Credit corta preço-alvo da Oi (OIBR3) e reitera recomendação neutra após plano; analistas apontam risco de execução

Para analistas, "sell-off" dos ativos de 2ª pode ser justificado pela projeção de alavancagem, sugerindo fluxo de caixa livre mais fraco do que o esperado

Lara Rizério

Oi telecomunicações

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SÃO PAULO – Enquanto as análises iniciais sobre o plano estratégico da Oi (OIBR3;OIBR4) 2022-2024 divulgado na véspera (19) foram destacadas como positivas por alguns bancos e casas de research, as ações não corresponderam na B3.

Na última segunda, também em um dia de forte queda para o mercado em geral, os papéis OIBR3 fecharam em baixa de 8,13%, a R$ 1,47, enquanto os papéis OIBR4 tiveram baixa de 4,91%, a R$ 2,13. Na sessão desta terça, as ações também não empolgaram, com as ações ON fechando em queda de 7,48%, a R$ 1,36, enquanto PN tiveram queda menos expressiva, de 2,35%, a R$ 2,08.

Em relatório publicado após o fechamento do pregão da véspera, o Credit Suisse comentou o plano da companhia, com foco no desenvolvimento da InfraCo e novas iniciativas de redução de custos, entre outros. Porém, os anúncios não agradaram tanto os analistas do banco suíço, que reiteraram recomendação neutra para o ativo OIBR3, inclusive reduzindo o preço-alvo de R$ 1,80 para R$ 1,60, ou uma alta de 8,84% frente o fechamento de segunda-feira (19).

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De acordo com Daniel Federle e Felipe Cheng, analistas do Credit, o “sell-off” dos ativos na véspera pode ser justificado pelo fato do guidance indicar uma alavancagem para 2024 de 6,6 vezes (acima da estimativa anterior do banco), sugerindo um fluxo de caixa livre mais fraco do que o esperado, apesar das fortes estimativas operacionais da empresa.

Já o corte do preço-alvo de OIBR3 para R$ 1,60 foi de modo a incorporar a estimativa de um maior consumo de caixa em 2021 (de R$ 6 bilhões). Isso impulsionado por um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) de curto prazo mais fraco, apontam os analistas, já que o dado do primeiro trimestre ficou 25% abaixo do projetado pelo banco suíço.

A estimativa dos analistas é de uma dívida líquida de R$ 7,3 bilhões em 2021, de R$ 3,8 bilhões da projeção anterior, com uma alavancagem de 7 vezes a relação entre dívida e Ebitda para 2022.

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O preço-alvo atribui um valor da empresa (EV) de R$ 8 bilhões para a unidade de serviços ClientCo versus R$ 6 bilhões anteriores), implicando em uma relação EV sobre Ebitda esperada de 8 vezes para 2022, além de manutenção da projeção de EV para InfraCo em R$ 22 bilhões, com EV/Ebitda de 11 vezes esperado para o ano que vem. “Vale ressaltar que nossas estimativas operacionais estão alinhadas com o guidance da Oi, que nos parece otimista. Assim ,o risco de execução é o principal para a tese de investimento da Oi”, apontam.

As projeções da Oi para receitas e Ebitda são de alta de 32% e 8%, respectivamente, acima da principal referência anterior do mercado (relatório da EY) e também acima do projetado pelo Credit Suisse.

Os analistas, por sua vez, elevaram as projeções de receita para 2022 em 4%, para R$ 10,4 bilhões, ao assumirmos uma curva de taxa de absorção de banda larga via fibra (FTTH) mais rápida, agora em 24% já em 2021, que foi em linha com a meta. Por outro lado, a projeção para o Ebitda de 2022 foi cortada em 20%, a R$ 1 bilhão, depois do primeiro trimestre fraco e com a projeção de margem sem atender a expectativa do banco.

Mas a margem deve aumentar gradativamente, uma vez que a Oi espera concluir a migração da concessão até 2023. Já do lado positivo, a companhia parece pronta para retomar o crescimento acelerando as receitas, reduzindo custos, resolvendo problemas de concessão e impulsionando o segmento de fibra, apontam.

Plano agressivo e poder de fogo

Para a Levante Ideias de Investimentos, o plano apresentado foi bastante agressivo em termos de crescimento de receita, com apostas interessantes, especialmente quanto à parte de serviços adicionais que nenhuma companhia de telecomunicações no Brasil conseguiu fazer deslanchar ainda. Entre eles, o seu marketplace para venda de produtos, telemedicina, venda de cartão de crédito e seguros, entre outros, em que a companhia espera entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão de receitas desta modalidade.

Por outro lado, na avaliação dos analistas, a margem Ebitda, ou relação entre Ebitda e receita líquida, deixou a desejar, enquanto há novos players fazendo IPO no mercado de fibra, como Desktop, Unifique e Brisanet.

Além disso, eles também destacam que, após a reestruturação, a companhia resultante sai bastante endividada, com relação entre dívida líquida e Ebitda em cerca de 3,7 vezes, um patamar acima do que a própria companhia considera ideal.

“Apesar do alto nível de endividamento, para conseguir expandir sua infraestrutura de fibra ótica, a Oi manterá um nível investimentos (capex) de cerca de 14,8% da sua receita em 2021 e atingindo aproximadamente 7,8% em 2024. Se por um lado os valores parecem altos para o nível de endividamento da companhia, por outro enxergamos os novos entrantes injetando capital com IPOs e gastando valores semelhantes, mesmo com receita muito menor do que a Oi”, avaliam.

A Levante destaca que parte central do plano da Oi de expansão é o seu plano de fibra óptica, o que deve se provar um desafio para a companhia considerando o cenário cada vez mais competitivo. A companhia encerrou o primeiro trimestre com 2,5 milhões de clientes de fibra ótica, pretendendo encerrar 2021 com 3,5 milhões de clientes e atingir 8,1 milhões em 2024.

“O plano apresentado prevê crescimento audacioso, focado em fibra ótica e com uma estratégia mais interessante ao nosso ver, focando em eficiência operacional e atendimento ao cliente. No entanto, além dos desafios da execução do novo plano estratégico, a companhia ainda precisa terminar sua reestruturação, concluindo sua venda de ativos para seguir em frente, deixando ainda algumas incertezas a serem resolvidas”, avalia.

O risco de execução também foi ressaltado pelo Bradesco BBI em relatório da véspera. Contudo, os analistas do banco seguem com visão positiva para OIBR3, reiterando recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) com preço-alvo de R$ 3,40, ou potencial de valorização de 131% frente o fechamento da véspera.

“Embora certamente haja riscos relacionados à execução operacional do plano estratégico, acreditamos que o mercado deve vê-lo como positivo. A InfraCo, com BTG e Globenet como investidores estratégicos, agora tem poder de fogo suficiente para continuar a expandir seus negócios FTTH (ou modelo “da fibra para o lar”) em um ritmo forte, sendo um dos principais
motores para que eles entreguem crescimento e lucratividade nesta frente. Adicionalmente, após a conclusão da potencial venda de suas operações móveis, acreditamos que a Oi deve ser capaz de melhorar seu desempenho de implantação de FTTH, como player focado no mercado de banda larga”, aponta o BBI.

Assim, o BBI mantém visão positiva da Oi, embora reconheça que “o mercado pode demorar um pouco para ter mais confiança na sua capacidade de executar o plano por si só”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.