Avanços recentes, mas vários desafios continuam: o que esperar para Azul e Gol – e qual a ação preferida dos analistas

Companhias fizeram diversos anúncios durante a semana considerados positivos, mas concorrência e recuperação do segmento corporativo seguem no radar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O noticiário dos últimos dias foi movimentado para o setor aéreo. Além de diversas revisões de recomendação, as companhias também fizeram uma série de anúncios que, a princípio, foram vistos como positivos pelos analistas de mercado, ainda que alguns tenham ressalvas sobre as perspectivas para as ações das empresas no médio prazo.

No final do mês passado, o Credit Suisse revisou suas avaliações sobre as empresas do setor na América Latina, o que inclui as ações de Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) no Brasil.

O banco iniciou a cobertura das ações da Azul com recomendação outperform (performance acima da média do mercado) e preço-alvo de R$ 50, ou potencial de valorização de 42% em relação ao fechamento de quinta-feira (16).

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Os analistas argumentam que a Azul possui uma forte execução apesar da pandemia de Covid-19, e lidera a retomada no mercado brasileiro, conseguindo ampliar sua participação de mercado de 21%, em 2019, para 34% em julho deste ano.

“Acreditamos que a Azul continuará a superar seus pares em termos de capacidade, liderando a recuperação do tráfego entre as operadoras brasileiras. Também reconhecemos que ela aproveitou a situação provocada pela pandemia Covid-19 para se tornar uma empresa mais forte em termos de participação de mercado”, escrevem os analistas.

Cabe destacar que o Bradesco BBI também tem recomendação de compra para a Azul. Os analistas do banco elevaram a sua projeção para o papel em junho, com preço-alvo de R$ 72 (upside, ou potencial de valorização de 105%), principalmente com uma visão positiva para uma possível compra da operação brasileira da Latam Airlines, atualmente em recuperação judicial. Isso mesmo após a Latam reiterar diversas vezes que não está no seu radar fazer uma venda de ativos.

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Segundo o BBI, a Azul pode reescrever a história do mercado aéreo brasileiro com uma proposta de fusão com a Latam
Airlines Brasil, permitindo assegurar uma presença líder no Brasil com um market share consolidado de 62,7% (veja mais clicando aqui).

Já na véspera, a Raymond James elevou a recomendação para o ADR (American Depositary Receipts ou, na prática, as ações das companhias negociadas na Bolsa de Nova York) da Azul para outperform, reiterando preço-alvo de US$ 25. “Acreditamos que a recente queda nas ações cria um ponto de entrada atraente e vemos tendências encorajadoras no Brasil com o impulso acelerado da demanda rumo à temporada de verão sazonalmente forte do Hemisfério Sul”, apontam os analistas. Eles veem ainda que, no curto prazo, ela deve superar seus pares na recuperação, ajudada por sua exposição em setores que veem uma recuperação mais rápida.

Enquanto isso, o Bank of America segue com uma visão pessimista para as ações tanto da Azul quanto da Gol. Na última semana, Murilo Freiberger e Gustavo Tasso, analistas do banco, rebaixaram a recomendação para os ADRs e para as ações negociadas na B3 de neutra para underperform (desempenho abaixo da média do mercado) das duas companhias.

O preço-alvo para a ação da Azul negociada na B3 é de R$ 36 (upside de 2,33%) e de US$ 20,80 para o ADR. No caso da Gol, o preço-alvo é de R$ 21 para GOLL4 (alta de 5,26%) e de US$ 8,10 para o ADR.

Os analistas apontaram que as duas companhias fizeram um “trabalho impressionante no ajuste das operações, na negociação dos passivos e na sustentação da liquidez”.

Porém, a avaliação dos analistas é de que há um potencial limitado para a alta dos ativos, levando em conta o valuation atual dos papéis. Além disso, os efeitos da Covid-19 devem seguir sendo sentidos, com impacto no fluxo de caixa. Eles também destacaram que veem uma ‘conta Covid’ considerável a ser paga e que a recente dinâmica mais positiva para o capital de giro tem apresentado deterioração.

O Bank of America avalia ainda que, considerando as normas financeiras internacionais (IFRS), o total de passivos de Gol e Azul pode estar sendo subestimado pelos investidores, o que explica também a postura mais pessimista. Os analistas apontam dois pontos para isso: i) as regras de renegociação de dívidas, fazendo a Azul usar uma taxa de desconto maior para os passivos de aluguel de aeronaves e ii) a duração do leasing com a idade maior da frota de aviões da Gol levando a uma diminuição do volume do passivo. Caso esses números fossem ajustados, os múltiplos de endividamento seriam de 20% a 30% maiores, apontam.

Para o Credit Suisse, vale ressaltar, a visão para a ação da Gol é negativa, em uma visão diferente em relação ao investimento para a Azul. No mesmo relatório em que recomenda compra para as ações AZUL4, a equipe de análise do banco reduziu a recomendação para GOLL4 para equivalente à venda, com preço-alvo para as ações da companhia de R$ 19 (ou queda de cerca de 5%).

De acordo com o Credit Suisse, a Gol pode se beneficiar de uma retomada do tráfego no segmento de negócios no Brasil, dada sua forte malha aérea em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

No entanto, a geração enxuta de fluxo de caixa livre, o aumento da concorrência com a Azul, uma posição de liquidez fraca, além de uma estrutura de custos pesada e um foco ESG pouco claro colocaram o Credit Suisse menos construtivo com a companhia no momento.

Avanços no radar, mas ainda sem tanto otimismo

Porém, cabe destacar, na última semana a companhia apresentou avanços para aumentar a sua liquidez e também na renegociação de dívidas.

Na quarta, antes da abertura do mercado, a Gol e a American Airlines anunciaram um acordo exclusivo de ocdeshare (cooperação entre companhias aéreas que transportam passageiros cujos bilhetes foram emitidos por uma empresa diferente) por três anos e mais um investimento de US$ 200 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) na brasileira.

As duas empresas têm alta complementaridade de malhas nacionais e internacionais. Os benefícios deste acordo mais profundo de codeshare também serão estendidos a seus programas de passageiro frequente, Smiles e AAdvantage. Uma vez concluído o acordo, a American Airlines terá uma participação de 5,2% na GOL. O preço do aumento de capital foi fixado em US$ 9 por ADR ou R$ 47,03 por GOLL4.

A notícia foi considerada positiva por analistas. Inclusive, após o anúncio, o Bradesco BBI elevou o preço-alvo para a ação GOLL4 de R$ 26 para R$ 27, mas ainda mantendo recomendação neutra para o ativo.

“Com base nas últimas projeções para o segundo semestre de 2021, a Gol esperava reportar uma liquidez total de R$ 4,2
bilhões no quarto trimestre de 2021, que agora pode saltar para cerca de R$ 5,2 bilhões, e, em nossa opinião, isto deve ser suficiente para superar a pandemia da Covid-19. Também afinamos nosso modelo para incorporar o aumento de capital e os números de tráfego para julho e agosto de 2021, resultando no aumento do preço-alvo de R$ 26,00 para R$ 27,00 [upside de 35%]”, apontam os analistas do BBI.

Na mesma linha, ainda que considerando a notícia como positiva, o Itaú BBA manteve recomendação equivalente à manutenção para o papel, com preço-alvo de R$ 24,46 para a ação GOLL4, ou um potencial de alta de 24%.

Os analistas apontam que a Gol tem reconstruído gradualmente sua rede após o forte impacto da Covid-19 no tráfego aéreo desde 2020 e que os ventos contrários da segunda onda da pandemia afetaram a primeira metade deste ano, enquanto o cenário-base prevê um segundo semestre melhor. Contudo, a expectativa é de que a oferta, medida pelo assento quilômetro ofertado (ASK) só retornará aos níveis de 2019 em 2022, seguido pela adição gradual de capacidade após esse período.

Além disso, apontou, é importante monitorar a capacidade dos players recém-chegados, a adição de capacidade dos players atuais e sinais de dinâmica agressiva de preços. “Dado que a recuperação do segmento de negócios permanece um ponto de interrogação, a Gol terá que continuar otimizando a rentabilidade dos viajantes a lazer, segmento que não compensou totalmente a queda no tráfego corporativo até agora – uma tendência que provavelmente continuará”, apontam.

Por outro lado, entre os pontos positivos, a estratégia de frota única da empresa (em busca constante de aumento da utilização da aeronave), plano de transformação da frota atual e o controle de custos / despesas continuarão sendo os principais impulsionadores para alcançar um custo por assento-quilômetro oferecido (CASK) mais baixo entre os pares e recuperar a lucratividade.

“Quanto ao endividamento, a Gol tem adotado diversas medidas para preservar o caixa e fortalecer a liquidez, como o recente anúncio [de codeshare com a American Airlines], que será vital para a empresa continuar a resistir à crise. Por outro lado, alguns desembolsos surgirão à medida que as operações se recuperarem junto com a melhora da demanda, apesar de alguns ganhos de eficiência contínuos”, avaliam.

O Morgan Stanley também vê um grande fator positivo para a Gol, sendo uma demonstração substancial de confiança da American Airlines no futuro da companhia e devendo contribuir para uma melhor percepção do valor do patrimônio para o investidor, dado o grande prêmio pago.

“Além disso, embora o aumento do patrimônio líquido implique uma redução bastante modesta na alavancagem projetada, sugere que a americana poderia ser uma fonte de apoio financeiro adicional para a Gol se necessário no futuro, representando uma redução significativa do risco do case. Além disso, do ponto de vista do fluxo de caixa, o valor levantado cobre uma parte significativa do consumo de caixa que projetamos para 2022, com a Gol aumentando ainda mais suas operações no próximo ano”, apontam os analistas. Contudo, a equipe de análise ainda mantém recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado) para o ADR da companhia, com preço-alvo de US$ 6,50, também destacando a incerteza com a recuperação do segmento corporativo e o valuation esticado.

Em outro movimento, a Gol anunciou nesta sexta que finalizou os termos de refinanciamento de R$ 1,2 bilhão em dívidas com vencimento final em 2024. O negócio está pendente das aprovações finais, após as quais a empresa terá concluído sua fase de gestão de passivos, resultando em redução de R$ 2,1 bilhões na dívida de curto prazo em 12 meses, retornando aos níveis mais baixos desde 2014, de R$ 500 milhões. O refinanciamento da dívida de curto prazo, reforça o BBI,  fortalecerá o balanço da aérea.

A Gol fez esses dois anúncios relevantes durante a semana, mas a Azul também trouxe novidades, ainda que com impacto menor no case de investimentos da companhia.  A Azul comunicou sua intenção em atender até 19 destinos no Estado do Pará, dentro da estratégia de fortalecer a aviação regional e conectar o interior do País aos grandes centros. Na avaliação da Guide, a malha aérea atendida pela companhia no país será ampliada através da Azul Conecta. “Entretanto, o potencial de demanda para os destinos, assim como a conclusão de obras de infraestrutura devem ser observados”, apontam.

Entre as outras novidades, mas ainda a serem monitoradas com atenção, estão as informações da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) de que, de 1 a 16 de setembro, as companhias aéreas realizaram uma média de 1.793 voos domésticos diários, um número corresponde a 75% frente os níveis pré-pandêmicos do início de março de 2020. Este é o quinto mês consecutivo de crescimento no doméstico voos.

O BBI ressalta que a recuperação está refletindo o progresso da vacinação no Brasil e é uma notícia positiva para as companhias aéreas. Porém, os analistas apontam que a Latam está reconstruindo agressivamente sua capacidade doméstica para se proteger de uma potencial aquisição pela Azul, o que poderia prejudicar a recuperação dos preços de passagens aéreas no mercado brasileiro.

No acumulado do ano até a tarde desta sexta-feira (17), as ações da Gol acumulavam perdas de cerca de 22%, enquanto a Azul tem baixa menor, de cerca de 11% e, apesar da cautela ainda persistir no setor, analistas têm destacado uma visão mais positiva para AZUL4 frente GOLL4, apesar das notícias positivas da última companhia.

Conforme compilação feita pela Refinitiv, de 11 casas que cobrem AZUL4, 5 recomendam compra, 3 manutenção e 3 têm recomendação de venda, com um preço-alvo médio de R$ 42,89, ou potencial de alta de 22% em relação ao último fechamento. Já para a Gol, 2 recomendam compra, 4 manutenção e 4 venda, com preço-alvo médio de R$ 24,07, ou alta de 20%.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.