As ações e os setores da Bolsa que foram destaque na “desafiadora” temporada de resultados do 1º trimestre

Trimestre foi novamente marcado por queda dos lucros, enquanto houve aumento das despesas financeiras no cenário de juros altos

Lara Rizério

(Getty Images)

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Números pouco empolgantes, com receita mantida, mas lucro bastante impactado. Esse é o saldo da temporada de balanços do primeiro trimestre de 2023 (1T23) na B3, que teve início no dia 20 de abril e se encerrou nesta semana. As empresas mostraram dificuldades evidenciadas com o crédito apertado dos bancos e financiamento mais caro por conta dos juros ainda bastante altos, havendo aumento da despesa financeira.

De acordo com dados do TradeMap, o lucro líquido de 296 empresas listadas na B3 no 1º trimestre de 2023 foi de R$ 33,4 bilhões, contra R$ 41,1 bilhões no mesmo período de 2022, uma queda de 18,8%. O levantamento não considera os resultados das empresas que tiveram variações de lucratividade muito elevadas, caso de Petrobras (PETR4), Vale (VALE3), JBS (JBSS3), Azul (AZUL4), Braskem (BRKM5) e Suzano (SUZB3), de forma a não distorcer a amostra geral.

O lucro foi menor em 2023 com as despesas financeiras em alta de 31,8%, num cenário de alta taxa de juros e dificuldades de financiamento das empresas, enquanto e as receitas financeiras caíram 3,0%, aponta o levantamento. A dívida bruta das empresas teve um crescimento de 23,3%, enquanto o caixa aumentou em 2,3%. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) anualizado no 1º trimestre de 2023 foi de 10,56%, o que representa uma queda de 7,16 pontos percentuais em relação ao 1º trimestre de 2022.

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No 1º trimestre de 2023, os resultados continuaram a enfraquecer em comparação com os trimestres anteriores, destacam Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, estrategistas da XP Investimentos. O LPA (Lucro por Ação) do Ibovespa caiu 6,7% em comparação com o 1º trimestre de 2022 e diminuiu 10,3% em relação ao quarto trimestre do mesmo ano. Analisando o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), houve uma queda de 10,6% frente o 1T23 e uma queda de 7,7% ante o 4T22. Por fim, a receita continuou a crescer em 5,5% na variação anual, e 0,4% em comparação com o trimestre anterior.

O Bank of America aponta que, excluindo empresas de commodities, o crescimento de receita foi de 5% na base anual, o de Ebitda foi queda de 3% e o lucro por ação teve baixa anual de 27%. “Este é o 4º trimestre consecutivo de contração do lucro por ação em relação ao ano anterior para o Ibovespa ex-commodities e a maior contração desde o 3T20 [no ápice da pandemia]”, avaliam os estrategistas do BofA, apontando que as maiores decepções do trimestre foram empresas de consumo discricionário e básico, com destaque negativo ainda para frigoríficos e mineradoras.

Já os destaques positivos, na visão da casa, ficam para seguros, tecnologia e shoppings. Entre os balanços “mistos”, estiveram o de bancos, bens de capital e utilities (energia e saneamento).

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Lucro por ação vai voltar a subir?

Os lucros caíram na base anual, mas há sinais de dias mais positivos pela frente?

A XP avalia que sim uma vez que, com a apresentação e provável aprovação do novo arcabouço fiscal, aliado a dados mostrando uma desaceleração da inflação, as discussões sobre o início de um ciclo de flexibilização monetária voltaram, devendo ser um catalisador positivo para as empresas brasileiras em 2024.

Como resultado de uma perspectiva ligeiramente melhor, as projeções de Lucro por Ação do Ibovespa para os próximos 12 meses, 2024 e 2025, foram revisadas para cima pelo consenso. Desde o início do ano, ressalta, as estimativas de lucros aumentaram em 3,3%, enquanto as projeções para 2024 e 2025 tiveram uma revisão para cima variando entre 5% e 7%.

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Em relatório de estratégia, o JPMorgan apontou que as expectativas eram sombrias para a temporada de balanços. Contudo mesmo sem ser uma temporada muito positiva, frente o consenso, 41% dos resultados superaram as expectativas, enquanto 31% decepcionaram, apontam os estrategistas.

Setores de matérias-primas, utilities (como energia e saneamento), construção civil e shoppings e saúde tiveram mais surpresas positivas do que negativas, na avaliação dos analistas. Isso pode atrair investidores, ressalta.

“Embora os investidores locais possam se reposicionar no dia dos balanços, acreditamos que os estrangeiros demoram um pouco mais para responder a eles. Não apenas isso, mas a temporada de ganhos melhor do que o esperado poderia colocar um limite na longa série de estimativas de lucros para baixo para este ano e para o ano seguinte, talvez começando a produzir revisões de ganhos para cima”, avaliam os estrategistas do banco.

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Destaques setoriais

Enquanto isso, analistas se voltam os números do 1T23 para entender os destaques setoriais positivos e negativos e o que esperar daqui para frente.

Confira a seguir o destaque dos balanços por setor e quais empresas se destacaram (positiva e negativamente) no primeiro trimestre:

Agronegócio

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Na avaliação da XP, os produtores reportaram resultados mistos, com a pressão de custos impactando as margens as quais vieram em queda na base anual, ainda que em níveis muito saudáveis e acima de patamares históricos.

“Adicionalmente, a dinâmica de produtividade e volumes continua positiva, o que indica resultados e geração de caixa sólidos olhando à frente”, avalia.

Os resultados para os players de serviços agrícolas foram mistos com atraso da safra de soja, a queda nos preços dos insumos e das commodities e um menor nível de comercialização por parte dos produtores afetando todas as companhias, embora de maneira diferentes para cada companhia.

“De maneira geral, o saldo dos resultados é positivo dado que para a maior parte das companhias a tese de forte crescimento no ano foi sustentada mesmo considerando o cenário desafiador”, apontam os estrategistas da casa.

O Bank of America, por sua vez, aponta que, enquanto os preços das commodities seguem elevados, o etanol segue em patamares baixos diante das incertezas quanto à política de combustíveis no Brasil. As empresas estão direcionando mais volume para o mercado externo, onde os preços e a demanda continuam fortes.

Alimentos e Bebidas

O trimestre foi desafiador para algumas empresas de alimentos do ponto de vista de demanda, uma vez que o varejo continuou retraído, impactando os volumes das companhias, aponta a XP. Para a Camil (CAML3), foi um trimestre negativo, com pressões de custos ainda afetando as margens.

Para a M. Dias Branco (MDIA3), em uma base de comparação fraca, foi um trimestre de recuperação de margens dado que a queda nos preços das commodities começou a dar frutos, o que fez com que as ações da empresa de biscoitos e massas disparasse na sessão pós balanço.

Com relação aos frigoríficos, o trimestre foi fraco para as empresas, com margens piores do que o esperado, avalia o BofA. “Destacamos a JBS (JBSS3), que teve pressão de margem acima do esperado, aliada ao consumo de capital de giro”, aponta o banco. O Citi avalia que a menor disponibilidade de gado nos EUA e custos de grãos pressionaram as margens de proteína, particularmente aquelas com exposição nos EUA.

Na parte de Bebidas, a XP avalia que a Ambev (ABEV3) teve  registrou um trimestre sólido com expansão na margem consolidada impulsionada principalmente por Cerveja Brasil e NAB (não alcoólicos), além de melhorias em LAS (América Latina Sul) apesar das pressões inflacionárias ainda existentes, o que mais do que compensou a contração nas margens de CAC  (América Central e Caribe) e Canadá.

As iniciativas de gestão de receita, mix favorável de marcas, melhora na dinâmica do canal on-trade, mix de embalagens mais rentável e a retomada, há muito esperada, de eventos sociais importantes (Carnaval) são as principais razões para sustentar o aumento de 26,9% na receita líquida/hl consolidada, avalia, esperando que essas tendências ganhem mais importância do que o volume nos próximos trimestres, o que deve acelerar o ritmo de recuperação da margem, em nossa opinião. Entretanto, a resiliência na pressão de custos é algo a acompanhar, aponta.

Sobre Ambev, o Goldman Sachs destaca que o ímpeto do Brasil surpreendeu positivamente, mas isso não é suficiente para mudar a visão cautelosa com a ação, permanecendo com recomendação vendida, pois vê riscos não operacionais relevantes à frente (ou seja, potencial grande desvalorização do peso argentino e possível eliminação de incentivos fiscais no Brasil, contingências fora do balanço), e um valuation pouco atrativo.

Setor financeiro

De uma forma geral, entre os “bancões”, os índices de inadimplência não cresceram da forma dramática, num período em que o tomador do crédito pessoa física costuma estar mais apertado financeiramente. Por outro lado, as instituições financeiras parecem se preparar para um cenário turbulento, ao reforçar conservadorismo na cessão de crédito, ao mesmo tempo em que aumentam suas provisões.

“A inadimplência ainda está sob controle, mas os bancos já estão fazendo provisões adicionais, antevendo que haverá uma piora na qualidade de crédito e de capacidade de pagamento”, afirma Luis Miguel Santacreu, analista de risco da Austin Rating.

Já a XP aponta que, embora tenha visto a maioria das empresas em seu universo de cobertura serem afetadas nas receitas ou NII (margem financeira), o contexto macroeconômico “subótimo” também as incentivou a aumentar a eficiência. Os estrategistas da casa esperam que elas sejam capazes de entregar resultados positivos nos próximos trimestres, independentemente da melhora das condições macro.

“Em relação aos bancos incumbentes, embora todos tenham aumentado as provisões, alguns deles ainda conseguiram apresentar resultados resilientes e lucratividade sólida, como Itaú (ITUB4) e BB ([ativo=BBAS3), enquanto outros mostraram NII mais fraco e aumento da inadimplência”, avaliam os estrategistas.

O BofA destacou que o Itaú permaneceu resiliente, com forte margem financeira de mercado e índice de cobertura. O BB mostrou números em linha, com os resultados impulsionados pelo forte desempenho da NII de mercado e equivalência patrimonial. Mais uma vez, Santander e Bradesco decepcionaram com a fraca geração de receita e menor cobertura.

As fintechs tiveram um trimestre positivo com ganhos de eficiência mais altos. Já sobre as instituições financeiras não-bancárias, B3SA ([ativo=B3SA3]) teve margem Ebitda e resultado financeiro acima do esperado. As seguradoras foram beneficiadas pela melhor sinistralidade e resultado financeiro, exceto Porto (PSSA3), que foi impactada por chuvas e fracos resultados financeiros.

A XP avalia que o segmento de mercado de capitais teve mais um trimestre impacto negativo da atividade econômica mais fraca. “No entanto, essas empresas conseguiram compensar isso com outras fontes de receita e controle de custos. Por fim, os neobanks e fintechs continuaram mostrando melhorias operacionais sequencialmente, mas apenas o Nu NUBR33 conseguiu acelerar seu aumento de rentabilidade”, avalia.

Vale ressaltar que, embora os resultados sejam mistos, no geral, pode-se dizer que a maioria do setor teve um desempenho melhor que o Ibovespa, avalia a XP. Dito isso, enquanto ainda veem oportunidades atrativas no setor e mantém ITUB4 (Top Pick) e BBAS3 como suas preferências, o Nu surpreendeu e levou a questionar se o 1T23 poderia ser um ponto de inflexão para o case, complementa.

Bens de Capital

A XP nota dinâmicas diferentes no 1T23 para as empresas de Bens de Capital. Do lado positivo, (i) resultados consistentes da WEG (WEGE3), com margens melhores do que o esperado refletindo um aumento no mix de produtos de ciclo longo; (ii) volumes fortes da Marcopolo POMO4 (favorecidos pela recuperação de ônibus rodoviários e efeitos adiados da implementação da Euro 6); (iii) fortes resultados da Randoncorp (RAPT4) de maneira geral, favorecidos pelos melhores desempenhos de Trailers e Frasle; e, finalmente, (iv) Frasle Mobility ([ativo=FRAS4])  – com um Ebitda impressionante e +41% das estimativas da casa, impulsionado pela forte demanda por produtos de reposição no mercado doméstico (clique aqui para nossa análise completa, onde elevamos nossa recomendação para Compra).

Para a Aeris (AERI3), viram resultados em recuperação, com melhores níveis de produção e um balanço mais enxuto, enquanto para a Tupy observamos margens melhores do que o esperado (mas receitas comparáveis mais fracas).

Do lado negativo, destacam (i) Embraer (EMBR3) e (ii) Kepler Weber (KEPL3), ambas impactadas pela sazonalidade mais fraca de seus negócios no 1T (para a Embraer, as margens mais baixas podem elevar as preocupações dos investidores) e (iii) vendas da Iochpe-Maxion (MYPK3) para veículos pesados pressionadas no mercado doméstico, com rentabilidade contraída e piora do nível de alavancagem.

O BTG Pactual também destaca que a WEG iniciou a temporada com números mais fortes do que o esperado, principalmente nas margens, refletindo um melhor mix de produtos. Dada sua sólida carteira de pedidos de ciclo longo, as margens devem permanecer fortes por mais algum tempo. A Marcopolo também registrou uma margem sólida, impulsionada pelos fortes volumes da indústria de ônibus e um melhor ambiente de preços.

Por fim, a Frasle também apresentou margens sólidas, beneficiada pelo controle de custos e um desempenho resiliente no segmento de reposição.

Educação

Os primeiros trimestres de cada ano são os mais relevantes para empresas de educação, pois compreendem a maior temporada de captações, destaca a XP.

Durante o trimestre, dizem os estrategistas, as empresas em nossa cobertura apresentaram números mistos, mas, de forma geral, pode-se observar: (i) o ensino presencial mostrando alguma recuperação, com preços variando de estáveis a positivos; (ii) o ensino digital com números fortes de captações e ticket médio com performance mista; e (iii) as escolas de medicina apresentando resultados sólidos, com o amadurecimento de novas vagas e aumento de preços impulsionando os resultados.

Para o BofA, nomes da educação em geral reportaram resultados positivos no 1T23 com recuperação de matrículas em Educação a distância (EAD), redução da dívida líquida e melhora nos níveis de Provisões para Devedores Duvidosos (PDD). “No entanto, o uso mais intensivo de descontos é um ponto de atenção”, aponta o banco americano.

Na temporada, o grande destaque positivo ficou para a Yduqs (YDUQ3), cuja ação subiu mais de 20% na sessão pós-balanço. A companhia reportou lucro líquido de R$ 149,5 milhões no primeiro trimestre de 2023 (1T23), montante 96,6% superior ao reportado no mesmo intervalo de 2022 e acima dos R$ 111,6 milhões previstos pelo consenso Refinitiv.

A Yduqs ainda prevê Ebitda ajustado consolidado entre R$ 371 milhões e R$ 404 milhões no segundo trimestre de 2023. Já a projeção de investimentos é de até R$ 450 milhões no ano de 2023, montante abaixo dos R$ 492 milhões desembolsados em 2022.

O Credit Suisse aponta resultados positivos com principal destaque para o reajuste de tickets próximo ou acima da inflação para todas as unidades de negócio, que pode indicar uma concorrência mais saudável (reajuste no presencial foi de 6% na media e para os novos alunos aumentou para 3,7%; no EAD foi de 3,2% e para novos alunos esta em 15%). Para os analistas, se as tendências atuais continuarem e a evasão não aumentar daqui para frente, a empresa pode dar início a um crescimento de receita, mesmo com as pressões no presencial. No entanto, o macro incerto pode continuar prejudicando a recuperação da base de alunos do presencial se o financiamento estudantil do governo não aumentar, pondera.

Elétricas

No Setor Elétrico os principais destaques foram no segmento de geração, avalia a XP, com Omega (MEGA3) e Engie (EGIE3) registrando fortes resultados. Adicionalmente, apontam os estrategistas, a Equatorial (EQTL3) continuou mostrando sua capacidade de turn-around em ativos de distribuição.

O BofA, por sua vez, diz que as geradoras apresentaram números amplamente em linha com o esperado, com bom controle de custos, mas margens de energia mais baixas. As transmissoras apresentaram resultados um pouco acima das estimativas, principalmente devido a menores despesas gerenciáveis.

Já as distribuidoras de energia se beneficiaram de taxas de inadimplência controladas, mas relataram aumento acima da inflação em despesas gerenciáveis (já esperadas) e volumes cativos razoáveis. Já a Eletrobras (ELET3), aponta o banco americano, reportou resultados ligeiramente abaixo do 1T23 devido à comercialização de energia abaixo do esperado no trimestre, parcialmente compensada por um bom controle de custos.

Em saneamento, a Sabesp (SBSP3) foi o destaque positivo. O Itaú BBA aponta que o Ebitda reportado de R$ 2,029 bilhões ficou acima de suas estimativas, impulsionado principalmente por custos abaixo do previsto (PMSO, ou despesas gerenciáveis, e despesas com inadimplência).

“Destacamos a melhora nos níveis de PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) em relação ao trimestre anterior, para 3,3% da receita bruta total excluindo construção (versus 4,5% no quarto trimestre e 4,1% um ano antes)”, apontam. Além disso, apontam que o anúncio de um Programa de Demissão Voluntária (PDV) na sequência da publicação dos resultados é um importante evento mitigador de risco, podendo resultar em uma economia potencial de custos de até R$ 500 milhões, cerca de 7% do PMSO dos últimos 12 meses da Sabesp.

Imobiliários e Shopping

Neste setor, dividido em vários segmentos e subsegmentos, o Bank of America destaca que as construtoras residenciais de renda média/alta relataram resultados fracos no 1T23 enfrentando compressões de margem. Para os estrategistas, a questão- chave a ser observada é a margem brut em um cenário de difícil precificação com deterioração da affordability e da geração de caixa antes da desaceleração das vendas e da atividade de construção. Affordability, cabe destacar, é a capacidade média de compra ou de financiamento de imóveis residenciais pelas famílias ou, ainda, à relação entre o valor médio dos imóveis e a renda domiciliar média

“Continuamos a ver um cenário difícil, pois construtoras de média/alta renda acumularam um estoque difícil de vender e devem enfrentar o pico de entregas no próximo ano em meio a esses desafios”, aponta.

Já para as empresas voltadas à renda baixa, a recuperação da margem bruta superou as expectativasl, com programas e custos estagnados como fatores que devem seguir dando apoio às margens em novas vendas. Por outro lado, a deterioração dos resultados financeiros cria uma camada adicional de preocupação, aponta.

Indo para os shoppings, no geral, eles apresentaram resultados positivos com melhores tendências operacionais (maior crescimento de vendas e aluguéis e menores custos de ocupação).

Para a XP, o segmento de shoppings apresentou um desempenho sólido no 1T23, explicado por (i) uma sólida performance de vendas, apesar das bases de comparação desafiadoras versus o 1T22; e (ii) crescimento do aluguel de mesmas lojas (SSR) acima da inflação, auxiliando no aumento da receita de aluguel. Além disso, observam um crescimento na margem Ebitda tanto para a Multiplan (MULT3) quanto para a Iguatemi (IGTI11), o que indica ganhos de eficiência no trimestre.

“Embora as primeiras impressões do volume de vendas em abril indiquem um ritmo de crescimento mais normalizado (de cerca de 6% a 8% ao ano, o qual os estrategistas esperam ver ao longo do ano, ainda consideram esses níveis como sólidos, levando em conta as bases de comparação desafiadoras versus 2022”, avaliam.

Em relação às propriedades logísticas, veem um cenário de demanda resiliente nos segmentos não relacionados ao e-commerce (principalmente setores farmacêutico e de alimentos e bebidas), o que sustentou uma absorção bruta forte no 1T23. Como resultado, veem uma aceleração robusta na receita de aluguel, apesar da falta de entregas no trimestre.

Mineração e Siderurgia

Os resultados foram fracos para empresas de Mineração e Siderurgia, destaca a XP, mas com algumas sinalizações positivas. Os analistas apontam (i) maiores custos de produção para a Vale (VALE3); (ii) resultados melhores do que o esperado para a unidade da Gerdau (GGBR4) na América do Norte, com margens melhorando 3 pontos percentuais (p.p.) em relação ao trimestre anterior; e (iii) preços realizados de minério de ferro e aço mais altos em comparação com o 4º trimestre.

Já na avaliação do BofA, os nomes do setor siderúrgico tiveram resultados impulsionados por maiores volumes e melhor desempenho de custo, o que o ajudou a reportar números positivos na média. Já a Vale reportou resultados fracos, prejudicados por embarques sazonalmente mais baixos para todos os produtos, juntamente com custos de minério de ferro mais altos. A CBA (CBAV3) teve números ruins devido a embarques de alumínio piores do que o esperado e custos mais altos.

Papel e Celulose

Já para papel e celulose, o BofA avalia que os resultados no geral foram positivos, com Ebitda acima do esperado impulsionados por preços realizados mais altos e menores custos de caixa de celulose.

A XP, por sua vez, afirma ser possível observar diferentes dinâmicas no setor. Entre os destaques positivos: (i) um resultado sólido para a Klabin (KLBN11), com melhora nas margens; e (ii) a melhora nas margens Ebitda de Irani (RANI3). Por outro lado, os resultados da Suzano (SUZB3) vieram conforme o esperado, mas houve uma revisão negativa nas projeções de investimento (Capex) para o Cerrado e volumes mais baixos do que o esperado para a divisão de papel.

Petróleo e Gás

A queda do Brent ainda não foi suficiente para causar um impacto excessivo nos resultados das empresas de petróleo e gás, aponta a XP, destacando resultados majoritariamente positivos, apesar do cenário mais desafiador, seja pelo preço da commodity, seja pelas demais pressões macroeconômicas.

O BofA apontou que os destaques para os produtores de petróleo são positivos devido ao aumento da produção, parcialmente compensado pela queda nos preços do petróleo na base anual. Sobre a Petrobras (PETR4), o banco aponta que a empresa se mantém muito sólida do ponto de vista operacional e a atual política de dividendos foi mantida – no entanto, importante realçar que o Conselho de Administração instruiu a diretoria executiva a preparar uma proposta para “melhorar” a atual política de remuneração aos acionistas .

Em distribuição de combustíveis, a Ultrapar (UGPA3) superou as expectativas do BofA com margens mais fortes do que o esperado na Ipiranga e Vibra (VBBR3) reportou resultados em linha. Em petroquímicos, Braskem (BRKM5) apresentou resultado em linha no 1T23 – uma forte melhora no trimestre, explicada em grande parte por spreads mais saudáveis, impulsionados pela maior demanda.

Saúde

O BofA ressalta que o setor de saúde segue pressionado, impactado por patamar de custos acima do histórico nas operadoras de seguros. Como as operadoras são as pagadoras dos prestadores de serviços, o setor em geral também está sofrendo. Em meio a esse cenário desafiador, Hapvida (HAPV3) e Rede D’Or (RDOR3) são os players que apresentaram números mais positivos para o 1T23, abrindo espaço para novas melhorias operacionais nos próximos trimestres.

A XP avalia que a cadeia de valor de saúde continua sob pressão, mas ao longo deste trimestre as empresas mostraram sinais de melhora.

Durante este trimestre: (i) as operadoras e seguradoras de planos de saúde apresentaram redução de sinistralidade em relação ao trimestre anterior, mas os números de adições líquidas foram mistos, com a Hapvida apresentando uma perda líquida e a SulAmérica (agora da Rede D’Or) registrando adições líquidas do número de beneficiários; (ii) os prestadores hospitalares reportaram resultados mistos, com a Rede D’Or no lado positivo devido ao aumento de ticket e expansão da margem, enquanto a Kora (KRSA3) no lado negativo, ainda com dificuldades para expandir margens e reduzir a alavancagem e (iii) a Oncoclínicas (ONCO3) apresentou um forte crescimento orgânico acompanhado de diluição de despesas.

Já os laboratórios se recuperaram da baixa demanda dos trimestres anteriores, e o segmento de B2B (business to business) continuou a ter um desempenho positivo; e a Viveo (VVEO3) apresentou resultados neutros, com alguma recuperação em relação ao 4T22 no canal de varejo e crescimento orgânico de 33% ano a ano no canal de serviços.

Para a indústria farmacêutica, veem resultados mistos das empresas em nossa cobertura, pois: (i) a Hypera (HYPE3) apresentou crescimento de receita, mas com alguns efeitos negativos do aumento das despesas com marketing impactando a margem operacional; e (ii) a Blau (BLAU3) apresentou resultados negativos, com dinâmicas desafiadoras nos mercados de imunoglobulina e alfaepoetina afetando a receita e impactando as margens.

Tecnologia e telecomunicações

A XP aponta que, de modo geral, a maioria das empresas entregou resultados positivos em um trimestre desafiador em relação ao ambiente macro. Dentro da sua cobertura de Tecnologia, os melhores resultados do trimestre foram da Locaweb (LWSA3) e da Totvs (TOTS3), tanto em termos de crescimento da receita quanto dos níveis de rentabilidade.

O BofA também coloca a Totvs como um destaque positivo, com sólido crescimento da receita e expansão de margem, mas com alguma desaceleração na adição de receita recorrente líquida anualizada.

Para telecomunicações, a maioria das empresas de cobertura da XP, exceto a Unifique (FIQE3), apresentou resultados sólidos no 1º trimestre de 2023, em meio a um ambiente macro desafiador, com crescimento da receita e expansão da margem Ebitda.

Transportes 

Para o segmento de Aluguel, houve resultados mistos entre as empresas, aponta a XP. Na Vamos (VAMO3), houve fortes resultados operacionais, tanto em termos financeiros quanto de capex (investimento) contratado. Já o BofA avalia que a companhia reportou lucro líquido abaixo do esperado devido à depreciação de veículos, financiamento e custos de aluguel acima do esperado.

No segmento de aluguel de carros, a XP destaca a Localiza (RENT3) como positiva devido ao seu (i) forte desempenho de aluguel; (ii) maior margem Ebitda no trimestre, pois o volume de carros vendidos surpreendeu positivamente, indicando capacidade de venda e maior capacidade de renovação de frota; e (iii) manutenção do posicionamento competitivo positivo versus pares.

Já para o BofA, a Localiza não atingiu as estimativas do BofA, com resultados mais baixos de Seminovos, enquanto a MOVI3 também relatou uma decepção com alta depreciação e baixas de veículos.

No segmento de infraestrutura, a XP destaca (i) a surpresa positiva do Ebitda da Rumo (RAIL3), pois o crescimento tarifário compensou os volumes fracos; (ii) rodovias apresentando bons resultados devido à recuperação de volumes pós-pandemia e reajustes tarifários; e (iii) fraco desempenho de volumes na Santos Brasil (STBP3), devido à desaceleração do consumo de bens de consumo.

No setor aéreo, os analistas veem mais um trimestre onde o foco foi a melhoria da rentabilidade, devido à recuperação da demanda e maiores yields, mesmo em um ambiente de custos ainda desafiador. Para o BofA, a Azul (AZUL4) reportou resultados decepcionantes devido a custos pressionados e menores receitas acessórias/de carga, ao mesmo tempo em que anunciou mais detalhes sobre sua renegociação com os arrendadores – trazendo mais diluição aos acionistas do que se pensava anteriormente. Para a Gol (GOLL4), por sua vez, os resultados foram em linha.

Varejo

Em uma leitura geral para os mais diferentes segmentos, os resultados de varejo foram fracos em sua maioria, com pressão nas dinâmicas de receita, queda na lucratividade, prejuízos líquidos e consumo de caixa, avalia a XP.

As varejistas de alta renda se destacaram, apresentando tendências de crescimento sólidas e recuperação na lucratividade, enquanto os varejistas de vestuário de renda média enfrentaram obstáculos macroeconômicos e climáticos, resultando em desempenho ainda pressionado nos serviços financeiros, apontam os estrategistas.

O BofA avalia que Arezzo (ARZZ3) e Soma (SOMA3) superaram as projeções do banco devido ao forte impulso das marcas. Enquanto isso, a Lojas Renner (LREN3) apresentou crescimento modesto nas vendas mesmas lojas, contração do Ebitda e índices mais altos de inadimplência.

Entre os segmentos mais defensivos, o setor farmacêutico se destacou, com dinâmicas de vendas mesmas lojas (SSS) na maioria dos casos acima da inflação acumulada nos últimos 12 meses e lucratividade sólida. Por outro lado, os varejistas de alimentos registraram desaceleração no SSS, embora ainda acima da inflação, e pressão na lucratividade devido aos planos de expansão agressivos e aumento da competição, ressalta a XP.

O BofA aponta que o Assaí teve um lucro por ação pior do que o esperado, com aberturas de lojas abaixo do plano, desaceleração da inflação de alimentos e altas despesas de juros e alavancagem.

Por fim, as empresas de comércio eletrônico tiveram um desempenho fraco, avalia a XP, com crescimento tímido na receita, apesar da fragilidade de Americanas (AMER3) diminuindo a competição, em meio ao cenário macroeconômico desafiador, além de lucratividade pressionada e consumo de caixa ainda elevado.

O BofA reforça que o Mercado Livre (MELI34) registrou forte crescimento em participação de mercado, declínio de inadimplência, melhoria de monetização e eficiências de escala. Magazine Luiza (MGLU3) teve ganhos de participação de mercado, mas impostos mais altos no comércio eletrônico e maiores custos de financiamento geraram um prejuízo, que ficou acima do esperado pelo mercado.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.