Americanas (AMER3): JPMorgan corta recomendação para venda, com alavancagem alta e questão sobre lojas físicas; ação cai 8,4%

Apesar de ver melhorias em potencial nas tendências operacionais à frente, alavancagem em alta e menor produtividade do físico devem pesar

Lara Rizério

Loja da Americanas (Divulgação)

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O JPMorgan reduziu as suas estimativas para a Americanas (AMER3) e rebaixou a ação de neutra para underweight (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda), enquanto o preço-alvo para o fim de 2023 foi reduzido de R$ 17 para R$ 12,50, um valor 17,6% menor em relação ao fechamento da véspera. Com isso, às vésperas do resultado (a ser divulgado na próxima quinta-feira, 10), as ações fecharam em queda de 8,44%, a R$ 13,89, nesta quarta-feira (9).

Os analistas do banco apontam que há visões de grandes mudanças com a nomeação de Sergio Rial como o novo presidente da companhia a partir de 1 de janeiro, que pode incluir uma nova equipe de gestão e impulso à execução com melhor integração de seus canais físicos e online.

Ainda assim, apesar de ver melhorias em potencial nas tendências operacionais à frente, a alta alavancagem da companhia dos últimos três anos, com uma projeção de 5,9 vezes a dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) para 2022, deve pesar nos resultados da varejista.

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“Apesar de enxergarmos potencial para melhorias nas tendências operacionais — projetamos uma margem Ebitda de longo prazo de 18% — a alta alavancagem financeira vai consumir o FCFE [fluxo de caixa livre do acionistas] até 2026 e permitir o breakeven [indicador que sinaliza o empate entre as receitas e as despesas de um negócio] do lucro líquido apenas em 2024,” apontaram os analistas do banco.

As altas despesas financeiras devem impactar o resultado mesmo com a taxa de juros começando a cair, já que a companhia precisará reforçar seu capital de giro com a antecipação de recebíveis.

“Assim, acreditamos que a empresa deve precisar reequilibrar sua estrutura de capital, especialmente porque as operações das lojas físicas – que normalmente são a principal fonte de fluxo de caixa – estão vendo tendências de queda de produtividade de vendas com desempenho errático de novas unidades, enquanto potenciais iniciativas de turnaround da nova gestão pode demorar para dar frutos positivos”, avaliam Joseph Giordano, Nicolas Larrain e Guilherme Vilela, analistas que assinam o relatório.

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Os analistas apontam que a produtividade da área de vendas nas lojas físicas tem diminuído constantemente ao longo do tempo, atualmente ficando cerca de 13% abaixo dos níveis de 2012 e 9% menor do que os níveis de 2019 em termos nominais.

“Na nossa visão, isso (1) reflete a migração de parte do mix de vendas para o online e (2) sugere um modelo datado que não está conseguindo captar o tráfego de pedestres. Além disso, (3) a nova área é menos produtiva do que no passado, e nossa análise mostra que a produtividade das novas lojas está 10% abaixo dos níveis observados em 2012”, apontam.

Para eles, a queima de caixa da companhia exige ação, mas o gerenciamento de passivos provavelmente dará tempo para que esses movimentos aconteçam. A Americanas levantou R$ 6 bilhões de dívida, aumentando a alavancagem, mas oferecendo a liquidez necessária para atender confortavelmente os vencimentos de 2023, “deixando céu limpo até seu próximo grande vencimento em 2025”, avaliam.

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“Assim, embora a queima de caixa seja uma grande preocupação, o pagamento da dívida de curto prazo não é, dando à Americanas tempo para reforçar sua estrutura de capital enquanto a nova administração repensa sua estratégia operacional e fortalece a execução”, apontam os analistas.

Cabe ressaltar que no fim do mês passado as ações da companhia já tinham caído forte, com a projeção de resultados fracos para o terceiro trimestre. 

Das empresas de e-commerce acompanhadas pela XP, Americanas é que deve ter o maior prejuízo no terceiro trimestre. De acordo com a projeção da casa, a última linha do balanço da varejista deve ficar negativa em R$ 344 milhões. No segundo trimestre, a empresa já tinha registrado prejuízo líquido de R$ 6 milhões.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.