As 5 maiores baixas e as 5 maiores altas do Ibovespa no mês de novembro

Hapvida e empresas ligadas ao consumo doméstico tiveram maior baixa do período, enquanto mineradoras e siderúrgicas foram destaque de alta do mês

Lara Rizério

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De um lado, ações de empresas ligadas à economia doméstica. De outro, ativos de empresas exportadoras, especificamente de mineração e siderurgia. Os papéis desses dois grupos tiveram movimentos opostos no Ibovespa em novembro, com o primeiro registrando expressivas quedas, enquanto o segundo despontou na Bolsa.

Enquanto o Ibovespa registrou queda de 3% no período, as ações de empresas ligadas ao consumo doméstico tiveram perdas bem maiores, com os investidores mais temorosos com o fiscal após as eleições. Já entre as maiores altas, estiveram as mineradoras e siderúrgicas, ainda com um call de reabertura da economia e medidas da China que impulsionaram a commodity no mês após um outubro difícil – porém, ainda há muito ceticismo sobre qual será o ritmo de  flexibilização das restrições anti-Covid do gigante asiático.

Confira abaixo os maiores destaques de alta e baixa do Ibovespa no mês

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Maiores baixas

Hapvida: menor otimismo após resultado

As ações da Hapvida registraram baixa de 33,33%, a R$ 5,20, no mês de novembro, marcado por uma visão mais negativa para o setor de saúde em geral, intensificado após um terceiro trimestre de 2022 (3T22) considerado negativo para a companhia, que recém combinou os seus negócios com a NotreDame Intermédica.

A companhia atingiu um lucro líquido de R$ 35,2 milhões no terceiro trimestre de 2022 (3T22), queda de 19,5% na comparação anual.  Desde a publicação dos números, na noite de 9 de novembro, a baixa é de 30% para os ativos HAPV3, com uma desvalorização de 59% desde as máximas em janeiro.

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Em relatório recente chamado “Haverá calmaria depois da tempestade?”, os analistas do Itaú BBA discutiram a visão da empresa ter apresentado margem fraca não recorrente no 3T22. Para eles, a margem foi significativamente afetada por um ajuste retroativo devido a aumentos salariais acima do esperado. Além disso, apontaram os ventos contrários enfrentados pelo setor de saúde no Brasil e alguns cenários para tíquete médio e custos médicos.

“Nossa principal conclusão é que, em meio a uma tempestade provocada pelo fluxo de notícias negativas sobre os participantes dos planos de saúde, o modelo integrado verticalmente se destaca como o mais sustentável. Essa conclusão reforça nossa visão positiva sobre o modelo de negócios da Hapvida”, apontam os analistas. Porém, adotaram premissas muito mais conservadoras para crescimento orgânico e recuperação do índice de sinistralidade (MLR) em 2023, revisando sua estimativa de lucro líquido ajustado em 27%.

Em meados de novembro, os analistas da XP atualizaram as suas estimativas para a companhia, cortando o preço-alvo de R$ 19 para R$ 7,90 ao final de 2023 (ainda um upside de 52% frente o fechamento de terça), mas mantendo a recomendação de compra.

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Os analistas da casa têm uma visão cautelosamente positiva para a Hapvida, uma vez que esperam um forte – todavia menor que o histórico – crescimento de receita nos próximos 5 anos, com mais de 800 mil novas vidas decorrentes de sinergias e mais 3,2% de crescimento anual de fontes orgânicas.

Também no radar da companhia no mês, esteve a renúncia de Irlau Machado Filho ao cargo de co-CEO e membro do conselho de administração da empresa, bem como ao cargo de diretor-presidente e membro do conselho de administração da BCBF, com efeitos a partir de 21 de janeiro de 2023.  Até esta data, Irlau continuará no exercício de suas funções de forma a colaborar no processo de transição. As funções executivas exercidas por Irlau passam a ser exercidas pelo Jorge Pinheiro, que será o único CEO da companhia.

O Itaú BBA avalia que, como a empresa já havia começado a unificar a equipe de gestão, não esperava que a estrutura de Co-CEO durasse muito mais tempo, mas os termos anunciados não atenderam plenamente às expectativas do banco.

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Por um lado, o fim da estrutura de co-CEO deve levar a uma maior eficiência – com menos redundância de cargos e predominância de uma cultura – e eliminar o overhang (excesso de ações no mercado, pressionando os preços) que os analistas avaliam que estava impactando o preço dos ativos em meio à visão antecipada sobre a saída de um dos CEOs.

“Por outro lado, os prazos de saída foram um pouco diferentes do que prevíamos. Como Machado é um executivo bem conceituado, iríamos preferir vê-lo ainda desempenhando um papel na empresa como membro do conselho. Adicionalmente, esperamos entender melhor o risco de Machado se juntar a um concorrente, visto que o fato relevante não menciona nenhuma cláusula de não concorrência”, avalia o banco.

Ações domésticas entre as maiores baixas do período

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Na sequência, as ações voltadas à economia doméstica tiveram as maiores baixas do período, com empresas de e-commerce, educacionais e construtoras com fortes baixas em novembro.

Esses eram alguns setores destacados como as grandes apostas na Bolsa em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições para presidente da República, que se concretizou em 30 de outubro de 2022. A expectativa de prorrogação do Auxílio Brasil, estimulando o consumo, além de uma turbinada nos programas sociais de financiamento estudantil e de moradias, durante o próximo governo do petista acabou por guiar as projeções mais positivas às vésperas do pleito.

Contudo, no acumulado de novembro (que exclui a reação pós-eleição, do dia 31 de outubro), as ações de Americanas (AMER3) apareceram entre as maiores baixas, com queda de 32%, seguida pela educacional Cogna (COGN3), com perdas de 31,9%. Via (VIIA3) e Positivo (POSI3) completaram a lista das cinco maiores baixas, com quedas respectivas de cerca de 30%.

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O que explica esse desempenho negativo é uma conjunção de fatores, principalmente associado ao cenário macroeconômico, mas também por incertezas mais setoriais.

Olhando para o cenário macro, os mercados foram direcionados pelo risco fiscal no mês, tanto com declarações de Lula que desagradaram ao indicarem menor responsabilidade projetando alta dos gastos públicos quanto pela apresentação da PEC de Transição que deixou de fora do teto de gastos R$ 198 bilhões (ainda que sujeita a negociações). Os rumores sobre quais serão os nomes da equipe econômica também geram turbulência no mercado.

Se a inclinação por mais gastos, a princípio, poderia indicar maior consumo, o que contribuiria para as ações das empresas domésticas, também traz mais preocupações com o fiscal, levando a um impacto na curva de juros futuros, com visão de taxas mais altas para conter a inflação, afetando assim as ações, principalmente as de crescimento.

Com o risco fiscal em voga, analistas de mercado passaram a revisar as suas projeções para os juros neste ano e no ano que vem, vendo uma desaceleração nas quedas dos juros ante projeções anteriores. Conforme apontou o relatório Focus da última segunda-feira, a expectativa para a taxa de juros básica (Selic) continuou em 13,75% para este ano e, para 2023, seguiu em 11,50%, mas para 2024, foi elevada de 8,00% para 8,25%, após 19 semanas de estabilidade.

Empresas de varejo e de construção civil tendem a ser negativamente afetadas por juros mais altos que, no fim do dia, tendem a desestimular o consumo. Isso porque a taxa de financiamento mais alta tende a pesar mais no bolso dos clientes, que passam a evitar gastar quando possível. O mesmo acontece com as educacionais que, com mais restrições orçamentárias dos alunos, também acabam sendo impactadas.

Mas, além disso, as empresas sofreram com a falta de sinalização sobre os programas do governo eleito durante esse mês que passou, em um novembro também marcado pela reta final da temporada de resultados, que trouxe com ela as expectativas das empresas para os próximos quatro anos.

Entre as educacionais, Roberto Valério, CEO da Cogna (COGN3) também mostrou cautela sobre os programas do governo eleito. “A quantidade de informações é muito limitada. Lula falou diversas vezes sobre investimento em educação e retomada do FIES. Recebemos a notícia de maneira positiva porque o mercado precisa, há muitos brasileiros que gostariam de estudar e não tem condições, mas temos pouca informação sobre o tamanho do programa e as condições”, disse o executivo, em entrevista ao InfoMoney.

Eduardo Parente, CEO da Yduqs (YDUQ3), também mostrou prudência ao falar sobre o programa em teleconferência com analistas após o resultado. “Eu não sei nada além de vocês, sabemos que o presidente eleito tem dado sinais nesta direção [retomada do Fies], o que seria bastante saudável. Seria uma injeção de receita muito grande, segundo nossas contas preliminares, mas ainda não há como estimar isso de fato”, disse.

Já as varejistas, notoriamente as de e-commerce, ainda que registrem sessões de forte volatilidade, também enfrentaram uma temporada do terceiro trimestre de resultados e, posteriormente, uma Black Friday pouco animadoras. Em relatório, a XP destacou que o macro desafiador impactou os resultados do setor em geral entre julho e setembro, sendo o principal desafio para as empresas de e-commerce por conta da redução do tíquete médio e queda de volumes.

O Bradesco BBI também apontou que as três principais empresas de e-commerce listadas na B3 – Americanas, Via e Magalu – divulgaram dados fracos de forma geral, com os números refletindo a alta exposição das empresas a categorias cíclicas que dependem de taxas de juros, crédito e inflação – variáveis que carecem de indicações de que podem melhorar em breve.

Sobre a Black Friday, dados da Confi Neotrust, em parceria com a empresa de inteligência de dados ClearSale, revelaram recuo anual de 34,2% no faturamento do varejo online de meia-noite de quinta-feira até sexta-feira às 19 horas, para cerca de R$ 3,1 bilhões. No sábado, o desempenho melhorou, mas ainda assim ficou 4,3% abaixo do faturamento visto um ano antes, movimentando cerca de R$ 1,2 bilhão, segundo dados da Neotrust com base nas vendas do dia inteiro.

A equipe do Safra afirmou em comentário a clientes não acreditar “que alguém esperasse que a Black Friday mudasse drasticamente a tendência de um ano globalmente difícil para o e-commerce em termos de vendas”.

Os analistas disseram que as ações do setor devem continuar sendo mais impactadas pela “incerteza em relação ao cenário macroeconômico e seu impacto nas taxas de juros (e consequentemente no custo de capital) do que pelo desempenho operacional de curto prazo.”

Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos, também destaca que as ações dessas empresas no geral sofreram muito com alta de juros. No caso de CVC CVCB3, sexta maior queda do índice no período, também houve piora do crédito, além da alta de casos de Covid, pontua. “Mas, no geral, o case que levou à queda foi de aumento dos juros futuros, o que afeta o valuation das empresas, sendo que algumas são alavancadas, como é o caso de Via e Cogna”, aponta o especialista.

Cima avalia que, na lista das maiores perdas do mês, talvez a surpresa seja a Positivo (POSI3), “que vem num momentum operacional diferente, vai entregar o que prometeu para o ano e um guidance elevado. O mercado penaliza a empresa pelo ciclo, com projeção de menor atividade econômica que já antecipa queda na receita da empresa. Isso, daqui para frente, também pode levar a uma oportunidade de compra da ação”, avalia Cima.

Confira as maiores baixas do Ibovespa em novembro:

Empresa Ticker Cotação Variação
Hapvida (HAPV3) R$ 5,20 -33,33%
Americanas (AMER3) R$ 10,56 -32,05%
Cogna (COGN3) R$ 2,24 -31,91%
Via (VIIA3) R$ 2,18 -30,35%
Positivo (POSI3) R$ 8,57 -29,93%

Maiores altas

Mineradoras e siderúrgicas são destaque

As maiores disparadas do mês do benchmark da Bolsa brasileira foram de empresas ligadas ao setor de mineração e siderurgia. Gerdau (GGBR4, R$ 31,57, +31,75%), CSN Mineração (CMIN3, R$ 3,87, +31,09%), CSN (CSNA3, R$ 14,52, +28,34%), Vale (VALE3, R$ 85,71, +27,68%) e Metalúrgica Gerdau (GOAU4, R$ 13,69, +26,26%) formam o ranking dos destaques positivos do Ibovespa, todas com ganhos acima de 20%.

Durante o mês, houve a temporada de resultados, que não foi muito positiva para grande parte do setor. Contudo, Gerdau, de forma relativa, animou. Isso, em conjunto ao anúncio de dividendos (cabe ressaltar que CSN Mineração também divulgou provento) contribuiu para as altas das duas empresas.

Contudo, os grandes catalisadores do mês foram os rumores e reviravoltas sobre a possível reabertura da China, com notícias de flexibilização dos lockdowns contra a Covid-19, além de medidas de apoio imobiliário do país que acabaram impulsionando os ativos e as commodities. O minério de ferro de Dalian subiu mais de 25% em novembro, após uma liquidação em outubro com temores de fraqueza contínua na demanda da China devido às restrições da Covid-19 e uma crise de liquidez no setor imobiliário doméstico.

“As maiores altas do mês estiveram atreladas ao IMAT,  olhando para um call de reabertura da China”, avalia Cima, destacando ainda que a Gerdau está começa tese de descarbonização, o que também pode ser positivo para a empresa.

Porém, ainda há muitas incertezas sobre o cenário econômico do gigante asiático. Bruno Magalhães, CIO da gestora da Sterna Capital, destaca ter cautela com esse maior otimismo recente sobre a China, com um cenário de casos de Covid-19 aumentando.

O noticiário econômico também não é tão positivo. Cabe destacar que as atividades de manufatura e serviços da China encolheram ainda mais em novembro, para mínimas de sete meses, segundo dados oficiais, afetadas pelas rígidas restrições da Covid-19 e pelo aumento de infecções que, segundo analistas, prejudicarão a economia até 2023.

Além disso, os recentes protestos também estão no radar da empresa. Pessoas no centro industrial chinês de Guangzhou entraram em confronto com a polícia com roupas de proteção na noite de terça-feira, o mais recente de uma série de protestos que aumentaram no fim de semana devido aos rígidos lockdowns. O país registrou 37.828 novas infecções por Covid-19 em 29 de novembro, das quais 4.288 foram sintomáticas e 33.540 assintomáticas, informou a Comissão Nacional de Saúde na quarta-feira.

O sentimento do mercado continua ligeiramente impulsionado pelas recentes medidas do governo chinês para apoiar o setor imobiliário do país, disse o ANZ em uma nota de pesquisa.

Além disso, após os protestos no fim de semana, a Comissão Nacional de Saúde da China disse que restrições excessivas à Covid-19 devem ser evitadas, mesmo quando o vírus se espalha, acrescentou o ANZ.

Confira as maiores altas do Ibovespa em novembro:

Empresa Ticker Cotação Variação
Gerdau (GGBR4) R$ 31,57 +31,75%
CSN Mineração (CMIN3) R$ 3,87 +31,09%
CSN (CSNA3) R$ 14,52 +28,34%
Vale (VALE3) R$ 85,71 +27,68%
Metalúrgica Gerdau (GOAU4) R$ 13,69 +26,26%

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.