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SÃO PAULO – O Banco Central surpreendeu o mercado “duas vezes” ao elevar a Selic em 0,75 ponto percentual, enquanto a maior parte dos analistas esperavam por 0,5 p.p., e já deixando claro que manterá o ciclo de alta dos juros em um comunicado considerado bastante hawkish (propenso a apertos monetários) pelos analistas.
Em live realizada pelo InfoMoney (veja no player acima), Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, disse que esperava uma alta de 0,5 p.p. por conta do cenário de maior incerteza. Por outro lado, ela destacou que o tom do Banco Central em seu comunicado foi mais duro em relação à inflação, o que condiz com a decisão tomada.
“O BC também trouxe um alerta que, com a evolução do cenário externo, ele já deixa de ser tão amigável para os emergentes, em especial para o Brasil, algo que a gente já imaginava que pudesse ser apontado”, afirma Zara.
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Já Patrícia Pereira, estrategista-chefe da MAG Investimentos, ressaltou na live que o Brasil está na contramão dos outros países. “O mundo está deixando a Covid pra trás, com uma expectativa de crescimento forte, enquanto a gente está no pior momento da pandemia, com uma atividade fraca”, diz.
As duas especialistas destacam ainda que, com essa decisão, o BC também deixa claro seu objetivo de evitar que a inflação fique acima do teto da meta no fim deste ano. Patrícia aponta que em maio, quando ocorre a próxima reunião do Copom, o IPCA pode chegar a próximo de 7,5% considerando as atuais projeções do mercado.
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Já Thaís, apontou ainda para pressão inflacionária vinda da alta das commodities em reais, mas que o cenário do País está bastante atrelado do resultado fiscal.
“O BC falou em ‘normalização parcial’ no comunicado, mas isso vai depender do fiscal, do andamento da pandemia. Se ela piorar, vamos precisar de medidas ainda mais restritivas e isso vai ter um impacto econômico […] A piora das percepções com as contas do governo acaba se sobrepondo ao resto”, avalia.
Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, por sua vez, destaca que a decisão mais forte do Copom ocorre também por conta da piora das projeções do mercado.
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“O cenário não depende apenas dos preços correntes, que estão altos, mas também das expectativas, então o BC não pode olhar só os preços correntes, que já seria um bom motivo [para subir a Selic]. O IPCA dos últimos 12 meses já está acima da meta, mas as expectativas incomodam muito, então o BC veio com 0,75 p.p. para forçar uma estabilização dos mercados”, afirma.
Enquanto isso, João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos, ressalta que a decisão foi bastante surpreende, com um comunicado até mais duro do que já era esperado que fosse. “Os modelos e a própria projeção do BC para o IPCA neste ano chamou muito a atenção, foi surpreendentemente para cima. Nós esperávamos que eles projetassem uma inflação em torno de 4,5%, mas veio com de 5%, muito próximo do teto da meta. Isso embasou a alta surpresa de 0,75 p.p. e um guidance de outra alta de 0,75 p.p.”, explica.
Em seu comunicado, o Copom já indicou que para a próxima reunião, prevista para 4 e 5 de maio, deverá manter o ritmo da alta, ou seja, elevando a Selic novamente em 0,75 p.p., caso não ocorra mudança significativa nas projeções de inflação ou no balanço de riscos.
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Diante desse ritmo mais forte de alta de juros, o mercado nesta quinta-feira (18) deve passar por uma reavaliação de projeções. Patrícia destacou que a expectativa já era de que a Selic encerrasse o ano entre 4,5% e 5%, sendo que após a decisão de hoje, essa visão se aproxima mais deste valor mais alto.
Leal também segue a mesma linha de avaliação. “Por ora, a gente continua mantendo a nossa projeção de 4,5% para a Selic para o ano, mas com um viés de alta”, disse.
“A inflação continuará bastante pressionada, mas o BC, com o passar do tempo, perde um pouco o poder de controlar a inflação deste ano e começará a olhar mais para as expectativas de 2022. Subindo a Selic mais rapidamente no curto prazo, tira um pouco a pressão para subir a Selic em um nível muito alto para garantir as expectativas de 2022”, conclui o economista da Rio Bravo.
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Já Thaís destaca um impacto da decisão no câmbio. Para ela, o dólar pode ter uma queda nos próximos pregões conforme o mercado se ajusta à alta da Selic hoje.
Milani, por sua vez, vê o resultado do Copom contribuindo para uma apreciação do real, “uma vez a gente estava com uma taxa de juros bem mais baixa do que a de outros países emergentes e isso fez com que o real se depreciasse de maneira mais forte em relação a esses pares, não só por causa da nossa dinâmica fiscal, como também da dinâmica monetária”. “Agora isso começa a entrar nos eixos, por isso o real também tende a se valorizar nos próximos dias pelo menos”, completa.
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