Magalu (MGLU3) desaba 13%, Via (VIIA3) tem baixa de 5% e Americanas (AMER3) cai 3%: desempenho reflete 3º tri das companhias?

Sessão foi marcada por volatilidade durante a manhã e tarde de queda principalmente para Magalu que, contudo, apresentou melhor resultado entre companhias

Lara Rizério

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Americanas (AMER3), Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) apresentaram resultados do terceiro trimestre de 2022 (3T22) que, apesar de suas especificidades e com desempenhos relativos diversos, foram vistos como “medíocres” pelos analistas, sem representarem uma virada em meio a um cenário desafiador para as companhias.

“De modo geral, as empresas continuam focando na rentabilidade em detrimento do crescimento, em nossa visão”, aponta o Credit Suisse que, em relatório antes da abertura do mercado, apontou que, a princípio, esperaria uma reação neutra para MGLU3, enquanto AMER3 e VIIA3 provavelmente reagiriam negativamente levando em conta apenas o resultado, uma vez a primeira apresentou um desempenho relativo melhor.

O Bradesco BBI também apontou que as três principais empresas de e-commerce divulgaram números fracos de forma geral.

“Os números refletem a alta exposição das empresas a categorias cíclicas que dependem de taxas de juros, crédito e inflação – variáveis que carecem de indicações de que podem melhorar em breve. O 4T22 sazonalmente mais forte pode ser um respiro, mas a sustentabilidade em 2023 ainda é discutível”, apontaram os analistas. Assim, mantêm sua postura mais cautelosa nos três nomes, mantendo recomendações neutras para os três nomes.

Na visão geral, Americanas apareceu como a maior decepção, levando inclusive a uma corte de recomendação pelo Itaú BBA, na sequência daquele feito pelo JP às vésperas do balanço, enquanto Magalu apareceu como relativamente melhor e Via ficou “entre as duas companhias”.

O início da sessão desta sexta-feira foi agitado para as ações das companhias na Bolsa, com movimentos nem sempre em linha com a visão dos analistas para os números das empresas, assim como o fechamento dos papéis. Via abriu a sessão com os maiores ganhos, com alta de 5,81%, a R$ 2,73, por volta das 10h10 (horário de Brasília), também impulsionado pela renovação de parceria de produtos financeiros com Bradesco, em que receberá R$ 350 milhões.

Magalu e Americanas viraram para perdas após abrirem com ganhos no início da sessão, indicando um pregão de muita volatilidade, com AMER3 registrando maior queda, enquanto Via passou também a ter perdas. Porém, as baixas de Magalu foram se intensificando ao longo do dia e o papel fechou com uma baixa de 13,07%, a R$ 3,46, muito superior à queda de 3,40% (R$ 12,21) de AMER3 e à desvalorização de 5,43% (R$ 2,44) de VIIA3.

O movimento causou estranheza, justamente pela visão de que o Magalu teve o melhor resultado relativo entre as empresas, ainda que não muito animador. Um operador ouvido pelo InfoMoney destacou a hipótese de saída de algum investidor estrangeiro do papel, mas com difícil visibilidade em termos imediatos.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, destacou ainda que o mercado se acostumou a receber seguidas surpresas positivas do Magalu até poucos trimestres atrás, “mas que esses dias parecem distantes de serem retomados”. Contudo, destaca que  RB está com Magalu na carteira por entender que existe espaço para uma surpresa positiva, além de julgar que o início do governo Lula deve soar positivo para varejistas.

Confira abaixo os principais destaques dos resultados:

Americanas: a grande decepção do trimestre?

A Americanas foi severamente impactada por uma deterioração na demanda de produtos de alto tíquete, especialmente telefones celulares, que respondem por uma parcela importante das vendas 1P (estoque próprio) da companhia.

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Como consequência, as vendas 1P caíram quase 32% na base anual. O desempenho do marketplace (3P) também foi fraco, com 0,3% de crescimento anual, resultando em um desempenho consolidado de vendas digitais negativo em 14,4%. As operações físicas, por sua vez, apresentaram vendas nas mesmas lojas (SSS) negativas de 2,7%.  “Essa performance pode ser explicada pelo efeito negativo do cenário macro mais desafiador na demanda por eletrônicos, que levou a uma queda no tíquete médio da companhia”, destacou a XP, que também avaliou os números como fracos.

Ao todo, a receita bruta da empresa caiu 14,5%, pressionando o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), que caiu 21,6% ao ano para R$ 582 milhões (margem de 10,7%, queda de 110 pontos-base na comparação anual).

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Por fim, o consumo de caixa de R$ 2,1 bilhões foi explicado principalmente pela deterioração do capital de giro e maiores despesas financeiras. A Americanas está agora com uma relação de 1,7 vez dívida líquida sobre Ebitda (versus 1 vez o caixa líquido no mesmo trimestre do ano passado).

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A Genial aponta que, apesar da queda de eletrônicos afetar bastante a performance do digital, a companhia mostrou um crescimento de duplo dígito no número de transações (+22,3%). Ou seja, o consumidor deixou comprar eletrônicos na plataforma, mas continuou adquirindo itens de outras categorias, que giram a um tíquete menor. O aumento desse número de transações, no entanto, não foi suficiente para segurar o ticket médio do trimestre, que recuou 22% no ano.

O Itaú BBA, por sua vez, destacou que os números da companhia foram piores do que o esperado pela casa e reduziu a recomendação dos ativos AMER3 de outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para marketperform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra).

“Estamos vendo uma combinação de vendas digitais fracas e desempenho estável de receita de lojas físicas. A desalavancagem operacional  levou a um declínio substancial do Ebitda na base anual”, apontam analistas. O preço-alvo para os ativos é de R$ 15.

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Para o BBI, a Americanas teve um trimestre para esquecer. No 3T22, a empresa optou por evitar o crescimento acelerado a qualquer custo diante de um ambiente de baixa demanda e alta concorrência, destacou.

Como consequência, foi a que teve um pior desempenho de receita no trimestre (-13% em base anual; amplamente em linha com a estimativa do BBI) puxado principalmente pelo canal 1P (vendas diretas ao consumidor) online – o mais exposto a eletrônicos – que caiu 32 % em base anual.

“O consumo de caixa é, em nossa opinião, o foco dos resultados – no 3T22, a AMER queimou R$ 2,1 bilhões apesar da abordagem conservadora de crescimento, acumulando R$ 8,3 bilhões de deterioração da dívida líquida nos últimos 12 meses, principalmente devido ao pior ciclo de fornecedores, aquisições e despesas financeiras”, apontou.

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Magazine Luiza: relativamente melhor, como esperado

O Credit Suisse ressaltou que o Magazine Luiza também reportou resultados fracos no 3T22, mas mais fortes que seus pares.

A empresa apresentou um leve aumento no faturamento (R$ 8,8 bilhões, com alta de 2,3% no ano), com 1P aumentando 3,5% na mesma base de comparação (sem ajuste para aquisições recentes) e 3P permanecendo estável (avanço de 0,9%).

No marketplace, as novas categorias tiveram bom desempenho. Produtos de vestuário e Netshoes foram os destaques, crescendo +45% e +22% no ano, respectivamente. O destaque negativo ficou com o SSS, pois o indicador caiu 3,6% no ano após a queda de 14,6% no mesmo trimestre do ano passado, destaca o Credit.

Do lado da rentabilidade, a empresa conseguiu repassar gradativamente a inflação para os preços, o que combinado com o aumento das receitas de serviços levou a margem bruta para 27,9% (+3,2 pontos percentuais versus o 3T21).

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Consequentemente, o Ebitda ajustado cresceu 50% para R$ 528 milhões (margem de 6,0%, +1,9p.p aa). Por fim, o lucro líquido permaneceu em território negativo, com prejuízo ajustado de R$ 146 milhões e prejuízo líquido de R$ 166 milhões.

“O Magalu reportou um resultado bem alinhado às nossas expectativas para o trimestre. Em nossa visão, considerando os números reportados pela Americanas e pela Via, o Magazine Luiza teve o resultado mais consistente do período, apresentando uma importante recomposição de margens devido ao ganho de escala do digital e melhor performance de lojas físicas”, apontou a Genial.

Como já esperado, destacou a casa de análise, o Magalu foi a única varejista a registrar crescimento nos volumes brutos de mercadoria (GMV, na sigla em inglês) líquido total, a R$ 14,15 bilhões (+2,2% no ano). Contudo, destaca, o  resultado positivo teve uma participação importante de vias inorgânicas da KaBuM!. Com as vendas da KaBuM! sendo incorporadas ao GMV de 1P neste ano, a companhia adiciona um forte volume que não está incorporado nos números do ano passado. Dessa forma, a base acaba ficando maior.

Os analistas também destacam ser importante destacar a recomposição de margem bruta da companhia. Com o repasse gradual da inflação de custos para o preço final dos produtos somado ao crescimento da receita de serviços – reflexo de uma maior rentabilidade do marketplace –, o Magalu registrou um lucro bruto de R$ 2,45 bilhões (+15,3% no ano, ante 13,7% da estimativa da Genial) e uma margem bruta de 27,9% (avanço de 7,74 pontos percentuais na base anual).

Além disso, os efeitos positivos do enxugamento de despesas (marketing e logística) começam a aparecer nesse trimestre. As despesas com vendas mostra uma redução de 0,8 ponto percentual comparada ao mesmo período de 2021, avaliou ainda a casa.

O prejuízo foi impactado pelo maior nível de despesas financeiras frente à taxas de juros mais elevadas no período, além de um impacto negativo da Luizacred explicado por um maior nível de inadimplência, avalia a XP, destacando ainda que a empresa apresentou uma leve queima de caixa no trimestre de R$ 120 milhões.

“Interessante notar que i) o Magalu vai liberar gradativamente todos os pagamentos aos vendedores por meio de sua conta digital, com cashback de 1% nas compras pelo cartão; ii) a empresa aumentou os estoques para atender a demanda sazonal da Copa do Mundo e do 4º trimestre: e iii) já implementou a sua operação de fulfillment, projeto em que os parceiros do marketplace podem armezenar seus produtos (leves e pesados) em três de seus centros de distribuição”, apontou a XP.

Para os analistas da casa, a performance de bens duráveis deve se manter pressionada frente ao cenário macro desafiador e taxas de juros mais altas, pressionando o poder de compra e apetite por financiamentos dos consumidores.

Na avaliação do BBI, ainda que relativamente melhor, o progresso do Magalu ainda é lento. Houve um leve crescimento de GMV (e receita) de 2% no 3T22, justificado principalmente pela aquisição da KabuM!, que explicou cerca de 7% do crescimento total do GMV. Mas vale ressaltar que, mesmo excluindo esse efeito, o número melhor relativo diminuiria, mas ainda manteria a Magalu um pouco acima dos pares que reportaram na noite de ontem.

“Como a discussão do fluxo de caixa ganhou destaque, Magalu foi confortavelmente o melhor desempenho entre os três, com uma ligeira deterioração na dívida líquida em comparação com perdas mais significativas dos concorrentes. Em um cenário em que o uso do caixa é visto com muito mais cuidado pelos investidores, acreditamos que esse aspecto levará a uma melhor reação relativa do Magalu”, avaliou o banco.

Via: ainda não é uma virada

O Credit reforça a avaliação de resultados fracos da Via, também impactados negativamente pela desaceleração macroeconômica que prejudicou o desempenho de praticamente todo o mercado.

O 1P caiu cerca de 11% para R$ 3,5 bilhões, enquanto o marketplace caiu 42% para R$ 1,1 bilhão, dado o foco na rentabilidade em detrimento ao crescimento. O banco suíço lembra dos dados de take rate,  ou taxas de comissão (cobradas dos comerciantes em seu marketplace na categoria de produtos que vendem), agora em 11,5%, 5,3 pontos percentuais acima do mesmo trimestre ano passado). O SSS foi positivo em 1,7%, versus queda de 13,8% no 3T21.

O fraco desempenho do faturamento levou a uma desalavancagem operacional, que reduziu o Ebitda ajustado em 29% para R$ 475 milhões (margem de 6,8%, 2,30 pontos percentuais abaixo do registrado no 3T21). Os resultados financeiros líquidos continuaram muito altos, o que acabou levando a um prejuízo,

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A companhia também sofreu com o aumento das perdas de crédito sobre a carteira ativa que atingiu 5,8% (versus 3,6% no início de 2022), em função de maiores índices de inadimplência. Do lado positivo, o desembolso de caixa relacionado a contingências trabalhistas permanece abaixo do guidance inicial.

A Genial lembra ainda que faz exatos 12 meses em que a Via assustou o mercado com o reconhecimento de uma despesa trabalhista de mais de R$ 2 bilhões sendo que, desde então, a companhia embarcou em uma verdadeira jornada de enxugar custos, despesas e reconhecer seus devidos créditos tributários – +R$ 401 milhões monetizados nesse terceiro trimestre.

“Enxergamos que, dentro de suas limitações, a Via tem caminhado para uma rentabilização de suas operações. Com uma estrutura de custos e despesas mais enxutas, a varejista mostrou mais um trimestre de forte recomposição operacional”, aponta.

Sequencialmente, as lojas físicas da varejista continuam a apresentar a melhor produtividade líquida do setor de varejo e-commerce, avalia a casa. Com um faturamento bruto de R$ 5,12 bilhões (alta de 3,7% ao ano, versus projeção de queda de 1,7% estimada pela Genial), este canal avançou 8 pontos percentuais no ano em participação no GMV líquido total da companhia.

Enquanto isso, “a fraca performance do digital é resultado de uma transição do marketplace da Via. A medida que a Via avança na comercialização de produtos de ‘cauda longa”’ [venda de uma grande variedade de itens em pequenas quantidades] e estes giram a um tíquete muito menor do que os produtos ‘core’, não esperamos ver um aumento significativo de volume de vendas de modo a compensar esse menor tíquete”, aponta a Genial.

Já o JPMorgan destacou que a empresa reportou resultados mais fracos do que o esperado no 3T22, com Ebitda ajustado  (excluindo despesas não recorrentes) em queda de 29% no ano e a desalavancagem operacional, uma vez que o ambiente desafiador para o consumo afetou o faturamento, que caiu 5% no ano.

No release, a diretoria comentou que outubro registrou tendências melhores, com crescimento em todos os canais. Ainda assim, a alta alavancagem continuou pesando nos resultados, resultando em prejuízo por ação de R$ 0,08, abaixo do prejuízo de R$ 0,06 estimado pelo JP.

O JP vê como positivo a empresa renovando o acordo com o Bradesco para emissão de cartões e operações de correspondente bancário, que antecipam R$ 350 milhões de potenciais comissões.

Na avaliação do BBI, em linha com os outros, a Via reportou resultados fracos em meio ao atual ambiente difícil para suas principais categorias. Com o objetivo de melhorar a qualidade da lucratividade, a empresa desacelerou o GMV consolidado em 8% em base anual – lojas físicas e 1P online combinados ficaram estáveis em 12 meses, mas 3P  desacelerou acentuadamente 42% em base anual, pois a empresa reduziu o tíquete médio e aumentou o valor da taxa de comissão (contra-intuitivamente, a receita 3P aumentou 6,5% em base anual, totalizando 2% das vendas consolidadas). A dívida líquida também se deteriorou em cerca de R$ 1,3 bilhão, entre o desempenho de Magalu e Americanas.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.