As 5 maiores quedas e as 5 maiores altas do Ibovespa no primeiro trimestre de 2021

Ações de PCAR3 foram destaque de baixa no trimestre por conta da cisão com o Assaí, enquanto Braskem e Embraer se destacaram entre as altas

Lara Rizério Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Apesar da alta de 6% do Ibovespa em março, assegurando a primeira alta mensal em 2021, o índice ainda acumula perdas de 2% no primeiro trimestre do ano.

Quem se destaca como a maior baixa dos primeiros três meses do ano é a ação do Pão de Açúcar (PCAR3), apesar da recuperação recente dos ativos. Contudo, a baixa tão expressiva não é explicada por possíveis números ruins da empresa ou por conta de perspectivas negativas para ela ou para o setor, mas sim pela cisão que ela fez de suas operações de atacarejo. No primeiro pregão do mês de março, as ações se “dividiram” em papéis PCAR3 e das ações da Sendas (ASAI3), controladora do atacarejo Assaí, levando a uma disparada de 386% ASAI3 e uma derrocada de PCAR3 em apenas um pregão (veja mais clicando aqui).

A XP ressaltou na ocasião que o preço de PCAR3 teve uma forte queda uma vez que antes o papel refletia a soma de duas companhias enquanto que, posteriormente, passou a refletir apenas uma: “PCAR3 cair não significa que a ação é ruim: é apenas um movimento natural para refletir a saída das operações de Assaí”, apontaram.

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Vale ressaltar ainda que, desde o pregão de 1 de março, os papéis PCAR3 já subiram 42,22%, passando de R$ 23,33 para R$ 33,18, com perspectivas positivas para a companhia e também em meio a rumores de eventos que poderiam impulsionar a venda de ativos da Cnova, notícia esta que foi posteriormente negada pela companhia (veja mais aqui).

Com queda bem menos expressiva, mas ainda em baixa de mais de 20%, estão as ações da EzTec (EZTC3), em um cenário de queda para a maior parte dos papéis de construtoras no período em meio a um ambiente de aumento das taxas de juros no país. Em 2021, o índice IMOB, tem queda de cerca de 8%. A última reunião  do Comitê de Política Monetária (Copom) no dia 17 de março marcou a volta da alta da Selic, que foi de 2% para 2,75% ao ano após quase seis anos sem elevação dos juros. Além disso, o Banco Central sinalizou novas altas.

As construtoras se beneficiam do cenário de juros baixos, uma vez que têm boa parte de suas vendas vinculadas a financiamentos de longuíssimo prazo. Além das baixas taxas de juros tornarem a compra de imóveis mais acessível no Brasil, o nível reduzido da Selic torna ativos imobiliários mais atrativos na comparação com outros tipos de investimento. Assim, a alta dos juros acaba impactando negativamente o setor.  Veja mais clicando aqui.

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Além disso, no radar da companhia, a EzTec desistiu no começo de fevereiro de fazer a abertura de capital do seu braço corporativo, a EZ Inc., em decorrência das condições de mercado verificadas desde o protocolo da oferta em 14 de agosto de 2020.

Por outro lado, a companhia também divulgou resultados do quarto trimestre em meados de março que foram considerados positivos.  A construtora teve lucro líquido de R$ 139,7 milhões no quarto trimestre, 30% maior do que em igual etapa de 2019, uma vez que o resultado financeiro conseguiu compensar o desempenho operacional mais fraco.

Por outro lado, a receita líquida da Eztec, de R$ 262,2 milhões, teve queda de 15% ano a ano, com a diminuição no ritmo de obras e de vendas de estoque pronto. A companhia mencionou queda no ritmo de aprovações de projetos e os efeitos da forte alta de insumos como de aço, cimento, PVC, cobre, esquadrias de alumínio, vidro, elevadores, entre outros.

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Com o valor geral de vendas (VGV) desabando 59,2%, o Ebitda foi de R$ 75,4 milhões, queda de 19%. No balanço patrimonial, a companhia registrou uma queima de caixa de R$ 219 milhões devido à aquisição de terrenos para suportar seu robusto plano de lançamentos (entre R$ 2,8 bilhões e R$ 3,3 bilhões em 2021) e o pagamento de R$ 67 milhões em dividendos no último trimestre de 2020. Apesar de destacar o resultado como positivo, a XP apontou que ele não seria um catalisador para a ação.

Contudo, reiterou recomendação de compra para o ativo com preço-alvo de R$ 48, reiterando como a preferida no segmento de média e alta renda. A visão positiva da XP sobre a EzTec se baseia nos baixos níveis de estoque, foco na região metropolitana de São Paulo, onde espera-se recuperação mais rápida do que em outras regiões, além da baixa alavancagem e o sólido histórico de excelência operacional, que dão espaço para suportar o robusto plano de lançamentos e dão maior poder de barganha para adquirir terrenos (em dinheiro, em vez de permutas).

Entre os riscos à tese de investimentos, estão a competição mais acirrada do que o esperado, um excesso de oferta de imóveis e recuperação mais fraca do que o esperado do mercado paulista e baixa demanda pelas torres corporativas (via EZ Inc).

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Além das construtoras, o setor de e-commerce não teve um primeiro trimestre positivo, com Via Varejo (VVAR3) se destacando entre as maiores baixas do setor, que ainda contou com fortes baixas de Magazine Luiza (MGLU3) e B2W (BTOW3). Além do cenário mais competitivo que se aponta para o ano, está no radar do mercado a alta do rendimento dos Títulos do Tesouro dos EUA em meio à perspectiva de aumento de gastos e da inflação, que afeta as techs americanas, mas também afetam os setores relacionados na B3.

As ações, de forma geral, tendem a perder atratividade em um cenário de alta dos juros, que torna a renda fixa mais atraente. Mas as ações de tecnologia têm sido as mais afetadas porque são empresas com duration longa, ou seja, boa parte do fluxo de caixa delas está no longo prazo. Assim, elas sofrem mais quando esses títulos do Tesouro americano, os treasuries de dez anos, elevam suas taxas (veja mais).

No Brasil, não temos ações de big techs, como Facebook e Google. Nossas ações dos chamados “setores de crescimento” ou growth – que são aquelas mais afetadas pelos efeitos dos treasuries na tecnologia, como as citadas acima.

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Contudo, para Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos, o efeito global, de rotação e dos treasuries, tem contaminado as techs brasileiras, mas a exposição dessas ações ao setor de varejo doméstico é o que mais explica as fortes quedas no ano. “Com a retomada lenta da economia, o desemprego elevado e falta de perspectiva clara sobre a vacinação, varejistas que dependem da movimentação de pessoas sofrem mais do que o resto. E não temos os mesmos suportes de antes, em 2020 o auxílio era mais gordo, havia programas de crédito”, diz o head de renda variável da Valor.

A Via Varejo, vale ressaltar, divulgou no começo de março seus resultados do quarto trimestre, considerados sólidos. A companhia registrou lucro líquido de R$ 336 milhões no quatro trimestre de 2020, revertendo o prejuízo de R$ 875 milhões visto no mesmo período do ano anterior. O desempenho foi impulsionado por uma “transformação digital” acelerada pela pandemia de coronavírus, segundo a companhia. O lucro líquido operacional ficou em R$ 209 milhões, ante R$ 78 milhões no quarto trimestre de 2019. Contudo, os dados não brilharam os olhos do mercado, o que aumenta ainda mais a cautela sobre os desafios da companhia no radar.

“Depois de 2020, em que os consumidores inundaram o canal digital, devemos ver fortes ​​investimentos dos principais competidores para atrair clientes em 2021 e entregar crescimento em comparação com a base difícil de 2020. Como resultado, acreditamos que a Via Varejo pode enfrentar algumas dificuldades para entregar seu turnaround [virada] em meio a uma competição mais acirrada. Continuamos a ver um sólido potencial de alta para a ação, mas avaliamos como neutro devido aos riscos de execução”, destacou a XP.

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Na sequência entre as perdas, está a ação do IRB (IRBR3), maior baixa do Ibovespa em 2020. A ação da companhia passou por momentos turbulentos neste início de ano. Desde investidores tentando reproduzir o caso GameStop com a empresa, buscando pressionar investidores com posição vendida na empresa e levando à alta de 17,8% das ações em só um pregão, até quedas após a divulgação de números da companhia.

O balanço consolidado de 2020, apresentado em 19 de fevereiro, foi o mais emblemático. Por mais uma vez, a companhia apresentou números fracos e, mesmo com a expectativa de um ano mais positivo após um 2020 muito turbulento, o ambiente segue de cautela, com os investidores ainda esperando mais sinais para retomar a confiança com o case da companhia (veja mais clicando aqui).O ano passado terminou com um prejuízo líquido acumulado para o ressegurador de 1,5213 bilhão, ante lucro de R$ 1,210 bilhão no mesmo período de 2019.

Ainda no radar da companhia, nesta semana ela anunciou que está em busca de um novo CEO. Antônio Cássio dos Santos, que chegou à empresa em março de 2020, no auge do escândalo envolvendo a companhia sobre fraudes contábeis e outras informações enganosas ao mercado, seguirá na resseguradora, mas restrito ao cargo de presidente do conselho de administração, ficando responsável por ajudar a buscar um executivo que dê continuidade ao trabalho de reestruturação da companhia.

Enquanto isso, Wilson Toneto, vice-presidente da companhia, executivo com experiência no mercado segurador brasileiro e no IRB, acumulará interinamente o cargo de CEO com as suas atuais funções nas áreas técnicas, atuariais e de operações.

Na sequência, a estatal que acabou sofrendo mais neste primeiro trimestre, muito por conta do cenário de maior intervenção, foi o Banco do Brasil (BBAS3). Durante boa parte do ano, os papéis BBAS3 sofreram forte volatilidade com a notícia de que André Brandão, até então CEO do banco e bem avaliado pelo mercado, seria demitido em meio a insatisfações do presidente Jair Bolsonaro.

As rusgas começaram quando Brandão anunciou um plano de reestruturação do banco envolvendo fechamento de 112 agências do banco e um plano de demissão voluntária, com expectativa de adesão de 5 mil funcionários. O anúncio desagradou o presidente Jair Bolsonaro, que buscou forçar uma demissão do executivo no início do ano.

Em janeiro, os rumores chegaram a cessar, mas voltaram com força total ao final de fevereiro, com diversos veículos de mídia destacando que Brandão teria colocado o cargo à disposição de Jair Bolsonaro,  depois de observar o destino do presidente da Petrobras (PETR3;PETR4), Roberto Castello Branco, demitido pelo presidente em meio a discordâncias sobre os reajustes de combustíveis.

Depois de muitas especulações, em 18 de março, o anúncio se efetivou, com Brandão anunciando a sua saída da estatal. Ele ficou no cargo até o último dia de março, sendo substituído, mediante aprovação, pelo atual diretor-presidente da BB Consórcios, Fausto de Andrade Ribeiro – nome indicado pela equipe econômica.

O executivo é formado em Administração pela Universidade Católica de Brasília e Direito pelo Centro Universitário de Brasília. Tem especialização em economia pela The George Washington University e MBA em Finanças pelo Ibmec. Está no BB desde setembro de 2000.

Apesar de todas as credenciais do executivo, a desconfiança sobre os rumos do banco com o novo CEO – ainda mais em um cenário de maior interferência do governo nas empresas estatais em um ambiente em que a competição no setor bancário está cada vez mais acirrada – ainda motiva a cautela dos analistas. Veja mais clicando aqui. 

Confira as maiores quedas do Ibovespa no primeiro trimestre: 

Empresa Ticker Cotação Variação
Pão de Açúcar PCAR3 R$ 33,18 -46,27%
Via Varejo VVAR3 R$ 12,07 -25,31%
EzTec EZTC3 R$ 32,05 -25,29%
IRB IRBR3 R$ 6,13 -25,06%
Banco do Brasil BBAS3 R$ 30,45 -19,93%

Além de PCAR3, com queda de 51,42% em março, as maiores baixas do mês são de ações do setor de e-commerce, com BTOW3, MGLU3 e LAME4 com quedas respectivas de 25,91%, 16,29% e 10,24%, enquanto Yduqs (YDUQ3) fechou o período em baixa de 11,32%.

Maiores altas do trimestre

Depois de passar janeiro praticamente de lado, com apenas leves ganhos, a petroquímica Braskem (BRKM5) engatou dois meses de forte valorização e meio a boas notícias que ajudaram a impulsionar seus papéis.

Ainda em fevereiro, as ações registraram fortes altas com as avaliações sobre o impacto do fenômeno de afundamento do solo em Maceió que causou a realocação de milhares de famílias na capital alagoana, que custará R$ 10,1 bilhões em provisões totais para cuidar do acontecido.

A notícia é negativa mas, apesar disso, a empresa explicou que o desembolso previsto para este ano não vai afetar a geração de caixa operacional da companhia uma vez que a petroquímica possui recursos que incluem R$ 1 bilhão em créditos de PIS/Cofins que espera monetizar neste ano e R$ 1,7 bilhão em reparação a ser recebida de companhias de seguro. Os recursos em caixa da empresa somam cerca de R$ 8,5 bilhões.

Em seguida, a Braskem informou que a unidade no México Braskem Idesa (BI) assinou contrato de prestação de serviço de transporte de gás natural com agência do governo mexicano, após ser notificada sobre interrupção do serviço de transporte de gás natural em dezembro do ano passado. Outro fator que puxou os papéis na virada de fevereiro para março.

“Com a assinatura desses documentos pela BI, a BI começou a receber, desde já, o serviço de transporte de gás natural que havia sido interrompido unilateralmente”, afirmou a Braskem na ocasião, acrescentando que o contrato com o Centro Nacional de Control del Gas Natural (Cenagas) tem prazo final de 15 anos.

No final do ano passado, a Braskem Idesa anunciou que estava paralisando as atividades operacionais no Complexo Petroquímico do México após ser notificação pelo Cenagas sobre interrupção do transporte de gás natural, destacando que se trata de insumo energético essencial para produção de polietileno.

O resultado da companhia foi mais um dos fatores positivos neste primeiro trimestre. A Braskem conseguiu reverter o prejuízo do quarto trimestre de 2019 para um lucro de R$ 846 milhões entre outubro e dezembro do ano passado. Apesar disso, a petroquímica teve prejuízo líquido de R$ 6,69 bilhões em 2020, 139% maior ante o prejuízo de R$ 2,79 bilhões um ano antes. A receita líquida foi de R$ 18,7 bilhões no quarto trimestre de 2020, alta de 48% ante o resultado do quarto trimestre de 2019. Em 2020, a receita da companhia foi de R$ 58,5 bilhões, alta de 12% sobre 2019.

Os resultados foram positivamente impactados no trimestre pela maior demanda de resinas termoplásticas no Brasil, pela retomada da indústria em geral e ritmo acelerado da construção civil, demanda forte por plásticos e polímeros diversos nos EUA e Europa, além da desvalorização do real frente ao dólar favorecendo a conversão de caixa e impulsionando os resultados obtidos.

Além do ótimo noticiário, analistas também elevarem suas perspectivas para a empresa daqui para frente e o próprio presidente da Braskem, Roberto Simões, prometeu um 2021 positivo, puxado principalmente pelas perspectivas sobre os spreads dos produtos e a demanda de resinas renováveis, em que a companhia é a maior produtora do mundo.

Na sequência, bastante prejudicada pela pandemia e paralisação de viagens no mundo todo, a fabricante de aeronaves Embraer (EMBR3) iniciou um processo de forte alta das ações desde fevereiro.

A valorização dos ativos foi puxada inicialmente pela notícia de que ela está discutindo com a companhia aérea alemã Lufthansa a venda de aeronaves. No dia 17 de fevereiro a Bloomberg divulgou as informações, citando que CEO da Lufthansa, Carsten Spohr, disse que a companhia alemã iria buscar uma reestruturação de frota para lidar com o impacto do coronavírus no setor aéreo.

Alguns dias depois, a Embraer, questionada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a forte alta das ações, confirmou que estava em negociação com a Lufthansa, destacando na época que “as discussões não estão em estágio avançado”.

Mesmo antes da confirmação pela brasileira, Spohr havia dito que a Lufthansa, maior grupo de companhia aérea da Europa, estava em negociações com a Airbus e a Boeing sobre os pedidos existentes, com os fabricantes mostrando flexibilidade nas discussões.

Ele não entrou em detalhes, mas na ocasião disse que a companhia aérea estava em negociações de frota com a Embraer, cujos aviões regionais são operados pela Lufthansa, Austrian e Air Dolomiti e competem com o Airbus A220 utilizado pela Swiss.

Já em março, a Embraer voltou a ganhar força na Bolsa após divulgar seu resultado do quarto trimestre. Apesar da alta do prejuízo no acumulado de 2020, que chegou a R$ 3,6 bilhões, no quarto trimestre a companhia teve recuperação, com prejuízo líquido de US$ 3,3 milhões no período, reduzindo significativamente o resultado negativo em relação ao mesmo período de 2019.

O balanço de fim de ano foi bastante beneficiado por mais entregas de jatos comerciais e aviões militares. Em teleconferência, Francisco Gomes Neto, presidente-executivo da companhia, afirmou que está trabalhando ativamente em novas parcerias de desenvolvimento de produtos e espera fazer um anúncio em breve.

Por fim, a expectativa de retomada da vida normal nos próximos meses, conforme a vacinação contra a Covid-19 ganha força ao redor do mundo, também tem ajudado na recuperação das ações da empresa.

Depois de aparecer entre as maiores altas de fevereiro, a petrolífera PetroRio (PRIO3) manteve os bons ganhos em março e conseguiu figurar entre as melhores ações do primeiro trimestre.

A empresa iniciou esse bom momento após a realização de oferta de ações no final de janeiro, emitindo 29,7 milhões de novos papéis e movimentando R$ 2,05 bilhões. Os recursos líquidos são destinados ao financiamento de projetos já em andamento e a potenciais novos negócios, como fusões e aquisições, segundo a companhia disse na época.

Além disso, a companhia foi favorecida pela alta do petróleo nestes três meses do ano, que tem mostrado forte recuperação após um 2020 bastante complicado por conta da pandemia, que levou a uma forte queda da demanda pela commodity no mundo todo.

Para completar o bom momento da companhia, o cenário relativamente pior para a Petrobras — principalmente por conta da intervenção do governo na estatal — acaba favorecendo a visão para a PetroRio, que já era mais bem vista por muitos analistas exatamente por não correr riscos políticos.

Porém, um dos principais eventos para a empresa no trimestre foi a assinatura de um contrato com a Total E&P do Brasil para a aquisição da participação de 28,6% no Bloco BMC-30 no Campo de Wahoo, no pré-sal. Somada à parcela de Wahoo adquirida da BP em novembro, a participação da PetroRio na concessão passará a ser de 64,3%, quando concluídas as duas transações.

A companhia disse na época que Wahoo tem potencial para produzir mais de 140 milhões de barris. A companhia estimou uma produtividade média inicial superior a 10 mil barris por dia por poço e uma produção que poderá superar os 40 mil barris por dia, baseado nos resultados do teste de formação realizado em poço exploratório. “Com base em nossos cálculos, se a PetroRio conseguir entregar com sucesso seu plano de desenvolvimento para o campo (atingindo ao menos 40 mil barris por dia de produção em 2025)”, avaliou o Bradesco BBI na ocasião do anúncio, dizendo que esse era um dos principais catalisadores para a companhia (veja mais clicando aqui).

Alguns dias após a notícia, o BBI elevou também sua recomendação para os papéis da companhia para outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 126.

Apesar de registrar alta desde o início do ano, o frigorífico JBS (JBSS3) só conseguiu engatar uma valorização mais acentuada na reta final de março, principalmente após a divulgação de seu resultado do quarto trimestre. A companhia encerrou o período entre outubro e dezembro com um lucro líquido de R$ 4,02 bilhões, uma alta de 65% ante os R$ 2,44 bilhões apresentados um ano antes. No acumulado de 2020, por sua vez, a JBS teve lucro de R$ 4,60 bilhões, um resultado 24,2% pior que os R$ 6,07 bilhões de 2019.

O desempenho da companhia foi impulsionado pelas exportações para a China, consumo firme tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e também com a variação cambial. Entre outubro e dezembro, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado da empresa de proteínas subiu 24,1% quando comparado com o mesmo período de 2019, atingindo R$ 7,03 bilhões.

De acordo com o Credit Suisse, os resultados apresentados foram, mais uma vez, sólidos, impulsionados principalmente pelas operações nos EUA, com fortes margens de carne bovina e suína (9,0% e 10,2%, respectivamente), enquanto as margens de PPC ficaram abaixo do potencial total de 6,6%. Seara e JBS Brasil (bovinos) apresentaram queda sequencial de margens em função do aumento de custos, mas ainda positiva para a primeira (margem de 14,1%) e em patamar menos atraente para a segunda (margem de 5,1%) .

Com números que surpreenderam positivamente os analistas, a companhia também anunciou a proposta de dividendos “sem precedentes”, no valor de R$ 2,5 bilhões, um aumento de 74% em relação ao pago em 2020. Além disso, a JBS sinalizou que seguirá se expandindo. “Ainda temos espaço para crescer mais por meio de aquisições e organicamente”, disse Guilherme Cavalcanti, diretor financeiro da JBS, em entrevista à Bloomberg. “Nosso foco continua sendo a expansão em alimentos processados nas regiões onde já temos produção”, afirmou.

Além de um resultado considerado muito bom pelos analistas, a Gerdau (GGBR4) conseguiu aparecer entre as melhores ações do trimestre em um movimento favorecido bastante pelos ganhos do minério de ferro  e aço no período, além das boas perspectivas para o setor.

Há também um otimismo do mercado com a companhia diante do avanço da vacinação nos EUA e expectativa de que o país deve retomar mais rapidamente sua economia, além do pacote de infraestrutura preparado pelo presidente Joe Biden, que pode favorecer os negócios da companhia. Lembrando que a Gerdau tem grande exposição ao mercado americano.

A companhia registrou lucro líquido de R$ 1,057 bilhão nos últimos três meses de 2020, um salto de 939% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em termos ajustados, o lucro ficou em R$ 1,2 bilhão, ante R$ 61 milhões um ano antes. O Ebitda ajustado cresceu 169% ano a ano, para R$ 3,056 bilhões, com margem Ebitda ajustada em 22,4%, de 11,9% um ano antes.

Em comunicado, a Gerdau ainda informou que pretende investir em 2021 os recursos que estavam previstos para 2020 e que acabaram não acontecendo por conta da pandemia da Covid-19. Com isso, a projeção de investimentos para este ano passou de R$ 2,6 bilhões para R$ 3,5 bilhões.

Sobre o otimismo com o futuro, o Credit Suisse destacou na época do balanço que, como os prêmios de paridade de importação para aços longos no Brasil estão próximos de zero e a demanda continua forte, é possível que aumentos adicionais de preços possam ocorrer nos próximos meses. “Este cenário deve ajudar a Gerdau a manter um nível saudável de lucratividade e compensar os custos mais altos de matéria-prima”, afirma o banco.

Confira as maiores altas do Ibovespa no primeiro trimestre: 

Empresa Ticker Cotação Variação
Braskem BRKM5 R$ 39,69 +68,39%
Embraer EMBR3 R$ 14,01 +58,31%
PetroRio PRIO3 R$ 92,28 +31,47%
JBS JBSS3 R$ 30,28 +27,98%
Gerdau GGBR4 R$ 30,22 +24,76%

No acumulado de março, além de Braskem, que seguiu seu movimento de alta de fevereiro e subiu 26,97% neste último mês, o Assaí (ASAI3) foi quem liderou os ganhos com forte avanço de 402,31% por conta da entrada na bolsa por meio da cisão com  Pão de Açúcar (entenda mais clicando aqui). Taesa (TAEE11), Marfrig (MRFG3) e Multiplan (MULT3) completaram a lista das maiores valorização de março, com ganhos respectivos de 27,40%, 26,69% e 24,44%.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.