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A BrasilAgro (AGRO3), empresa que atua tanto na compra e venda de propriedades rurais quanto na produção de grãos, não costumava ser elencada na lista de expoentes na distribuição de dividendos aos acionistas. Pelo menos não até este ano.
Apresentando um dividend yield (taxa retorno em dividendos) de 14,94% nos últimos 12 meses – que chega a superar a taxa Selic, de 13,75% ao ano – a companhia passou a atrair o olhar dos investidores focados na renda passiva.
Um retorno tão alto se seguiu ao maior lucro líquido da história da companhia, de R$ 520,1 milhões no ano safra de 2022, entre junho 2021 a junho de 2022. A cifra foi resultado da alta dos preços de algumas commodities agrícolas desde a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia. A soja, por exemplo, que representa atualmente 39% da cesta de cultivos da BrasilAgro, atingiu preços recordes.
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Por outro lado, a companhia também realizou a maior venda de fazenda na sua história: os 3.723 hectares da Fazenda Alto Taquari, em Mato Grosso, renderam um lucro de R$ 589 milhões. Apenas metade entrou no resultado de 2022. O restante deve vir em 2024.
Um cenário tão favorável acabou impulsionando os dividendos da empresa, que também atingiram um recorde em 2022. A companhia tem estabelecido na sua política de dividendos distribuir no mínimo 25% do lucro líquido aos acionistas, mas em 2022 este payout (parcela do lucro destinada a proventos) será de 100%.
A companhia já pagou R$ 2,02 por ação no final de abril e deve depositar ainda mais R$ 3,24 na primeira quinzena de novembro, disse André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, em entrevista exclusiva ao InfoMoney – confira a versão completa no player acima.
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Por ora, isso anima os investidores. A dúvida é até quando a empresa vai sustentar patamares tão elevados de dividendos quanto os dos últimos dois anos.
Segundo Guillaumon, mesmo em um cenário de recessão global, as commodities devem manter os preços nos próximos dois anos, dada a relação estreita entre estoque e consumo e a reprecificação de produtos como soja, milho e açúcar.
Com isso, a BrasilAgro já trabalha com uma meta para o novo perfil da companhia. “Queremos ser uma pagadora de dividendos, de no mínimo 5% de dividend yield, no longo prazo”, destaca. Manter esse retorno é um desafio, segundo Guillaumon, porque a expectativa é de que as ações também valorizem – o que demandará proventos ainda maiores para garantir o compromisso. Nos últimos cinco anos, as ações da empresa valorizaram 226,67%, enquanto o Índice Small Cap – no qual estão incluídas – teve um retorno de 36,34%.
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Confira abaixo alguns dos principais trechos da entrevista concedida pelo CEO da BrasilAgro ao InfoMoney:
Meta de ter dividendos de 5% ao ano
“O sonho, o objetivo da gestão desta empresa e da equipe, é ser uma pagadora de dividendos na casa de 5% de dividend yield.
É muito importante entender que em anos com muita rentabilidade, como este, estamos pagando quase 19% de dividend yield, entre o que foi e será distribuído ainda. Se você me perguntar como deve se comportar a empresa no médio e longo prazo, diria que vai pagar mais do que 5% de dividend yield, que é uma excelente remuneração ao longo dos anos.
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Vale lembrar que a gente está trabalhando para aumentar o fluxo de geração de receita da companhia e o preço da ação. É um trabalho difícil. Uma coisa é pagar 5% de R$ 15, e outra é pagar 5% de uma ação valendo R$ 32. Vamos trabalhar para que esse papel chegue a R$ 40, R$ 50, e vamos pagar 5% de dividendos sobre esse valor do papel.
A companhia no passado era muito dependente da venda de ativos para gerar resultado para o acionista. Hoje a companhia é mais equilibrada, tem uma geração de resultados importante no fluxo operacional. Sem dúvida, é uma companhia com recorrência de resultados operacionais robustos graças ao seu mix de culturas [commodities agrícolas], pela diversificação geográfica e uma série de questões que trabalhamos nos últimos anos, para que seja uma empresa rentável, independente de vender ou não vender fazenda.
A cesta de produtos hoje permite que a BrasilAgro tenha uma previsibilidade na geração de resultados, a diversidade de culturas, de regiões atenuam os riscos produtivos de uma única commodity. A companhia está muito mais preparada para ser uma recorrente pagadora de dividendos”.
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Impacto da recessão global no lucro da BrasilAgro
“Eu acho que o pós-pandemia trouxe para a sociedade civil uma preocupação muito grande com estoques e segurança alimentar. Temos uma reprecificação dos estoques de passagem de grãos a níveis mundiais, e logo veio a guerra na Ucrânia, e muitos países na Europa eram dependentes dos países em conflito.
Essa reprecificação dos estoques de passagem causa uma demanda que acaba regulando a oferta. Temos uma oferta positiva vindo da América do Sul, por conta das previsões climáticas, e por outro lado essa reprecificação dos estoques, o que coloca uma pimenta a mais na discussão de recessão e commodities.
A recessão causa deterioração nas commodities, mas as primeiras a sofrer são as hard commodities, como minério, petróleo. Já as soft commodities, ou commodities agrícolas, sofrem tardiamente. Mas quando a gente olha os estoques no mundo inteiro, de soja, milho e açúcar, vemos uma relação com o consumo apertada a nível global.
Então temos fatores negativos, como uma recessão pela frente, mas também uma reprecificação dos estoques e o fato de que as soft commodities sofrem menos. Tudo isso deve trazer sustento aos preços. Quando observamos a soja, por exemplo, que bateu os US$ 17 [por bushel], agora está em US$ 14, que ainda é um excelente preço. Mesma coisa para o milho e o açúcar. Essa relação estreita entre estoque e consumo vai trazer uma pressão para o preço nos próximos dois anos e, no médio cenário, até cinco anos.
Não significa que teremos uma pressão altista nos preços em dois anos, mas que esses fatores podem contribuir para a manutenção dos preços de algumas commodities agrícolas no curto e médio prazo.”
Novo pagamento de dividendos ainda em 2022
“Nosso pagamento obrigatório é de 25% do lucro líquido, mas esse ano a BrasilAgro teve o maior lucro da história e fomos agressivos no pagamento de dividendos, distribuindo 100% do lucro líquido da companhia para o acionista. É uma forma de retribuir a confiança que eles sempre tiveram conosco, com o projeto, as captações e melhorando a liquidez da empresa.
Em assembleia no dia 27 de outubro, será deliberada uma proposta da administração de um pagamento de R$ 320 milhões em dividendos. Lembrando que a BrasilAgro já pagou um dividendo extraordinário de R$ 200 milhões no começo do ano, então ao longo de 2022 devemos distribuir R$ 520 milhões. Isso representa quase 19% de dividend yield. A companhia deve ser uma das maiores pagadoras de dividendos neste ano em função de um trabalho feito com muita resiliência.
Historicamente, a BrasilAgro paga dividendos alguns dias após a sua assembleia de acionistas, o que geralmente acontece na primeira quinzena do mês de novembro.
Os investidores com posição na ação no dia 27 de outubro, data da assembleia, terão direito a receber o dividendo de R$ 3,24. A BrasilAgro vai pagar esse dividendo na primeira quinzena de novembro.
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