Oi (OIBR3): com a ação a R$ 1 e em forte queda no ano, o que esperar para a companhia?

Analistas seguem divididos sobre ação entre o avanço da fibra óptica e expectativa para venda de ativos e desalavancagem

Lara Rizério

Oi telecomunicações

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SÃO PAULO – Divulgação do plano de negócios 2022-2024, venda do controle da InfraCo -agora V.tal – para fundos do BTG Pactual (BPAC11) e Globenet por R$ 12,9 bilhões, avanço na fibra óptica e perspectiva (da companhia) de fim da recuperação judicial no primeiro trimestre de 2022.

Nada disso tem animado os investidores com as ações da Oi (OIBR3;OIBR4), isso após um 2020 bastante positivo. O ativo OIBR3, mais líquido, por sinal, já cai 54% em 2021, e fechou a sessão da última quarta-feira (8), que foi de queda generalizada para o Ibovespa, abaixo do R$ 1 pela primeira vez no ano (mais precisamente, aos R$ 0,98). Durante boa parte da sessão desta sexta-feira (10), o papel operava a exatos R$ 1, mas fechou abaixo desse patamar, novamente a R$ 0,98, ou baixa de 4,85%, após subir na véspera.

Se o movimento já era de baixa para os ativos em meio à visão de falta de catalisadores de curto prazo, nas últimas semanas, alguns reveses ainda afetaram a percepção de risco sobre a companhia.

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No final de agosto, mais precisamente no dia 30, a diretora financeira e de relações com investidores da Oi, Camille Faria Loyo, anunciou a sua saída da empresa para ocupar o mesmo cargo na TIM (TIMS3), sendo substituída por Cristiane Barretto Sales. A nova executiva também tem uma grande experiência profissional, anteriormente ocupando o cargo de Diretoria Executiva de Planejamento e Gestão Financeira da Claro Brasil.

Contudo, a notícia da saída de Camille repercutiu de forma negativa no mercado, uma vez que ela teve um papel fundamental na elaboração e execução dos aditivos para o plano de recuperação judicial da Oi, que foi homologado pela Justiça no final do ano passado. “A sua decisão de sair pode sugerir que o turnaround da Oi pode ser um processo desafiador”, avaliaram os analistas do Credit Suisse.

Ainda em destaque, estão algumas incertezas sobre a venda da Oi Móvel para as rivais da companhia TIM TIMS3), Claro e Vivo (VIVT3) e que foi arrematada em leilão por elas por R$ 16,5 bilhões.

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De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo do começo de setembro, membros do governo brasileiro demonstraram preocupação com o processo de venda dos ativos móveis, em meio ao cenário de possível concentração da concorrência no setor.

O Ministério das Comunicações disse que as questões sobre o tema serão tratadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que tomará as medidas necessárias para garantir a competitividade do mercado de telecomunicações. No final de julho, o Cade declarou que a venda das operações móveis da Oi era um processo complexo e estendeu o prazo previsto para sua decisão final.

Também na semana passada, veio à tona que operadoras de menor porte estão pedindo contrapartidas à venda da Oi Móvel.

“O que as centenas de operadoras e provedores estão reivindicando são condições mais favoráveis para uma competição equilibrada no mercado de telefonia móvel, tanto em relação à negociação de preços quanto na obrigatoriedade de acordos de roaming nacional (compartilhamento de infraestrutura)”, aponta a Levante Ideias de Investimentos.

As companhias de menor porte do setor estavam inicialmente buscando o cancelamento da aquisição do ativo pelas rivais Vivo, Tim e Claro, que se juntaram para adquirir a quarta operadora móvel do setor.

Caso a primeira tentativa não funcione, a segunda estratégia passa a ser por ganho de força, fatiando o espectro móvel da Oi, ou seja, faixas de radiofrequência sobre as quais as operadoras podem estender suas redes de celulares.

Ainda na lista de reivindicações ao Cade e Anatel, constam também a divisão da carteira de clientes, além de contratos de aluguel e troca de infraestrutura que compõem o ativo da Oi vendido em leilão.

Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp) – que representa 70 empresas associadas de médio porte – o compartilhamento só ocorre entre grandes operadoras, visto que as operadoras menores têm pouco a compartilhar. A Telcomp propõe que as grandes empresas do setor ofereçam as redes em troca de pagamento.

Na avaliação da Levante, a notícia evidencia mais conflitos para o fim da venda dos ativos móveis da Oi, o que dificulta a companhia encerrar sua recuperação judicial.

O BBI, por sua vez, espera que a aprovação da operação da venda dos ativos móveis deva ocorrer em novembro. “Além disso, não esperamos que quaisquer remédios importantes sejam impostos pelo Cade que possam arriscar a conclusão do negócio”, apontam.

Essas notícias fizeram preço na ação nas últimas semanas, mas os papéis já vinham em um movimento de baixa bastante expressivo, que foi se desenhando ao longo do ano tanto pela visão de muitos investidores de falta de novos catalisadores após o leilão da Oi Móvel no final de dezembro do ano passado quanto pelas perspectivas desafiadoras com a “nova Oi”.

Essas expectativas, por sinal, foram se confirmando tanto com a apresentação do plano estratégico da companhia 2022-2024 no final de julho e, posteriormente, com a divulgação dos resultados do segundo trimestre de 2021 no final de julho.

Entre os destaques do plano, está a meta de atingir 8 milhões de domicílios conectados até 2024 no Brasil até o final do 2024, que é mais que o dobro da expectativa de 3,5 milhões até o final de 2021, e representa 22% da corrente total (37 milhões) do mercado brasileiro de banda larga. A receita média estimada por casa em 2024 é de R$ 94 por mês, alta anual média de 11%.

A Oi também apresentou um plano para reduzir o custo de casas passadas (HPs, ou seja, casas com infraestrutura de cabeamento para fibra óptica) de R$ 270 por unidade atualmente para R$ 140. Isso será obtido, aponta a companhia, com otimizações, como rede primária subterrânea permitindo a adição de novas conexões sem a necessidade de duplicação da rede futura, e segmentos de fibra mais curtos, sendo menos suscetíveis a rupturas e interrupções.

O indicador capex (investimentos em capital) sobre receita líquida deve sair de cerca de 14% para 7,8%. Por sua vez, a razão entre dívida líquida e Ebitda da Nova Oi deve ir a 6,6 vezes e no critério proforma de 3,7 vezes.

O Credit Suisse foi um dos que apresentaram uma visão bem cética sobre o plano apresentado, destacando na ocasião o fato do guidance indicar uma alavancagem para 2024 de 6,6 vezes (acima da estimativa anterior do banco), sugerindo um fluxo de caixa livre mais fraco do que o esperado, apesar das fortes estimativas operacionais da empresa.

Já o resultado do segundo trimestre da companhia, publicado no dia 12 de agosto, também decepcionou. Apesar de analistas destacarem o avanço da fibra óptica como positivo por um lado, por outro a continuidade da queima de caixa a desalavancagem ainda dependente da venda dos ativos foram pontos destacados como negativos (veja mais clicando aqui).

Companhia mais leve

O cenário de curto prazo é visto como desafiador mas, em live transmitida pela XP na última quarta-feira (8), Rodrigo Abreu, CEO da companhia, destacou que a companhia não fará a “virada” do dia para a noite, mas que está progredindo para se tornar como uma empresa mais leve em ativos, com custos fixos mais baixos e focada na geração de receitas com a prestação de serviços após a reestruturação das operações após a venda da operação de telefonia móvel e a cisão da infraestrutura de fibra óptica.

Abreu reforçou os planos de expansão da “Nova Oi”, pretendendo atingir R$ 15 bilhões de receita anual em cerca de três anos, tornando-se uma companhia totalmente focada em negócios com clientes, serviços e atendimentos, indo muito além de somente internet fixa e atuando em áreas como saúde, educação e segurança.

A companhia, vale ressaltar, seguirá com a sua participação de 42,1% na V.tal, empresa de rede neutra originada da venda da participação da infraestrutura de fibra da companhia para o fundo do BTG Pactual e a Globenet cabos submarinos. Esse ponto, aliás, foi ressaltado pelo executivo, destacando que a visão abrangente sobre o futuro da empresa deve ser considerado para a valorização da companhia como um todo.

Abreu avalia que a valorização da empresa de fibra para R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões em pouco tempo vai trazer a possibilidade de acelerar a desalavancagem da Oi.

No fim de março, a dívida bruta consolidada da empresa somava R$ 29,1 bilhões, considerando o “valor justo” da dívida reportado pela companhia. Neste caso, o valor incluiria um deságio equivalente à antecipação do pagamento de parte da dívida.

Com a expectativa de forte valorização da participação na empresa de fibra, a empresa cogita até mesmo uma abertura de capital desta companhia, conforme mostra seu plano estratégico. Para sustentar o crescimento acelerado, Abreu espera investir cerca de R$ 30 bilhões em cinco anos a partir de 2022 na empresa de infraestrutura, uma média de R$ 6 bilhões por ano.

Sobre as novas avenidas de receita, Abreu ressaltou ainda durante a live que a Oi já conta com uma empresa de prestação de serviços de assistência técnica, a Oi Expert, semelhante a CDF, vendida para o fundo do BTG por R$ 350 milhões. “Em um ano essa empresa vai ter R$ 100 milhões de receita”, destacou.

A “Nova Oi”, após concluir a venda da operação de telefonia móvel e cisão da infraestrutura de fibra, deve ter uma margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) de 20%, excluindo o legado da concessão de telefonia fixa por cobre. Considerando essa operação, a margem Ebitda cairia 4 a 5 pontos percentuais.

Com um capex menor e com menor necessidade de investimento em ativos fixos, Abreu espera um retorno sobre a geração de caixa para a nova Oi de 7% a 8% , o que a colocaria mais próxima dos múltiplos das empresas de serviços.

Já em relação aos eventos de curto prazo, o CEO destacou que a companhia já fez boa parte da reestruturação prevista no seu plano de recuperação judicial e que agora os grandes eventos fusões e aquisições são menos significativos que no passado. A empresa ainda pretende vender empresa de TV por assinatura por meio do leilão de uma unidade produtiva isolada chamada Oi TV, conforme consta no seu plano de recuperação judicial.

Quanto aos riscos, Abreu espera que, apesar da venda da operação móvel ter sido classificada como complexa pelo Cade, esse não seja um impeditivo para a aprovação até o ano que vem.

Fibra óptica guia perspectivas positivas

Para o CEO, a V.tal deve se posicionar como líder no mercado de fibra óptica, já sendo líder no mercado de fibra nas capitais que contam com o serviço. “Temos a ambição de ser a maior operadora de fibra do Brasil e imaginamos que, nesse cenário, vai ser viável termos a atuação de um conjunto de ISPs [provedores de acesso à internet] representativos em cada região”, disse Abreu.

Apesar de ter a Oi como principal cliente, a V.tal já conta com 10 contratos de prestação de serviços de FTTH (sigla em inglês para fibra até a casa do cliente) para outros provedores, incluindo a Vero Internet, apontou.

A companhia pretende chegar a quase 9 milhões de usuário em fibra em cinco a seis anos, disse Abreu. A receita de fibra alcançou R$ 691 milhões no segundo trimestre de 2021, crescimento anual de 181,5%, de acordo com o balanço da empresa. No mercado empresarial (B2B), a Oi também está buscando migrar os clientes de telefonia fixa por cobre para a rede de fibra, com foco na manutenção da receita. “O plano no B2B é mudar a qualidade da receita como já aconteceu no residencial”, apontou.

O plano de investimento de R$ 30 bilhões de 2022 a 2026 da nova empresa de fibra deve ser financiado via aporte de capital, através de oferta primária de ações, pela capacidade da nova empresa poder se alavancar e tomar dívida e pela geração de receita, destacou Abreu. Mesmo assim, é esperado que a nova empresa tenha uma alavancagem financeira abaixo de 2 vezes.

E é justamente a implantação da fibra que guiam as perspectivas positivas do Bradesco BBI para as ações OIBR3, tendo preço-alvo de R$ 3,40, ou um potencial de alta de 230% em relação ao fechamento da última quinta-feira (9). Os analistas apontam que alguns desafios operacionais continuam, mas a implantação da fibra continua em um ritmo saudável. “Em suma, acreditamos que o principal foco do mercado deve continuar a ser os resultados das vendas de ativos da Oi Móvel e a execução de seu plano estratégico no futuro”, destacaram, logo após os resultados do segundo trimestre.

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Após o balanço, o BTG Pactual também destacou visão positiva para a ação, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 2,30 (ou potencial de alta de 123%). “Estamos confiantes de que a venda da operação móvel e da empresa de infraestrutura, será concluída de forma satisfatória e prevemos um bom crescimento proveniente dos negócios de fibra da empresa”, apontam.

Por outro lado, entre os céticos, estão os analistas do Credit Suisse, que seguem com recomendação neutra para a ação, com um preço-alvo atual de R$ 1,60 (ainda que com um potencial de valorização de 55%), destacando os desafios da execução do novo plano estratégico.

Já os analistas da Levante também ressaltaram em relatório após o plano 2022-2024 que parte central do plano da Oi de expansão é o seu plano de fibra óptica, o que deve se provar um desafio para a companhia considerando o cenário cada vez mais competitivo. Além disso, apontaram, a companhia ainda precisa terminar sua reestruturação, concluindo sua venda de ativos para seguir em frente, deixando ainda algumas incertezas a serem resolvidas.

Desta forma, entre as expectativas de avanço da fibra óptica, as notícias de maior concorrência no setor e os desafios de curto prazo para vender ativos e desalavancar, analistas de mercado seguem divididos com a tese de investimentos em Oi.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.