De “bond proxies” a varejistas: quais ações devem ganhar mais quando a Selic começar a cair?

Expectativa majoritária é de que a Selic só cairá na segunda metade do ano, mas analistas já ficam de olho nas ações que podem ser beneficiadas

Lara Rizério

(Fokusiert/Getty Images)

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A expectativa para o Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (3) é de manutenção da taxa de juros em 13,75%. Contudo, os estrategistas e analistas de mercado já estão de olho em um possível início de um ciclo de flexibilização no terceiro trimestre e quais ações podem se beneficiar deste movimento. A última pesquisa Focus realizada pelo Banco Central que a taxa básica de juros deve terminar este ano em 12,50% e o próximo em 10,0%.

A avaliação é de que o BC ainda aguarda uma prova inequívoca de desinflação antes do possível início de um ciclo de flexibilização na segunda metade do ano, enquanto alguns dados de inflação já surpreenderam positivamente os mercados em abril e sinalizaram que o tão esperado ciclo de cortes pode começar em breve.

Conforme destaca a XP, pela primeira vez desde fevereiro de 2021, o IPCA ficou abaixo de 5%. A combinação de um arcabouço fiscal mais previsível (embora ainda expansionista), sinal de que a inflação está caindo (embora a o núcleo de inflação ainda esteja alto), enfraquecimento do mercado de crédito e desaceleração da atividade econômica, indicam que o Banco Central pode iniciar um ciclo gradual de afrouxamento monetário mais cedo do que o esperado anteriormente por eles. “Nossa equipe de economia revisou recentemente suas projeções e vê espaço para cortes começando na reunião de agosto até que a taxa Selic atinja 11% em 2024”, apontam os estrategistas.

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Setores que podem se beneficiar

Em estudo, a XP destacou quais setores da Bolsa se beneficiam em ciclos de corte de juros. Segundo a casa, os setores que apresentaram a melhor performance em ciclos de cortes no passado incluem Transportes, Varejo e Saúde. Além disso, os fatores Momentum, Qualidade e Tamanho (Small Caps) foram os que tiveram a melhor performance no relativo.

Os estrategistas da casa ainda montaram uma cesta de ações de sua cobertura que tem uma alta relação com as taxas de juros, e que assim poderiam se beneficiar em um cenário de cortes de taxas. “Nos concentramos nos principais setores que reagem de forma mais positiva quando as taxas são reduzidas – Educação, Saúde, Papel & Celulose, Varejo e Transporte”, apontam.

Dentre as ações, estão papéis de varejistas como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3), Lojas Renner (LREN3), assim como as empresas do setor de educação Anima (ANIM3) e Cogna (COGN3), além de Dasa (DASA3), Hapvida (HAPV3) e Kora (KRSA3) do setor de saúde. Rumo (RAIL3), Hidrovias do Brasil (HBSA3), Ecorodovias (ECOR3) e CCR (CCRO3) estão entre as empresas que devem ganhar no setor de transportes. Confira a lista completa:

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Em recente análise, o Morgan Stanley também avaliou que as ações domésticas sensíveis à taxa de juros devem se beneficiar de um potencial ciclo de flexibilização monetária na segunda metade do ano. Os analistas apontaram Assaí (ASAI3), Bradesco (BBDC4) e Localiza (RENT3), mais no curto prazo), e Equatorial (EQTL3), Iguatemi (IGTI11) e Rumo, mais no longo prazo.

“No curto prazo, acreditamos que a proposta do novo quadro fiscal apresentada pelo Executivo abre as portas para um potencial ciclo de afrouxamento monetário na segunda metade do ano, o que deve beneficiar as ações voltadas para o mercado interno, especialmente empresas com maiores necessidades de financiamento. No entanto, continuamos neutros com ações brasileiras em nosso portfólio para a América Latina, pois acreditamos que as pressões fiscais incrementais decorrentes de gastos adicionais da atual administração devem aumentar a probabilidade de uma carga tributária mais alta sobre as empresas e/ou crescimento econômico mais lento”, avalia o banco americano.

Olhando para os setores, o Morgan aponta que varejo, educação, consumo básico, serviços públicos e construtoras devem se beneficiar relativamente mais com uma taxa básica de juros mais baixa, enquanto algumas techs, bebidas e alimentos, indústrias e telecomunicações devem se beneficiar menos.

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Entre as empresas, avaliam os analistas, Via, BRF (BRFS3), Embraer (EMBR3), Dasa e Ecorodovias são as cinco mais sensíveis a uma taxa Selic mais baixa, enquanto Odontoprev (ODPV3), Ambev (ABEV3), Totvs (TOTS3), Cemig (CMIG4) e Afya (empresa de educação negociada na Nasdaq) são as menos sensíveis.

Em relatório do fim do mês passado, no contexto do anúncio do arcabouço fiscal, o Itaú BBA pontuou quais ações poderiam subir mais com a queda dos juros. O BBA comparou o desempenho do Ibovespa com a taxa Selic e a taxa de 10 anos dos títulos do governo e encontrou uma alta correlação histórica entre taxas de juros e o desempenho do benchmark da Bolsa. Trazendo para 2016, o banco destaca que o índice começou a ter bom desempenho em janeiro daquele ano, quando o título de 10 anos estava precificando cortes da Selic. As taxas começaram a ser cortadas apenas em novembro de 2016, mas o Ibovespa já acumulava alta de 53% desde então.

A partir daí, os estrategistas do banco realizaram duas análises diferentes:

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i) listaram as 20 empresas do Ibovespa com melhor desempenho de janeiro de 2016 a janeiro de 2020 (quando o juro do título de 10 anos começou a cair até o início da pandemia); e ii) listaram as 20 empresas com melhor desempenho do Ibovespa de novembro de 2016 a janeiro de 2020 (quando a Selic começou a cair até o início da pandemia).

Na primeira análise, de janeiro de 2016 a janeiro de 2020, os melhores desempenhos foram de: Magazine Luiza (MGLU3, PRIO (PRIO3, Gol (GOLL4), Bradespar (BRAP4), Usiminas (USIM5, Via (VIIA3), Metalúrgica Gerdau (GOAU4), Localiza (RENT3), EzTec (EZTC3) e Eletrobras ON (ELET3).

Na segunda análise, de novembro de 2016 a janeiro de 2020, os melhores desempenhos foram de: Magazine Luiza (MGLU3), PRIO (PRIO3), Banco Pan (BPAN4), Gol (GOLL4), EzTec (EZTC3), Localiza (RENT3), Alpargatas (ALPA4), Cyrela (CYRE3), Via (VIIA3) e Natura & Co (NTCO3).

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Recomendações a vista

Os estrategistas do BBA ainda recomendaram no cenário atual cinco ações em um cenário de corte de juros: EZTC3, RENT3, Lojas Renner (LREN3), B3 (B3SA3) e Totvs (TOTS3).

Cabe destacar que diversas casas têm mudado as suas carteiras estratégicas nas últimas semanas, de olho no corte de juros que deve se efetivar, com apostas em bond-proxies (empresas cujo negócio se assemelha a um título de renda fixa de longo prazo), pois se beneficiam de futuras quedas nas taxas de juros.

O Bank of America apontou que as ações de bond-proxies superaram o Ibovespa no mês passado (+5,9% versus +2,5% do índice) com as taxas de juros futuros caindo 20 pontos-base. Empresas alavancadas e com fluxo de caixa longo estiveram entre as de melhor desempenho, como Ecorodovias (+19%) e Eneva (ENEV3; +10%).

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Os economistas do BofA esperam cortes na Selic ainda no segundo trimestre de 2023, uma visão fora do consenso que pode levar a um desempenho ainda melhor dessa classe de ações.

Neste sentido, as utilities (ações de concessões públicas) continuam sendo o setor que o banco ainda vê uma boa relação de risco-retorno, enquanto empresas de transportes são menos atrativas e shoppings possuem catalisadores mais limitados.

“Acreditamos que as utilities oferecem uma relação risco-retorno mais atrativa em relação a outras bond proxies uma vez que: 1) o valuation está excessivamente descontado tendo em vista os riscos regulatórios, especialmente relacionados à renovação da concessão de distribuidoras, 2) há uma reclassificação possível no curto prazo, com possíveis reduções na percepção de risco, 3) posicionamento de investidores institucionais ainda parece baixo, com a menor alocação desde agosto de 2022, Os analistas avaliam gostarem de Equatorial (EQTL3) e de Energisa (ENGI11), devido, entre outros fatores, ao fluxo de caixa de longa duração e forte histórico de disciplina de capital.

Para empresas de transporte e concessões, o banco destaca que o setor está menos atrativo após o desempenho recente. Para a Ecorodovias especificamente, como ela teve alta de 19% no mês passado e não houve mudança nas expectativas de fluxo de caixa, seu risco-retorno tornou-se menos atrativo. “Dito isso, ainda vemos a Ecorodovias como o nome mais atraente do setor, com [Taxa Interna de Retorno] TIR real de 12,4%, mas a empresa traz riscos não negligenciáveis devido à alta alavancagem e necessidades de capex [investimentos] nos próximos anos”, aponta.

Para os shoppings, os analistas destacam seguirem focados no segmento de alto padrão, destacando preferência por Multiplan (MULT3).

Em relatórios recentes, o Bradesco BBI excluiu de sua carteira da América Latina as ações de Carrefour (CRFB3) e Rede D’Or (RDOR3) e incluíram a de CCR (CCRO3). O JPMorgan também adicionou à sua carteira para América Latina nomes sensíveis brasileiros a juros ao seu portfolio, com Cyrela (CYRE3), Localiza (RENT3), Alupar (ALUP11) e Energisa (ENGI11), além de Lojas Renner (LREN3), Iguatemi (IGTI11) e B3 (B3SA3), que seguem na carteira.

Sobre o mercado de ações em geral, enquanto o Morgan Stanley tem visão neutra para as ações brasileiras dentro da América Latina, JPMorgan, BofA e BBI possuem exposições acima da média (ou overweight) para a Bolsa do país.

Para a XP, as ações brasileiras continuam atrativas com uma relação de Preço/Lucro (P/L) de 7 vezes, um desconto de mais de 30% em relação à média dos últimos 15 anos em 11 vezes. “Nós mantemos o valor justo do Ibovespa em 128 mil pontos para o final do ano. Mantemos nossos três principais temas em nossas carteiras: 1) Commodities; 2) Histórias de crescimento secular; e 3) Qualidade a um preço razoável”, apontam os estrategistas.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.