Oi lucra R$ 1,13 bi no 2º tri e avanço da fibra óptica é destaque positivo – mas desafios operacionais continuam

Analistas apontaram balanço como marginalmente negativo, já que a Oi continuou a queimar caixa e a desalavancagem segue dependente da venda dos ativos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Ainda enfrentando um grande ceticismo de boa parte do mercado com relação ao seu plano para se tornar a “Nova Oi”, em busca de sair da recuperação judicial, tornar-se mais enxuta e focar em fibra óptica, as ações da Oi (OIBR3;OIBR4) fecharam em baixa acompanhando o movimento do mercado. Isso após registrar um movimento relativamente tranquilo em boa parte da sessão desta quinta-feira (12) pós-resultado do segundo trimestre de 2021.

Os ativos OIBR3 fecharam em queda de 1,80% , a R$ 1,09, enquanto OIBR4 caiu 3,31%, a R$ 1,75, após terem chegado a subir 5,41% e 5,52% respectivamente na máxima do dia (cabe destacar o valor de face baixo dos papéis, levando a uma variação percentual expressiva em qualquer movimentação de centavos).

À primeira vista, os números foram positivos. A companhia apresentou lucro líquido de R$ 1,139 bilhão no segundo trimestre de 2021, revertendo o prejuízo de R$ 3,409 bilhões em igual intervalo de 2020.

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Por outro lado, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de rotina somou R$ 1,284 bilhão, recuo de 5,5% na mesma base de comparação. A margem Ebitda baixou 0,6 ponto porcentual, para 29,3%. A receita líquida totalizou R$ 4,389 bilhões, queda de 3,4%.

O encolhimento do Ebitda foi explicado principalmente pela redução da receita, em especial no segmento móvel pré-pago, que compõe as receitas de operações descontinuadas (estão sendo vendidas para o grupo Vivo, Claro e TIM), e no segmento corporativo.

Já o que ajudou a Oi a voltar para o azul foi o efeito do resultado financeiro no balanço, ficando positivo em R$ 1,199 bilhão ante um dado negativo de R$ 3,127 bilhões um ano antes. O dado positivo veio graças à valorização do real sobre o dólar no trimestre, o que ajudou turbinar as linhas de “resultado cambial líquido” e “amortização do ajuste a valor justo”. Já nos trimestres anteriores, houve desvalorização do real, afetando negativamente o balanço.

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Ainda dentro do resultado financeiro, a companhia reportou uma queda expressiva, de 85%, nas suas despesas financeiras, que nos trimestres anteriores havia sido maior devido ao aditamento do processo de recuperação judicial.

O Credit Suisse apontou que o Ebitda ficou 11% abaixo do consenso de mercado, com a companhia ainda reportando um grande consumo de caixa de R$ 1,7 bilhão, maior do que o esperado. Isso apesar de um número de 12 milhões de casas passadas de 2,8 milhões de clientes conectados em fibra óptica.

“O time enxerga o resultado como negativo, com receitas em queda de 3% na base de comparação anual e estáveis trimestralmente, sendo impactadas por B2B (queda de 11% na comparação anual) e celular (em queda de 4%)”, avaliam os analistas. Cabe ressaltar que, no final de julho, logo após a divulgação do plano estratégico 2022-2024 da empresa, o Credit reduziu o preço-alvo para os ativos OIBR3 de R$ 1,80 para R$ 1,60, mantendo recomendação neutra e destacando os riscos de execução do plano.

Enquanto isso, o Bradesco BBI segue mais otimista com as ações, mantendo recomendação outperform (desempenho acima da média) para os ativos ON da companhia com preço-alvo de R$ 3,40, ou alta de 206% em relação ao fechamento da véspera.

Ao comentar o resultado, os analistas apontam que os desafios operacionais continuam, mas a implantação da fibra continua em um ritmo saudável.

Otavio Tanganelli e Lucca Brendim, analistas do BBI, ressaltam que o Ebitda foi impactado por leve pressão de custos e receita praticamente estável em relação ao trimestre anterior, enquanto a companhia continuou a queimar caixa no trimestre.

Mas o lado positivo, avaliam os analistas, foi justamente a expansão contínua do segmento de fibra, com uma taxa de absorção saudável de 24% e adições líquidas de 366 mil em residências conectadas, atingindo 2,8 milhões.

“Em suma, acreditamos que o principal foco do mercado deve continuar a ser os resultados das vendas de ativos da Oi Mobile e a execução de seu plano estratégico no futuro”, apontam.

Sobre isso, aliás, a Oi comunicou na tarde desta quinta-feira que a Oi Fibra dobrou o número de assinantes em doze meses e atingiu a marca simbólica de 3 milhões de clientes.

A companhia destacou que foram em média 120 mil casas conectadas por mês, “superando todos os demais players de internet por fibra ótica”.

Atualmente a Oi Fibra está disponível em 176 cidades no Brasil e a meta da empresa é chegar a 208 até o fim do ano. A companhia conta hoje com fibra passada em 12,6 milhões de endereços (do jargão inglês homes passed) e deve fechar o ano de 2021 com 14,5 milhões de endereços com essa infraestrutura, afirma.

Voltando aos números entre abril e junho deste ano, os analistas do BBI ressaltam ainda que as fortes tendências operacionais permanecem para o segmento de Fibra para o lar (ou FTTH, acrônimo de Fiber-to-the-Home).

“A Oi manteve seu forte desempenho no segmento de fibra, com receitas subindo cerca de 17% no trimestre (e com alta de 156% anualmente)”, apontam. Além disso, a taxa de ocupação (take-up rate, ou taxa de conversão de casas passadas em contratos) subiu ligeiramente de 23,5% no primeiro trimestre de 2021 para 23,6% no segundo trimestre.

Para o número de casas passadas “maduras”, com mais de 15 meses de operação, a Oi relatou uma taxa de adesão de 30%, enquanto que, para aqueles com 24 meses, as taxas ficaram em 35%. A empresa continua esperando uma taxa de ocupação consolidada superior a 25% até 2024.

Os dados dos ativos móveis, por sua vez, continuam a enfrentar pressão operacional, principalmente devido a uma queda no segmento pré-pago, que enfrenta as pressões de um ambiente mais desafiador devido à pandemia do Covid-19, mesmo com o retorno do auxílio emergencial, enquanto as receitas do pós-pago aumentaram 1,5% na comparação anual. Olhando para o segmento B2B, a receita líquida ficou estável no trimestre e em queda de 10% no comparativo anual, principalmente devido a um segmento corporativo mais fraco.

Assim como o Credit, os analistas do BBI também apontam a queda do Ebitda de rotina, impactado principalmente pela queda na receita e no crescimento de despesas operacionais em 1,2% na base anual, o que levou a uma compressão da margem sequencial em 0,6 ponto percentual.

As despesas sofreram pressão de alta de 109% em tributos e outros, sendo que parte da variação anual ocorreu em função das provisões mais altas de tarifas de Fistel de ativação, devido à expansão da base de clientes móveis. Além disso, as despesas com aluguéis e seguros das operações brasileiras totalizaram R$ 662 milhões, um aumento de 15,8% em relação ao segundo trimestre de 2020 em função de reajustes contratuais de aluguéis de postes atrelados ao IGP-M e aos novos gastos com aluguéis de torres e data center, após a venda dessas duas UPIs.

Por fim, as despesas com publicidade e propaganda totalizaram R$ 137 milhões, um aumento de 106,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, que foi o trimestre mais impactado pelas restrições da pandemia e que resultou na postergação ou suspensão de campanhas publicitárias.

Para os analistas do BBI, a desalavancagem ainda é um tema a ser endereçado pela companhia. A dívida líquida ficou em R$ 25,7 bilhões, acima dos R$ 25,2 bilhões no trimestre anterior, uma vez que a empresa reportou queima de caixa sequencial (Ebitda menos o capex) de R$ 612 milhões (versus queima de R$ 724 milhões no primeiro trimestre). Os analistas acreditam que uma desalavancagem mais forte no curto prazo deve ser altamente dependente da conclusão da venda de seus ativos.

De uma forma geral, Tanganelli e Brendim veem os resultados como marginalmente negativos, já que a empresa continuou a queimar caixa e a desalavancagem continua altamente dependente da conclusão / aprovação da venda de seus ativos.

“No entanto, destacamos que o desempenho bem forte de queda da ação (queda de 29% nos últimos trinta dias, até o fechamento da véspera) indica que o mercado aparentemente incorporou os riscos até certo ponto”, ressaltam. No ano, a queda acumulada é de 49% para os papéis ON e de 35% para os PN.

(com Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.