Investidores temem que token da FTX reprise caso Terra (Luna) após polêmica com balanço patrimonial

Crise se instalou após vir à tona que o patrimônio das empresas irmãs FTX e Alameda seria composto em sua maioria por cripto própria

CoinDesk

(Getty Images)

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Investidores de criptomoedas amanhecem nesta segunda-feira (7) preocupados com a situação do token FTT, criado pela exchange de criptomoedas FTX, uma das maiores do mundo. A criptomoeda passa por forte sell-off que traz consigo uma ameaça de falta de liquidez, em meio à dúvidas sobre a solvência da corretora.

O motivo é a revelação, na semana passada, de que as empresas do bilionário das criptomoedas Sam Bankman-Fried teriam seu balanço patrimonial composto principalmente pelo token FTT, o que acabou levantando dúvidas sobre a saúde financeira das companhias. A informação foi revelada com exclusividade pelo CoinDesk

Em reação, clientes da exchange iniciaram uma onda de saques na corretora. Na manhã de hoje, Bankman-Fried quebrou o silêncio sobre a polêmica e negou que suas empresas estejam em apuros. “A FTX está bem. Os ativos estão bem”.

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Segundo o executivo, sua corretora “é fortemente regulamentada” e conta com auditorias que garantem caixa com mais de US$ 1 bilhão.

“A FTX tem o suficiente para cobrir todas as participações de clientes. Não investimos ativos de clientes (mesmo em tesourarias). Estamos processando todas as retiradas e continuaremos processando”, afirmou o CEO, ressaltando que qualquer atraso nos saques pode se dar por conta do tempo de resposta das redes blockchain, no caso de retiradas em criptos, ou da rede bancária, em saques em dólares.

Balanço patrimonial

O império de criptomoedas de Bankman-Fried é oficialmente dividido em duas partes principais: a exchange FTX e a casa de análise Alameda Research, ambas gigantes em suas respectivas áreas de atuação.

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Mas, embora sejam dois negócios separados, um documento financeiro ao qual o CoinDesk teve acesso mostra que o balanço patrimonial da Alameda Research é composto totalmente pelo token FTT, emitido pela própria FTX.

Grande parte do caixa da Alameda, portanto, se baseia em uma moeda criada pela empresa irmã, não em um ativo independente como o dólar ou outra criptomoeda – o que aumenta os sinais de que os laços entre a FTX e a Alameda são mais próximos do que se pensava.

O fato, até então desconhecido, colocou em dúvida a saúde financeira das companhias e do próprio Bankman-Fried, que se notabilizou por resgatar empresas cripto falidas durante o “inverno” do setor neste ano.

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Os dados financeiros também tornam concreto o que observadores da indústria já suspeitam: a Alameda é enorme. Em 30 de junho, os ativos da empresa somavam US$ 14,6 bilhões. Seu maior ativo eram tokens FTT liberados para venda, que totalizavam US$ 3,66 bilhões. Já a terceira maior entrada dentre os ativos vinha das garantias de FTT, cujo valor era de US$ 2,16 bilhões.

Há mais tokens FTX entre seus US$ 8 bilhões de passivos: US$ 292 milhões de FTT liberados para venda. (Os passivos são dominados por US$ 7,4 bilhões em empréstimos.)

“É fascinante ver que a maior parte do patrimônio líquido no negócio da Alameda é, na verdade, o próprio token da FTX”, disse Cory Klippsten, CEO da plataforma de investimento Swan Bitcoin, conhecido por suas visões críticas sobre as altcoins – isto é, qualquer criptomoeda além do Bitcoin (BTC).

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A CEO da Alameda, Caroline Ellison, não quis comentar. A FTX também não respondeu a um pedido de comentário.

Outros ativos significativos no balanço patrimonial incluem US$ 3,37 bilhões em cripto e grandes quantidades do token nativo da blockchain Solana (SOL): US$ 292 milhões de SOL e outros US$ 863 milhões em SOL bloqueados (em período de vesting), além de US$ 41 milhões em garantias de SOL.

Bankman-Fried foi um dos primeiros investidores na Solana. Outros tokens mencionados pelo nome são SRM (o token da exchange descentralizada Serum, cofundada por Bankman-Fried), MAPS, OXY e FIDA. Há também US$ 134 milhões em caixa e equivalentes, bem como US$ 2 bilhões em “investimentos em ações”.

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De acordo com o site da FTX, existem cerca de 197 milhões de tokens FTT em circulação, no valor de US$ 5,1 bilhões.

Binance anuncia venda de FTT

No domingo (6), o CEO da Binance engrossou a crise. No Twitter, Changpeng Zhao informou que venderia todos os tokens FTT que a empresa recebeu após se desfazer da participação que tinha na FTX em 2021.

Embora não tenha divulgado quanto FTT a Binance irá vender, disse que sua exchange recebeu na ocasião cerca de US$ 2,1 bilhões na forma de BUSD (a stablecoin da Binance) e FTT.

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Em resposta a Zhao, a CEO da Alameda disse que a condição financeira de sua empresa é mais forte do que a refletida no balanço divulgado pelo CoinDesk. Ela também se ofereceu para comprar da Binance as participações de tokens FTT por US$ 22 cada.

“Se você está querendo minimizar o impacto das suas vendas de FTT no mercado, a Alameda está feliz em comprar tudo de você hoje por US$ 22!”, disse a executiva.

A especulação sobre o token FTT levou a uma forte volatilidade nos preços. A cotação do token caiu 14% em um período de 24 horas, para US$ 22,02, no seu preço mais baixo desde junho, segundo a CoinMarketCap. Até as 8h15 (horário de Brasília), o preço do FTT tinha se recuperado para US$ 22,47.

Reflexos no mercado

Após as publicações, clientes receosos de que a FTX se torne insolvente começaram a sacar criptomoedas em massa, fazendo despencar as reservas da corretora.

Dados da ferramenta de perfil de carteiras Nansen mostram um aumento de resgates na FTX, em que US$ 292 milhões em stablecoins deixaram a exchange na semana passada. Isso pode sinalizar que traders estão deixando a corretora por temores de problemas de liquidez, já que a Alameda é uma grande formadora de mercado na FTX.

O impacto também é visto no token da rede Solana, que cai cerca de 13% nesta segunda-feira (7). A cripto é ligada à FTX (foi criada por pesquisadores independentes, mas é patrocinada pela FTX, que têm muitos tokens no cofre). O token FTT cai 2,29%, enquanto o token nativo da Binance cai 5,65%.

Investidores buscam proteção

Em meio à controvérsia envolvendo o balanço da Alameda, traders têm buscado proteções contra quedas do token nativo da FTX.

O “open interest”, número total de contratos de derivativos em aberto, como opções ou futuros, que ainda não foram liquidados por um ativo, mais do que dobraram, de US$ 87,56 milhões para US$ 203 milhões desde o início das negociações nesta segunda (7), alcançando o maior patamar em 12 meses, de acordo com a CoinGlass.

A taxa de financiamento (custo de manter posições compradas ou vendidas) caiu drasticamente para uma taxa anual de -36%, segundo dados da Matrixport Technologies, implicando que a maioria dos investidores têm posições vendidas (apostando na queda).

A combinação de um aumento do “open interest” e de uma taxa de financiamento negativa sugere que os traders estão apostando na queda do FTT.

“À medida que o preço diminui, a Alameda será a única compradora. O principal argumento é que, apesar de um recente aumento no preço das criptomoedas, se houver outro grande player recebendo chamada de margem, isso pode reacender o medo de que uma situação do tipo Terra LUNA possa ocorrer antes do fim do ano”, disse a exchange de cripto Phemex, em nota.

CoinDesk

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