Gol tem prejuízo bilionário, mas operacional não tão ruim – porém, foco do mercado segue no caixa

Ações da companhia tiveram forte queda nesta sessão, com os investidores ainda de olho nas medidas da aérea em meio ao coronavírus

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Uma das companhias mais afetadas pelo coronavírus, o que reflete no desempenho de suas ações no ano com queda de cerca de 70%, a Gol (GOLL4) adiou a divulgação de seus números do primeiro trimestre de 2020, mas revelou números não-auditados que deram sinais bastante importantes sobre como a companhia está sendo impactada e como vem enfrentando a pandemia.

A aérea teve um forte prejuízo líquido de R$ 2,261 bilhões ante um lucro líquido de R$ 35,2 milhões em igual período de 2019, ambos no critério antes da participação minoritária da Smiles. Já excluindo variações cambiais e monetárias negativas de R$ 2,531 bilhões, o lucro líquido foi de R$ 173,2 milhões no primeiro trimestre, alta de 76% na comparação com os R$ 98,4 milhões de igual período de 2019.

O resultado financeiro da companhia ficou negativo em R$ 3,243 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o que impactou fortemente o seu balanço. A companhia destacou que as despesas financeiras no período dispararam por causa da variação cambial — o dólar de referência usado pela companhia foi de R$ 4,03 ao fim de 2019 para R$ 5,20 no encerramento de março (vale destacar que 96,6% da dívida bruta da aérea é denominada na moeda americana).

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A empresa resolveu divulgar números não auditados nesta segunda-feira, uma vez que os auditores independentes contratados para fazer a avaliação do balanço pediram mais prazo e a expectativa é que os dados auditados, segundo a Gol, sejam publicados no próximo dia 15.

Apesar do prejuízo assustar, o resultado foi considerado levemente acima das expectativas por analistas se levado em conta o desempenho operacional – porém, vale ressaltar, o foco dos investidores segue na liquidez e no monitoramento do impacto do coronavírus nas operações.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) da companhia totalizou R$ 1,439 bilhão no trimestre, crescimento de 51,3% na comparação com igual período do ano anterior e acima das estimativas do consenso em 37% e em 4% na comparação com as estimativas do Bradesco BBI. A margem Ebitda foi de 29,8% na comparação com 17% no primeiro trimestre de 2019.

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O Ebit do trimestre foi de R$ 937,9 milhões, crescimento de 71,7% na comparação com os primeiros três meses de 2019. A empresa destacou que em uma base por assento-quilômetro disponível, o Ebit recorrente foi de 7,53 centavos de real no trimestre, crescimento de 79,7% na comparação com igual período de 2019. Já a receita da empresa foi de R$ 3,147 bilhões, queda de 2% na comparação anual.

Bruna Pezzin, analista da XP Investimentos, destacou que a companhia reportou resultados ligeiramente acima das expectativas em função principalmente de (i) um crescimento superior ao esperado na linha de outras receitas (16% acima da estimativa da XP) e (ii) custos unitários (CASK) inferiores ao esperado (6% menor que o esperado).

Além disso, os resultados foram impactados positivamente por um ganho de R$ 595 milhões em operações de sale and leaseback (que a XP previa em R$ 500 milhões) e houve também um reembolso não recorrente de R$ 193 milhões devido à paralisação dos jatos MAX.

Além disso, vale destacar, a Gol encerrou o trimestre com uma posição de caixa e equivalentes saudável. Conforme destaca a analista da XP, embora o guidance permaneça suspenso, a administração forneceu uma indicação da redução esperada da queima de caixa ao longo do segundo trimestre (para R$ 9 milhões ao dia até junho, ante os atuais R$ 22 milhões ao dia).

“Em geral os resultados do primeiro trimestre já refletem em parte os impactos referentes à redução da demanda e políticas mais restritivas de distanciamento social, bem como um câmbio desvalorizado. Acreditamos que o foco daqui para frente estará no gerenciamento da liquidez da companhia, bem como no fluxo de notícias relacionado à linha de crédito do BNDES e na evolução das políticas de distanciamento social no Brasil”, avalia Bruna.

Olhando para frente

Para o Bradesco BBI, o fato mais importante em relação aos resultados do primeiro trimestre reside na posição de caixa da companhia, de R$ 4,2 bilhões, sendo R$ 3,4 bilhões em em caixa e equivalentes, além de R$ 800 milhões em recebíveis.

“Estimamos que a necessidade de crédito rotativo da GOL para 2020 está minimizada devido à sua posição de caixa combinada com iniciativas para reduzir a saída de caixa, como: 1) adiamento de pagamentos de leasing de aeronaves; 2) nenhum pagamento de pré-entrega em 2020; 3) reduções de salários e licenças não-remuneradas e 4) cortes em outras despesas, como de marketing”, avaliam.

A aérea também deu sinais sobre os próximos passos, apontando que a receita total deve alcançar R$ 900 milhões no segundo trimestre comparada a R$ 3,1 bilhões, queda de 70%. A companhia espera margem Ebitda recorrente de aproximadamente 6% versus 25,9% no segundo trimestre de 2019. As despesas totais devem diminuir aproximadamente 50%.

A companhia estima relação dívida líquida/Ebitda de 2,9 vezes no final do segundo trimestre. A frota operacional média de 27 aeronaves deverá ter uma taxa de ocupação de aproximadamente 80%.

A Gol diz que “está mantendo um uso mínimo de caixa” e estima que suas medidas de preservação de caixa implementadas durante março conservem aproximadamente R$ 2,4 bilhões ao longo de 2020. A aérea tinha aproximadamente R$ 7 bilhões de fontes de liquidez em 31 de março. A empresa disse que reduziu em aproximadamente 80% a capacidade no segundo trimestre de 2020 (75% rotas domésticas e 100% internacionais) com a expectativa de contração sequencial do PIB brasileiro em pelo menos 5% no trimestre.

Em meio ao cenário complexo para as companhias aéreas que deve perdurar nos próximos trimestres, o recado da importância pela busca de liquidez foi reforçado nesta segunda-feira por Paulo Kakinoff, CEO da aérea. Ele apontou que a Gol tem capital de giro suficiente para manter suas operações de modo consistente.

“Mesmo com os ativos de que dispomos e com todas as medidas já implantadas, estamos trabalhando duro, todos os dias, para buscar sempre o máximo de eficiência e inteligência na utilização de nossa liquidez”, avaliou o CEO.

Durante teleconferência com investidores nesta segunda-feira, também esteve na pauta as notícias sobre uma ajuda do governo federal para as aéreas, via BNDES, que permitiria a cada empresa acessar uma quantia próxima a R$ 3 bilhões. Contudo, Kakinoff apontou que os termos ainda não foram apresentados – o banco de fomento teria sinalizado que divulgará as condições finais dia 15 de maio.

Apesar das sinalizações de boa posição de caixa e os relativamente bons números operacionais, o cenário ainda é de muita cautela com a companhia em meio ao cenário ainda negativo sobre o impacto do coronavírus nas operações da aérea.

Desta forma, UBS, XP e Morgan Stanley possuem recomendação equivalente à neutra para as ações. Por outro lado, o Bradesco BBI segue com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), apontando que a Gol possui liquidez para superar a crise do COVID-19, maior exposição à demanda doméstica que deve se recuperar primeiro e 3) economia tributária relacionada à incorporação em potencial da Smiles.

De um modo geral, a recomendação é de cautela para as ações da companhia, como pode ser observado no desempenho das ações na sessão desta segunda-feira, uma vez que elas caíram 10,08%, a R$ 11,15, e puxaram os papéis da Azul (AZUL4, R$ 15,16, -12,87%) para baixo. No próximo dia 14 de maio, será a vez da Azul divulgar seus números, que serão também bem esperados pelo mercado (assim como o balanço auditado da Gol) para entender quais os rumos das companhias em meio à crise do coronavírus.

(com informações da Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.