Bradesco BBI reduz exposição, mas segue com visão otimista para Brasil na América Latina e lista ações

Banco disse estar posicionado em empresas mais defensivas e de qualidade, enquanto também gosta das empresas chamadas "bond-proxies" no Brasil

Felipe Moreira

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Assim como o Bank of America e o JPMorgan, o Bradesco BBI manteve a sua visão overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) no Brasil dentro de sua carteira estratégica para a América Latina, ainda que tenha reduzido ligeiramente sua exposição.

Enquanto isso, elevou o Chile de neutro para overweight. Além destes, o banco rebaixou o México para neutro (depois do desempenho positivo recente), enquanto permaneceu underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) no Peru e na Colômbia.

Segundo relatório, os papéis na América Latina ainda são atraentes, mas enfrentam ventos contrários devido à má performance dos lucros por ação (EPS, na sigla em inglês) e ameaças da desaceleração econômica e aumento de impostos.

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Nesse sentido, o banco disse estar posicionado em empresas mais defensivas e de qualidade, enquanto também gosta das empresas chamadas “bond-proxies” (empresas cujo negócio se assemelha a um título de renda fixa de longo prazo), pois se beneficiam de futuras quedas nas taxas de juros.

Em termos de setores, o BBI está otimista com empresas defensivas de consumo, shoppings e financeiras; neutro em industriais e materiais básicos; e underweight em commodities e empresas mais cíclicas de consumo e construção.

Os estrategistas pontuam que o índice MSCI Brasil está sendo negociado a um valuation atrativo, de 6,7 vezes o Preço/Lucro, desvio padrão de 1,5, abaixo de sua média histórica, e o prêmio de risco de ações ainda está em 8,9 pontos percentuais (p.p.). Dessa forma, eles acreditam que o Brasil enfrenta agora três pontos de inflexão que podem ajudar a estabelecer uma tendência de compressão de risco no futuro:

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1. Ajustes estruturais estão no topo da lista de prioridades, incluindo ajuste fiscal e reforma tributária

O banco aponta que, à medida que o governo fornece mais detalhes sobre o ajuste fiscal, o desafio passa para a sua execução.

Os estrategistas esperam que a Câmara dos Deputados aprove a nova regra fiscal em maio, e o Senado, até o recesso do meio do ano, em meados de julho. O plano do governo provavelmente enfrentará mais dificuldades no Congresso em relação às tentativas de aumentar as receitas.

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“Na nossa visão, para cumprir a promessa de zerar o déficit primário em 2024, o governo precisará aumentar a arrecadação em R$ 54 bilhões esse ano e em R$ 43 bilhões no próximo ano”, afirmam.

Outro passo importante é a Reforma do IVA (Imposto sobre Valor Agregado, modelo de unificação de impostos). Os estrategistas esperam que uma proposta para a reforma do IVA seja apresentada na segunda quinzena de maio. Como a legislação é por meio de PEC, exige 60% dos votos em duas sessões de votação em cada casa. “No nosso caso base, o Congresso o aprovará até o final de 2023, o que seria um sinal positivo, criando condições para tornar a economia brasileira mais eficiente”, apontam os analistas.

2. Mercado de trabalho e inflação

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O BBI aponta que os dados do mercado de trabalho estão em um ponto de inflexão, com a taxa de desemprego prestes a aumentar enquanto os salários desaceleram, o que poderia ajudar a melhorar a tendência subjacente de inflação.

3. Estimativas para o PIB

Para os analistas, as surpresas positivas no crescimento do PIB do Brasil podem ter acabado e os riscos negativos para o crescimento do PIB podem aumentar nos próximos meses, à medida que as condições financeiras permanecem apertadas e o mercado de trabalho esfria.

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Para o BBI, os riscos macro provavelmente diminuirão no 2T23 e 3T23, à medida que o governo adota uma agenda que abarque medidas para melhorar os fundamentos e à medida que a visibilidade sobre a flexibilização monetária aumenta. “Como resultado, as taxas de longo prazo e as taxas de desconto podem diminuir e os múltiplos podem potencialmente expandir no Brasil”.

Por fim, o BBI cita que alguns players macro interessantes são ações com alto potencial de ganho em renda fixa e ações de bancos. Além destes, o BBI gosta de empresas defensivas e de alta qualidade do setor de consumo.

“Dentre os  top picks dos nossos analistas, destacamos os que possuem receita mais resiliente e maior sensibilidade a taxa de desconto”, apontam. São elas: Copel (CPLE6), Auren (AURE3), Energisa (ENGI11), Equatorial (EQTL3), Santos Brasil (STBP3), CCR (CCRO3), Aliansce Sonae (ALSO3), Direcional (DIRR3) e Cury (CURY3). Os analistas destacam que estas estão entre as bond-proxies com Taxa Interna de Retorno (TIR) alta e prêmio para os títulos públicos.

Na carteira em Brasil, os estrategistas incluíram CCR e excluíram Carrefour (CRFB3) e Rede D’Or (RDOR3).

México

O Bradesco BBI rebaixou o México de overweight para neutro, após a forte performance do índice e o aumento dos riscos e volatilidade nos próximos 12 a 18 meses, com eleições no México e nos EUA.

O banco disse estar reduzindo sua exposição a nomes de longa duração devido à forte performance recente e a expectativa de cortes nas taxas de juros acontecerem apenas no final de 2023 ou início de 2024.

Chile

O banco prevê uma resiliência econômica mais forte do que o esperado para 2023, com flexibilização monetária iniciando no 3T23, e, acima de tudo, uma maior moderação no cenário político, por isso elevou a classificação do Chile de neutro para overweight.

Peru

O BBI avalia que as ações peruanas não estão baratas e têm baixa liquidez. Novos protestos podem surgir e aumentar a instabilidade política. A economia tem perdido momentum e a recuperação continua incerta. Como resultado, mantém uma posição Underweight no país.

Colômbia

O BBI comenta que as ações colombianas ainda são atraentes, e disse ter notado recentemente sinais de moderação tanto do governo quanto do Congresso. No entanto, os riscos macro e políticos ainda são muito altos na opinião do banco. “A economia continua desacelerando e não há sinais de afrouxamento monetário iminente”.

Para os analistas, os impactos do pacote de reformas não estão claros, assim como a real possibilidade de continuação da moderação no âmbito político. “Em suma, não há gatilhos suficientes para adicionarmos uma posição em ações colombianas”, completam.