Bitcoin ronda mínima de 2 anos a menos de US$ 18 mil e Solana desaba 40% no dia seguinte ao colapso da FTX

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney acreditam que a aquisição da FTX pela Binance não está garantida, e por isso o mercado segue em modo máximo de cautela

Paulo Barros CoinDesk

Publicidade

O mercado de criptomoedas segue fragilizado na manhã desta quarta-feira (9), um dia depois do colapso da corretora FTX, uma das maiores do mundo, que entrou em crise de liquidez após corrida de saques em meio à queda desenfreada de seu token, FTT.

Hoje, investidores reagem a mais um ingrediente no caldo de incertezas após a exchange anunciar, na noite de ontem, que as retiradas de criptoativos estão oficialmente suspensas – desse modo, as solicitações de saque que estavam em fila aguardando processamento de fato não serão mais atendidas até segunda ordem.

Após atingir a mínima de dois anos, de cerca de US$ 17.200, o Bitcoin (BTC) luta para recuperar o patamar de US$ 18 mil, negociado em queda de 11% nas últimas 24 horas, a US$ 17.800. Mais enfraquecido, o Ethereum (ETH) ainda acumula perdas de 19%, a US$ 1.200. Já Binance Coin (BNB) e XRP cedem 9,3% e 16,1%, respectivamente.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Entre as criptos de maior valor de mercado, o FTT segue em estado mais crítico, acumulando queda de 78% em 24 horas. Porém, foi o ativo que mais se recuperou proporcionalmente desde a mínima atingida horas atrás: de US$ 2,50, é negociado agora a US$ 4, alta de 60%.

Considerando o movimento de preços desde que a crise se intensificou, o pior desempenho é o da Solana (SOL), que estendeu as perdas e já cede mais de 40% nas últimas 24 horas, a US$ 17.

As criptos são impactadas também pelos índices futuros dos EUA, que abriram em alta, mas recuaram com investidores de olho nos resultados das eleições de meio de mandato. Os futuros de Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caem 0,29%, 0,27% e 0,23%, respectivamente.

Continua depois da publicidade

Assista: Para trader, Bitcoin está em boa zona de compra mesmo se cair até US$ 14 mil

O consenso entre analistas cripto, porém, é de que o impacto maior segue vindo de dentro do setor, com operadores de mercado em alerta após os fatos de ontem.

“As criptomoedas estão sofrendo porque a notícia de que existe um player quase ilíquido, com risco de insolvência tão grande, afeta sistemicamente o mercado”, explica Helena Margarido, cofundadora e head de cripto na Monett. “Protocolos de DeFi, por exemplo, e outras exchanges, têm depósitos na FTX e ainda estão com eles travados”.

O mercado cripto como um todo chegou a perder cerca de US$ 100 bilhões de valor de mercado durante o ponto mais crítico do sell-off, de US$ 1 trilhão para US$ 900 bilhões. Na manhã de hoje, o valor de todas as criptos somadas ronda os US$ 911 bilhões.

“Será muito difícil, senão impossível, de o token FTT se recuperar, enquanto o SOL e demais tokens do ecossistema [da Solana] provavelmente sofrerão perdas também, pois a confiança parece estar totalmente corroída”, avalia Joe DiPasquale, CEO da gestora de fundos de criptomoedas BitBull Capital.

Para DiPasquale, no entanto, o Bitcoin não deve enfrentar um cenário extremo. “Na verdade, pode haver um aumento nas entradas [em BTC] à medida que os participantes do mercado saem de ativos mais arriscados”, diz. “De qualquer forma, quanto mais cedo isso for resolvido, melhor será para o setor, especialmente porque provavelmente atrairá mais atenção dos reguladores”.

O especialista se refere à ainda incerta aquisição da FTX pela Binance, considerada a tábua de salvação dos clientes que ainda têm recursos presos na corretora que entrou em colapso. Segundo anunciaram ontem Sam Bankman-Fried, CEO da FTX, e Changpeng Zhao, CEO da Binance, o negócio ainda passará por processo de digiligência contábil e jurídica antes da compra ser de fato sacramentada.

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney acreditam que a operação está longe de estar garantida, e por isso o mercado ainda reage com forte receio de agravamento do quadro.

“Eu só acredito na hora que eles assinarem o contrato. Eles ainda vão fazer o due diligence (verificação contábil e jurídica do negócio)”, comenta o sócio e gestor da BLP Crypto, Alexandre Vasarhelyi, ressaltando que, portanto, nada impede que o acordo possa não vingar.

Helena Margarido, da Monett, concorda e diz que o acordo precisa ser concretizado para que ele possa surtir efeito prático – ou seja, com a Binance fornecendo a liquidez necessária para atender aos saques de clientes.

Por outro lado, Gracy Chen, diretora administrativa da corretora Bitget, vai além e considera “altamente improvável que a Binance consiga adquirir a FTX”. “Pode parecer que CZ (o CEO da Binance) saiu vitorioso, mas a Binance acabará pagando o preço por prejudicar os interesses de longo prazo da indústria”, aponta a executiva, em referência a suspeitas de que a Binance teve papel crucial, senão proposital, no colapso da FTX, que era até aqui vista como sua principal rival no mundo.

Confira o desempenho das principais criptomoedas às 8h25:

Criptomoeda Preço Variação nas últimas 24 horas
Bitcoin (BTC) US$ 17.799,22 -11,00%
Ethereum (ETH) US$ 1.20,41 -19,10%
Binance Coin (BNB) US$ 297,23 -9,30%
XRP (XRP) US$ 0,370944 -16,10%
Cardano (ADA) US$ 0,351741 -8,80%

As criptomoedas com as maiores quedas nas últimas 24 horas:

Criptomoeda Preço Variação nas últimas 24 horas
FTT (FTT) US$ 4,01 -78,00%
Solana (FTT) US$ 17,12 -40,40%
Aptos (APT) US$ 4,19 -33,80%
Chiliz (CHZ) US$ 0,181165 -28,28%
Ethereum PoW (ETHW) US$ 3,86 -27,60%

Confira como fecharam os ETFs de criptomoedas no último pregão:

ETF Preço Variação
Hashdex NCI (HASH11) R$ 17,39 -9,94%
Hashdex BTCN (BITH11) R$ 22,10 -12,47%
Hashdex Ethereum (ETHE11) R$ 20,28 -16,12%
Hashdex DeFi (DEFI11) R$ 19,32 -18,20%
Hashdex Smart Contract Plataform FI (WEB311) R$ 15,29 -15,57%
Hasdex Crypto Metaverse (META11) R$ 40,00 -4,09%
QR Bitcoin (QBTC11) R$ 5,93 -12,79%
QR Ether (QETH11) R$ 4,88 -17,42%
QR DeFi (QDFI11) R$ 3,42 -17,19%
Cripto20 EMPCI (CRPT11) R$ 5,64 -9,61%
Investo NFTSCI (NFTS11) R$ 20,49 -21,46%

Veja as principais notícias do mercado cripto desta quarta-feira (9):

Bankman-Fried deixa de ser bilionário

O CEO da exchange FTX, Sam Bankman-Fried, saiu da lista de bilionários da Bloomberg. Seu patrimônio líquido despencou quase 94%, para US$ 991,5 milhões, em um único dia.

Antes da crise de caixa de sua empresa, Bankman-Fried detinha patrimônio de cerca de US$ 15,2 bilhões.

Segundo a Bloomberg, US$ 14,6 bilhões foram eliminados da noite para o dia.

Traders perderam US$ 700 milhões com queda de ontem

Mais de US$ 700 milhões em posições compradas (apostando na alta) foram liquidados nas últimas 24 horas após traders serem pegos de surpresa com a rápida reversão do mercado após o anúncio da intenção de aquisção da FTX pela Binance.

Futuros de BTC e ETH tiveram uma perda acumulada de US$ 390 milhões devido a liquidações, enquanto os futuros de SOL, token da Solana, tiveram US$ 40 milhões liquidados.

Liquidações ocorrem quando um trader alavancado tem garantias corroídas e tem a posição fechada a força pela corretora – ou seja, ele perde tudo o que colocou no trade, mais os ativos colocados como colateral.

Investida pela FTX, Circle minimiza impacto do colapso da corretora

A Circle, a empresa por trás da stablecoin USD Coin (USDC), minimizou sua exposição à exchange de criptomoedas FTX e à empresa de trading Alameda Research, após o colapso da corretora ontem.

O CEO da Circle, Jeremy Allaire, foi ao Twitter para explicar que a Circle nunca concedeu empréstimos à FTX ou à Alameda e nunca recebeu FTT como garantia. Allaire acrescentou que tanto a Circle quanto a FTX detêm apenas uma pequena parte do patrimônio uma da outra.

A Circle concluiu uma rodada de financiamento de US$ 440 milhões em 2021, que envolveu vários investidores, incluindo a FTX.

Coinbase também nega contágio

“Não pode haver uma ‘corrida bancária’, disse a Coinbase em comunicado divulgado ontem, observando que seus relatórios submetidos e auditados por reguladores mostram que os ativos dos clientes são totalmente garantidos.

A empresa disse que tem exposição mínima à exchange de criptomoedas FTX, com apenas US$ 15 milhões em depósito para facilitar as operações comerciais e as negociações com clientes. A corretora também negou ter exposição ao token FTT e à empresa-irmã da FTX, Alameda Research.

A exchange teve alguns problemas técnicos na terça-feira (8), reconhecendo falhas de conexão de rede no site e aplicativo. Não está claro neste momento se essas interrupções foram corrigidas.

Paulo Barros

Editor de Investimentos