Entre “fundo do poço” e sinais de recuperação, o que esperar da temporada de resultados do 2º trimestre?

Impacto da pandemia foi visto mais fortemente no período entre abril e junho - mas isso não quer dizer que o cenário é ruim para todas as empresas da bolsa

Lara Rizério

(Getty Images)

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SÃO PAULO – O primeiro trimestre de 2020 trouxe apenas os primeiros efeitos do coronavírus para as empresas brasileiras, uma vez que as medidas de isolamento social começaram a ser adotadas na segunda quinzena de março.

Assim, as atenções dos investidores ficaram voltadas principalmente para os efeitos iniciais e também sobre o que as companhias pensavam em fazer para conter o impacto da pandemia em seus números.

Já a temporada de balanços do segundo trimestre, com início em 21 de julho, trará um cenário mais claro de como foi o desempenho das companhias quando a economia chegou ao fundo do poço, em abril, e também como está se dando a recuperação (ainda que lenta) nos meses seguintes entre os diferentes setores que formam parte da B3.

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Cabe ressaltar que, apesar dos efeitos do coronavírus serem maiores nessa temporada, alguns segmentos podem ter sentido o maior impacto no exercício anterior. Os quatro maiores bancos listados na Bolsa brasileira – e que compõem o setor com maior peso do Ibovespa – fizeram provisões contra perdas de R$ 26,1 bilhões no primeiro trimestre de 2020, alta de 85% na comparação do ano passado, o que levou a uma forte queda nos lucros.

Isso não deve se repetir no segundo trimestre, principalmente para o Itaú Unibanco (ITUB4), que mais provisionou; já o Santander Brasil (SANB11), que foi o menos conservador nos primeiros três meses do ano, pode ser o mais impactado agora. Contudo, a cautela no setor deve continuar.

Também com grande participação no índice, empresas de commodities devem registrar números mistos no período: enquanto a Vale (VALE3) pode se beneficiar dos preços mais elevados do minério, o que pode compensar a produção impactada pelo coronavírus, as siderúrgicas devem registrar mais um trimestre difícil. Sobre esse último setor, vale ficar de olho nos dados do final do trimestre, que podem apontar para recuperação.

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Já a Petrobras (PETR3;PETR4), após o prejuízo histórico de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre com a forte queda do petróleo, pode ter recuperação também com a alta da commodity entre abril e junho, enquanto mantém as tendências operacionais positivas. Contudo, vale destacar, na média do trimestre, o preço do petróleo teve queda, o que pode afetar a receita da companhia, conforme destaca o Itaú BBA, apesar da desvalorização do real.

Frigoríficos, mesmo com as dificuldades com os fechamentos das plantas que ganharam destaque no noticiário durante todo o período, devem se beneficiar com a alta demanda no exterior. Os analistas destacando possíveis resultados históricos de Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3).

Também com resultados positivos, ainda que impactados pelos fechamentos de lojas, estão as empresas do varejo com grande participação no e-commerce, caso de Via Varejo (VVAR3), B2W (BTOW3) e Magazine Luiza (MGLU3).

Por outro lado, varejistas de moda e shoppings devem ser fortemente impactados pela mudança no mix de consumo durante a pandemia e o fechamento de lojas. Assim, os investidores estarão de olho principalmente nos dados do final do período, quando houve flexibilização das medidas de isolamento social em diversas regiões do país.

As varejistas ligadas ao consumo básico, caso de Carrefour Brasil (CRFB3), Pão de Açúcar (PCAR3) e a farmacêutica RD (RADL3), sinônimos de resiliência durante o pico da pandemia do coronavírus, devem sofrer pressão de margens no período, ainda que as suas vendas aumentem (como é o caso do setor de supermercados).

Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), muito impactadas por conta da quase paralisação de suas operações no pico da pandemia e que tiveram prejuízos bilionários no primeiro trimestre principalmente por conta do câmbio, também vão ser monitoradas de perto pelo mercado.

Vale ressaltar que, logo no começo da temporada, houve uma surpresa bastante positiva com a WEG (WEGE3), que divulgou seus números na quarta (22) antes da abertura do mercado e viu as suas ações subirem 13,89% no pregão pós-resultado (para conferir a análise completa, clique aqui), indicando que podem haver outras oportunidades no radar em meio à divulgação dos balanços.

Confira as perspectivas de analistas sobre os resultados do segundo trimestre para os principais setores da Bolsa:

Fundo do poço já passou? Não para todos os bancos

Para o UBS, o primeiro trimestre de 2020 marcou o pico de provisionamento dos grandes bancos. Já na avaliação do Bradesco BBI, após o alto nível de provisões por conta da perspectiva de aumento da inadimplência por conta da pandemia do coronavírus, o Itaú (ITUB4) deve provisionar menos no segundo trimestre, enquanto o Santander Brasil (SANB11) – que foi o menos conservador entre os grandes bancos – deve  registrar o maior aumento sequencial.

Segundo avaliações do BBI, para o Itaú, as despesas de provisionamento devem ficar próximas de R$ 8,0 bilhões (ante R$ 10,4 bilhões) e implicando uma cobertura ainda maior no segundo trimestre devido à menor inadimplência. O lucro líquido deve ficar próximo de R$ 4,1 bilhões, um pouco melhor que os R$ 3,9 bilhões registrados no primeiro trimestre. Já para o Santander Brasil, depois de ter sido menos conservador no exercício passado, o custo do risco deve passar de R$ 3,4 bilhões para R$ 5,0 bilhões – R$ 5,5 bilhões. Isso deve se traduzir em lucro líquido de R$ 2,0 bilhões e R$ 2,5 bilhões, ante R$ 3,9 bilhões no trimestre anterior, avaliam.

Para o Banco do Brasil (BBAS3), as despesas com provisões devem ficar estáveis no trimestre, perto de R$ 5,5 bilhões registrados no primeiro trimestre. A expectativa é de que o lucro líquido deva ficar entre o número registrado no primeiro trimestre, de R$ 3,4 bilhões, e R$ 4,0 bilhões.

“Em nossa opinião, a abordagem geralmente conservadora observada durante o segundo trimestre deve ser bem-vista pelo mercado, pois cria condições para uma recuperação mais rápida dos lucros no final de 2020 e no início de 2021. O destaque negativo da próxima temporada de ganhos deve ser a tendência para certas linhas de receita, especialmente aquelas relacionadas a tarifas. Dadas as avaliações baratas, tenderíamos a ver o segundo trimestre como um catalisador positivo para as ações”, avaliam os analistas do BBI.

O UBS avalia que tanto Bradesco (BBDC3;BBDC4) quanto Itaú devam ter uma redução nas suas provisões contra perdas durante o segundo trimestre na comparação com os primeiros três meses deste ano, apesar da forte queda do PIB.

“No entanto, é provável que a rentabilidade dos bancos permaneça afetada por altos níveis de encargos de provisão. Como conseqüência das incertezas macroeconômicas, não acreditamos que os bancos fornecerão um guidance detalhado para o ano; no entanto, pensamos que a gestão dos bancos deve indicar nas teleconferências que o pior em termos de custo de risco ocorrerá no primeiro semestre, não sendo esperados aumentos relevantes nessa relação durante a segunda metade do ano”, avaliam os analistas do banco suíço.

Boas notícias para frigoríficos – e não tanto para a Ambev

Apesar do forte impacto do coronavírus em muitas de suas operações, com fechamento de unidades e suspensão pontuais de exportações para alguns países , a projeção é positiva para o setor de frigoríficos – mas com os analistas apontando algumas preferências no setor.

O Credit Suisse é um deles. “Há coisas na vida que nos deixam de boca aberta – e o resultado da Marfrig (MRFG3) no segundo trimestre é provavelmente um deles”. Essa frase resume a grande expectativa que Victor Saragiotto e Felipe Vieira, analistas do banco suíço, possuem para o resultado do frigorífico, a ser divulgado no dia 13 de agosto.

A expectativa é de um aumento de 44% na receita e lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 3,3 bilhões, crescimento de 194% na mesma base de comparação, representando uma relação entre Ebitda e receita líquida (margem Ebitda) de 18,5%.

Com a expectativa de um resultado mais forte no segundo trimestre, o Credit Suisse revisou a projeção de Marfrig para o ano. O Ebitda deve atingir R$ 7,457 bilhões, o maior da história. Um dos motivos para o otimismo é a desvalorização do real, que impulsiona o resultado das operações internacionais, e o menor preço de rebanho.

Para o Morgan Stanley, os grandes beneficiários serão aqueles com exposição ao mercado de carne bovina nos EUA, embora as exportações para a China também continuem fortes. Os analistas projetam um trimestre bastante forte para a JBS (JBSS3) e com uma projeção de melhora nos números na comparação trimestral. Para a BRF (BRFS3), a expectativa é de números sólidos, mas já com alguns sinais de desaceleração e com maior cautela com as perspectivas de exportação de frango após o segundo trimestre.

“Com relação à Minerva (BEEF3), também projetamos um trimestre muito forte, mas sem grandes surpresas e, portanto, achamos que os ativos da JBS parecem mais atrativos nesta temporada (particularmente considerando que os preços do gado no Brasil podem permanecer mais altos num futuro próximo)”, apontam os analistas, destacando que os ativos JBBS3 têm registrado um desempenho pior do que da Minerva desde o final de março.

Na mesma linha, o Credit Suisse aponta que o segundo trimestre poderá ser o melhor da história para a JBS, com um Ebitda de R$ 7,7 bilhões, 29% superior ao atual recorde da empresa, registrado no terceiro trimestre de 2019.

Fora do setor de frigoríficos, mas ainda no segmento de alimentos e bebidas, a Ambev (ABEV3) deve apresentar números mistos. De acordo com o Credit, os números não devem se apresentar tão ruins como poderia se esperar em meio ao fechamento de bares e restaurantes por conta da pandemia. Isso porque a companhia foi beneficiada por um relaxamento mais rápido das medidas de isolamento social e também pela falta de produtos de concorrentes nos supermercados e hipermercados.

Os analistas do banco possuem uma projeção de queda de 13% no volume de cervejas na base anual, ante projeção inicial de queda de 33%, com queda no preço médio dos produtos em 2%.

Contudo, o ponto mais preocupante é a queda do Ebitda, para R$ 1,3 bilhão, 33% abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior. Isso porque, embora reconheçam os esforços da gestão da empresa para reduzir custos, não deve ser suficiente para compensar a queda de vendas e a mudança no mix de consumo.

Vale e Petrobras em recuperação com preços de commodities – já as siderúrgicas…

O setor siderúrgico deve registrar piora sequencial dos seus resultados em meio à crise da Covid-19, enquanto que, mesmo sofrendo o impacto do coronavírus na produção, a Vale pode registrar melhores números do que nos primeiros três meses do ano, avalia o Itaú BBA. O minério de ferro registrou um forte aumento desde o início de maio em meio às perspectivas de desaceleração da produção dos principais produtores, o que inclui o Brasil.

“A Usiminas (USIM5) provavelmente terá a pior queda do Ebitda na comparação trimestral (baixa de 67%), enquanto o Ebitda da Gerdau (GGBR4) deverá ser mais fraco, mas relativamente mais resiliente (queda de 14%). Esperamos que a CSN e a Vale apresentem uma melhora nos embarques de minério de ferro devido à melhor sazonalidade e condições climáticas, o que afetou os resultados do primeiro trimestre. Projetamos incrementos trimestrais de Ebitda de 39% para a CSN e 35% para a Vale”, avaliam os analistas do banco.

Assim, as companhias com maior exposição à mineração, caso de Vale e CSN, devem se beneficiar de maiores volumes e preços realizados, devendo ser as mais beneficiadas. Já para o setor siderúrgico, a perspectiva é de melhora marginal no final do trimestre.

Cabe destacar que a Vale divulgou relatório de produção do trimestre, com aumento de sua produção de minério de ferro no segundo trimestre em 5,5% na base anual, para 67,598 milhões de toneladas. Apesar da alta, a empresa disse que impactos relacionados à Covid-19 somaram 3,5 milhões de toneladas no segundo trimestre. Contudo, um ponto de atenção para o mercado é sobre se a companhia vai cumprir a sua meta de produção no ano, já revisada para baixo em meio à pandemia, atualmente entre 310 e 330 milhões de toneladas.

Conforme apontam os cálculos do Credit, a Vale teria que produzir aproximadamente 91 milhões de toneladas por trimestre no segundo semestre deste ano para atingir a projeção, ou um aumento de 35% em relação ao segundo trimestre ou 21% a mais em relação ao obtido em junho. Os analistas do banco suíço projetam que a mineradora irá produzir 300 milhões de toneladas em 2020 e 365 milhões em 2021. “A capacidade da Vale de reiniciar as operações paralisadas é um importante evento de risco para sua tese de investimento e uma maneira de diferenciar dos pares australianos, em que o crescimento futuro é muito limitado”, avaliam.

Já no caso da Petrobras (PETR3;PETR4), após o prejuízo de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre de 2020 em meio à forte queda do petróleo, a expectativa é de recuperação nessa linha do resultado também levando em conta o desempenho da commodity no segundo trimestre. Contudo, vale destacar, na média do trimestre, o preço do petróleo teve queda, o que pode afetar a receita da companhia, conforme destaca o Itaú BBA, apesar da desvalorização do real.

A pandemia levou o barril do brent no primeiro trimestre a cair 66%, com queda maior em março, quando começaram as medidas mais restritivas de isolamento social na maioria dos países. Já no segundo trimestre, os preços registraram o seu melhor desempenho trimestral em 30 anos, com alta de 80%, em meio à recuperação da demanda.

“Alguns riscos importantes já foram atenuados”, destacam os analistas do Credit Suisse em relatório recente, apontando que a produção não foi tão restringida pela falta de demanda, com a companhia conseguindo manter a sua produção acima de 2 milhões de barris de óleo equivalente por dia.

Sobre as distribuidoras de combustíveis, o Credit Suisse ressalta que os números do período serão fracos: “a menor alavancagem operacional e perdas de estoque devem ser substanciais no trimestre”.

Varejo: do brilho no e-commerce às dificuldades entre as companhias “de moda”

Estrelas da recuperação da bolsa, os resultados das empresas expostas ao e-commerce serão observados de perto pelo mercado. Empresa cuja ação registrou a maior alta do Ibovespa no primeiro semestre, a B2W (BTOW3), que detém as marcas Submarino, Americanas.com, Shoptime e Sou Barato, deve registrar alta do GMV (volume bruto de mercadorias) na comparação anual, com uma forte alta do e-commerce apoiada pelo fechamento de lojas físicas.

Na mesma linha, está a Via Varejo (VVAR3), dona das Casas Bahia e Ponto Frio. Cabe ressaltar que, antes da divulgação oficial do balanço, a companhia já revelou alguns dados não-auditados depois de publicar números por engano em seu Twitter, que impulsionaram as ações no pregão de 20 de julho; o caso será alvo de investigação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Antes desses dados serem revelados, o Morgan Stanley projetava que a Via Varejo iria registrar desaceleração do GMV por conta da queda de 75% das vendas nas lojas físicas, mas compensado pelo forte crescimento de 190% do volume de vendas no e-commerce.

Para o Magazine Luiza (MGLU3), por sua vez, a expectativa é de desaceleração do crescimento das vendas no geral (de alta de 7 pontos percentuais na comparação trimestral), segundo análise do Morgan, por conta do fechamento das lojas durante a pandemia, mas também com uma forte aceleração do e-commerce.

Já com relação às companhias de varejo têxtil, o cenário é mais complicado, avalia o Morgan ao falar sobre empresas como Lojas Renner (LREN3), Cia. Hering (HGTX3) e C&A (CEAB3): “esperamos um trimestre desafiador para o segmento, com um impacto enorme do fechamento de lojas e uma compensação menos significativa dos canais online”.

Com relação aos segmentos do varejo mais básicos, como de supermercados, cujas ações se mostraram mais resilientes no pico da crise para depois perderem força, a expectativa é de aceleração nas vendas. Mas isso não é tudo.

Sobre as varejistas de alimentos, a expectativa é de alta nas vendas, mas as margens devem seguir sob pressão em meio à mudança de mix de produtos consumidos e com maiores despesas relacionadas com o coronavírus, o que não deve trazer números muito animadores para Pão de Açúcar (PCAR3) e Carrefour (CRFB3).

As margens da líder farmacêutica no Brasil, a RD (RADL3), também devem ser pressionadas no trimestre. A expectativa é de que haja uma desaceleração nas fortes receitas registradas no final do primeiro trimestre, em meio ao menor tráfego para as lojas do setor.

Vale destacar que essa tendência já havia sido destacada durante teleconferência para apresentação dos números do primeiro trimestre pela própria gestão da empresa. Eugenio De Zagottis, diretor de planejamento corporativo da RD, apontou na ocasião que o período entre abril e junho seria desafiador. Ele afirmou que, com a antecipação das vendas em março de certos medicamentos, pelo receio de sair de casa posteriormente, as vendas do segundo trimestre deveriam ser afetadas. A expectativa é de volta à normalidade no terceiro trimestre.

Com relação às demais companhias de saúde, o Morgan aponta ver pressão de margem e queda de receita para a Fleury (FLRY3), em meio ao forte impacto da quarentena, uma vez que os principais pontos de laboratórios de medicina diagnóstica tiveram funcionamento bem restrito durante abril e maio.

As projeções são mais positivas para a Notre Dame (GNDI3), com a consolidação da Ecole e expectativa de que as receitas continuem crescendo, ainda que desacelerando frente o primeiro trimestre. “As margens devem subir uma vez que procedimentos eletivos (ou seja, programados, não considerados de urgência e emergência) foram adiados”, avaliam.

Demais setores para monitorar

Outras ações que podem render boas surpresas e valem ser monitorados de perto são do setor de educação. O Morgan aponta expectativa de bons resultados para a Arco Educação e para a Afya, ambas listadas na Nasdaq, números relativamente neutros para Ânima (ANIM3) e ruins para o restante do setor, confirmando que 2020 será o ano mais fraco já registrado em meio ao impacto da pandemia.

O setor de transportes também chama a atenção dos investidores, com destaque para as aéreas, principalmente após os prejuízos bilionários (em grande parte pelo impacto do câmbio) e os dados operacionais mais fracos apresentados pela Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) no primeiro trimestre.

“As condições de mercado adversas para o setor aéreo podem ser consideradas sem precedentes. Mesmo com uma leve melhora em maio em relação a abril e um evidente incremento na oferta e demanda de voos, a crise causada pela pandemia poderá levar a uma série de consequências sérias para o setor”, destacaram em nota recente os analistas da Levante. Mais uma vez, a expectativa fica para as iniciativas das companhias do setor para preservação do caixa, além dos sinais, ainda que fracos, de retomada.

Com relação ao segmento de aluguéis de carros, o Bradesco BBI aponta que a Movida (MOVI3) e a Localiza (RENT3) devem reportar os resultados mais fortes do segundo trimestre, apesar do impacto total referente ao Covid 19. “A Unidas (LCAM3) também está frente a frente com as demais, mas a menor margem no segmento de aluguel de carros pode fazer a diferença na safra de balanços”, avaliam os analistas.

Sobre a Localiza, o BBI estima receita de R$ 1,4 bilhão (queda de 40% em base anual), Ebitda de R$ 275 milhões (baixa de 41%) e um prejuízo líquido de R$ 46 milhões (versus lucro de R$ 191 milhões no segundo trimestre de 2019). “O declínio anual de apenas 7% no volume diário de aluguel, com uma margem EBITDA de cerca de 25% poderia surpreender o mercado positivamente. Esses números mostram a reação rápida da Localiza ao Covid-19 em maio e junho de 2020”, reforçam.

Por fim, um último setor a ser monitorado de perto é o de tecnologia e telecomunicações. Na avaliação dos analistas do banco, o coronavírus deve exercer uma grande influência no segundo trimestre para as teles, principalmente no segmento pré-pago, mais sensível ao cenário macroeconômico.

O Bradesco BBI espera que a Oi (OIBR3;OIBR4), em recuperação judicial, relate resultados sólidos principalmente para fibra ótica, que é a parte mais importante de seu case, enquanto Vivo (VIVT4) e TIM (TIMP3) devem ser prejudicadas pelo desempenho negativo do segmento pré-pago, mais sensível ao cenário macroeconômico.

Em termos relativos, a TIM deve se sair pior no trimestre. Contudo, eles acreditam que os resultados serão compensados pelo potencial de fusões e aquisições no curto prazo, juntamente com maior visibilidade de seu contrato de compartilhamento de infraestrutura com a Vivo. Já no caso da Vivo, mesmo avaliando que o resultado não deva ser um direcionador para os papéis da companhia, o BBI acredita que 2020 seguirá desafiador para a empresa, uma vez que o valuation parece equilibrado e os desafios persistem nos segmentos fixo e móvel.

Já com relação ao setor de tecnologia, a expectativa é de resultados sólidos para a Totvs (TOTS3) devido à receita recorrente resiliente de 12,2% (aproximadamente 9% excluindo a Consinco), enquanto as despesas operacionais devem permanecer sob controle. Já sobre a Linx (LINX3), o melhor desempenho da Linx Digital alinhado aos controles de custo deve levar à recuperação da margem (cerca de 4,2 pontos percentuais na comparação com o trimestre anterior) em comparação com um primeiro trimestre desafiador.

Confira a agenda de resultados do segundo trimestre de 2020: 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.