Cogna (COGN3) tem prejuízo maior com impacto dos juros; Kroton registra primeiro crescimento de receita após 14 trimestres

Em entrevista ao InfoMoney, Roberto Valério, CEO da Cogna, destacou ainda crescimento de receita da Vasta e indicações sobre FIES

Lara Rizério

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O grupo de educação Cogna (COGN3), dono da Vasta e da Kroton, registrou um prejuízo líquido ajustado de R$ 147,47 milhões no terceiro trimestre de 2022 (3T22), um aumento de 49,3% ante o prejuízo ajustado de R$ 98,75 milhões registrado no mesmo período de 2021. A companhia divulgou seus números nesta quinta-feira (11). Em termos não ajustados, o prejuízo líquido foi de R$ 211,3 milhões, alta de 39% na base anual. O resultado foi pressionado pelo aumento de despesas financeiras com a alta da Selic.

No período, o resultado financeiro ficou negativo em R$ 244,8 milhões, ante resultado negativo de R$ 182,6 milhões no 3T21. Entre setembro de 2021 e setembro de 2022, a Selic foi de 6,25% a 13,75% ao ano.

No trimestre, a receita líquida foi a R$ 1,064 bilhão, alta de 4,1% na comparação anual.

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Enquanto isso, a companhia registrou uma melhora operacional, com o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) recorrente foi a R$ 231,7 milhões, alta anual de 15,7%, o que levou a uma margem Ebitda (relação entre Ebitda e receita) recorrente de 21,8%, avanço de 2,2 pontos percentuais na comparação anual.

O consenso Refinitiv projetava um prejuízo de R$ 170,35  milhões, impactado por despesas financeiras, Ebitda de R$ 216,09 milhões e receita de R$ 1,026 bilhão no trimestre.

Um dos destaques do resultado, segundo apontou Roberto Valério, CEO da Cogna, em entrevista ao InfoMoney, foi a virada na Kroton, braço da Cogna de ensino superior, que inclusive foi projetada pelo executivo no 2T22 para este balanço.

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“A gente está muito feliz de ter antecipado essa expectativa [de crescimento da receita] da Kroton. No nosso modelo, lá atrás, esse crescimento vinha em 2023. Conseguimos antecipar porque nossas safras de captação e rematrícula foram muito positivas, crescemos nossa base de alunos a cinco trimestres, então é normal que com uma base crescente a receita vire”, apontou o executivo.

A receita líquida da Kroton cresceu 11,7% no 3T22 versus 3T21, alcançando R$ 765,3 milhões, sendo o primeiro crescimento nesta linha do balanço após 14 trimestres de queda. No acumulado dos nove meses do ano, a divisão de ensino superior passou a ter uma receita líquida positiva (+0,5%) em comparação ao mesmo período do ano passado, totalizando R$ 2,3941 bilhões.

Valério atribui a virada nas operações da Kroton à estratégia de focar no marketing digital, com mais assertividade, o crescimento do número de polos de educação, levando a uma maior capilaridade em um cenário de ampliação dos cursos à distância (tanto os híbridos quando os 100% digitais), entre outros fatores.

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“Vejo [o cenário] com otimismo, a parte mais difícil, esses quatorze trimestres em que a Kroton ficou sem crescimento de receita, ficou para trás. Mas, mesmo com perda de receita, a gente já tinha registrado melhora de margem e mais geração de caixa. (…) A Kroton era uma empresa saudável sem crescimento e agora é saudável com crescimento, acho que o mercado vai começar a olhar um pouco diferente para a gente. Havia um olhar de dúvida e há questionamentos sobre o que fizemos de diferente agora. Não fizemos nada de diferente, mas há uma demora para que resultado apareça e finalmente apareceu”, avalia o executivo.

Dentro de Kroton, Valério ressalta ainda o que chamou de “pequenas joias”, como a KrotonMED, cuja receita líquida  alcançou R$ 401,1 milhões no acumulado do ano, ou 83,2% do guidance de Receita Líquida para 2022 (R$ 401,1 milhões versus 482,0 milhões).

No próximo trimestre, segundo destacou a companhia no release de resultados, a Kroton também apresentará crescimento de receita, ainda que com uma taxa inferior à obtida no 3T22 devido ao alto reconhecimento de FIES realizado no 4T21. “Reforçamos que o acúmulo de safras crescentes de receita oferecerá variação positiva de ROL [receita operacional líquida) para o 2S22 e para o resultado consolidado do ano”, apontou.

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Ao InfoMoney, Valério também destacou o resultado da Vasta, de educação básica, que superou o Valor de Contrato Anual (Annual Contract Value – ACV) de R$ 1 bilhão, atingindo o guidance apresentado ao mercado em 2021. “Para 2023 as perspectivas seguem positivas e anunciamos o novo guidance para o ciclo de 2023, com perspectiva de crescimento de 20% versus ACV realizado”, destacou a Cogna.

Valério também ressaltou que a inadimplência tem melhorado nos últimos dois anos devido a várias iniciativas, com mais restrição de negociação de dívida na rematrícula, além da criação de processos de validação de matrícula que trazem alunos mais adimplentes. “Há uma pressão de inadimplência em vários setores, mas não sentimos ainda. No nosso caso, tínhamos bastante oportunidade e por isso os números estão melhorando”, avalia.

Endividamento

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A linha de despesas  financeiras cresceu 47,7% entre 3T21 e 3T22, motivado pelo aumento da taxa anual média de juros básico (Selic), que variou de 6,25% para 13,75% em 12 meses, afetando o passivo exigível da companhia, uma vez que o custo médio das dívidas é atualizado pela taxa Selic.

Contudo, Valério ressalta que nos últimos trimestres a Cogna está mais confiante de que as dúvidas do mercado com relação à alavancagem tenham ficado para trás. Ao final do trimestre a companhia obteve uma alavancagem (Dívida Líquida/ Ebitda ajustado) de 2,15 vezes, estável versus 2T22 (2,09 vezes).

Com o objetivo de reduzir as despesas financeiras, a companhia implementou um plano de liability management para redução do carrego da dívida: (i) recompra de R$ 347 milhões em dívidas negociadas abaixo do par no mercado secundário (impacto positivo estimado em R$ 15 milhões); (ii) emissão, em agosto, de R$ 500 milhões em CRI em três séries (5, 7 e 10 anos) com custo de carrego abaixo da última dívida captada pela companhia e um prazo médio de 88 meses e; (iii) Rolagem de R$ 500 milhões da COGN16 em 28 meses e redução de spread em 80 pontos-base.

FIES de volta com Lula?

As ações de educação tiveram um rali nos últimos dias antes do segundo turno e um pouco depois em meio às indicações do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de que gostaria de retomar o FIES.

Porém, Valério mostra cautela sobre o tema. “A quantidade de informações é muito limitada. Lula falou diversas vezes sobre investimento em educação e retomada do FIES. Recebemos a notícia de maneira positiva porque o mercado precisa, há muitos brasileiros que gostariam de estudar e não tem condições, mas temos pouca informação sobre o tamanho do programa e as condições”, avalia o executivo, apontando que o rali recente do setor pode ser visto mais pela oportunidade no mercado de ativos do que por um fato concreto.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.