R$ 500 mil, no mínimo, nos últimos seis meses.
Confira as small caps com dividend yield projetado para os próximos 12 meses acima do patamar atual da Selic (13,75% ao ano):
Ação | Dividend yield projetado para os próximos 12 meses | Dividend yield realizado nos últimos 12 meses | Valor Mercado da empresa em milhares |
Syn Prop Tec SYNE3 | 202,63% | 62,59% | R$ 656.369 |
Marfrig MRFG3 | 32,15% | 12,18% | R$ 5.310.467 |
Banco BMG BMGB4 | 24,37% | 18,40% | R$ 1.329.308 |
Unipar UNIP3 | 19,29% | 18,46% | R$ 9.523.827 |
Brasilagro AGRO3 | 19,26% | 21,63% | R$ 2.696.411 |
Unipar UNIP6 | 19,07% | 20,53% | R$ 9.523.827 |
Movida MOVI3 | 17,58% | 8,00% | R$ 2.926.240 |
Dexco DXCO3 | 14,55% | 6,97% | R$ 5.875.792 |
Iochp-Maxion MYPK3 | 14,47% | 11,96% | R$ 1.923.669 |
Allied ALLD3 | 14,47% | 5,49% | R$ 559.326 |
Metal Leve LEVE3 | 13,82% | 13,47% | R$ 3.903.145 |
Fonte: Economatica. Obs: O levantamento considera o preço dos ativos no fechamento de 07/12/22. O dividend yield projetado é válido desde que a empresa tenha lucro igual ou maior ao dos últimos 12 meses e mantenha a mesma política de distribuição de dividendos e JCP dos últimos 12 meses. Foram consideradas empresas com valor de mercado de até R$ 10 bilhões e negociação diária de no mínimo R$ 500 mil.
Nem tudo o que brilha é ouro
Embora as companhias da lista tenham capacidade de entregar dividendos acima da Selic em 2023, apenas se repetirem o histórico de desempenho e distribuição de lucros visto neste ano, é importante destacar que há outros fatores para determinar se estas empresas poderiam de fato valer a pena para uma estratégia de dividendos com foco no longo prazo.
Na visão de Luan Alves, head de equity da VG Research, entre as empresas da lista há companhias que tiveram uma distribuição de dividendos atípica, que pode não se repetir em 2023 se observados os fundamentos. Ele exemplifica com Syn Prop Tec (SYNE3), a antiga Cyrela Commercial Properties, que nos últimos 12 meses apresentou um dividend yield de 62,59%. Se mantivesse o mesmo lucro e histórico de pagamentos, poderia entregar um retorno em dividendos de 202,63% nos próximos 12 meses.
Mas, segundo Alves, a distribuição desses dividendos não é recorrente. A companhia vendeu imóveis que representavam boa parte do seu portfólio. “A Syn vendeu os prédios, colocou dinheiro em caixa e distribuiu dividendos, mas isso não acontece todo ano”, avalia o analista.
No caso de empresas como Unipar (UNIP6) e BrasilAgro (AGRO3), que nos últimos 12 meses tiveram um dividend yield de 20,53% e 21,63%, Alves ainda acredita em resultados robustos em 2023, mas enxerga que apenas Unipar teria capacidade de continuar batendo a Selic.
Embora os proventos sejam graúdos no curto prazo, Alves não considera que tais companhias são adequadas para uma estratégia de longo prazo em dividendos, dada a ciclicidade dos negócios. “As companhias foram muito beneficiadas pela alta das commodities e pagaram bons dividendos. Mas no horizonte de cinco ou dez anos, isso muda”, diz. “A depender do ciclo da commodity, o dividendo pode ser alto ou baixo”. Para Alves, perenidade e ciclicidade de negócios não são necessariamente uma boa combinação quando o foco é dividendos.
Entre as empresas da lista, ele também cita o Banco BMG (BMGB4), que nos últimos 12 meses teve um dividend yield de 18,40%. Segundo cálculos da Economática, poderia entregar dividendos de 24,37% até dezembro de 2023.
Recentemente o banco alterou a sua política de dividendos, estabelecendo um pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio trimestral a partir de 2023. O objetivo da instituição é agregar valor aos seus acionistas. Para Alves, o Banco BMG reúne as características de uma empresa interessante para uma carteira de dividendos. Contudo, sua projeção de dividendos é mais modesta, de 12% para 2023, abaixo da Selic.
Outra empresa que também é vista como oportunidade para dividendos é a Metal Leve (LEVE3), mas também com projeções mais modestas. Embora a Economática estime que o dividend yield possa alcançar 13,82%, analistas consultados pelo InfoMoney projetam dividendos em torno de 8% para o próximo ano.
Small caps atrativas com dividend yield entre 5% e 12%
Concorrer com uma Selic muito elevada pode ser até uma comparação injusta quando se pensa em dividendos para o longo prazo. Mas isso não significa que não existam boas oportunidades para misturar crescimento e dividendos em 2023.
O InfoMoney consultou oito casas de análise e corretoras e apresenta a seguir as small caps mais citadas para uma estratégia de dividendos em 2023 e as que podem garantir dividend yield de entre 5% e 12%. Participaram deste levantamento VG Research, Nord Research, Santander Corretora, Monett, Órama Investimentos, Dica de Hoje Research, GuiaInvest e DVInvest.
À primeira vista, uma estratégia de dividendos com small caps pode parecer impossível, porque o mercado se acostumou a relacionar a distribuição de proventos a empresas com negócios maduros com lucros estáveis. Contudo, Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, destaca que é possível encontrar boas pagadoras de dividendos também entre as empresas de menor capitalização de mercado e ainda com potencial de crescimento de market share (participação de mercado) nos seus setores.
“Essa possibilidade de crescimento do negócio faz com que lá na frente essa torneira na forma de dividendos aumente”, afirma. Ele esclarece que alguns requisitos devem ser observados para avaliar o potencial de proventos.
Um deles é o investimento que a empresa faz no seu negócio. “Se investe mais do que os pares do setor, no futuro ela pode ver a sua participação de mercado crescendo e garantindo um lucro adicional”, avalia. Outro fator, segundo Paletta, é se o negócio é asset light, ou seja, se a operação depende de poucos ativos ou não.
Observar se a empresa pode ser afetada por mudanças políticas e macroeconômicas também é fundamental para dividendos futuros, destaca Paletta. “Setores mais tradicionais da economia, como automóveis, indústria ou agronegócio podem reunir empresas com características de boas pagadoras”, afirma. Isso, claro, junto a setores perenes já conhecidos, como energia, saneamento, telecomunicações e bancos, nos quais também existem small caps.
Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora, cita critérios como a governança corporativa, um histórico comprovado de entrega de resultados e distribuição de dividendos, um bom momento operacional de curto e médio prazo e perspectiva de crescimento.
Small caps “dividendeiras” mais citadas para 2023
De acordo com a apuração do InfoMoney, sete small caps foram as mais citadas pelos analistas com boas perspectivas de dividendos para 2023. Confira:
Ação | Dividend yield projetado para 2023 | Preço-teto | Quem recomenda |
Tegma (TGMA3) | 5,2% a 8% | 5% a 7% acima do preço atual | VG Research e Monett |
BrasilAgro (AGRO3) | 6,5% a 12% | R$ 32 | Monett e DVInvest |
Alupar (ALUP11) | 7,4% a 7,5% | 5% acima do preço atual | Monett e Santander Corretora |
Metal Leve (LEVE3) | 7,9% a 13% | R$ 28,50 | GuiaInvest e Monett |
Banco ABC (ABCB4) | 5% a 7,5% | R$ 22 | Dica de Hoje Research e Órama |
Minerva (BEEF3) | 6% a 7,8% | R$ 14 | Santander Corretora, Órama e Nord Research |
Kepler Weber (KEPL3) | 7% a 7,2% | R$ 21,50 a R$ 24 | GuiaInvest e Nord Research |
Fonte: InfoMoney com corretoras e casas de análise. Foram consideradas apenas companhias com valor de mercado de até R$ 10 bilhões ou que integrem o Índice Small Cap da B3. Levantamento em 07/12/2022
BrasilAgro (AGRO3)
A BrasilAgro (AGRO3) é uma empresa que atua tanto na compra e venda de propriedades rurais quanto na produção de soja, milho, feijão, algodão e cana de açúcar. Para Erik Sala, especialista em investimentos da DVInvest, o mercado de terras no Brasil ainda está bastante aquecido e com bons preços. Ele também cita como vantagem a atuação da BrasilAgro em outros países, o que garante diversificação.
“É uma empresa que sempre mostrou uma capacidade de geração de caixa muito boa, assim como a geração de valor pelo desenvolvimento de terras ao longo dos anos”, avalia Sala. Para ele, a taxa interna de retorno com terras ainda está atrativa, o que torna a BrasilAgro uma alternativa para o investidor que busca diversificar a carteira aliando crescimento e dividendos. O analista projeta um dividend yield de 6,5% em 2023 para as ações AGRO3, e um potencial de valorização dos papéis de 15%.
Já Paletta, da Monett, acredita que a empresa entregará um dividend yield de 12% em 2023, já que possui um banco de terras maduras, consolidado há pelo menos oito anos. Além disso, algumas commodities agrícolas devem ver o seu preço aumentar pela demanda de alimentos, acompanhando o crescimento da população, no médio e longo prazo. “Segundo projeções dos Estados Unidos, a produção de commodities agrícolas no mundo deve crescer 25% até 2025”, diz.
Os riscos são o desaquecimento no preço das terras que poderia afetar as ações. Para Paletta, o preço-teto de compra do ativo para garantir um bom dividendo é de R$ 32.
Em entrevista ao InfoMoney em outubro, André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, destacou que o objetivo da empresa é pagar no mínimo 5% de dividend yield no médio e longo prazo.
Banco ABC (ABCB4)
O Banco ABC é outro “queridinho” dos analistas. Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research, destaca que enquanto a Selic estiver acima de 11% ao ano, o lucro do banco deve continuar subindo. A projeção do analista é de dividendos entre R$ 1,40 e R$ 1,50 por ação em 2023, divididos em quatro parcelas trimestrais de R$ 0,40, que podem pingar na conta dos investidores em janeiro, abril, julho e outubro. Nas estimativas do analista, isso seria equivalente a um dividend yield de 7,5%. O preço-teto de compra da ação é de R$ 22, segundo Nigri.
Ele destaca o perfil dos clientes do banco – empresas com faturamento anual entre R$ 30 e R$ 250 milhões – que apresentou bons resultados nos últimos anos. “A margem financeira com clientes cresceu, assim como a receita de serviços e a inadimplência está controlada”, aponta Nigri.
Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, destaca que o Banco ABC tem um retorno sobre patrimônio estável ao longo do tempo, com estabilidade de resultados e potencial de valorização. “Entendemos que a ação vale a pena pelo seu preço e por ser um bom negócio”, destaca. O analista projeta dividendos acima de 5% em 2023, com preço-alvo para a ação de R$ 23,60.
Alupar (ALUP11)
Segundo Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora, a Alupar se encontra em um dos setores mais defensivos da Bolsa, o de transmissão elétrica. Ele explica que a companhia possui a concessão de 30 sistemas de transmissão, totalizando 7.929 km de linhas, com prazo de 30 anos, no Brasil e na Colômbia.
Entre as oportunidades que podem contribuir com os dividendos, o analista cita o aumento da geração de caixa e o crescimento da companhia por meio de fusões e aquisições (M&A) assim como projetos em novas fontes de energia, eólicas e solares, na área de geração.
Já entre os riscos, Peretti destaca a alta expressiva dos juros no curto prazo, que podem acabar diminuindo a atratividade dos dividendos, diante de títulos de renda fixa. Outra desvantagem seria uma taxa interna de retorno menor nos leilões, que pode afetar o crescimento da empresa. Há também riscos no desenvolvimento de novos projetos e desinvestimentos do FI-FGTS.
Peretti projeta um dividend yield de 7,4% para as ações ALUP11 em 2023, com preço-alvo de R$ 27,40.
Alupar também está nas recomendações de dividendos da Monett, com expectativa de dividendos de 7,5% em 2023. “O preço-teto de compra não deve ser superior a 5% do preço de tela atual”, destaca Paletta.
Minerva (BEEF3)
Victor Bueno, analista de small caps da Nord Research, acredita que a Minerva está sendo beneficiada por um ciclo favorável para o gado no País e pelo corte de oferta de carne nos Estados Unidos. “Sabemos que a Minerva tem grande parte das receitas dolarizadas e exporta muito para China. Mais de um terço da receita da empresa vem exatamente do mercado chinês”, afirma.
Segundo Bueno, a empresa está apresentando resiliência nos resultados e no terceiro trimestre teve a maior geração de caixa desde 2008. “A tendência é que continue entregando esses bons números nos próximos trimestres. A companhia não está muito focada em crescimento e, sim, no pagamento de dividendos”, aponta.
Bueno reforça que a companhia está ampliando o seu portfólio, diversificando além do segmento bovino com ovinos, após aquisição de uma empresa na Austrália. A projeção de Bueno é de que a empresa entregue um dividend yield de 6% em 2023, com preço-teto de compra de R$ 14.
A Minerva também é uma das opções preferidas da Santander Corretora para dividendos, com uma projeção de dividend yield de 7,8% e preço-alvo de R$ 20. E da Órama, que espera um retorno em dividendos entre 6% e 7%, com preço-alvo de R$ 22,10, um potencial de valorização de 70%.
“A Minerva é uma empresa bem gerida, com uma política de investimentos pé no chão, que permite que entregue seus contratos sem ser prejudicada por barreiras sanitárias, por conta das suas políticas bilaterais de exportação. Se ela não consegue exportar de um frigorífico, pode optar por outro localizado em outro país”, afirma Phil Soares, da Órama.
Metal Leve (LEVE3)
Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest, destaca que a Metal Leve está inserida no setor industrial, na fabricação e comercialização de componentes de motores. Na comercialização, a companhia se beneficia da frota brasileira, ainda antiga se comparada com países desenvolvidos.
“Os resultados da companhia continuam muito sólidos e atualmente está negociando a 5,85 vezes o seu P/L [preço sobre lucro] e 5,15 vezes EV/Ebitda [valor da firma sobre geração de caixa operacional]. Os múltiplos atuais indicam que o preço das ações está atrativo em relação aos últimos resultados oferecidos”, afirma. “Entretanto, devemos acompanhar os resultados futuros para entender se a dinâmica positiva continua”.
Segundo o analista, a companhia possui um bom histórico de pagamento de dividendos, mas a ciclicidade das suas operações pode afetar na regularidade das distribuições. “Projetamos um dividend yield de 7,9% para 2023, com um preço-teto de compra de R$ 28,50”, aponta Biz.
Entre os riscos, Biz aconselha o investidor a ficar atento à desaceleração do segmento automotivo diante de uma recessão global, que poderia afetar os resultados da companhia.
Paletta, da Monett, também enxerga a Metal Leve como uma opção para dividendos em 2023, e destaca que a companhia está se preparando também para surfar em um potencial aumento dos carros elétricos. O analista espera um dividend yield de cerca de 13% para 2023.
Tegma (TGMA3)
A lista das small caps mais citadas também inclui a Tegma. Luan Alves, da VG Research, explica que a companhia atua no setor automotivo, na logística de veículos prontos para praticamente todas as montadoras do País e importadoras. “A Tegma atua em uma variedade de serviços como coleta de veículos nas fábricas, portos, gestão de partes e armazenamento”, explica.
O analista destaca que a companhia também tem expandido para o segmento de veículos usados. Segundo Alves, a companhia passa por um processo de recuperação após a pandemia, com o setor automotivo avançando.
Ele também cita a divisão de logística integrada da empresa, que em um ambiente favorável de juros e varejo, pode se beneficiar, embora o principal segmento seja o automotivo. Alves projeta um retorno em dividendos de 5,2% para Tegma em 2023. “A valorização do papel está relacionada à recuperação do setor e do operacional da companhia”, aponta. Já Paletta espera dividendos de 8%.