Ibovespa sobe 1,42% no dia, mas acumula queda de 3% no mês, enquanto dólar vai a R$ 5,20: o que esperar para dezembro?

Bolsa subiu nesta quarta amparada por otimismo no exterior, mas riscos fiscais levaram à queda do Ibovespa em novembro e devem guiar último mês do ano

Mitchel Diniz

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Volatilidade se tornou o “novo normal” da Bolsa brasileira em novembro e, no último pregão do mês, a situação não foi diferente. Nesta quarta-feira (30), as atenções dos investidores, voltadas principalmente ao noticiário político nacional, levaram em conta as movimentações do cenário externo.

O evento mais aguardado do dia foi a fala de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos. O discurso do chairman foi considerado dovish (brando) pelos agentes de mercado, dando a entender que o ritmo de alta de juros no país deve desacelerar nos próximos meses.

As Bolsas americanas, que oscilaram entre perdas e ganhos ao longo do dia, avançaram com força no terreno positivo e fecharam em alta. Por lá, Dow Jones subiu 2,18%, a 34.589 pontos, S&P 500 teve avanço de 3,09%, aos 4.080 pontos e o
Nasdaq fechou em alta de 4,41%, aos 11.468 pontos.

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A notícia que fez as Bolsas ganharem tração lá fora, de início teve impacto limitado aqui no Brasil. Isso porque o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, pareceu pouco inclinado a ceder em relação aos valores protocolados na chamada PEC da Transição. Lula se reuniu na tarde de hoje com Arthur Lira, vice-presidente da Câmara dos Deputados, e o Ibovespa foi para o terreno negativo ao final do encontro.

“Lula quer manter números que inciou na PEC para cumprir o que ele prometeu na campanha. Para isso, ele vai ter que trabalhar com os valores exorbitantes do texto, algo próximo de R$ 198 bilhões. É um número bem fora da realidade e que o mercado não trabalha”, explicou Luiz Souza, especialista em renda variável da SVN Investimentos.

Mas, nas últimas horas de negociações, o Ibovespa deu uma nova guinada. As perspectivas mais positivas para a economia americana reduziu os temores de uma recessão, o que ajudou no desempenho das empresas de commodities, as de maior peso na Bolsa brasileira.

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O Ibovespa encerrou o dia em alta de 1,42%, aos 112.486 pontos, na máxima do dia. O giro financeiro do pregão foi de R$ 39,9 bilhões. Contudo, no primeiro mês “cheio” após o resultado das eleições presidenciais, o índice acumulou queda de 3,06%. No pior momento de novembro, o Ibovespa quase perdeu os 107 mil pontos. Na melhor fase, a primeira semana após a vitória de Lula, ultrapassou os 120 mil.

“Os estrangeiros puseram muito mais expectativa em cima do governo do PT do que o mercado interno, com muito mais dúvida”, explica Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.

Velloni lembra que incertezas quanto à futura equipe econômica de Lula e os riscos fiscais também fizeram com que o dólar chegasse próximo aos R$ 5,40 em novembro. No entanto, a moeda americana encerrou o pregão de hoje valendo R$ 5,201 na compra e R$ 5,202 na venda, com queda de 1,63%. No mês, o dólar comercial acumulou alta de 0,68%.

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O mês de dezembro também costuma ser um período em que os investidores estrangeiros levam capital de volta para seus países de origem, o que pode acabar sendo um vetor de alta para o dólar.

Vai ter rali de final de ano?

O esperado rali de final de ano tende a ser afetado pelos riscos políticos e fiscais que existem pela frente.

“A tendência é que tenhamos uma continuidade dessa alta volatilidade do mercado, com o início das nomeações dos ministérios, principalmente a indicação para o Ministério da Fazenda”, diz Daniel Meireles, sócio da HCI Invest.

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“Tendo um nome com um perfil pró-mercado, poderemos ver uma forte recuperação do Ibovespa. Por outro lado, se for um nome que não agrade tanto, por um perfil ideológico, os investidores tendem a diminuir seus riscos, podendo afetar a performance da Bolsa brasileira”, afirma Meireles.

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, acredita que dezembro tende a ser um mês positivo, tanto pelo viés local quanto o internacional.

“Nós já vimos algum nível de arrefecimento inflacionário nos últimos indicadores macroeconômicos dos Estados Unidos e também algum nível de arrefecimento no mercado de trabalho americano, o que traz perspectiva positiva para a condução da política monetária internacional”, explica.

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“Com base nisso, os investidores ficam um pouco mais propensos a migrar para ativos que têm um potencial de retorno mais elevado – e que também tem um risco mais elevado”, afirma Argenta.

Ainda segundo a economista, as negociações tendem ser destravadas uma vez que forem divulgados os nomes dos ministros do próximo governo.

“O presidente eleito tem desagradado o mercado pela demora em anunciar o futuro ministro da Fazenda, trazendo grande ansiedade aos investidores”, afirma Marcelo Boragini, sócio da Davos investimentos e especialista em renda variável.

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“A PEC também decepcionou o mercado por elevar demasiadamente o risco fiscal do país”. Segundo Boragini, se o valor de quase R$ 200 bilhões que ficou fora do teto dos gastos para cobrir promessas de campanha de Lula for reduzido, há chances de um rali na Bolsa.

“Se o valor [fora do teto] for reduzido a números que sejam condizentes com o que o mercado espera e se o nome do futuro ministro agradar o mercado, creio que o rali possa acontecer. Mas a junção desses dois eventos é primordial para isso”, conclui.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados